Vou dar meu comentário, talvez seja meio polêmico.
Mas eu acho essa idéia de "Prevenção no sexo lésbico’ uma tentativa de importar algo hetero pras relações lésbicas. Acho uma tentativa fracassada de tentar aplicar uma logica hetero ao sexo lésbico, e problemáticas heteros, sem entender radicalmente daonde vem esse problema, e pior: apelando para posições e políticas ‘demandistas’ e identitárias que nada se referem à autonomia.
Pois qual objetivo dessa pauta, que a gente ‘peça’ para o Estado e para a Industria Farmaceutica, que produza proteções especificas para lésbicas? Fazer o favor para eles de criar uma demanda mercadologica, transformar lésbicas num mercado de produtos sexuais, e assimilar lésbicas ao Capital, e à medicalização da sexualidade e dos corpos?
Eu sei lá, entendo que como paliativo seja algo, assim como ‘legalização’ do aborto, que assim como legalização da maconha, traz outros problemas: só observar no Uruguai essa política, que só acabou transformando a maconha num mercado monopolista, a venda da maconha no Uruguai está nas mãos da Monsanto. O aborto legal significa que o corpo das mulheres está nas mãos do Estado, a mulher não decide nada e sim juízes e leis.
Porque na real mesmo a transmissão de doenças se dá pelo heterosexo – uma arma de guerra bioquímica contra mulheres.
Uma sexualidade masculina patriarcal que exige toda uma engenharia complexa – hormônios, camisinhas, remédios e mais remédios, vacinas pra HPV – que vem tendo vários efeitos colaterais e só protege contra uma mutação do vírus, vacinação compulsória que deixou varias meninas vitimas, aliadas à interesses farmacológicos, baseada numa prevenção que tem por objetivo vacinar meninas de 13, 14 anos para que futuramente sejam penetradas por um pênis sem que o homem tenha que ter o incômodo de usar preservativo e possa ejacular dentro dessas futuras mulheres. Uma sexualidade mantida à base de lubrificantes, sex shops, idas à ginecologista – em si uma disciplina médica patriarcal que só existe porque mulheres são parideiras do sistema, e também existe como instituição que visa principalmente medicalizar o corpo das mulheres. A Ginecologia é uma disciplina que se presta à manutenção da heterossexualidade – partos, manutenção do intercurso sexual e cura dos problemas vários que ele gera, correção das mulheres dentro da feminilidade (contem quantas vezes clínicas ginecologicas estão associadas à clínicas estéticas), hormonização, medicalização da menopausa, etc… E por isso mesmo acho que as feministas que trabalham com “Ginecologia” Natural estão equivocadas em retomar esse termo, além de que, a maior parte da ginecologia natural é justamente dedicada a encontrar soluções à problemas gerados pelos homens – crítica que faço ao feminismo como um todo – ao invés de ver que o problema é erradicado com o rompimento com eles.
Toda uma prática sexual rentável à indústria médica e sustentada por ela.
Porque o heterosexo é uma prática sexual genocida, causando a mortalidade de mulheres mundial, seja por doenças sexuais, por AIDS, por câncer do colo do útero (transmitido pelo pênis, é preciso que algo que alcance o colo do útero chegue até lá com a bactéria), por partos mal realizados ou em corpos femininos não preparados (meninas), violência obstétrica, complicações de infecções urinárias ou anais (hemorróidas), mutilações reprodutivas, histerectomias, cauterizações do útero, fístula obstétrica, esterelização feminina para que novamente homens não precisem se preocupar, abortos em condições inseguras e o aborto em si como um procedimento muitas vezes estressante e que novamente arrisca o corpo da mulher, preços caros que a mulher paga por essa sexualidade.
A AIDS, assim como todas DSTs tem como vetor o homem. É claro, a sociedade patriarcal naturalizou que um órgão externo e sujo possa penetrar sem qualquer problema a vagina da mulher (mas os pêlos das mulheres é que são anti-higiênicos!). A AIDS atinge mundialmente, sobretudo, as mulheres.
A AIDS é uma indústria também, junto com os Direitos Sexuais e Reprodutivos eles são as principais fontes de fundos para ativismos institucionais, que existem a base de editais de governo ou fundos internacionais, geralmente LGBT ou de direitos sexuais e reprodutivos, que trazem muitas vezes subjacente, uma agenda política neoliberal e colonizatória.

Como LÉSBICAS estão radicalmente fora do patriarcado, da falocracia e dessa problemática, por serem problemáticas da heterorrealidade, os ativismos lésbicos derivados do LGBT, da militancia de ONGs e institucional, precisa viver a base de editais, e as vezes isso sustenta até ‘profissionalmente’ as militantes que tem sua renda da militância, e até gente que faz dinheiro com a militância.
O LGBT veio demandando a ideologia queer e a inclusão de politicas trans e a legalização da prostituição (‘trabalhadoras sexuais’, internacionalmente, porque fazem parte do Lobby da Industria do Sexo, que pede as políticas de AIDS, que distribui camisinhas, para os clientes se protegerem.
Na verdade a idéia de proteção no sexo lésbico foi toda uma moda inventada pelo ativismo institucional, porque precisava encaixar os projetos dentro do que pediam os editais LGBT, e eles pedem esse recorte…
É preciso estudar mais e entender essa conjuntura e como ela impacta nos movimentos, como está associada à influência de tendências pós-modernas e identitárias no movimento, com seu impacto negativo fragmentando as comunidades ativistas em mil diferenças políticas desnecessárias. Políticas que se impôem pela força de um contexto hegemônico como seu domínio e presença forte em currículos acadêmicos, o estudo feminista com recorte pós-moderno por meio dos estudos de gênero, de caráter neoliberal e muito alinhado com essa tendência neoliberal. Uma questão de dominação ideológica.

Não digo que não haja a possibilidade de contrair doenças do sexo lésbico, mas estatisticamente é baixa a probabilidade, além de que outra coisa a problematizar é de que, desde a crise da AIDS nos 90, muito alinhadas com políticas racistas e conservadoras desde países de 1o mundo, criou-se um pânico em torno à sexualidades não-heteros, e o quanto esse debate não estabelece um pânico em torno à sexualidade lésbica.

Cuidar-se, no entanto, é necessário, e sempre. Cuidar-se com consciência crítica e de forma radical.
Podemos inventar formas de autocuidado criativas e inteligentes.
Conversar com a parceira, práticas de consentimento no nível saúde, manter um estilo de vida saudável, apostar nas fitoterapias, ‘ginecologias’ naturais, e todos saberes que fujam à lógica médica e recuperem autonomia dos nossos corpos.
Entender os riscos de transmissão de cada prática sexual e com quem transamos, nos cuidarmos, cuidar nossa auto estima para ter empoderamento na afetividade e no sexo, saber dizer não para as práticas que não não se sinta segura de fazer, assim como grupos que não consideramos seguro que tenham acesso à nossos corpos, como os grupos da sigla LGBT que tenham contato com corporalidades masculinas, que são os que empreendem o bioterrorismo sexual contra mulheres – sexualidade é uma arma de guerra masculina, não é a toa que transam sem camisinha mas justamente para marcar, invadir, contaminar mulheres, estabelecer como territórios seus. Não podemos almejar uma sexualidade saudável se ainda se mantêm a prática com opressores.

Também não considero errado recusar esses recursos de proteção, caso julgue-se necessário, mesmo sendo sistemicos, a idéia não é criar uma moralidade primitivista e sim creio ser possível se apropriar das tecnologias existentes assim como inventar novas. Fazer exames em dia e manter essas conversas com a parceira.

Sobre a queixa em torno aos ‘filmes de plástico’, luvas descartáveis e outros métodos, que vejo comumente entre lésbicas: será que não há um estigma também em torno à métodos DIY? Vejamos bem: ter uma camisinha na loja especificamente pra lésbicas pode ser animador, mas eu ainda vejo que habitar as margens tem potencia rebelde antes do ‘pertencer’… eu não vejo problema em criar nossas ferramentas…. inclusive ecológicas e que envolvam outras éticas que consideremos para nossas vidas.


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Pretendo fundamentar mais com dados esse texto depois, no momento sendo nada mais que um rascunho de idéias.
Sobre a discussão em torno a esterelização feminina, encontrei este texto www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1998000500015.
Nele mostra que maioria das mulheres se sentiu satisfeita com a cirurgia por trazer um alívio de não ter que correr o risco de gravidez num país sem acesso à aborto, mas que uma porcentagem não maioria porém importante relata insatisfação. O que pergunto é antes, por que mulheres tem que se mutilar e ter procedimentos cirurgicos intrusivos somente por uma sexualidade desigual como a heterossexual?