Destruição: O lado feio da Sororidade
Jo Freeman, 1976.

O movimento de liberação das mulheres não foi somente pão e rosas. Este artigo explora o destrutivo fenômeno do ‘trashing’ (destruição): ataques pesoais a outras mulheres no movimento. Jo Freeman foi a editora de “A Voz do Movimento de Liberação das Mulheres”, que foi o primeiro jornal nacional da liberação das mulheres. Ela também foi membro do Grupo Westside, um dos primeiros grupos de Liberação de mulheres dos EUA).

Este artigo foi escrito para a revista Ms. e publicado na edição de Abril de 1976, pg. 49-51, 92-98. Ele provocou mais cartas das leitoras que qualquer outro artigo previamente publicado na Ms., maior parte embora não todos contando suas próprias experiências de ter sofrido ’trashing’1. Algumas delas foram publicadas na edição subsequente de Ms.
Faz bastante tempo desde que eu fui ‘trashed’. Eu fui uma das primeiras no país, talvez a primeira em Chicago, a ter meu personagem, meu compromisso, e meu eu mesmo atacado de tal maneira pelo Movimento de mulheres que me deixou arrasada, em pedaços e incapaz de funcionar. Levou anos para que eu me recuperasse, e mesmo hoje as feridas não estão totalmente curadas. Desde então eu ando pelas margens do Movimento, ajudandoo porque eu preciso fazê-lo, mas com muito medo para lançar ao meio dele outra vez. Eu sequer sei bem do que eu tenho medo. Eu sigo dizendo a mim mesma que não há razão por que aquilo poderia acontecer outra vez – se eu for cautelosa – mesmo assim no fundo da minha mente há uma certeza pervasiva, irracional que diz que se eu esticar meu pescoço pra fora, serei novamente um alvo aceso para a hostilidade.
Por anos eu vim escrevendo esta peça na minha cabeça, usualmente como uma fala para uma variedade de audiências imaginárias do Movimento de Mulheres. Mas eu nunca tinha pensado em expresar a mim mesma publicamente porque eu vim sendo uma firme crente de não lavar as roupas sujas do Movimento em público. Estou começando a mudar minha mente.2

Antes que tudo, tantas das roupas sujas vem sendo publicamente expostas que eu duvido que o que eu tenha para revelar vá adicionar muito à pilha. Para aquelas mulheres que vem sendo ativas no Movimento, não é nem sequer uma revelação. Segundo, vim assistindo por anos com crescente consternação enquanto o Movimento conscientemente destrói qualquer pessoa nele que se destaque em qualquer maneira. Eu vim tendo antigas esperanças de que essa tendência auto-destrutiva poderia definhar com tempo e experiência. Deste modo eu simpatizei com, apoiei, mas não falei sobre, as muitas mulheres cujos talentos foram perdidos para o Movimento porque suas tentativas de usá-los foram recebidos com hostilidade. Conversações com amigas em Boston, Los Angeles, e Berkeley que foram destruídas tão recentemente como 1975 me convenceram de que o Movimento não aprendeu de sua experiência não-examinada. Pelo contrário: o trashing foi tomando proporções epidêmicas. Talvez então, trazer isso pra fora do armário possa limpar o ar.

Que seria o “trashing”, este termo que expressa tanta coisa, embora explique tão pouco? Não é desacordo, não é conflito, não é oposição. Estes são fenômenos ordinariamente perfeitos que, quando engajados em mutualismo, honestidade, e não excessivamente, são necessários para manter um organismo ou organização saudável e ativa. “Trashing” é uma forma viciosamente particular de assassinato de caráter que equivale ao estupro psicológico. É manipulativo, desonesto e excessivo. É ocasionamente disfarçado pela retórica do conflito honesto, ou encoberta por meio da negação de que qualquer desaprovação exista realmente. Mas não é algo feito para expôr desacordos ou resolver diferenças. É feito para depreciar e destruir.

Os meios variam. Trashing pode ser feito privadamente ou em uma situação de grupo; na cara de um ou por trás das costas; por meio de ostracismo ou denunciação pública. A agente do trashing pode dar a você falsos relatos de que (coisas horríveis) outr*s pensam de você; contar a suas amig*s histórias falsas do que você pensa del*s; interpretar qualquer coisa que você diga ou faça da forma mais negativa; projetar expectativas irrealísticas em você para que então quando você falhe em alcançá-las, você se torna um alvo ‘legitimado’ para a raiva; negar sua percepção da realidade; ou fingir que você não existe. Trashing pode ser até mesmo finamente velado pelas mais novas técnicas de grupo de criticismo/auto-criticismo, mediação, e terapia. Quaisquer que sejam os métodos usados, trashing envolve a violação da integridade de uma, uma declaração da invalidez de uma, e impugnação dos motivos de uma. Em efeito, o que é atacado não é as ações de uma, as ideias de uma, mas o Eu de uma. Este ataque é realizado por meio de fazer sua vera existência é inimiga ao Movimento e que nada poderá mudar esta sorte de deixar de existir. Estes sentimentos são reforçados quando você é isolada de suas amigas assim que elas se tornam convencidas de que a associação delas com você é similarmente inimiga para o Movimento e para elas mesmas. Qualquer apoio a você irá amaldiçoá-las. Eventualmente todas suas colegas vão juntar-se ao coro da condenação que não pode ser silenciado, e você será reduzida a uma mera paródia do seu eu prévio. Levou três trashings para me convencer a cair fora. Finalmente, no fina de 1969, eu me senti psicologicamente estraçalhada ao ponto em que eu soube que não poderia seguir em frente. Até então eu interpretei minhas experiências como tendo haver com conflitos de personalidade ou desacordos políticos que eu poderia retificar com tempo e esforço. Mas quanto mais eu tentava, pior as coisas ficavam, até que eu finalmente fui forçada a encarar a realidade imcompreensível de que o problema não era o que eu tinha feito, mas o que eu era.
Isso foi comunicado tão sutilmente que eu nunca poderia conseguir qualquer pessoa com quem falar sobre isso. Não haviam grandes confrontações, apenas muitos pequenos desdéms. Cada um por si mesmo era insignificante; mas adicionados um ao outro eles eram como centenas de cortes com um chicote. Passo a passo eu era ostracizada: se um artigo coletivo era escrito, minhas tentativas de contribuir eram ignoradas; se eu escrevia um artigo, ninguém o leria; quando eu falasse em encontros, e então seguir a discussão como se eu não tivesse dito nada; datas de encontros eram mudadas sem que eu fosse avisada; quando era meu turno para coordenar um projeto de trabalho, ninguém iria ajudar; qundo eu não recebia correspondências, e então descobria que meu nome não estava na lista de correios, me diziam apenas que eu estive buscando no lugar errado. Meu grupo decidiu certa vez em juntar esforços de geração de fundos para enviar pessoas para uma conferência até que eu disse que gostaria de ir, e então foi decidido que todas pessoas estariam por sua própria conta (imparcialmente, uma membra me chamou mais tarde para contribuir com 5 dólares na minha tarifa, providenciou que eu não contasse a ninguém. Ela foi vítima de trashing alguns anos depois).
Minha resposta a isso foi o espanto. Eu senti como se eu estivesse perambulando de olhos tapados em um campo cheio de objetos cortantes e buracos profundos enquanto eu era assegurada de que eu poderia ver perfeitamente e que estava em um pasto liso e verde. Isso seria se eu tivesse inadvertidamente entrado em uma nova sociedade, uma operando por regras as quais eu não estivesse consciente, e não poderia saber. Quando eu tentei fazer meu(s) grupo(s) discutir o que eu pensava que estava acontecendo comigo, elas simplesmente negaram minha percepção da realidade dizendo que nada estava fora do comum, ou desmerecendo os incidentes como triviais (que individualmente eram). Uma mulher, em conversação privada por telefone, admitiu que eu estava sendo tratada de maneira muito ruim. Mas ela nunca me apoiou publicamente, ou admitiu francamente que isso ocorria porque ela temia fazê-lo por poder temer a aprovação de grupo. Ela também havia sofrido ‘trashing’ em um outro grupo.

Mês após mês a mensagem estava sendo martelada: saia, o Movimento estava dizendo: cai fora, caia fora! Um dia eu me encontrei a mim mesma confessando a minha colega de quarto que eu não acreditava que eu existia; que eu era um fragmento da minha própria imaginação. Foi aí que eu soube que era o momento de eu deixar. Minha saída foi bem silenciosa. Eu falei a duas pessoas, e deixei de ir ao Centro de Mulheres. A resposta me convenceu de que eu tinha lido a mensagem corretamente. Ninguém chamou, ninguém me mandou qualquer correio, nenhuma reação surgiu dos rumores. Metade da minha vida foi anulada, e ninguém estava consciente disso senão eu mesma. Três meses depois uma palavra foi trazida de que eu tinha sido denunciada pela União da Liberação das Mulheres de Chicago, descoberto depois que eu deixei o Movimento, por eu ter permitido eu mesma ser citada em um artigo recente de notícias sem a permissão delas. Isso foi tudo.

A pior parte de tudo isso foi que eu realmente não sabia por que eu estava tão profundamente afetada. Eu tinha sobrevivido crescendo em um subúrbio bastante conservador, conformista, sexista, onde meu direito a minha própria identidade estava constantemente sob assalto. A necessidade de defender meu direito a ser eu mesma me fez mais dura, não miserável. Minha pele endurecida foi mais temperada pelas minhas experiências em outras organizações políticas e movimentos, onde eu aprendi a usar a retórica e a argumentação como armas na luta política, e como revelar conflitos de personalidade sendo mascarados como políticos. Tais conflitos eram usualmente articulados impessoalmente, como ataques às ideias de uma, e enquanto eles podem não ser produtivos, eles não eram tão destrutivos como aqueles que eu vi tempos depois no movimento feminista. Alguém pode re-pensar as ideias de uma como um resultado de terem sido atacadas. É muito mais difícil re-pensar a própria personalidade. Assassinato de caráter foi usado ocasionalmente, mas não era considerado legitimado, e logo foi limitado tanto em extensão como em efetividade. Enquanto as ações das pessoas contam mais que suas personalidades, tais ataques não deveriam tão imediatamente resultar em isolamento. Quando eles foram empregados, apenas raramente entraram na pele de uma.
Mas o movimento feminista entrou na minha. Pela primeira vez na minha vida, eu me encontrei a mim mesma acreditando nas coisas horríveis que as pessoas estavam dizendo sobre mim. Quando eu fui tratada como merda, eu interpretei isso como significando de que eu era merda. Minha reação me enervou tanto quanto minha experiência. Ter sobrevivido assim incólume, por que eu poderia sucumbir agora? A resposta me tomou anos para chegar. E é uma pessoalmente dolorosa porque ela admite a vulnerabilidade que pensei que eu tinha escapado. Eu sobrevivi minha juventude porque eu nunca dei a nenhum grupo o direito a me julgar. Aquele direito eu havia reservado para mim mesma. Mas o Movimento me seduziu por sua doce promessa de sororidade. Clamou prover um céu das devastações de uma sociedade sexista; um lugar onde uma poderia ser compreendida. Foi a minha própria necessidade por feminismo e feministas que me fez vulnerável. Eu dei ao movimento o direito a me julgar porque eu acreditei nele. E quando ele me julgou como sem valor, eu aceitei esse julgamento.

Por pelo menos seis meses eu vivi em um tipo de desespero entorpecido, completamente internalizando minha falha como sendo uma pessoal. Em junho de 1970, eu me encontrei em Nova Iorque coincidentemente com várias feministas de quatro cidades distintas. Nos juntamos em uma noite por uma discussão geral sobre o estado do Movimento, e ao invés disso nos encontramos a nós mesmas discutindo o que aconteceu a nós. Tínhamos duas coisas em comum; todas tivemos amplas reputações no Movimento, e todas havíamos sofrido trashing. Anselma Dell’Olio nos leu uma fala chamada “Divisividade e Auto-Destruição no Movimento de Mulheres” que ela recentemente havia dado no Congresso Para Unir Mulheres (sic) como um resultado de sua própria experiência com trashing.

“Eu aprendi… anos atrás de que as mulheres sempre estiveram divididas umas contra as outras, auto-destrutivas e preenchidas com fúria impotente. Eu pensei que o Movimento poderia mudar tudo isso. Eu nunca sonhei que eu poderia ver o dia em que essa fúria, mascarada como um radicalismo pseudo igualitário (seria usado dentro do Movimento para derrubar irmãs de maneira a puní-las… “eu estou me referindo… aos ataques pessoais, ambos declarados e insidiosos, aos quais as mulheres no Movimento que tiveram dolorosamente manejado qualquer degrau de sucesso foram submetidas. Estes ataques tomam diferentes formas. O maior comum e difundido é o assassinato do caráter: a tentativa de solapar e destruir a crença na integridade de uma indivídua sob ataque. Outra forma é a ‘purgação’. A tática última é isolar ela… “E quem elas atacam? Geralmente duas categorias… realizações ou ganhos de qualquer tipo poderiam ser vistos como o pior crime: … faça qualquer coisa… que qualquer outra mulher secretamente ou do contrário sinta que ela pode também fazer – e… você estará sucetível a isso. Se então… você é assertiva, tem o que é geralmente descrito como uma ‘personalidade forte/se você não se encaixar no estereotipo convencional de uma mulher ’feminina’… Está tudo acabado. ‘Se você está na primeira categoria (a que possui realizações), você imediatamente é rotulada como uma oportunista, uma bruta mercenária, fazendo sua fama e fortuna em cima dos corpos mortos das irmãs sem egoísmo que estiveram enterrando suas habilidades e sacrificando suas ambições para a grande glória do Feminismo. Produtividade parece ser o maior crime – mas se você tem a má sorte de ser visível e articulada, você também é acusada de ser poderosamente maligna, elitista, facista, e finalmente o pior epíteto de tudo: identificada com os homens. Aaaarrrrggg!’”.

Enquanto eu a ouvia, um grande sentimento de alívio desbordava sobre mim. Foi minha experiência que ela estava descrevendo. Se eu estava louca, ao menos eu não era a única a sentir isso. Nossa conversa continuou pela tarde afora. Quando fomos embora, nos apelidamos ironicamente de “refugiadas feministas” e concordamos em nos encontrar outra vez. Nunca o fizemos. Ao invés disso cada uma de nós caímos novamente em nosso próprio isolamento, e lidamos com o problema apenas no nível pessoal. O resultado foi que a maior parte das mulheres no encontro terminaram caindo fora como eu tinha feito. Duas terminaram no hospital com ataques de nervos. Embora todas seguiram como dedicadas feministas, nenhuma realmente contribuiu com seus talentos para o Movimento como elas poderiam. Embora nunca nos tenhamos visto outra vez, nossos números cresceram enquanto a doença da auto-destrutividade lentamente engolfou o Movimento.

Ao longo dos anos eu estive conversando com muitas mulheres que sofreram ‘trashing’. Como um câncer, os ataques se espalharam desde aquelas que tinham reputações para aquelas que eram apenas fortes; daquelas que eram ativas para aquelas que meramente tinham ideias; daquelas que se destacavam como individualidades para aquelas que falhavam em conformar rápido o suficiente aos balanços e mudanças da linha que se modificava no momento. Com cada nova história, minha convicção cresceu de que trashing não era um problema individual trazido por ações individuais; tampouco era o resultado de conflitos políticos entre aquelas que diferiam em ideias. Era uma doença social.

A doença foi ignorada por tanto tempo porque é frequentemente mascarada sob a retórica da sororidade. No meu próprio caso, a ética da sororidade preveniu o reconhecimento do meu ostracismo. Os novos valores do Movimento disseram que cada mulher era uma irmã, cada mulher era aceitável. Eu claramente não era. Ainda assim ninguém podia admitir que eu não era aceitável sem admitir que elas não estavam sendo irmãs. Era mais fácil negar a realidade da minha não-aceptabilidade. Com outros ‘trashings’, a sororidade tinha sido usada como uma faca ao invés de cobertura. Um modelo vago de comportamento sororário é estabelecido por meio de julgadoras anônimas que então condenam aquelas que não alcançam suas exigências. Enquanto o ideal for vago e utópico, ele nunca poderá ser atingido. Mas ele pode ser mudado com as circunstancias para excluir aquelas que não são desejáveis como irmãs. Assim sendo, o adágio memorável de Ti-Grace Atkinson que dizia “A Sororidade é poderosa: ela mata irmãs” é reafirmada outra e outra vez.

Trashing não é apenas destrutiva para as indivíduas envolvidas: serve como uma arma realmente poderosa de controle social. As qualidades e estilos que são atacados se tornam exemplos que outras mulheres aprendem a não seguir – para que o mesmo destino não toque às demais. Isto não é uma característica peculiar ao Movimento de Mulheres, ou mesmo a mulheres. Os usos de pressões sociais para induzir a conformidade e intolerância as individualidades é endêmica na sociedade norte-americana. A questão relevante não é porque o Movimento exerce tais fortes pressões para conformar a um modelo limitado, mas quê modelo que pressiona mulheres para que sejam conformadas a ele. Este modelo está vestido pela retórica da revolução e feminismo. Mas por baixo dele há algumas fortes ideias tradicionais sobre os papéis apropriados que as mulheres devem seguir. Eu observei que dois tipos diferentes de mulheres sofrem trashing. O primeiro é aquela descrita por Anselma Dell’Olio — a mulher com realizações e/ou assertiva, aquela a qual o epíteto “homem-identificada” é comumente aplicado. O tipo de mulher que sempre foi posta pra baixo em nossa sociedade pelos epítetos que variam desde “não muito dama” a “vadia castradora”. A razão primaria aí tem sido tão poucas “grandes mulheres ______” não é meramente que a grandeza tenha sido não-desenvolvida ou não-reconhecida, mas de que mulheres exibindo potencial por realizações são punidas por ambos homens e mulheres. O “medo do sucesso” é bastante racional quando uma sabe que as consequências do sucesso possam ser a hostilidade e as críticas.

Não apenas o Movimento falhou em superar essa socialização tradicional, mas algumas mulheres levaram isso a seus novos extremos. Fazer algo significante, ser reconhecida, alcançar logros, é implicar que uma está “fazendo fama em cima da opressão das mulheres” ou que uma se crê melhor que outras mulheres. Embora poucas mulheres possam pensar isso, muitas permanecem quietas enquanto as outras vão mostrando suas garras. A jornada por ‘falta de liderança’ que o Movimento tanto preza se tornou mais frequentemente uma forma de arrebatar aquelas mulheres que mostram qualidades de liderança, mais que desenvolver tais qualidades naquelas que não a possuem. Muitas mulheres que tiveram tentando dividir seus conhecimentos sofreram trashing porque assim assertavam que elas sabiam algo que outras não. O culto do Movimento ao igualitarismo é tão forte que se tornou confundido com nivelação. Mulheres que nos lembravam que não somos todas a mesma foram destruídas porque sua diferença é interpretada como significando que não somos todas iguais.

Consequentemente o Movimento fez as demandas erradas daquelas dentro dele que se destacavam. Pede por culpa e expiação ao invés de reconhecimento e responsabilidade. Mulheres que se beneficiaram pessoalmente da existência do Movimento devem a este mais que gratidão. Mas este débito não pode ser convocado por meio do trashing. Trashing apenas desencoraja outras mulheres de tentarem romper seus grilhões tradicionais.

O outro tipo de mulher comumente destruída é aquela que nunca poderia ser suspeita. Os valores do Movimento favorecem mulheres que são apoiadoras e auto-eclipsadas; aquelas que estão constantemente atendendo aos problemas pessoais de outras; a mulher que joga o papel de mãe muito bem. Ainda assim um número surpreendente de tais mulheres foram destruídas. Ironicamente sua habilidade mesma de performar esse papel é ressentido e cria uma imagem de poder que suas associadas acham ameaçador. Algumas mulheres mais velhas que conscientemente rejeitam o papel de mãe são exigidas jogá-lo para que possam ‘cair bem’ naquele contexto – e são destruídas caso rejeitem. Outras mulheres que voluntariamente jogam ele encontram suas expectativas de gênero que elas eventualmente não podem alcançar. Ninguém pode ser ‘todas coisas para todas pessoas’, então quando estas mulheres encontram a si mesmas tendo que dizer ‘não’ de modo a conservar um pouco do seu próprio tempo e energia para si mesmas ou tendem ao negócio político do grupo, são percebidas como rejeitadoras e tratadas com raiva. Verdadeiras mães claramente podem suportar alguma raiva de suas crianças porque elas mantém um alto degrau de controle físico e financeiro sobre elas. Mesmo mães nas profissões de ‘cuidado’ ocupando papéis suplentes de mães possuem recursos com os quais controlar a raiva de seus clientes. Mas quando uma é uma ‘mãe’ para a companheira, isto já não é possível. Se as demandas se tornam irrealísticas, uma ou recua, ou é destruída.

O trashing de ambos grupos possui raízes em comum nos papéis tradicionais. Entre mulheres estes são dois papéis percebidos como permissíveis: a ‘ajudante’ e a ‘ajudada’. Maior parte das mulheres são treinadas para atuar a um ou a outro em momentos distintos. A despeito dos grupos de auto-consciência e de um intenso escrutínio sobre nossa própria socialização, muitas de nós não tivemos liberado a nós mesmas de jogar esses papéis, ou de nossas expectativas de que outras o farão. Aquelas que desviam desses papéis – as bem sucedidas – são punidas por isso, assim como aquelas que falham em alcançar as expectativas dos grupos.

Embora apenas poucas mulheres atualmente se engagem em trashing, a culpa por permitir isso continuar recai sobre todas nós. Uma vez sob ataque, há muito pouco que uma mulher possa fazer para defender a si mesma porque ela estará por definição sempre errada. Mas há um bom negócio que aquelas que estão assistindo possa fazer para prevenir aquela de ser isolada e ultimamente destruída. Trashing apenas funciona bem quando suas vítimas estão sozinhas, porque a essência do trashing é isolar uma pessoa e atribuir os problemas de grupo a ela. Ajuda de outras rachaduras esta fachada e priva a que promove trashing da sua audiência. Torna um descobrimento em uma luta. Muitos ataques foram prevenidos pela recusa em associar-se a deixar a si mesmas intimidadas em silêncio e medo de que poderiam ser as próximas. Outras atacantes foram forçadas a clarificar suas queixas ao ponto em que elas poderiam racionalmente lidar com isso.

Há, claramente, uma linha fina entre destruir e luta política, entre assasinato de caráter e objeções legítimas a comportamento indesejável. Discernir as diferenças leva esforços. Aqui há alguns ponteiros a seguir. Trashing envolve forte uso do verbo “ser” e apenas um uso muito breve do verbo “fazer”. É algo que uma é e não o que uma faz que é objetado, e essas objeções não podem ser facilmente fraseadas em termos de comportamentos específicos indesejáveis. Promotoras de trashing também tendem a usar substantitvos e adjetivos de um leque vago e geral para expressar suas objeções a uma pessoa particular. Estes termos caregam uma conotação negativa, mas não realmente te dizem o que está errado. Isso é deixado à sua imaginação. Aquelas que sofrem trashing não podem nunca fazer nada direito. Porque elas são más, seus motivos são maus, e portanto suas ações são sempre más. Não há correção para erros passados, porque estes são percebidos como sintomas e não como equívocos.

O teste de acidez, porém, vem quando uma tenta defender a pessoa sob ataque, especialmente quando ela não está mais ali. Se tal defesa é tomada a sério, e alguma preocupação é expressada de que se escute todos os lados e juntar todas evidências, trashing provavelmente não está ocorrendo. Mas se sua defesa é desmerecida com um “Como você pode defender ela?”; se você se tornar amaldiçoada pela suspeita de tentar tal defesa; se ela em fato é indefensável, você deve tomar um olhar mais próximo àquelas fazendo as acusações. Há mais coisa ocorrendo que um simples desacordo.

Enquanto o trashing foi se tornando mais prevalente, eu vim me tornando mais intrigada pela questão de por quê. O que há com o Movimento de Mulheres que apoia e mesmo encoraja a auto-destruição? Como podemos acionar o debate sobre encorajar as mulheres a desenvolver suas próprias potencialidades individuais e sobre as que esmagam aquelas entre nós que o fazem? Por que condenamos nossa sociedade sexista pelo dano que promove contra mulheres, e então condenamos aquelas mulheres que não parecem severamente danificadas por ela? Por que que a prática de auto-conscientização não nos conscientizou sobre o trashing?

A resposta óbvia é que a raíz de nossa opressão como mulheres, e do auto-ódio de grupo que resulta de sermos criadas para acreditarmos que mulheres não são merecedoras de muita coisa. Ainda assim tal resposta é muito fácil; obscuresce o fato de que trashing não ocorre randomicamente. Não todas mulheres ou organizações de mulheres o fazem, ao menos não à mesma extensão. É muito mais prevalente entre aquelas que chamam a si mesmas radicais que entre aquelas que não; entre aquelas que pôem acento em mudanças pessoais que entre aquelas que acentuam mudanças institucionais; entre aquelas que não podem ver vitórias que não sejam a da revolução que entre aquelas que conseguem se satisfazer com sucessos mais graduais; e entre aquelas em grupos com objetivos vagos que aquelas em grupos com objetivos mais concretos. Eu duvido que haja qualquer explicação única para o trashing; é mais facilmente devido a combinações variadas de circunstâncias que não são sempre aparentes mesmo para aquelas que o estão experienciando. Mas das histórias que eu escutei, e dos grupos que eu observei, o que me impressionou mais é o quão tradicional é isso. Não há nada de novo sobre desencorajar mulheres de sairem do lugar pelo uso de manipulação psicológica. Esta é uma das coisas que veio colocando mulheres para baixo por anos; é uma coisa que feminismo foi suposto nos liberar. Ainda assim, ao invés de uma cultura alternativa com valores alternativos, nós criamos meios alternativos de reforçar os valores e cultura tradicionais. Apenas o nome mudou. Os resultados são os mesmos.

Enquanto as táticas são tradicionais, a virulência não o é. Eu nunca vi mulheres ficarem tão bravas com outras mulheres como elas ficam no Movimento. Em parte isso é porque nossas expectativas de outras feministas e do Movimento em geral são muito altas, e então difíceis de alcançar. Não aprendemos ainda a sermos realistas em nossas demandas sobre nossas irmãs e com nós mesmas. Isto é também porque outras feministas estão disponíveis como alvos para a fúria.

Fúria é o resultado lógico da opressão. Demanda um escape. Devido a maior parte das mulheres serem cercadas por homens de quem elas aprenderam que não é esperto atacar, sua fúria muitas vezes retorna para dentro. O Movimento está ensinando as mulheres a pararem este processo, mas em muitas instâncias não pode prover alvos alternativos. Enquanto os homens são distantes, e o “sistema” é muito grande e vago, a ‘irmã’ de uma está perto e a mão. Atacar outras feministas é fácil e os resultados podem ser mais rapidamente vistos que atacar instituições sociais amorfas. Pessoas são machucadas; elas vão embora. Uma pode sentir uma sensação de poder que vem do ter feito ‘alguma coisa’. Tentar mudar uma sociedade inteira é algo bastante lento, um processo frustrante cujos ganhos são incrementais, as recompensas difusas, e os reveses frequentes. Não é uma coincidência que o trashing ocurra mais seguidamente e mais viciosamente por aquelas feministas que vêem pequeno valor em mudanças pequenas, impessoais e então muitas vezes se encontram a si mesmas inaptas para agir contra aquelas instituições específicas.

A ênfase do Movimento no “o pessoal é politico” tornou mais fácil para o trashing ocorrer. Começamos por derivar algumas de nossas ideias políticas de nossas análises de nossas vidas pessoais. Isto legitimou para muitas a ideia de que o Movimento poderia nos dizer que tipo de pessoa deveríamos ser, e por extensão que tipo de personalidades deveríamos ter. Enquanto nenhuma fronteira foi traçado para definir os limites de tais demandas, foi mais difícil impedir abusos. Muitos grupos procuraram remodelar as vidas e mentes de suas membras, e alguns destruíram aquelas que resistiram. Trashing é também uma maneira de atuar a competitividade que transcorre nossa sociedade, mas de uma maneira que reflete os sentimentos de incompetência que as promotoras exibem. Ao invés de tentar provar que uma é melhor que qualquer outra, uma prova que outra pessoa é pior. Isto pode providenciar o mesmo sentido de superioridade que a competição tradicional promove, mas sem os mesmos riscos envolvidos. No máximo o objeto da ira de uma é colocada para a vergonha pública, no pior dos casos a posição de uma está segura dentro das mortalhas da justa indignação. Francamente, se formos ter competição no Movimento, eu prefiro a do velho tipo. Tal competitividade tem seus custos, mas há também alguns benefícios coletivos das realizações que os competidores alcançam enquanto tentam desfazer as das demais. Com o trashing não há beneficiárias. No final tod* mund* perde.

Para apoiar as mulheres acusadas de subverter o Movimento ou de minar seus grupos toma coragem, enquanto isso requere de nós esticar nossos pescoços pra fora dele. Mas os custos coletivos de permitir que o trashing siga assim tão longa e extensivamente como o temos hoje é enorme. Já perdemos neste momento algumas das mentes mais criativas e ativistas dedicadas no Movimento. Mais importante, desencorajamos muitas feministas de se destacarem, por medo de que o fizessem poderiam ser também destruídas. Não logramos providenciar um ambiente suportivo para que todas desenvolvessem suas potencialidades individuais, ou no qual reunir forças para as batalhas com as instituições sexistas que precisamos confrontar dia a dia. Um movimento que um dia esteve rebentando de energia, entusiasmo e criatividade terminou atolado na sobrevivência básica – sobrevivência uma das demais. Não é o momento de pararmos de buscar inimigas entre a gente e começarmos a atacar o inimigo real lá fora?

A autora gostaria de agradecer a Linda, Maxine, e Beverly por suas sugestões que ajudaram na revisão deste artigo.


TRASHING: The Dark Side of Sisterhood by Jo Freeman (originally writing as “Joreen” in 1976)

(Editors Note: The women’s liberation movement was not all bread and roses. This article explores the destructive phenomenon of “trashing”: personal attacks on other women in the movement. Jo Freeman was the editor of the Voice of the Women’s Liberation Movement, which was the first national women’s liberation periodical. She was also a member of the Westside Group, one of the first women’s liberation groups in the country.)

This article was written for Ms. magazine and published in the April 1976 issue, pp. 49-51, 92-98. It evoked more letters from readers than any article previously published in Ms., all but a few relating their own experiences of being trashed. Quite a few of these were published in a subsequent issue of Ms.

It’s been a long time since I was trashed. I was one of the first in the country, perhaps the first in Chicago, to have my character, my commitment, and my very self attacked in such a way by Movement women that it left me torn in little pieces and unable to function. It took me years to recover, and even today the wounds have not entirely healed. Thus I hang around the fringes of the Movement, feeding off it because I need it, but too fearful to plunge once more into its midst. I don’t even know what I am afraid of. I keep telling myself there’s no reason why it should happen again — if I am cautious — yet in the back of my head there is a pervasive, irrational certainty that says if I stick my neck out, it will once again be a lightning rod for hostility.
For years I have written this spiel in my head, usually as a speech for a variety of imaginary Movement audiences. But I have never thought to express myself on it publicly because I have been a firm believer in not washing the Movement’s dirty linen in public. I am beginning to change my mind.
First of all, so much dirty linen is being publicly exposed that I doubt that what I have to reveal will add much to the pile. To those women who have been active in the Movement, it is not even a revelation. Second, I have been watching for years with increasing dismay as the Movement consciously destroys anyone within it who stands out in any way. I had long hoped that this self-destructive tendency would wither away with time and experience. Thus I sympathized with, supported, but did not speak out about, the many women whose talents have been lost to the Movement because their attempts to use them had been met with hostility. Conversations with friends in Boston, Los Angeles, and Berkeley who have been trashed as recently as 1975 have convinced me that the Movement has not learned from its unexamined experience Instead, trashing has reached epidemic proportions. Perhaps taking it out of the closet will clear the air.
What is “trashing,” this colloquial term that expresses so much, yet explains so little? It is not disagreement; it is not conflict; it is not opposition. These are perfectly ordinary phenomena which, when engaged in mutually, honestly, and not excessively, are necessary to keep an organism or organization healthy and active. Trashing is a particularly vicious form of character assassination which amounts to psychological rape. It is manipulative, dishonest, and excessive. It is occasionally disguised by the rhetoric of honest conflict, or covered up by denying that any disapproval exists at all. But it is not done to expose disagreements or resolve differences. It is done to disparage and destroy.
The means vary. Trashing can be done privately or in a group situation; to one’s face or behind one’s back; through ostracism or open denunciation. The trasher may give you false reports of what (horrible things) others think of you; tell your friends false stories of what you think of them; interpret whatever you say or do in the most negative light; project unrealistic expectations on you so that when you fail to meet them, you become a “legitimate” target for anger; deny your perceptions of reality; or pretend you don’t exist at all. Trashing may even be thinly veiled by the newest group techniques of criticism/self-criticism, mediation, and therapy. Whatever methods are used, trashing involves a violation of one’s integrity, a declaration of one’s worthlessness, and an impugning of one’s motives In effect, what is attacked is not one’s actions, or one’s ideas, but one’s self.
This attack is accomplished by making you feel that your very existence is inimical to the Movement and that nothing can change this short of ceasing to exist. These feelings are reinforced when you are isolated from your friends as they become convinced that their association with-you is similarly inimical to the Movement and to themselves. Any support of you will taint them. Eventually all your colleagues join in a chorus of condemnation which cannot be silenced, and you are reduced to a mere parody of your previous self.
It took three trashings to convince me to drop out. Finally, at the end of 1969, I felt psychologically mangled to the point where I knew I couldn’t go on. Until then I interpreted my experiences as due to personality conflicts or political disagreements which I could rectify with time and effort. But the harder I tried, the worse things got, until I was finally forced to face the incomprehensible reality that the problem was not what I did, but what I was.
This was communicated so subtly that I never could get anyone to talk about it. There were no big confrontations, just many little slights. Each by itself was insignificant; but added one to another they were like a thousand cuts with a whip. Step by step I was ostracized: if a collective article was written, my attempts to contribute were ignored; if I wrote an article, no one would read it; when I spoke in meetings, everyone would listen politely, and then take up the discussion as though I hadn’t said anything; meeting dates were changed without my being told; when it was my turn to coordinate a work project, no one would help; when I didn’t receive mailings, and discovered that my name was not on the mailing list, I was told I had just looked in the wrong place. My group once decided on joint fund-raising efforts to send people to a conference until I said I wanted to go, and then it was decided that everyone was on her own (in fairness, one member did call me afterward to contribute $5 to my fare, provided that I not tell anyone. She was trashed a few years later).
My response to this was bewilderment. I felt as though I were wandering blindfolded in a field I full of sharp objects and deep holes while being reassured that I could see perfectly and was in a smooth, grassy pasture. It was is if I had unwittingly entered a new society, one operating by rules of which I wasn’t aware, and couldn’t know. When I tried to get my group(s) to discuss what I thought was happening to me, they either denied my perception of reality by saying nothing was out of the ordinary, or dismissed the incidents as trivial (which individually they were). One woman, in private phone conversations, did admit that I was being poorly treated. But she never supported me publicly, and admitted quite frankly that it was because she feared to lose the group’s approval. She too was trashed in another group.
Month after month the message was pounded in: get out, the Movement was saying: Get Out, Get Out! One day I found myself confessing to my roommate that I didn’t think I existed; that I was a figment of my own imagination. That’s when I knew it was time to leave. My departure was very quiet. I told two people, and stopped going to the Women’s Center. The response convinced me that I had read the message correctly. No one called, no one sent me any mailings, no reaction came back through the grapevine. Half my life had been voided, and no one was aware of it but me. Three months later word drifted back that I had been denounced by the Chicago Women’s Liberation Union, founded after I dropped out of the Movement, for allowing myself to be quoted in a recent news article without their permission. That was all.
The worst of it was that I really didn’t know why I was so deeply affected. I had survived growing up in a very conservative, conformist, sexist suburb where my right to my own identity was constantly under assault. The need to defend my right to be myself made me tougher, not tattered. My thickening skin was further annealed by my experiences in other political organizations and movements, where I learned the use of rhetoric and argument as weapons in political struggle, and how to spot personality conflicts masquerading as political ones. Such conflicts were usually articulated impersonally, as attacks on one’s ideas, and while they may not have been productive, they were not as destructive as those that I later saw in the feminist movement. One can rethink one’s ideas as a result of their being attacked. It’s much harder to rethink one’s personality. Character assassination was occasionally used, but it was not considered legitimate, and thus was limited in both extent and effectiveness. As people’s actions counted more than their personalities, such attacks would not so readily result in isolation. When they were employed, they only rarely got under one’s skin.
But the feminist movement got under mine. For the first time in my life, I found myself believing all the horrible things people said about me. When I was treated like shit, I interpreted it to mean that I was shit. My reaction unnerved me as much as my experience. Having survived so much unscathed, why should I now succumb? The answer took me years to arrive at. It is a personally painful one because it admits of a vulnerability I thought I had escaped. I had survived my youth because I had never given anyone or any group the right to judge me. That right I had reserved to myself. But the Movement seduced me by its sweet promise of sisterhood. It claimed to provide a haven from the ravages of a sexist society; a place where one would be understood. It was my very need for feminism and feminists that made me vulnerable. I gave the movement the right to judge me because I trusted it. And when it judged me worthless, I accepted that judgment.
For at least six months I lived in a kind of numb despair, completely internalizing my failure as a personal one. In June, 1970, I found myself in New York coincidentally with several feminists from four different cities. We gathered one night for a general discussion on the state of the Movement, and instead found ourselves discussing what had happened to us. We had two things in common; all of us had Movement-wide reputations, and all had been trashed. Anselma Dell’Olio read us a speech on “Divisiveness and Self-Destruction in the Women’s Movement” she had recently given at the Congress To Unite Women (sic) as a result of her own trashing.
I learned … years ago that women had always been divided against one another, self-destructive and filled with impotent rage. I thought the Movement would change all that. I never dreamed that I would see the day when this rage, masquerading as a pseudo-egalitarian radicalism [would be used within the Movement to strike down sisters singled out for punishment. . . . “I am referring … to the personal attacks, both overt and insidious, to which women in the Movement who had painfully managed any degree of achievement have been subjected. These attacks take different forms. The most common and pervasive is character assassination: the attempt to undermine and destroy belief in the integrity of the individual under attack. Another form is the ‘purge.’ The ultimate tactic is to isolate her. . . . "And who do they attack? Generally two categories. . . Achievement or accomplishment of any kind would seem to be the worst crime: … do anything . . . that every other woman secretly or otherwise feels she could do just as well — and … you’re in for it. If then … you are assertive, have what is generally described as a ‘forceful personality/ if … you do not fit the conventional stereotype of a ’feminine’ woman, … it’s all over. “If you are in the first category (an achiever), You are immediately labeled a thrill-seeking opportunist, a ruthless mercenary, out to make her fame and fortune over the dead bodies of selfless sisters who have buried their abilities and sacrificed their ambitions for the greater glory of Feminism. Productivity seems to be the major crime — but if you have the misfortune of being outspoken and articulate, you are also accused of being power-mad, elitist, fascist, and finally the worst epithet of all: a male-identifier. Aaaarrrrggg!”

As I listened to her, a great feeling of relief washed over me. It was my experience she was describing. If I was crazy, I wasn’t the only one. Our talk continued late into the evening. When we left, we sardonically dubbed ourselves the “feminist refugees” and agreed to meet sometime again. We never did. Instead we each slipped back into our own isolation, and dealt with the problem only on a personal level. The result was that most of the women at that meeting dropped out as I had done. Two ended up in the hospital with nervous breakdowns. Although all remained dedicated feminists, none have really contributed their talents to the Movement as they might have. Though we never met again, our numbers grew as the disease of self-destructiveness slowly engulfed the Movement.
Over the years I have talked with many women who have been trashed. Like a cancer, the attacks spread from those who had reputations to those who were merely strong; from those who were active to those who merely had ideas; from those who stood out as individuals to those who failed to conform rapidly enough to the twists and turns of the changing line. With each new story, my conviction grew that trashing was not an individual problem brought on by individual actions; nor was it a result of political conflicts between those of differing ideas, It was a social disease.
The disease has been ignored so long because it is frequently masked under the rhetoric of sisterhood. In my own case, the ethic of sisterhood prevented a recognition of my ostracism. The new values of the Movement said that every woman was a sister, every woman was acceptable. I clearly was not. Yet no one could admit that I was not acceptable without admitting that they were not being sisters. It was easier to deny the reality of my unacceptability. With other trashings, sisterhood has been used as the knife rather than the cover-up. A vague standard of sisterly behavior is set up by anonymous judges who then condemn those who do not meet their standards. As long as the standard is vague and utopian, it can never be met. But it can be shifted with circumstances to exclude those not desired as sisters. Thus Ti-Grace Atkinson’s memorable adage that “sisterhood is powerful: it kills sisters” is reaffirmed again and again.
Trashing is not only destructive to the individuals involved, but serves as a very powerful tool of social control. The qualities and styles which are attacked become examples other women learn not to follow — lest the same fate befall them. This is not a characteristic peculiar to the Women’s Movement, or even to women. The use of social pressures to induce conformity and intolerance for individuality is endemic to American society. The relevant question is not why the Movement exerts such strong pressures to conform to a narrow standard, but what standard does it pressure women to conform to.
This standard is clothed in the rhetoric of revolution and feminism. But underneath are some very traditional ideas about women’s proper roles. I have observed that two different types of women are trashed. The first is the one described by Anselma Dell’Olio — the achiever and/or the assertive woman, the one to whom the epithet “male-identified” is commonly applied. This kind of woman has always been put down by our society with epithets ranging from “unladylike” to “castrating bitch.” The primary reason there have been so few “great women ______” is not merely that greatness has been undeveloped or unrecognized, but that women exhibiting potential for achievement are punished by both women and men. The “fear of success” is quite rational when one knows that the consequence of achievement is hostility and not praise.
Not only has the Movement failed to overcome this traditional socialization, but some women have taken it to new extremes. To do something significant, to be recognized, to achieve, is to imply that one is “making it off other women’s oppression” or that one thinks oneself better than other women. Though few women may think this, too many remain silent while the others unsheathe their claws. The quest for “leaderlessness” that the Movement so prizes has more frequently become an attempt to tear down those women who show leadership qualities, than to develop such qualities in those who don’t. Many women who have tried to share their skills have been trashed for asserting that they know something others don’t. The Movement’s worship of egalitarianism is so strong that it has become confused with sameness. Women who remind us that we are not all the same are trashed because their differentness is interpreted as meaning we are not all equal.
Consequently the Movement makes the wrong demands from the achievers within it. It asks for guilt and atonement rather than acknowledgment and responsibility. Women who have benefited personally from the Movement’s existence do owe it more than gratitude. But that debt is not called in by trashing. Trashing only discourages other women from trying to break free of their traditional shackles.
The other kind of woman commonly trashed is one I would never have suspected. The values of the Movement favor women who are very supportive and self-effacing; those who are constantly attending to others’ personal problems; the women who play the mother role very well. Yet a surprising number of such women have been trashed. Ironically their very ability to play this role is resented and creates an image of power which their associates find threatening. Some older women who consciously reject the mother role are expected to play it because they “look the part” — and are trashed when they refuse. Other women who willingly play it find they engender expectations which they eventually cannot meet, No one can be “everything to everybody,” so when these women find themselves having to say no in order to conserve a little of their own time and energy for themselves or to tend to the political business of a group, they are perceived as rejecting and treated with anger. Real mothers of course can afford some anger from their children because they maintain a high degree of physical and financial control over them. Even women in the “helping” professions occupying surrogate mother roles have resources with which to control their clients’ anger. But when one is a “mother” to one’s peers, this is not a possibility. If the demands become unrealistic, one either retreats, or is trashed.
The trashing of both these groups has common roots in traditional roles. Among women there are two roles perceived as permissible: the “helper” and the “helped.” Most women are trained to act out one or the other at different times. Despite consciousness-raising and an intense scrutiny of our own socialization, many of us have not liberated ourselves from playing these roles, nor from our expectations that others will do so. Those who deviate from these roles — the achievers — are punished for doing so, as are those who fail to meet the group’s expectations.
Although only a few women actually engage in trashing, the blame for allowing it to continue rests with us all. Once under attack, there is little a woman can do to defend herself because she is by definition always wrong. But there is a great deal that those who are watching can do to prevent her from being isolated and ultimately destroyed. Trashing only works well when its victims are alone, because the essence of trashing is to isolate a person and attribute a group’s problems to her. Support from others cracks this facade and deprives the trashers of their audience. It turns a rout into a struggle. Many attacks have been forestalled by the refusal of associates to let themselves be intimidated into silence out of fear that they would be next. Other attackers have been forced to clarify their complaints to the point where they can be rationally dealt with.
There is, of course, a fine line between trashing and political struggle, between character assassination and legitimate objections to undesirable behavior. Discerning the difference takes effort. Here are some pointers to follow. Trashing involves heavy use of the verb “to be” and only a light use of the verb “to do.” It is what one is and not what one does that is objected to, and these objections cannot be easily phrased in terms of specific undesirable behaviors. Trashers also tend to use nouns and adjectives of a vague and general sort to express their objections to a particular person. These terms carry a negative connotation, but don’t really tell you what’s wrong. That is left to your imagination. Those being trashed can do nothing right. Because they are bad, their motives are bad, and hence their actions are always bad. There is no making up for past mistakes, because these are perceived as symptoms and not mistakes.
The acid test, however, comes when one tries to defend a person under attack, especially when she’s not there, If such a defense is taken seriously, and some concern expressed for hearing all sides and gathering all evidence, trashing is probably not occurring. But if your defense is dismissed with an oft-hand “How can you defend her?”; if you become tainted with suspicion by attempting such a defense; if she is in fact indefensible, you should take a closer look at those making the accusations. There is more going on than simple disagreement.
As trashing has become more prevalent, I have become more puzzled by the question of why. What is it about the Women’s Movement that supports and even encourages self-destruction? How can we on the one hand talk about encouraging women to develop their own individual potential and on the other smash those among us who do just that? Why do we damn our sexist society for the damage it does to women, and then damn those women who do not appear as severely damaged by it? Why has consciousness-raising not raised our consciousness about trashing?
The obvious answer is to root it in our oppression as women, and the group self-hate which results from our being raised to believe that women are not worth very much. Yet such an answer is far too facile; it obscures the fact that trashing does not occur randomly. Not all women or women’s organizations trash, at least not to the same extent. It is much more prevalent among those who call themselves radical than among those who don’t; among those who stress personal changes than among those who stress institutional ones; among those who can see no victories short of revolution than among those who can be satisfied with smaller successes; and among those in groups with vague goals than those in groups with concrete ones.
I doubt that there is any single explanation to trashing; it is more likely due to varying combinations of circumstances which are not always apparent even to those experiencing them. But from the stories I’ve heard, and the groups I’ve watched, what has impressed me most is how traditional it is. There is nothing new about discouraging women from stepping out of place by the use of psychological manipulation. This is one of the things that have kept women down for years; it is one thing that feminism was supposed to liberate us from. Yet, instead of an alternative culture with alternative values, we have created alternative means of enforcing the traditional culture and values. Only the name has changed; the results are the same.
While the tactics are traditional, the virulence is not. I have never seen women get as angry at other women as they do in the Movement. In part this is because our expectations of other feminists and the Movement in general are very high, and thus difficult to meet. We have not yet learned to be realistic in our demands on our sisters or ourselves. It is also because other feminists are available as targets for rage.
Rage is a logical result of oppression. It demands an outlet. Because most women are surrounded by men whom they have learned it is not wise to attack, their rage is often turned inward. The Movement is teaching women to stop this process, but in many instances it has not provided alternative targets. While the men are distant, and the “system” too big and vague, one’s “sisters” are close at hand. Attacking other feminists is easier and the results can be more quickly seen than by attacking amorphous social institutions. People are hurt; they leave. One can feel the sense of power that comes from having “done something.” Trying to change an entire society is a very slow, frustrating process in which gains are incremental, rewards diffuse, and setbacks frequent. It is not a coincidence that trashing occurs most often and most viciously by those feminists who see the least value in small, impersonal changes and thus often find themselves unable to act against specific institutions.
The Movement’s emphasis on “the personal is political” has made it easier for trashing to flourish. We began by deriving some of our political ideas from our analysis of our personal lives. This legitimated for many the idea that the Movement could tell us what kind of people we ought to be, and by extension what kind of personalities we ought to have. As no boundaries were drawn to define the limits of such demands, it was difficult to preclude abuses. Many groups have sought to remold the lives and minds of their members, and some have trashed those who resisted. Trashing is also a way of acting out the competitiveness that pervades our society, but in a manner that reflects the feelings of incompetence that trashers exhibit. Instead of trying to prove one is better than anyone else, one proves someone else is worse. This can provide the same sense of superiority that traditional competition does, but without the risks involved. At best the object of one’s ire is put to public shame, at worst one’s own position is safe within the shrouds of righteous indignation, Frankly, if we are going to have competition in the Movement, I prefer the old-fashioned kind. Such competitiveness has its costs, but there are also some collective benefits from the achievements the competitors make while trying to outdo each other. With trashing there are no beneficiaries. Ultimately everyone loses.
To support women charged with subverting the Movement or undermining their group takes courage, as it requires us to stick our necks out. But the collective cost of allowing trashing to go on as long and as extensively as we have is enormous. We have already lost some of the most creative minds and dedicated activists in the Movement. More importantly, we have discouraged many feminists from stepping out, out of fear that they, too, would be trashed. We have not provided a supportive environment for everyone to develop their individual potential, or in which to gather strength for the battles with the sexist institutions we must meet each day. A Movement that once burst with energy, enthusiasm, and creativity has become bogged down in basic survival — survival from each other. Isn’t it time we stopped looking for enemies within and began to attack the real enemy without?

The author would like to thank Linda, Maxine, and Beverly for their helpful suggestions in the revision of this paper.
© Joreen