O amor homo/lésbico, do livro Los deseos de cambio… o el cambio de los deseos?, de Margarita Pisano

A lésbico/homossexualidade vivida por uma pessoa, cuja mente e corpo estão impregnados (colonizados) de ideologia patriarcal essencialista, não é uma experiência libertadora por si só, já que reproduz a ordem simbólica/valórica patriarcal, reproduz a propriedade sobre as pessoas e reproduz o sistema amor/ódio patriarcal.
Grande parte dos coletivos lésbicos/homossexuais vivem os estereótipos da masculinidade e da feminilidade na dinâmica de domínio do masculino sobre o feminino.
No coletivo lésbico, existe a possibilidade de amar e erotizar entre mulheres, além da potencialidade de reconciliação com o fato de ter nascido mulher (amar uma mulher e amar a si mesma), sua contrapartida é que, ao repetir a simbologia amorosa patriarcal, novamente se supervaloriza o masculino incorporando-o ao modo de estabelecer relações amorosas.
Me atreveria a dizer que quase todas as mulheres de alguma maneira em algum momento tivemos vontade de ter nascido homem, não pelo fato de ter um falo, como disse Freud, mas para gozar da liberdade e poder que a masculinidade tem. Esta necessidade de exercício de poder masculino muitas vezes aparece em grupos lésbicos.
O coletivo homossexual masculino, por sua vez, exacerba a construção patriarcal da masculinidade em suas expressões mais fálicas; ao amar e erotizar-se com um homem, eles o fazem com um igual, de poder a poder. No entanto, também eles incorporam a simbologia amorosa patriarcal (os papéis feminino/masculino), quando aludem ao estereótipo do feminino que historicamente leva implícito a ridicularização e a humilhação da mulher.
Atualmente o movimento lésbico-homossexual está em luta pela igualdade, sobretudo pelo direito a se casar e constituir família, a incorporar o casal lésbico ou homossexual dentro dos parâmetros do casal reprodutor, construindo simbolicamente a “família feliz”. Isso pode levar a entrar em uma dinâmica de fantasia da realidade que pode chegar a ser mais opressiva que o modelo patriarcal heterossexual.
O patriarcado é um sistema que, em sua essência e visão reprodutiva não pode aceitar a homossexualidade assumida livremente, portanto, a marginaliza, a estigmatiza… ou a recicla dentro de seu sistema de família. No entanto, a lesbiandade é muito mais penalizada, invisibilizada e perseguida que a homossexualidade dos homens, porque não é uma atividade do grupo hegemônico masculino e escapa ao domínio exercido sobre a “natureza a dominar”.
O discurso da sexualidade lésbico-homossexual pode ter a potencialidade política da desconstrução do patriarcado se não entrar na ordem simbólica que lhe está sendo proposta.