“É difícil que mulheres pensantes não sejam alvo de rumor. Mulheres incômodas. Difícil que alguma mulher não tenha sido alvo do rumor, e por isso mesmo que a maioria possui medo de falar o que pensa e ser crítica. Medo de ser ‘mal falada’. Já sofremos isso do Patriarcado e seu backlash na forma de ‘feminismo liberal’, queer, interseccional, afins, eles atuam praticamente por meio do terrorismo do rumor, da ameaça deste, um exemplo é as listas ‘terfs’. Mas além disso, há a cultura de exposição na internet, e esta, vale lembrar, foi aprendida por ‘radicais’ por meio dessa gente, e a exposição online por sua vez foi aprendida da misoginia dos homens, dos porn revenge e punições e vexações públicas à mulheres… e estes datam a milênios, desde os apedrejamento de adulteras, à queima de bruxas, a exposição de mulheres sempre vai ser misoginia e sempre terá em suas bases, a violência patriarcal que carregamos historicamente. E ver o quanto isso permeia as próprias relações entre feministas, que por meio de um pacto de mediania acabam por pensar todas iguais, e qualquer pensamento mais radical ou questionador que se arrisque, até mesmo no dito feminismo ‘radical’, é temido e então, apedrejado. O rumor, assim, constrange a imaginação feminista e lésbica e constitui, por consequência, em uma perda histórica para nós. Perda de pensamento que nos avance rumo a uma ‘mudança civilizatória’, como diz Margarita Pisano (pensadora chilena), ao falar da nossa capacidade de criar cultura e de logo, criar outra cultura que não a patriarcal, a do domínio.

Creio que a tarefa de ser feminista radical é justamente, assumir esse lugar de fronteira, é estar sempre indo além, pois o patriarcado possui um poder imenso de re-assimilar tudo e recuperar, como uma esponja, a rebeldia e qualquer desafio à este. Os desafios mais temidos são os mais profundos, aqueles que se propoem a descolonizar-se de sua cultura… Desfazer-nos do rumor e de práticas de misoginia entre mulheres é um desafio se pretendemos que nosso feminismo seja realmente radical e transformador no que tange à relação entre mulheres."

(Jan)