Vi uma postagem no facebook que ganhou repercussão e resolvi trazer o recorte diferencial de lesbianidade.
A postagem dizia:

“É problemático vc já ter 21 anos+ e namorar meninas de 15/16/17 anos. Bjs”

Estou totalmente de acordo com a frase, quando nos referimos a relacionamentos heterossexuais. Eu considero inequivocamente, abuso. Pedofilia.
Considero problemático relacionar-se com alguém menor de 18 sendo maior de 18 sim, também no caso das lésbicas, apesar de achar que existe uma diferença de alguém de 20 anos namorar uma menor de 18 e uma de 30 fazê-lo (não conheço muitos casos, apenas de ‘ouvir dizer’ e relatos, mas próximos a mim não).
Por que eu resolvi contextualizar essa frase?
Porque é por ditos assim, relacionados às análises do feminismo heterossexual, o feminismo que lida com questões da opressão de homens sobre mulheres desde a perspectiva de que mulheres se relacionam com homens, que se importam essas análises para os contextos de vida lésbico e se cometem ações indelicadas e precipitadas como por exemplo, a exposição destrutiva de lésbicas com relacionamentos com diferença etária. E daí não falo de lésbicas que namoram menores, mas casais lésbicos onde uma tem 23 e a outra 30 por exemplo, ou uma 33 e a outra 41. E eu considero isso um absurdo e definitivamente, lesbofóbico, ignorante sobre as diferenças entre as relações heterossexuais – onde um gênero estrutural oprime outro, num desequilíbrio que não é simplesmente micropolítico e relacional, mas em termos de peso político conjuntural, coletivo, homens possuem um poder radicalmente diferente do das mulheres autorizado e legitimado por milênios de história patriarcal, enquanto que lésbicas apenas estão tentando se amar a revelia da perseguição sobre elas (que parece que agora é realizada até mesmo pelo movimento feminista, por feministas lesbofóbicas e lésbicas heterocentradas) e dentro das condições possíveis, à margem da heterosociedade.

Considero assimetria etária uma questão sim, a ser refletida e problematizada, assim como outras questões de desequilibrio de poder, que precisamos considerar sim, porém de forma diferencial e com CUIDADO (coisa que vem faltando), nos relacionamentos lésbicos.

Faço a análise diferencial incluindo não somente o caso da frase mas os relacionamentos num geral com assimetria etária entre lésbicas. Pois ainda assim acredito que em relacionamentos lésbicos, ainda que eu não considere algo viável pra mim e eu não me relacionaria com alguém muito mais nova, acredito que é MUITO diferente de relacionamento hetero. E nem todas se encontram nesses relacionamentos por tema de querer encontrar alguém para exercer poder como os homens fazem.
Idade ainda estabelece uma diferença acho que sempre, pode haver um desnível de maturidade, que inclusive pode ser danoso ou prejudicial para – supresa, inclusive a lésbica mais velha. Muitas lésbicas se assumem tardiamente, querem um relacionamento estável, e lésbicas devido a solidão se apegam facilmente ao primeiro relacionamento que estabelecem, e já vi muitas sofrerem emocionalmente por irresponsabilidade afetiva devido a imaturidade de uma lésbica, que acredito ser normal que numa idade jovem não queira um envolvimento sério, ou não tenha tanta responsabilidade e cuidado, experiencia….. Isso é um por quê de eu rejeitar sempre lésbicas muito mais novas que eu e evitar por exemplo.
Eu acho que é meio lesbofobico sair julgando lésbicas como o clássico ‘molestadora sexual’, como vi recentemente umas caçadas a bruxas bem problemáticas empreendidas dentro do ‘ativismo’ lésbico. Acho lamentável que uma pauta como ‘escrachar lésbica’ esteja por cima do assassinato diário de lésbicas que é totalmente invisibilizado até mesmo pelo feminismo, que não toma como frente de luta na luta pelos feminicidios. É patético! Escracho a lésbicas virou uma moda meio pós-moderna e somente contribui para depreciar nossas comunidades, criminalizar lésbicas, que são criminalizadas e tratadas como monstros já tem séculos.

Muitas lésbicas namoram minas mais novas até porque é justamente difícil conhecer outras lésbicas, por conta da propria invisibilidade lésbica. A lésbica sofre de um problema chamado SOLIDÃO LÉSBICA. Lésbicas são isoladas, marginalizadas, abandonadas, expulsas de suas casas, circulos de amizade, isoladas na escola, sofrem bullying, sofrem problemas de auto-estima e são todas por isso mesmo, carentes, são privadas de muitas fontes de afeto como familiar, escolar, social. Algumas vivem em contextos em que mal conseguem conhecer uma sapatão para ser amiga que seja então a primeira sapa que aparece ela se vincula, de forma profunda, todo mundo sabe e até faz piada de como lésbicas estabelecem relacionamentos sérios rapidamente. Então as vezes a sapa que ela conhece possui assimetria etária para com ela! Pensem não em São Paulo ou Porto Alegre, mas sim em cidades do interior, do litoral, religiosas, pensem nos lugares onde nem chega o feminismo como as quebradas, etc. Tipo é total diferente a relação lésbica, porque na relação heterossexual existe sim a INTENCIONALIDADE de abuso do homem, tem toda uma relação estrutural e historica de poder, homens sempre vieram se relacionando com mulheres mais novas pelo motivo de: exercício de poder, pessoas mais fáceis de manipular, mais vulneráveis. E pelo padrão pedofilo misógino. Já lésbicas acho que deveria haver um cuidado maior antes de sairmos julgando os relacionamentos lesbicos comparando a heterossexuais e comparando lésbicas a homens, ou tachando de abusadoras de menininhas, é lesbofóbico! Heterocentrado! Não que não haja talvez impacto de uma construção que valoriza a beleza jovem, mas não é SÓ isso nem SEMPRE isso! E se existe isso, a gente reflete, questiona, desconstrói, e não racha, julga, estigmatiza!
Acho que é massa a gente pautar sim, e que possamos ajudar relacionamentos lésbicos com assimetria etária a serem igualizados, e não sair julgando lésbicas como agressoras de abusadoras. Isso é muito pos-moderno e identitário, a pedofilia é uma coisa muito real realizada pelos homens mas é mais fácil para muitas feministas ficar atacando outras mulheres que atacar o inimigo que são os homens que estão abusando e engravidando meninas todos os dias.

Precisamos entender os contextos de vida lésbicos, problematizar as coisas sempre, fazer autocritica e reflexão sempre, mas com cuidado e empatia, analisando sempre o contexto lésbico com ferramentas teóricas lésbicas, sequer feministas eu diria, pois necessitamos de outras analises sobre nossas vivências, menos tachativas e menos heterocentradas.

Mantendo que sim, eu considero problemático, que jamais me relacionaria com menores de idade, que eu não acho positivo relacionamentos com muita assimetria etária, mas que considero que é preciso uma análise diferencial antes de julgarmos casais lésbicos que se encontram nessa situação.

E daí eu acho pesado, tem um caso próximo a nós e outro casal conhecido meu que ambas lésbicas mais velhas sofreram perseguição e foram demitidas da faculdade por se relacionarem com uma mulher mais nova que foi ex-aluna.
Tipo obvio que acho escroto relação com aluna, mas no caso as mulheres já tinham até se formado. E ambas são caso tipo, casal em que uma tem 30 e a outra 40, outro que uma tem 26 e a outra acho que 40 também… pode ter desequilibrio? Acho que sim! Mas aí acho que podem haver casais com muitas questões a gerar desequilibrio, classe, raça, idade, será que é possível encontrar configurações de casais lésbicos tipo com mesmo patamar de empoderamento totalmente? As pessoas não são agentes para aprenderem a equilibrar esse cenário? Senão declaramos também que as relações entre lésbicas são impossiveis porque estabelecemos idealismos políticos inatingiveis.
Essa penalização JAMAIS ocorre com a maioria de homens professores que sabemos que abusam ou saem com as alunas e orientandas, e isso sim é nefasto, muitas vezes traindo suas companheiras. Eles não são expulsos de unviersidades. Professoras lésbicas sim. São difamadas e afastadas.
Eu vejo aí a questão de que é muito mais fácil expôr uma lésbica depreciativamente e de forma criminalizadora do que expôr a um homem abusador, a coisa se reverte, o estigma de abusadora, predadora e molestadora, já existe para lésbicas. Elas são vistas como pervertidas sexuais historicamente, a sociedade tem facilidade em ver a lésbica assim, difícil é ver os homens assim.
É fácil expôr lésbica. Mas danoso pras lésbicas como um todo.
Claro que não dá pra generalizar casos. Obvio que existe – e muito – exercicio de poder nas relações lésbicas. Obvio que tem que haver responsabilização, problematização, reflexão.

Eu não estou com a intenção desse comentário impedir de problematização as relações com assimetria etária e muito menos normalizar relações de lésbicas mais velhas com adolescentes.

O que eu considero equivocado nisso tudo é a exposição.
Ela tem uma faca de dois gumes. A sociedade hetero já acha que as lésbicas são predadoras e corruptoras de menores, tipo há um século atrás lésbicas iam presas por isso.
Professoras seguem sendo demitidas por conta desse estigma, professoras lésbicas em escolas, sofrendo difamações discriminatórias.
Enquanto isso professores que abusam ou saem com alunas seguem com suas carreiras sem qualquer problema até fazendo novas vítimas.
Minha ultima reflexão sobre a moda de exposições de lésbicas como ‘abusivas’ é também de que isso se trata da modernidade líquida também. É uma ética afetiva da contemporaneidade da objetificação das relações. As relações não sobrevivem mais ao mínimo desentendimento ou desafio. As lésbicas do movimento feminista terminam um relacionamento e já saem expondo as parceiras e tachando os problemas de relacionamento como ‘violência’. Isso é banalização desse conceito. E é muito difícil não encontrar lésbicas que possam exercer questões como ciúme, possessividade, e cair em padrões de controle ou de manipulação muitas vezes sem conseguir enxergar ou ver. Porque a gente tá falando de mulheres, mulheres tem cenários familiares e histórias afetivas por exemplo de abandono paterno ou materno, lésbicas podem ter frieza materna ou sentirem-se sem familia e se apegarem de forma meio ‘obcessiva’ em seus relacionamentos, elas tem medo de abandono ou de perder a companheira, elas tem historico de abuso sexual infantil, que pode levar à respostas subjetivas que foram catalogadas pela psiquiatria por nomes como transtornos de ansiedade, de conduta, borderline… Pode haver muitas questões num relacionamento lésbico, mas aí já se termina a relação e sai com uma exposição destrutiva na internet, isso é absurdo, as pessoas podem mudar, podem se trabalhar, podem se comprometer com o auto-cuidado, aliás quantas lésbicas tem dinheiro pra pagar uma psicóloga por exemplo? Várias questões. Mas ao invés de se propôr a esses desafios de empoderamento numa relação as pessoas saem com ataques virtuais mútuos. Só desmoraliza nossa comunidade… Ninguem problematiza homens anarqusitas por exemplo vendo essas exposições? É um desserviço e bem pós-moderno.