Recriar o imaginário da resistência (Fagulha nº5)


Um desânimo geral se abateu sobre todas nós no último ano. Muitas de nós estão com medo, se sentindo desempoderadas, sem saber o que fazer. Mas na prática, pouca coisa mudou. O Estado continua sendo um leviatã ineficiente e por mais recursos que tenha a seu dispor, não consegue monitorar e controlar todo mundo, a todo momento¹. Temos que aproveitar as brechas e usá-las para nosso proveito, levando a cabo não apenas ações que desafiem o Estado, mas que inspirem outras pessoas a fazer o mesmo. Afinal, são nossas ações que definem o que é ou não é possível. Pequenos atos, que rompem nossa rotina de medo, como lambes, pixações e outras formas divertidas de reinventar o espaço público³ (ou privado), vão contribuir para o imaginário de outras pessoas sobre o que é possível e elas por sua fez podem cometer seus próprios gestos de desafio ao Estado.

A maior ameaça neste momento é a falta de esperança.

Não há nada que nos impeça de fazer um cartaz e espalhar pela cidade, de pendurar uma faixa, de organizar uma festa de rua contra o capital, de prestar solidariedade a imigrantes ou ao povo em situação de rua, de pixar um muro, de montar uma banquinha de zines, de puxar um festival ou feira. Se começarmos fazendo aquilo que não é tão difícil de ser feito, em breve estaremos fazendo coisas que nem imaginávamos serem possíveis. Um pouco como o que aconteceu nos cinco anos que antecederam 2013, mas dessa vez sem fazer reivindicações ao Estado, pois já vimos aonde isso leva!


Notas:
1. Longe disso. Sua principal arma é o medo, que pode nos levar à paranoia e nos imobilizar. Um grande exemplo disso foi a Operação Érebo, que investigou anarquistas por supostamente terem incendiado viaturas de polícia, sedes de partidos políticos e bancos, que gerou grande comoção na mídia, mas que não deu em nada. No fim das contas alguém causou um prejuízo grande à força policial e se safou². O que o Estado ganhou com a Operação Érebo foi o cancelamento da 8ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre e desarticulação de vários grupos e coletivos anarquistas, que acharam que poderiam ser alvo de uma caça às bruxas.
2. Mas atenção! A incompetência do Estado não nos dá liberdade para sermos desleixadas com segurança pessoal e coletiva, pois sabemos muito bem que, quando quer dar o exemplo, o sistema judiciário pode condenar seus inimigos políticos sem qualquer tipo de prova (como no caso do Lula) ou até mesmo pessoas inocentes (como Amarildo, Rafael Braga, etc., etc., etc.). Então não dê bobeira!
3. Pra uma lista interminável de ideias, vale sempre o clássico manual do coletivo CrimethInc., Receitas Para o Desastre, disponível para download em: https://crimepensar.noblogs.org/post/2017/03/18/receitas-para-o-desastre-um-livro-de-receitas-anarquista/