Como fazer uma Massa Crítica

Tradução em andamento do How To Make a Critical Mass, folheto de lições e idéias da experiência de São Francisco (A Massa Crítica mais antiga). Aberta pra quem quiser colaborar. É interessante que todos participantes do Massa Crítica possam ler esse texto.

Introdução

O que é isso que está acontecendo? Perguntam os pedestres boquiabertos e confusos na Market Street enquanto centenas de ciclistas barulhentos e animados passam pedalando, gritando e soando suas sinetas. Poderão ser ouvidas muitas respostas diferentes: Se para banir os carros. É sobre diversão nas ruas. É por um modo de vida mais social. É defender nosso direito de usar as ruas. É sobre solidariedade. A Massa Crítica é muitas coisas para muitas pessoas, e apesar de muitas das concepções expressadas poderem evocar memórias de protestos políticos passados, a Massa Crítica é sobretudo uma celebração, não um protesto.

A Massa Crítica começou em Setembro de 1992 em São Francisco como um modo de unir esses várias pessoas em uma retomada festiva do espaço público. A idéia foi inicialmente concebida por uma pessoa, que a espalhou para outros ciclistas (veja A Massa Crítica de Dentro para Fora no final deste documento). A proeminente comunidade dos ciclistas mensageiros (bike boys) de São Francisco foi recrutada a princípio pelo boca-a-boca, enquanto outros trabalhadores eram abordados na rua por alguém distribuindo panfletos no meio do distrito financeiro da cidade.

O primeiro evento atraiu 60 ciclistas, e esses números dobraram por vários meses conseguintes. A Massa Crítica continuou a crescer em São Francisco, reunindo mais de 400 ciclistas a cada mês, com um recorde de mais de 1000 em outubro de 1993, e também se espalhando para outras cidades. Com bicicletadas independentes surgindo por todo lugar, a Massa Crítica começou a tomar a forma de um movimento expontâneo, decentralizado de grande escala!

No fim das contas a Massa Crítica é somente um bando de ciclistas andando por aí juntos, indo de um lugar ao outro. (Alguém cunhou a expressão “coincidência organizada”) Mas muitas questões importantes e interessantes surgem ao executar essa simples tarefa. Por que há tão pouco espaço nas nossas cidades onde as pessoas possam relaxar e interagir, longe da incessante compra e venda da vida comum? Porque as pessoas são forçadas a organizar suas vidas em função de ter um carro? Como seria um futuro alternativo?

Ao escrever esse panfleto não pretendemos responder a essas perguntas. Estamos simplesmente usando nossa familiaridade com duas das muitas bibicletadas da Massa Crítica (a de São Francisco e a de Berkeley) para ajudar a acelerar a difusão da Massa Crítica a outras cidades, e para partilhar idéias, táticas, soluções, etc. Esperamos que um panfleto pequeno, não custoso, e facilmente reproduzível vá contribuir muito com fornecer aos interessados a informação e os materiais necessários para organizar seu próprio evento.

É importante enfatizar, no entanto, que nunca dois eventos da Massa Crítica são iguais e, embora a Massa Crítica possa ser uma abordagem comum para um problema comum, contextos diferentes irão produzir diferentes dinâmicas, pressões, etc. Este panfleto, então, de modo algum pretende ser um guia oficial ou código estrito de regras colocadas por um comitê que sabe tudo. Pelo contrário, este é somente produto de um punhado de entusiastas do Massa Crítica da baía de São Francisco e inevitavelmente irá refletir nossas experiências, preconceitos e crenças.

Planejamento

Deve ser relativamente fácil criar um passeio de Massa Crítica. Toda cidade tem uma população de ciclistas que são marginalizados e ameaçados pelo sistema de transporte atual, quer sejam pessoas indo para o trabalho, entregadores ou pessoas que pedalam só por diversão. Talvez estes grupos sejam apenas a ponta do iceberg. Má qualidade do ar, degradação ambiental e o declínio da qualidade de vida em geral devido ao trânsito motorizado são sentidos por todos. Há uma potencial massa base para mudanças em todos esses grupos espalhados e isolados, e uma Massa Crítica pode servir como ponto de encontro para reunir todos.

Quando e Onde Começar

Os passos preliminares para organizar uma pedalada são bem diretos: escolha um horário, local e trajeto. Começar o passeio em algum área do centro é obviamente uma boa escolha, já que tantos ciclistas já estão lá. Um local público bem conhecido, de fácil acesso à maioria dos ciclistas, onde um grande número de pessoas possam se reunir antes de pedalar é perfeito. (Em São Francisco, a Massa Crítica parte de uma praça próxima ao centro financeiro, que está convenientemente localizada no início do maior corredor de trânsito.)

Escolher um horário é ainda mais fácil: vocês querem se reunir no final da tarde, digamos 18h30, tanto para dar tempo aos trabalhadores que se deslocam de bicicleta quanto para ganhar visibilidade ao ter certeza que a Massa Crítica será parte do trânsito da hora do rush. Realizar a Massa Crítica em uma sexta-feira marca ela como sendo o início do fim-de-semana, e contribui para a atmosfera de celebração da pedalada. E qual sexta-feira é melhor para o evento do que a última sexta-feira do mês? Se a Massa Crítica continuar a se espalhar, chegará o dia em que, na última sexta-feira do mês, o sol estará sempre brilhando sobre uma Massa Crítica!

É importante que o local e horário sejam constantes, para que seja fácil para as pessoas participarem de forma regular, e que mais pessoas possam se juntar a ela enquanto o passeio continua.

Planejando um Trajeto

Escolher um trajeto seguro e divertido é fundamental para deixar a Massa Crítica sempre fresca e divertida. Existem várias coisas a levar em consideração quando se planeja um trajeto:

Segurança

Ciclistas de vários níveis irão participar; planejar um trajeto com muitas subidas difíceis ou distâncias muito longas não é uma boa idéia. Mantenha uma velocidade moderada.
As ruas escolhidas devem ser grandes o suficiente para acomodar um grande número de ciclistas. (Ruas de mão única são especialmente boas.) Mantenha a simplicidade. Um trajeto complicado que vira em todo lugar pode parecer divertido no papel, mas se mostrará impraticável no passeio. As pessoas precisam ser capazes de ler e memorizar o trajeto facilmente, para que saibam onde estão indo e o que a bicicletada está fazendo.

Prazer

Variar o trajeto todo mês torna a bicicletada numa pequena aventura, e atinge um maior número de pessoas. O clima da Massa Crítica é influenciado pela área pela qual se pedala. Um passeio por uma área comercial, onde gritos e berros ecoam em edifícios altos, e onde há um grande número de motoristas e transeuntes com os quais interagir, irá criar uma atmosfera mais festiva que uma volta por um bairro industrial ou suburbano. Os últimos dois tendem a tornar a bicicletada silenciosa, o que pode ser feito para variar o clima. Cabe a vocês. Tenham um ponto de chegada, como um parque ou bar, onde os ciclistas possam socializar depois da pedalada.

Xerocracia

Em São Francisco a organização do evento têm sido tão parte do seu sucesso quanto tudo o mais. As políticas organizacionais, com líderes e exigências oficiais, etc., foram deixadas de lado para favorecer um sistema mais descentralizado. Não existe ninguém responsável. As idéias são espalhadas, trajetos compartilhados e o consenso é buscado através da onipresentes máquinas de xerox em escritórios ou papelarias de todos os bairros — uma “Xerocracia”, na qual todos são livres para fazer cópias das suas idéias e distribuí-las. Panfletos, mosquitinhos, adesivos e zines circulam como loucos, antes, durante e depois da bicicletada, tornando os líderes desnecessários e garantindo que as estratégias e táticas são compreendidas pelo maior número de pessoas possível.

A xerocravia promove a liberdade e exclui a hierarquia porque a missão não é definida por alguns encarregados, mas é definida amplamente pelos seus participantes. A pedalada não têm a visão estreita de fazer lobby por mais ciclovias e ciclofaixas (embora este objetivo exista) ou protestar contra este ou aquele aspecto da ordem social (embora tais sentimentos sejam freqüentemente expressos). Ao invés disso, cada pessoa é livre para inventar as suas próprias razões para participar e também é livre para compartilhar essas idéias com outros e outras. Algumas pessoas estão lá para promover o transporte com propulsão humana como uma alternativa viável, outros buscam o respeito dos motoristas e dos planejadores da cidade e alguns participam somente porque gostam de andar de bicicleta do sentimento de comunidade com todos os outros ciclistas nas pedaladas da Massa Crítica.

Este “sistema orgânico” não leva ao caos, mas sim a uma atmosfera festiva e celebrativa. Grandes esforços foram feitos para se evitar os defeitos comuns de outros movimentos, com muito espaço xerocrático sendo dedicado a argumentos contra ataques moralistas a motoristas e outras tendências improdutivas. Ao apresentar o ciclismo como uma alternativa divertid e positiva à horrenda destruição feita pela cultura do carro, a Massa Crítica deu visibilidade a uma abordagem visionária sobre o transporte urbano.

Espalhando a Palavra

Espalhar a palavra é o primeiro passo. Panfletos são uma forma rápida e barata de atingir um grande número de pessoas. Com alguns amigos e uma copiadora, você pode saturar a sua região com anúncios da Massa Crítica em alguns dias. Entretanto, as paredes públicas da maioria das cidades já estão tapadas com tanto anúncios que estratégias alternativas são úteis.

Tiras finas de papel xerocado podem ser fixadas em bicicletas pela cidade.
Pequenos adesivos podem ser colado em todos os lugares que os ciclistas amarram suas bicis.
Peça para que lojas de bicicletas e outros negócios amigos das bicicletas coloquem seu panfleto na vitrine.
Boca-a-boca, anúncios feitos por locutores de rádios simpatizantes, ou em palcos de shows, jornais locais, etc.

Estética Xerocrática

Se você quer se comunicar, tem que ser fácil de ler!

Certifique-se que os panfletos distribuídos para os participantes estão legíveis e digam as pessoas o que elas precisam saber sobre a Massa Crítica. Por exemplo, se houver um cruzamento perigoso, ou trilhos de trem, no trajeto, indique no mapa. Fazer o panfleto com o trajeto num computador pode deixar as coisas mais fáceis (se você souber usar o computador), e tem a vantagem de ser legível e de fácil reprodução. A folha com o trajeto também pode servir com um boletim de informações, oferecendo soluções, notícias da última bicicletada, e idéias para a próxima Massa Crítica.

Como a Massa Crítica de San Francisco cresceu além do ponto onde um único ciclista conseguia enxergar tanto o começo como o fim da multidão de ciclistas (aproximadamente mais de 300), uma publicação xerocrática, Critical Mass Missives, começou a aparecer. Ela continha acontecimentos da pedalada anterior, notícias de Massas em outras partes do mundo e discute os problema relativos ou internos da bicicletada.

Panfletos

Durante a bicicletada, as pessoas nas ruas, esperando nas paradas de ônibus, ou sentada em seus carros irão querer saber o que está acontecendo. Você não vai poder parar e conversar com todos eles, e você teria dificuldade em colocar tudo numa só frase, mesmo que pudesse. Então para todos que estiverem curiosos, realmente ajudar se vocês tiverem um pequeno panfleto pronto que informe as pessoas sobre o que é a Massa Crítica, porque achamos que esta ação é necessária e que os convide para a próxima edição.

Esses panfletos podem ser feitos de forma a caberem três numa folha de papel A4 para que sejam baratos e se encaixem bem no seu bolso de trás. Distribua-os no começo da pedalada, certificando-se de que todos que têm interesse possuam uma pilha para distribuir, e observe-os serem distribuídos às centenas a pessoas que de outra forma nunca ouviriam falar da Massa Crítica!

Aqueles que distribuem panfletos durante o trajeto são os verdadeiros diplomatas da Massa Crítica. Geralmente o contato cara-a-cara feito por estes ciclistas e eventuais patinadores têm ajudado a controlar situações tensas criadas por motoristas de carro furiosos que tiveram que esperar. Um ciclista vai até essas pessoas frustradas e explique a bicicletada enquanto lhes dá um panfleto. Isso mostra às pessoas que você pensou um pouco nelas, e ganha algum tempo para a pedalada continuar enquanto eles digerem a mensagem.

Como as rolhas, a distribuição de panfletos dá um ar de auto-controle à Massa Crítica aos olhos dos motoristas e pedestres. Fazer rolhas e distribuir panfletos é geralmente feita na base do improviso, por ciclistas que decidem espontaneamente suprir essa necessidade.

Pedalando

Táticas de Trânsito

Quando os ciclistas vão às ruas em massa, haverá uma certa percentagem de motoristas que não acham graça. Esses motoristas — um minoria, com certeza — terão dificuldade em ver um grupo de ciclistas com trânsito legítimo, e podem insistir em forçar o seu caminho pelo meio da multidão. A interferência desses indivíduos frustrados, presos como estão, em seus carros, podem ser um grande problema para a Massa Crítica, especialmente em grupos menores. As táticas têm que ser desenvolvidas, compreendidas e postas em prática pelo maior número de pessoas possível, a fim de garantir que este problema não se torne um grande inconveniente em um passeio que deveria ser divertido e bem-humorado. Aqui estão as que descobrimos que funcionam:

Densidade — Fiquem Juntos!

Imagine a Massa Crítica como uma densidade. Ela funciona ao formar uma massa de ciclistas tão densa e compacta que simplesmente desloca os carros. A qualquer momento que o grupo começar a se dispersar muito, com espaços grandes o suficiente para um carro entrar, você tem um ponto problema em potencial se desenvolvendo.

A maneira mais simples e fácil de lifar com este problema é encorajar as pessoas a prestar atenção no que está acontecendo à sua volta, e agir quando as coisas derem errado. Se aparecer um vão grande o suficiente para um carro, alguém precisa entrar nele e chamar um amigo. Se a frente do grupo estiver indo rápido demais e a Massa ficar muito rarefeita, alguém na frente precisa dizer às pessoas para irem mais devagar, e para se reagruparem. O mesmo vale para aquele na parte de trás do grupo, que podem estar andando tão devagar que a Massa, novamente, fica muito rarefeita. Diagramas no panfleto do trajeto que apontem áreas problemáticas e pontos de reagrupamento são uma grande maneira de se fazer entender isso.

A densidade é vital para garantir segurança e para promover uma imagem do ciclismo como prático, seguro e divertido para os participantes da Massa. Quando a Massa Crítica ainda está passando por um cruzamento depois que o semáforo ficou vermelho, na hora do rush, é importante justificar a longa espera para o cruzamento mantendo uma massa constante de ciclistas pedalando pelo cruzamento.

Rolhas

As rolhas são os diplomatas da Massa Crítica. O seu nome vem da sua função. Esse é assim que funciona: um ou dois ciclistas bloqueiam cada faixa de trânsito enquanto o grupo passa por um cruzamento, garantindo assim que, mesmo que surja um vão grande o suficiente para um carro entrar, os carros fiquem parados onde estão. Esta tática é especialmente eficiente se a rolha escolher uma abordagem amigável, não antagonizando os motoristas, até mesmo segurando placas que dizem “Obrigado por esperar” e “Buzine se você gosta de bicicletas!”. Rolhas também precisam proteger a traseira do grupo, evitando que carros avancem nela. É claro, ninguém precisar ser oficialmente apontado como rolha, e as pessoas em grande parte vão assumir esse papel por iniciativa própria.

Sinais Vermelhos

A Massa Crítica deve obedecer às mesmas leis de trânsito que o trânsito motorizado segue? Sim e não. Na maior parte, as leis de trânsito foram feitas para carros, como qualquer pessoa que pedale com freqüência passando por placas de “Pare” pode lhe atestar, e elas certamente não foram escritas tendo em vista grandes grupos de ciclistas. Então a resposta a esta questão é óbvia: a Massa Crítica deve curvar e ignorar as leis existentes de trânsito de modo a garantir a segurança e eficiência do grupo, e obedecer a lei quando ela serve aos nossos interesses e necessidades.

Os sinais vermelhos são o exemplo perfeito deste princípio. Quando os ciclistas bem à frente da bicicletada encontram um sinal vermelho, a única opção sensata é parar. Desta forma, a) ninguém se arrisca se metendo no meio de tráfego em movimento, b) nós damos aos motoristas a simples cortesia de estarem no seu direito, e c) nós temos a oportunidade de parar, reagrupar e formar uma Massa sólida. Mas se, enquanto a Massa Crítica passa por um cruzamento, o sinal fecha, não faz sentido se dividir em dois grupos, e a bicicletada deve continuar passando pelo cruzamento, protegidas dos carros que esperam pelas rolhas.

Quebrar a Massa

Quando a massa se dilui demais para justificar segurar um cruzamento com o sinal vermelho, pode ser útil que alguém grite “QUEBRAR A MASSA!”. A primeira seção da Massa Crítica continua através do cruzamento e a segunda parte espera até o sinal ficar verde. Se tudo der certo, os dois grupos vão se reunir no próximo semáforo. Esta tática é mais comumente usada quando a Massa fica maior e menos coesa.

Conheça a Lei

O planejamento acima é o esqueleto do que a Massa precisa para ser agradável e despreocupada como o é. Entretanto, outros problemas surgem tão logos os ciclistas, centenas deles, saem às ruas. As leis de trânsito variam de estado para estado e de cidade para cidade (e de país para país). Descubra o que o Código de Trânsito diz sobre bicicletas na sua área. Conheça os seus direitos; na Califórnia os ciclista “usufruem” de todos os direitos e responsabilidades dos veículos a motor. Saber a verdade sobre as leis e ser capaz de corrigir aqueles que a citam de forma errada dá mais poder aos participantes da Massa Crítica. Você pode obter as leis e regulamentos de trânsito no Departamento de Trânsito.

A Brigada da Testosterona

Como devemos abordar as pessoas que escolhem dirigir, ou que por acaso ficaram presas em carros, talvez por uma emergência médica, quando a Massa Crítica passa? Tão importante quanto definir estratégias para lidar com motoristas hostis é a necessidade de lidar com participantes da bicicletada que podem provocá-los. Para alguns ciclistas, a Massa Crítica é uma oportunidade de irritar motoristas, agora que NÓS somos finalmente os donos da rua.

A confiança exagerada de nossa sociedade no trânsito motorizado é um gigantesco e esmagador problema social, e não vai ser mudada através de táticas mau-humoradas e ineficientes de uma pequena minoria de ciclistas irritados. Mas um movimento para mudanças baseado na reivindicação do espaço público e na construção de uma comunidade humana, aberta a pessoas de todas as partes do espectro social e político, pode contribuir para uma mudança mais profunda e fundamental na forma como nossa sociedade opera.

Vanguardas

Uma das coisas mais importantes para nos darmos conta é que a Massa tem a tendência de seguir quem quer que esteja na frente, quer eles tenham uma idéia clara de onde estão indo ou não. Tipos de “vanguarda”, explorando o seu potencial para liderança, geralmente lançar-se-ão à frente da Massa, passarão por sinais vermelhos quando não é necessário, tentarão bloquear o trânsito o mais que puderem, e tentarão levar a bicicletada numa direção que eles vêem como “radical”.

O que acontece então é que a frente do grupo vai depressa demais, a Massa se espalha, carros entram no meio da bicicletada, ninguém tem idéia do que está acontecendo, situações perigosas acontecem muito rápido e a sua Massa Crítica se torna uma Bagunça Crítica.

O jeito de impedir isto é fazer com que dois ou três amigos que tenham uma idéia de qual é o trajeto e, mais importante, que se preocupam em manter o grupo unido, vão à frente do grupo. Se vocês todos ficarem juntos como um bolo, você pode influenciar o trajeto da pedalada pedalando devagar, falando quando necessário e tentando manter todos juntos.

Se você fizer isso, você tem que estar preparado para aturar uma certa quantidade de besteiras vindas de pessoas que podem pensar que você está tentando impor as suas idéias sobre todos os outros. (Um senso de humor ajuda: numa bicicletada em Berkeley, alguém gritou “Sigam aquele policial até a rodovia!” depois que um ciclista agressivo tentou levar o grupo até uma rampa de acesso à autoestrada.) Falar o que você pensa e afirmar ativamente a sua iniciativa não é ser autoritário — na verdade, é a essência da democracia.

Lesmas

Lesmas são um grupo de ciclistas que criam antagonismo pedalando muito devagar na parte de trás da massa. Essa lerdeza faz com que o grupo fique mais disperso e irrita os motoristas que estão esperando que a massa passe por um cruzamento, ou que estão atrás da massa, impacientes para que ela se mova.

Mais uma vez, deixe as pessoas saberem o que você pensa a respeito e se acostume com este tipo de interação. Lembre-se, estas pessoas não estão lá para fazer com que o maior número de pessoas se divirta. Elas estão irritando os motoristas de uma forma egoísta e destruindo qualquer associação positiva que os motoristas possam já ter tido com o resto da massa jovial que passou por eles.

Polícia

Manifestações públicas tendem a prejudicar a imagem do governo, uma vez que elas mostram claramente que o governo nem sempre representa o povo e tem o seu apoio. Naturalmente, a polícia se preocupa com as manifestações populares, e geralmente escolhem uma dessas duas abordagens: ou atacam a manifestação — expondo a natureza impositora na qual esta sociedade se baseia — ou eles tentam se mostrar como sendo apoiadores e protetores da manifestação.

Com as pedaladas da Massa Crítica de Bay Area, a polícia geralmente escolhe a segunda, a abordagem paternalista, permitindo que a bicicletada ocorra, bloqueando o tráfego para nós e certificando-se que a sua presença seja sentida como uma “escolta”. Em outra ocasião eles até mesmo chegaram a anunciar num megafone antes da pedalada, “Bem-vindos a este evento!” — uma pessoa pouco informada poderia até mesmo ter presumido que toda a coisa era planejada e executada pela própria polícia!

Quando a polícia começa a prender pessoas ou atacar os ciclistas, eles estão tentando provocar um confronto com o qual eles poderão justificar um ataque repressivo — um confronto no qual a sua vitória é quase garantida. É importante não aceitar a sua oferta. Quando a polícia exigir que todos vão para a faixa da direita, façam isto. E então, quando a área estiver limpa, volte. Depois de mais algumas tentativas de controlar a Massa, a polícia geralmente cede e se dá conta que, a não ser que prendam todos, há pouco que eles podem fazer exceto acompanhar o passeio e realmente agir como os servidores públicos que eles anunciaram ser no começo.

A melhor estratégia é, evite violar qualquer lei a menos que você precisa, tente dialogar com aqueles indivíduos na Massa que mostram um tendência a fugir de controle e não dêem uma desculpa para que a polícia pare a sua manifestação ou prenda alguém. Seja franco e aberto sobre a Massa. Afinal, estamos apenas indo para casa numa coincidência organizada, então dê aos policiais um panfleto com o trajeto se eles quiserem um.

Por mais que a polícia queira possuir ou controlar a bicicletada, a Massa Crítica é um movimento popular que opera independentemente das regulações governamentais, e como tal, nós não queremos nada com a polícia (embora eles possam querer algo conosco). Dentro da cultura anti-autoritária do meio ciclista, recusar os comandos arbitrários da polícia pode fazer sentido. Mas a melhor abordagem à presença policial numa Massa Crítica é não entrar em nenhum confronto patético onde seremos derrotados, nem abraçá-los como nossos salvadores e protetores. Ao invés disso, devemos ignorá-los e seguir com o nosso negócio de construir uma Massa.

Pontos-de-Vista

Paciência Revolucionária

Muitos de nós atraídos pela política revolucionário são muito impacientes — com a grande sociedade, mas também com nós mesmos e especialmente com as pessoas que não vêem como a vida seria melhor se fossemos todos atrás das nossas visões revolucionárias. Esta impaciência com o lento desenvolvimento das comunidades humanas orgânicas, comunidades que podem realmente ser capazes de construir uma lógica diferente para o nosso cotidiano, geralmente leva a situações de confronto infantis e simplistas. Estas posturas são muito mais sobre auto-afirmação do que realmente revolucionárias, mais sobre estar disposto a enfrentar um perigo do que sobre desafiar a organização da vida moderna.

Se xs ciclistas revolúcionárixs têm tanta vontade de ir para auto-estradas, então ao invés de bloquear faixas de trânsito por que não esperar pela tranqueira da hora do rush e então ultrapassar os carros que já estão parado com dúzias ou centenas de bicicletas passando pelo congestionamento, e saindo da rodovia na próxima saída depois de um demonstração convincente da facilidade, superioridade e do prazer de se andar de bicicleta? Imagine a supresa e apoio que podemos gerar se fizermos uma intervenção como esta, com cortesia e respeito?

É um pressuposto grosseiro demais assumir que alguém preso em seu carro é necessariamente um grande apoiador do status quo. Leve em consideração as complexidades das escolhas e limites pessoais e tente criar aberturas nas mentes das pessoas, ao invés de pressupor que alguém que não fez as mesmas escolhas que você sobre o que comprar, como se locomover e estilo de vida em geral é seu inimigo consciente e merece a sua condenação moral, ira ou provocações. Não é fácil agir politicamente quando levamos a sério como são difíceis, profundas e pessoais as mudanças que buscamos. Mas o prazer, a paixão e a paciência pode motivar verdadeiros progressos. Lembre-se os americanos sic que você despreza hoje podem ser os seus aliados amanhã se você fala sério sobre mudanças!

Alerta de lesma! Alerta de lesma!

Durante as últimas duas Massas Críticas um pequeno grupo de entre 30 e 40 pessoas tem ficado pra trás. Às vezes é inevitável ficar mais para trás mas em outras parece que com isso está sendo feita alguma forma de ‘declaração’. A maioria dos ciclistas aqui concordariam prontamente que a vida moderna é muito corrida, e que nós deveriam reduzir um pouco o ritmo e curtir. Esta é provavelmente uma das perspectivas mais comuns da Massa Crítica, e isso é o que fazemos ao participar.

No entanto, se arrastar de mais pode ser prejudicial.

Seus amigos estão sendo os “rolha” nas intersecções para aumentar a segurança de todos. Se eles são bons nisso, eles envolvem os motoristas da volta e contribuem para criar um clima de celebração. Qaundo um vão de 1/4 a 3/4 de um quarteirão se abre e os ‘rolha’ têm que ficar segurando o trânsito (sem bicicletas) por dois ou três minutos, todo o relacionamento se quebra e a segurança daquela pessoa é prejudicada. Existem psicopatas lá fora, gente, muitas vezes sentados sozinhos nos seus automóveis. Por que não ficarmos todos juntos e ajudarmos a manter o grupo unido, coerente e seguro?

Algo a levar em consideração: se um grupo de ciclistas ficar pra trás o suficiente, os rolhas devem QUEBRAR a MASSA e deixar o trânsito fluir no sinal verde. A frente da Massa vai precisar parar em algum momento de qualquer forma e deixar a densidade se reformar, então quem ficou para trás podera alcançar o grupo na próxima pausa. Todos nos sentiremos muito mal se alguém se machucar por que a lentidão rompeu com a nossa maior qualidade, nossa massa.

Crítica de Massa

Em grande parte de nossas vidas somos forçados a aceitas situações que não escolhemos para nós. Como consumidores, eleitores, empregados, permitimos que decisões cruciais sobre nossas vidas sejam feitas por outras pessoas, mais poderosas. O quão triste é então – e ainda quão previsível – que os nossos movimentos por mudança social muitas vezes sofrem do mesmo problema. Quando entramos em um partído político, assinamos uma petição, fazemos parte de uma manifestacão, na maioria das vezes estamos simplesmente aceitando a opinião de outra pessoa, cantando slogans que não criamos e apoiando leis que não entendemos.

A Massa Creitica é, ou deveria ser, algo diferente… Um espaço onde as idéias e ações não são impostas às pessoas, onde as pessoas podem ter um papel ativo, ao invés de passivo, na construção de um futuro aceitável, mesmo que de uma forma pequena.

Como ninguém está no comando da nossa bicicletada mensal, e nenhuma ideologia específica é colocada à frente, os participantes são livres para inventar suas próprias razões para estar lá. A vivacidade da Xerocracia, a predominância de bandeiras e cartazes feitos a mão – sem mencionar o fato de que a Massa Crítica está se espalhando para outras cidades – são todos sinais de que estamos fazendo algo certo. Infelizmente nem todos vêem desta forma.

O Cavalo e o Cavaleiro

Existem aqueles que gostam da Massa Crítica e participam regularmente, mas que a criticam por sua falta de forma e sua natureza apolítica. Para essas pessoas, é necessário politizar a bicicletada organizando alguma forma de comitê diretor, cantos, megafone e segurança oficial. Se você prestar atenção pode ouvir conversas sobre ‘tomar as rédeas’, ‘domar’ a energia da Massa Crítica para alcancar um objetivo político válido e predeterminado.

Mas quem é o cavaleiro aqui? E quem é o cavalo? Além dessas analogias serem absurdas e repulsivas, essa abordagem é contra-produtiva, como quem participou ou ouviu falar da super-organizada mas pouco frequentada bicicletada de Santa Cruz pode confirmar.

Tirania da Maioria

Outro grupo que procura impor a marca de suas ambições políticas na Massa Crítica, e que obtiveram de certa forma mais sucesso, são aqueles que defendem um posicionamento mais agressivo, antagonista para o evento. Táticas nesse sentido incluem cercar e confrontar motoristas que se aproximarem da Massa, provocar a polícia, e pedalar até a frente do grupo e abruptamente desviar a rota combinada numa tentativa de tomar controle da bicicletada.

O objetivo é supostamente de radicalizar a Massa Crítica, forçando ela a uma direção mais confrontacional e até violenta, uma idéia que lembra o comentário de Chomsky de que as táticas, por si só, não resultam em radicalismo.

O que estas duas abordagens têm em comum é a impaciência com a tarefa lenta e sofrida de educar os outros e se organizar para um futuro que valha a pena viver. Uma abordagem realmente radical para os problemas sociais que enfrentamos seria construir comunidade e oferecer uma alternativa – um fato que aparentemente foge da mente daqueles que acreditam que as pessoas tem que ser enganadas ou forçadas a criar um mundo melhor.

É óbvio que ninguém deve ser impedido de se expressar ou compartilhar seus pensamentos e opiniões. Todos queremos ver a Massa Critica como um espaço estratégias políticas diversas possam ser debatidas e experimentadas. Mas a questão é que, se você quiser ver a Massa Crítica ir nessa direção, faça cópia de suas idéias e passe adiante. Somente covardes e autoritaristas se encolhem perante o desafio da persuasão!

Pode ser que tudo o que fazemos é ir de um lugar para outro em bicicletas. Mas o que é tão fascinante é que ao tentar executar essa tarefa tão simples, surgem muitas questões importantes e provocantes. Por um momento, uma janela se abre para um futuro possível: um futuro no qual ninguém está no comando e a maioria das pessoas anda de bicicleta!

A Massa Crítica de Dentro para Fora

por Chris Carlsson, Agosto de 1993

A Massa Crítica surgiu de maneira despretenciosa, com um nome mais difícil, Commute Clot. Eu fui a um encontro da Coalisão de Ciclistas de São Francisco (SF Bike Coalition) em agosto de 1992 e sugeri – como haviam muitas pessoas de bicicleta na cidade, e as condições eram terríveis – que nos juntássemos uma vez por mês, fizemos a nossa presença ser sentida por nós mesmos e pelo resto da cidade e andássemos pra casa juntos. A resposta foi entusiasmada e seguida, algumas semanas depois, por uma cautelosa negação de responsabilidade da SFBC. mas a idéia pegou imediatamente. A primeira pedalada juntou cerca de 60 pessoas e depois de um ano se juntam mais de 600 por pedalada.

O nome Massa Crítica surgiu do documentário sobre bicicletas de Ted White, “Return of the Scorcher”, onde os hábitos de atravessar cruzamentos nas grandes cidades da China era explicado como uma questão de massa crítica: o tráfego espera até alcançar massa crítica quando então força o seu caminho, interrompendo o fluxo original de trânsito até que este também alcance o ponto de

The name Critical Mass came from Ted White’s bike-umentary “Return of the Scorcher” wherein intersection crossing etiquette in China’s big cities is discussed as a matter of Critical Mass: the cross traffic waits until it achieves critical mass and then pushes through, leaving the original stream of traffic to stop and build until it reaches its push-through point. Once a month we are a Critical Mass, filling 3-4 long blocks of San Francisco’s Market Street at the tail end of rush hour, and pedalling in a free-expression zone temporarily free of engines and exhaust.

It was easy to organise CM because it’s based on what people do already (bike commute along a main corridor), and its main declared purpose is to enjoy our presence and each other’s company as we ride home together. It was also easy because without a specific agenda or organisational sponsor, no one had to actually agree with anything beyond a vague enthusiasm for bicycles, and that leaves room for a pretty wide range of people. Critical Mass has, in fact, brought a lot of new people into contact with each other. The basis for many other initiatives has already been laid, and the lived experience of a vibrant public life, at least for short times, has been tested by thousands of people.

Participation in an event without the usual trappings of monitors and organisers doesn’t mean that there can be no preparation or safety measures. In fact these issues are just as important as ever, since the nature of the ride means it’s very possible for someone to get hurt in a fall or in the worst case, by an irate psychotic in a car. In San Francisco we developed a few useful devices that help defuse bad moments and keep the ride moving along comfortably. In fact, the vast majority of people we pass give us thumbs up and friendly waves as they marvel at our procession.

Of course there is the occasional pissed-off macho car driver who manages to get the attention of one or more spoiling-for-a-fight-been-run-over-three-times-this-week bicyclists and before you know it things can get very out of hand. Luckily, cooler heads have always prevailed so far. On the April 1993 ride, a bad scene occurred at the back of the ride as it straggled up Market Street. Too few bicyclists were holding the intersections as the slowpokes made it through, after motorists had already been waiting for a while. An impatient man in an Audi pushed his way into the bikes, knocking one guy over. He got up and out of the way with his bike, basically unhurt. Then the driver lunged forward suddenly and smashed into Rebecca Seybold – she went flying, her bike under the wheels. The driver freaked out and tried to drive away, but Rebecca’s bicycle jammed his steering and he got stuck in a long futile U-turn ending on the southwestern corner of Guerrero and Market. Meanwhile 20-30 bicyclists surrounded his car and as he drove away they began pounding on it with their locks, smashing a couple of windows. Rebecca’s boyfriend John Kelly jumped through a broken window and grabbed the keys out of the ignition. The cops charged him with battery and Rebecca with malicious mischief, and characterised the motorist as the victim. On September 17, four months later, all the charges were dropped.

The East Bay Critical Mass ride, which takes place on the second Friday of each month, beginning at the downtown Berkeley BART station, took a somewhat different path. Without an obvious commute corridor like SF’s Market Street, it became an unpredictable ride, careening around the East Bay, ultimately visiting the inside of a Safeway as well as a few McDonald’ses on its way to a rendezvous with the California Highway Patrol after a cruise down a couple of miles of Interstate 80 along the East Bay shore. Since the 63 arrests that day, a concerted effort has been made to calm the East Bay ride, and pursue a more long-term subversive strategy in the same vein as San Francisco’s, downplaying the adolescent confrontations as much as possible. But the individual politics of the participants will always be heterogeneous, with militant punk anarchists and Clintonesque corporate workers riding side by side.

Pat Buchanan invoked a ‘Culture War’ during the last presidential campaign, and the past decades’ confrontations between religious fundamentalism and secular liberal traditions is part of that. But the numerous alternative subcultures that flourish in San Francisco have their own agenda, outside of that war. When we ride along, several hundred strong, hooting and hollering, whistling, laughing and singing, past boutiques laden with furs and jewellery near Union Square, it feels like a coup, a clever tactical strike, in our kulturkampf. But our alternative culture has to go beyond mere moral guilt about excess consumption and really present a wholistic alternative involving the totality of daily life, from the work we do to how we get around and how we treat each other. Many of the pieces of that puzzle are already well developed but systematically thwarted by the way life is organised now. We know it can be very different, and when we’re on the streets together we can feel it and see it.

 

versão original no www.reachoutpub.com/cm

 
   

Outro dia dei uma olhada no livro Apocalipse Motorizado, editora Conrad, de um amigo e descobri que ele contém esse texto traduzido. :P Vou usar prea revisar nossa tradução.
Achei o livro inteiro em PDF aqui: www.bicicletada.org/Multimidia