Mulher não é algo natural, é uma categoria política, artificial, criada por um regime político: o da heterossexualidade. Assim como ‘negro’ não é um grupo natural. Nas espécies existe gênero? Dá pra distinguir um gato macho de uma gata fêmea sem olhar pro seu genital ? (às vezes nem dá pra achar em muitas espécies). Mulher é um grupo criado pela supremacia masculina a partir de seus traços diferenciais, com o objetivo de se apropriar de suas capacidades reprodutivas e de trabalho. Assim como negros ou proletários. Só que isso se sustenta com um discurso, uma ‘doutrina’ como fala a Wittig, a doutrina que ela chama de heterossexual (o feminismo chamaria de sexismo, a Wittig fala do regime heterossexual e centraliza nesse regime a produção das categorias de sexo), que naturaliza esse grupo, diz que ele sempre existiu e que toda a coisa que faz uma mulher – a feminilidade – é algo que é dado pela natureza.
O que a análise lésbica materialista/radical consegue no nível da teorização – a conclusão de que mulher não é um grupo natural mas uma categoria política e histórica (e daí ‘destruindo’ este grupo, a crença neste grupo, crença esta que o sustenta de certa forma, sustenta nossa convicção de que este grupo é natural e sempre existiu) a existência lésbica em si concreta na prática. Ela tá dizendo que se a análise lésbica radical é a teoria, as lésbicas concretas, enquanto pessoas, sua existência, seu modo de existir, suas relações, sua forma de ser, é a prática. A análise lésbica revela de forma prática que a divisão sexual em categorias sexuais homem mulher é uma divisão política, promovida pelos homens.

Por isso Wittig afirma que não existe dois gêneros, mas apenas um: a mulher. Ela é o constructo artificial, a ‘diferença’, ela é produzida, o homem é o Mesmo, a mulher é o outro…