“Quando estamos discutindo lugar de fala, principalmente no feminismo, não é uma simples questão de discordar ou concordar. É uma questão de abrir espaços para que as mulheres que foram colocadas na periferia, que foram jogadas para escanteio, possam falar e sejam ouvidas.Nós, mulheres da periferia do feminismo, não queremos que vocês falem por nós, queremos que nossas vozes sejam ouvidas. Porque nós gritamos, nós nos movimentamos, mas ninguém escuta, ninguém percebe. Nós somos ignoradas. Mulheres brancas,heterossexuais,classe média são o centro do feminismo, vocês sabem o porquê.Quando eu vejo mulheres que são o centro do feminismo discordando que a perspectiva do lugar de fala é fundamental para o feminismo, eu sei o porquê. Vocês também sabem. Quando eu vejo mulheres que são a periferia do feminismo, evidenciando o papel fundamental do lugar de fala para o feminismo, eu sei o porquê. Vocês também sabem.É uma nova forma de colonização esse silenciamento do centro em relação a periferia. Nós temos voz, mas estamos mudas. Quando o centro fala pela periferia, ele está colocando a visão que ele tem da periferia, não o que essa experiencia, vivencia diz. A nossa realidade é mascarada. A ideia do centro falando pela periferia só vai satisfazer as necessidades do centro. A ideia de horizontalidade no feminismo só vai ser atingida quando a periferia do feminismo for ouvida. Não é uma questão de discordar ou concordar, porque isso foge completamente da ideia coletiva, discordar da ideia de “deixar falar” da periferia é mais uma forma de dar continuidade ao silenciamento e apagamento dessas mulheres dentro do movimento feminista, o lugar de fala tem que ser respeitado."
Amanda Oliveira

“Só queria deixar umas coisas aqui:

Misoginia, lugar de fala, gênero, racismo, lesbofobia, não são conceitos a se discutir. Pelo simples fato de que não são CONCEITOS, são as realidades materiais e históricas de sujeitos que existem, materialmente, historicamente, e no presente.
Então assim. Não tem essa de discordar, saca?

(…)

Lugar de fala não é liberal. Pelo contrário, o liberalismo advoga a universalidade do ser-humano como um argumento para que qualquer um esteja apto a falar de qualquer tema, mesmo que este não diga respeito à materialidade de sua vivência.

Que eu saiba, o conceito de lugar de fala surge na sociologia, a partir de uma perspectiva materialista (mas não sei se marxista) e diz que o conhecimento é o produto material e intelectual de sujeitos que se inserem num mundo conformado por relações de poder. Desta forma, não existe modo de produzir saber isento de uma posição no mundo, locus de enunciação ou lugar de fala."

Carmen Lucipher

“A menudo, las mujeres blancas que se dedican a publicar ensayos y libros sobre cómo «desaprender el racismo» continúan teniendo una actitud paternalista y condescendiente cuando se relacionan con mujeres negras. Esto no es sorprendente, dada la frecuencia con la que su discurso se dirige solamente a una audiencia blanca y se centra tan solo en cambiar actitudes, antes que en situar el racismo en un contexto histórico y político. Nos convierten en el «objeto» de su discurso privilegiado sobre la raza. Como «objetos», continuamossiendo diferentes, inferiores. Incluso aunque estén preocupadas de forma sincera por el racismo, su metodología sugiere que no se han liberado del paternalismo endémico de la ideología de la supremacía blanca. Algunas de esas mujeres se sitúan a sí mismas en el lugar de las «autoridades» que deben mediar entre las mujeres blancas racistas —ellas, naturalmente, se ven a sí mismas libres de racismo— y las mujeres negras furiosas a las que consideran incapaces de mantener un discurso racional. Por supuesto, el sistema del racismo, clasismo y elitismo en la educación debe permanecer intacto si pretenden mantener su posición de autoridad.”

- bell hooks