www.youtube.com/watch?v=OX7hZ-2TsG8&feature=youtu.be

O fardo da ofensa nos ombros carrego
A palavra radical é calúnia pros cegos
Presos na ignorância como podem
Viver sem raiz?
Viver sem história?

A ganância incessante gerou tudo o que existe
Conquistando território e gerando povos tristes
Que só vivem o desconforto do que repetem dia a dia
Que pensam ser a enfermidade o que acaba com a agonia

É zona de conforto toda iludida
De uma sociedade que há muito está perdida
Que leva à doença e à escravidão
Leva à opressão daquelas que não detem poder nas mãos

E você vem dizer que basta a gratidão
Sem notar que estamos em tempos de guerra
Petulantes sem cessar destruindo a Mãe Terra

E sem as guerreiras todas as outras sucumbirão
Sem as curandeiras as espécies se extinguirão

Radical, que cava até descobrir a verdade
Da continuidade do poder dos homens
Que matam nossa dignidade
Sobre aquelas que foram e são queimadas no fogo da mediocridade
Apedrejadas, condenadas por um deus que fede a maldade

Escravizadas desde a nossa infância por essa cultura repulsiva
Que nos tira o ser criança transformando desde cedo em objeto
Anulando a liberdade em seu decreto

E hoje a violência se veste de sutileza
Cegando sua clareza
Naturalizando o corpo machucado
Drenado de prazer disfarçado
Num lugar de sofrimento em vão
Na cama do vilão

Liberta sua fúria

Revoltada, resgate da selvagem odiada pela civilização
Odiada pelos que mentem dizendo ser irmãos
Insistindo que por sua hipocrisia devemos juntar as mãos

Detestada, inclusive, por aquelas por quem luto
Isolada pelo mundo, sem que haja para mim um chão
Em que possa pisar e assegurar
“Este é o meu lugar”

Sou a guerreira amazona
Sapatona
Amante daquela que sangra sem redoma
Que também traz na alma o brilho e a ira

Pobre Pacha Mamma na cidade mal respira

Sou a selva corpórea da flora que cresce sem cessar
O incômodo de quem quer me manter no lugar
Em que não nasci pra ficar

Sou a bruxa sem sistema, sem destino
Tratada como a louca em ruína
Sem migué, eu confirmo e boto fé
Se ser sã é seguir a sina da rotina
Da vida aprisionada na cortina de fumaça cinza

Sou então a mais louca das loucas

Pouco me importo com o quanto incomodo
Com o quanto tentam me silenciar, e me anular
Distorcer as cruas e duras verdades que tenho a dizer

Na real isso já é de se esperar
Dos patriarcas que só querem nos aniquilar
Nos feminilizar e nos educar
A sermos complacentes com a terrível cultura do estupro

Que tira o valor do nosso NÃO
Misoginia pornografia pedofilia lesbofobia e mutilação

Continuarei resistindo
Sendo visível, insistindo
Declarando o meu ódio contra o patriarcado
que faz a vida da mulher trancada

Contra a heterossexualidade compulsória, o racismo
e toda injustiça vexatória
Mulheres periféricas são as que mais sofrem com essa história

Sou a ancestral pelo tempo transportada
De bastão e labrys armada
Declaro a batalha
Sapatão, peluda e antiestética
Viajo sem rumo e faço arte sem apego à matéria

Assim como você parceira
Sou sobrevivente guerreira dessa realidade
Na sagacidade
Não precisamos dos homens nem dessa pútrida cultura
Suposta solução que é o veneno que nos mata

Tu não tá sozinha, até o fim dos tempos, seguiremos na luta