Oposição a "adoção e crianças, filh@s, maternidade romantizada/'escolhida' lésbica"

Antes de tudo gostaria de esclarecer que essa é apenas uma discordância sem intuito de ofender ninguém, é que esse texto é uma perspectiva distinta e contraposição a esse https://we.riseup.net/lesbianasradicais/ado%C3%A7%C3%A3o-e-crian%C3%A7as-filh-s-maternidade-romantizada-e

Eu sou uma mulher lésbica e fui uma criança que passou diversos messes de sua segunda infância e começo da adolescência de forma não continua em uma instituição de acolhimento para crianças que foram abandonadas, removidas ou, como no meu caso, abrigadas; essa diferenciação embora pouco conhecida é importe para entendermos como funcionam os sistemas de adoção no Brasil e maioria dos países latinos. São abandonadas aquelas crianças voluntariamente entregues pelos pais ao sistema de adoção, é aqui onde se concentram os bebes e portanto a categoria mais buscada pelos adotantes; Removidos, a categoria que concentra o maior numero de crianças disponíveis para adoção, são crianças que por situações de negligencia ou abuso extremas e/ou reincidentes tiveram que ser retiradas de suas famílias, e crianças abrigadas são aquelas que precisam ser removidas de suas familiar por um período de até três messes devido alguma situação problema como divorcio, empobrecimento, falecimento, negligencia ou abuso sem reincidência e outros; essas crianças só ficam disponíveis para adoção caso após três messes a família e nenhum parente rastreável não tenham condições comprováveis de cuidá-la. A partir dessa diferenciação conseguimos perceber que existem pessoas que não querem cuidar de crianças e sabem disso desde a gestação, pessoas que são incapazes de cuidar de crianças ainda que não percebam (ou se importem com) isso durante a gestação, e famílias que se tornam incapazes de cuidar de crianças devido situações adversas. Em todos os casos, o aborto só pode ser uma solução para o primeiro, tanto que no Uruguai, onde o aborto é legal de 2013, siga existindo um sistema de adoção e crianças vivendo dentro dele, muitas das quais são menores de sete anos. A existência de um sistema adotivo é consequência de viver em comunidades grandes e seguira existindo, independente do modelo econômico que adotemos
Ademais reconheço a necessidade de rompermos como a escravidão feminina, a maternidade, o parto, o casamento, a heterossexualidade e também que o nosso mundo já não suporta humanos da maneira que vivemos, mas lésbicas poderiam de verdade ser mães? A maternidade é patriarcal, ela requer que uma mulher a domestique uma menina em prol de um homem e que se submeta a violências ainda maiores para forjar um novo carrasco que exercera seu poder contra ela e outras mulheres mais, ao menos uma dessas opções é impossível quando vivemos entre mulheres num sentido sexual, romântico e político. Defendo, como feminista radical e separatista lésbica, que toda mulher lésbica jamais deva submeter seu corpo a uma gestação processo violento, mortal e acometedor) e que aquelas que por ventura tenham sido submetidas a isso e dado a luz a um menino devem abandona-lo, já que o continuum lesbico não deve ser quebrado de nenhuma maneira pois somente completamente imersa entre mulheres poderemos curar-nos e fortalecer-nos para viver a melhor versão de nossa vida. Quando excluímos a criação de meninos como possibilidade para lésbicas a resposta para minha pergunta se transforma em um perfeito não, lésbicas podem criar meninas se isso lhes parece bom mas jamais serão mães uma vez que essas meninas em nenhum momento serão educadas para submissão aos homens, dentro de seus sistemas violentos e muito menos domesticadas.
Quando pensamos em acabar com o patriarcado estamos pensando em revolução e guerra, ambas as coisas precisam de guerreiras fortes e imbatíveis, mulheres distintas ao que nos tornamos por viver sobre as terríveis condições a quais fomos submetidas em virtude ao nosso sexo, mulheres com as que serão as meninas criadas por lésbicas. Foi com minha mãe e com minha avó que, como muitas de nós, eu aprendi a odiar meu corpo, a duvidar das minhas ideias, a silenciar minha voz e a acatar todas as exigências masculinas afim de não ser ferida, a odiar as outras mulheres e desconfiar de tudo que saísse de suas bocas, sabendo tudo que sei hoje por que transmitiria esses valores a uma outra menina? Qual mulher que por excelência não tenha submetido seu corpo a colonização masculina (seja lésbica ou celibatária) forçaria outra a fazer o mesmo? Como viver a infância e adolescência em espaços separatistas e protegida de toda violência masculina afeta a vida de uma mulher?
Dessa maneira não se trata de reivindicar características heterossexuais e seu estilo de vida pois, como lésbicas, estamos totalmente apartadas de tudo que eles construíram e mesmo que atuemos de maneira mimética, se isso nos for mutuamente fortalecedor e edificante, não será para nada parecido. Ainda que o desejo de criar uma criança tenha em suas raízes a crença de que nosso valor como pessoa está limitado a criação de uma família heterossexual, quando lésbicas conscientes o concretizam unindo-se de com meninas já privadas de ter uma família existe uma subversão tão poderosa do que é a maternidade que o único resultado possível é revolucionário: garotas completamente insubmissas e intocadas pelo patriarcado em milhares de sentidos

   

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