por que devemos analisar materialistamente poliamor e relações dentro dum quadro de desigualdade de gênero e patriarcado

por que devemos analisar materialistamente poliamor e relações dentro dum quadro de desigualdade de gênero e patriarcado?

(é mais sobre análise de dinamicas heteros, mas vou pensar como analisar o caso lésbico. As vezes olhar pra heterossexualidade me faz tirar a ilusão de que essas dinâmicas não são uma bosta só porque na lesbianidade tudo é diferente, não há desigualdade, emfim, isso é retirado da sociedade heteropatriarcal, então se é reproduzida esse é o substatro material: a heterssexualidade)

Objetificação e éticas de coisificação. as mulheres esperam compromisso, os caras só querem ‘pegação’. Essa relações tem mais riscos e perdas implicadas pras mulheres. Materialistamente, mulheres necessitam compromisso e estabilidade, segurança. Porque se trata de desigualdade desequilibrio de poderes. O sistema patriarcal vulnera as mulheres. Como classe e realidade coletiva mulheres precisam de: companheirismo, ser amadas realmente, cuidado, estima, apoio mutuo. Relações tem mais perdas implicadas pra mulheres, de tempo, emoções e dinheiro, trabalho. Tem riscos pra sua sexualidade, no caso heterossexual, tem possibilidade de gravidez, necessita até investimetnos como contraceptivos… Mas no sistema liberal, a gente aprende para sobreviver, a ‘não criar expectativas’, a só esperar pegação, a só esperar sermos objeto. E nada mais. Tinha uma menina que contava que logo após ter sexo com um cara aleatorio na balada, de manhã já tinha programado vestir a roupa e ir embora. É disso que mulheres precisam? isso é libertação?

a experiencia coletiva das mulheres de exploração-opressão (acho que se trata dum sistema de exploração economico mesmo, para reprodução do patriarcado enquanto sistema político) se reedita a nivel individual. pessoas abandonicas, dedicação pessoal numa relação, tarefas de cuidado, expectativas emocionais e de reciprocidade enquanto a outra pessoa usa você simplesmente.

os caras também nunca querem reconhecer nenhuma relação com as minas oficialmente, querem que as mulheres fiquem no estatus de amante…. nao querem assumir compromisso e assumir a pessoa, coisa que deve ser considerada violência, secundarização, desrespeito. Mas se o tema é propriedade privada, possessividade ta ali. Nao tem o estatuto de relação, tá na ininteligibilidade, mas a possessividade da relação ‘oficial’ eles mantém. Porque disso depende a identidade masculina. Se a mina diz ‘não’, ele rejeita, persegue, acossa, controla.

Desigualdade de gênero perpassa essas dinâmicas de relação. Auto-respeito e construção de auto-estima devem ser as armas. Ser amante de si mesma. Se colocar em primeiro lugar. Visibilizar amor-romântico como manipulação das mulheres e outra forma política de apropriação de seu trabalho sexual e de cuidados, seu trabalho reprodutivo e seus corpos. 1 Se respeitar, se responsabilizar, da construção de seu próprio poder pessoal e nas relações, retomar controle das próprias vidas. Somos participantes de todas dinâmicas que produzem relações desiguais, e não meras vítimas passivas. Sua maior responsabilidade é perante si mesma.

Construir formas saudáveis de se relacionar é uma responsabilidade política também, perante outras mulheres. É preciso que mostremos que é possível ter poder e não repetir abusos passados, de se libertar de padrões aprendidos em relações abusivas seja na família ou outros. Superar trauma-bond. 2 Emitir bons exemplos é também político, o pessoal é político. É uma responsabilidade política feminista temos relações saudáveis. Honre compromisso consigo mesma, feministamente isso é honrar cmpromisso também com outras mulheres. O pessoal é político.

Ligue o farol, saiba ver sinais de que algo não está bem, e freiar, parar, e não prosseguir, quando o sinal tá amarelo ou vermelho. Sinais de relação não positiva, de não respeito, de não igualdade.


1 pensar a noção de silvia federici, de ‘a sexualidade como trabalho’. 2 Trauma Bond: padrão de vinculação traumático, onde a pessoa se sente ligada e se torna difícil se afastar de vínculos ruins e violentos. Isso ocorre na sindrome de estocolmo, há uma dependência da outra pessoa ou uma idealização ou identificação com agressor, expandindo noção de agressão como toda situação onde podemos nos ver pessoalmente lesadas pela outra pessoa. Muitos contextos podem levar a esse padrão principalmente os de vulnerabilidade ou opressão (exemplo, lésbicas passam lesbofobia e sentem que a única lesbica do mundo é aquela que conheceram e que ninguém iriam querer ficar com elas além daquela mina porque a lesbofobia fodeu com suas auto-imagens)

(escrito em 30 de marzo de 2014, alterado em 15 de fevereiro de 2017)