Eles, para citar uma velha canção de outros tempos, são «os que comem tudo e não deixam nada».
Se, numa família, um dos seus membros gasta o orçamento familiar em coisas que não dizem respeito ao interesse colectivo, é desonesto dizer que não há dinheiro para comer. O que houve foi um desvio do dinheiro colectivo para coisas que apenas beneficiam quem se serviu dele. Num país acontece exactamente o mesmo.
Há dinheiro que chegue para pagar os trabalhadores da administração pública, da saúde pública, do ensino público; para pagar as pensões, a solidariedade social, os serviços públicos de necessidade essencial.
Talvez não haja dinheiro que chegue para os bancos viverem à tripa-forra do crédito internacional e da especulação financeira desvairada. Mas isso é problema deles.
Certamente jamais haverá dinheiro que chegue para sustentar os custos da transformação de tarefas públicas e de recursos naturais em monopólio privado ou em parcerias público-privadas. Mas isso é problema deles.
Não fomos nós que pedimos emprestado para oferecer à banca, pois não? Não fomos nós que criámos parcerias público-privadas que gastam mais dinheiro a processar o lixo municipal do que aquele que estava previsto nos impostos, pois não?
Então porque havemos de ser nós a pagar os custos desse desvario financeiro? Nós já pagámos o que havia a pagar – com os impostos e com a riqueza do trabalho que produzimos todo os dias. Por isso, nós
não pagamos! | juros exorbitantes 48% da dívida será reembolsada à banca alemã e francesa, que pede emprestado a 2% para emprestar acima de 10% no caso português e grego |
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parcerias
público-privadas 59,6 mil milhões de euros (5400 por português), para fazer aquilo que compete ao Estado, para o qual afinal já pagámos impostos |
não pagamos! | |
não pagamos! | 4 vezes mais gastos
com as Forças Armadas do que com a Cultura 2 submarinos, 240 carros blindados, intervenções armadas em vários cantos do globo |
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refinanciamento de
bancos privados a dívida tem duas componentes: a pública e a privada; 43% da dívida externa é da responsabilidade dos bancos |
não pagamos! | |
não pagamos! |
privatizações à vista
para pagar as privatizações impostas pela Troika, bancos e empresas terão de pedir novos financiamentos externos; adivinhe quem irá pagar esses novos empréstimos ainda não anunciados? |
Seriam necessárias muitas folhas como esta para listar tudo o que não estamos dispostos a pagar. Não queremos pagar dívidas injustas, ou seja, dívidas que não nos dizem respeito, que não correspondem ao interesse público; dívidas que acarretam uma lista interminável de injustiças sociais; dívidas que criam um tremendo défice de justiça democrática e social.
Quantos sacrifícios, quantos cortes nos salários, nas pensões, nas prestações de solidariedade social, na saúde, no ensino, serão necessários para compreendermos que não devemos pagar a conta deles?
Comité Contra o Pagamento da Dívida Pública