Segredos, Chantagens e Rumores – Os preconceitos. Margarita Pisano

Os preconceitos são território das culturas essencialistas, estas baseadas nas idéias inamovíveis de domínio e da superioridade. Se herdam de geração em geração e se instalam, falseando a História.

Os preconceitos são juízos envasados, estabelecidos por esta machocultura. Sua função é não nos permitir pensar nem elaborar ideias próprias e nos apartar de nossas capacidades de liberdade.

Os preconceitos são leis implícitas, de fronteiras obscuras, difíceis de detectar – linhas de fogo intransitáveis nas quais se fuzila quem queira sair-se do sistema, para mantê-lo inerte e ‘crente’ em seus costumes e idéias.

O sistema trama por meio dos preconceitos sua teia de aranha, atrapando as possibilidades reais de construir uma civilização outra.

A cultura vigente conta com um ‘aparato de propaganda’: museus, bibliotecas, igrejas, monumentos, ruínas, ciências, cultura… “Consuma masculinidade-feminilidade!”.

Os preconceitos se aninham no ódio histórico contra as mulheres (misoginia).

Os segredos, chantagens e rumores estão baseados nos preconceitos, aninhados no já instalado sentido comum, por meio de todas as pessoas e seu ‘orgulho’.

Os segredos, chantagens e rumores se temem, porque te difamam, te deixam no ostracismo… te suicidam. Sem existência prévia dos preconceitos não seria possível a chantagem nem o rumor. Os preconceitos são chantagens sociais que ‘servem’ aos poderosos e seus interesses (com nomes e sobrenomes).

Os grupos de privilegiados formam as instituições como mecanismos de poder para manter seus privilégios e preconceitos. O resto de seus integrantes são cúmplices e crentes ambiciosos.

Frente ao rumor não se possui defesa: é malígno, amébico, e especialmente, pós-moderno.

Tão submergidas estão as pessoas nesta cultura que seus discursos quase não se distinguem entre si. O contorno entre uns e outros se perde: é o preconceito do des-preconceito.

O controle da sexualidade e dos corpos se baseia em silêncios, rumores e chantagens. O preconceito não é somente um problema individual. É sustentado por conjuntos de seres humanos e suas relações de poder.

Seguem alguns preconceitos (rumores) famosos e algumas intervenções:

“Os pobres são pobres porque são vagabundos”
“Os ricos são ricos porque são trabalhadores, inteligentes e responsáveis”.
“Os do ‘norte’ – EUA e Europa – são poderosos porque são trabalhadores” (não será por roubarem o terceiro mundo?).
“Os europeus são o ápice da cultura” (um ápice racista, classista, sexista, sadomasoquista? O ápice da arrogância).
“Os mapuches (etnia indígena do sul do Chile) são vagabundos… todos”.
“As mulheres nos realizamos com a maternidade… todas”.
“Os pais amam a seus filh@s”.
“As filhas e filhos amam a seus pais”.
“Esta sociedade ama as crianças”.
“Os homens são como crianças” (dizem as mulheres).
“O lar é sagrado” (O lar é o primeiro território da violência).
“Temos uma parte masculina e outra feminina”.
“A feminilidade das mulheres é parte de sua natureza”.
“O feminismo é o machismo das mulheres” (o contrário de machismo é
mulherismo).
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Margarita Pisano
Setembro de 2004

(1) Segundo o dicionário de María Moliner, chantagem é um procedimento para conseguir alguma coisa que se quer de uma pessoa, ameaçando ela, particularmente com a difamação, caso não se consiga aquilo que se deseja.