Prezadxs,
Melissa e eu nos encontramos neste sábado para discutir algumas ideias para levarmos na reunião. Para aproveitar a possibilidade de haver estrutura para apresentação de slides, ela levará um pen-drive com uma matéria de TV sobre o uso de bicicletas em Bogotá, que contempla a multimodalidade e os benefícios que a bicicleta trouxe para o clima e a segurança pública. Também achamos interessante levar um texto que explane o direito de pedalar independentemente da implantação de ciclovias, então fiz algumas adaptações (com os dados atuais de Porto Alegre, tirados do próprio site da EPTC) ao Manifesto dos Invisíveis. Colo abaixo para que leiam.
Acho importante que, quem for falar aos presentes, como o Klaus ressaltou no blog da Massa Crítica, destaque os benefícios de uma política de mobilidade urbana voltada ao uso da bicicleta (como a Vélib em Paris, as ciclovias de Santos, as ciclovias não só em Bogotá como em Cali, Medellín e outras cidades colombianas, etc), e à multimodalidade, ou seja, a integração com outros meios de transporte e a questão da educação no trânsito, que é a parte mais importante, acho.
Enfim, segue o texto. ;-)
Manifesto dos Invisíveis
Motorista, o que você faria se dissessem que você só pode dirigir em algumas vias especiais, porque seu carro não possui airbags? E que, onde elas não existissem, você não poderia transitar?
Para nós, cidadãos que utilizam a bicicleta como meio de transporte, é esse o sentimento ao ouvir que “só será seguro pedalar em Porto Alegre quando houver ciclovias”, ou que “a bicicleta atrapalha o trânsito”. Precisamos pedalar agora. E já pedalamos! Nós e muitos outras pessoas, diariamente. Será que deveríamos esperar até a conclusão dos potenciais 495 km de ciclovias e ciclofaixas ou, ao menos, os 18 km prometidos há mais de dois anos e que até agora não estão prontos? Se a cidade tem quase 3 mil quilômetros de vias, pelo menos 82% delas continuarão sem ciclovia. Como fazer quando precisarmos passar por alguma dessas vias? Carregar a bicicleta nas costas até a próxima ciclovia? Empurrá-la pela calçada?
Ciclovia é só uma das possibilidades de infra-estrutura existentes para o uso da bicicleta. Nosso sistema viário, assim como a cidade, foi pensado para os carros particulares e, quando não ignora, coloca em segundo plano os ônibus, pedestres e ciclistas. Não precisamos de ciclovias para pedalar, assim como carros e caminhões não precisam ser separados. O ciclista tem o direito legal de pedalar por praticamente todas as vias (artigo 58), e ainda tem a preferência garantida pelo Código de Trânsito Brasileiro sobre todos os veículos motorizados (artigo 201). A evolução do ciclismo como transporte é marca de cidadania na Europa e de funcionalidade na China. Já temos, mesmo na América do Sul, o exemplo de Bogotá, que priorizou a circulação de pedestres e integrou o uso das bicicletas ao transporte público.
Não clamamos por ciclovias, clamamos por respeito. As leis de trânsito colocam em primeiro plano o respeito à vida. As ruas são públicas e devem ser compartilhadas entre todos os veículos, como manda a lei e reza o bom senso. Porém, muitas pessoas não se arriscam a pedalar por medo da atitude violenta de alguns motoristas. Estes motoristas felizmente são minoria, mas uma minoria que assusta e agride.
As recentes iniciativas de shoppings e estabelecimentos comerciais de oferecer bicicletários são importantes. Atendem a uma carência que é relegada pelo poder público: a necessidade de espaço seguro para estacionar as bicicletas. Em vez de ciclovias, a instalação de bicicletários deveria vir acompanhada de uma campanha de educação no trânsito e um trabalho de sinalização de vias, para informar aos motoristas que ciclistas podem e devem circular nas ruas da nossa cidade. Nos cursos de habilitação não há sequer um parágrafo sobre proteger o ciclista, sobre o veículo maior sempre zelar pelo menor. Eventualmente cita-se a legislação a ser decorada, sem explicá-la adequadamente. E a sinalização, quando existe, proíbe a bicicleta; nunca comunica os motoristas sobre o compartilhamento da via, regulamenta seu uso ou indica caminhos alternativos para o ciclista. A ausência de sinalização deseduca os motoristas porque não legitima a presença da bicicleta nas vias públicas.
A insistência em afirmar que as ruas serão seguras para as bicicletas somente quando houver milhares de quilômetros de ciclovias parece a desculpa usada por muitos motoristas para não deixar o carro em casa. “Só mudarei meus hábitos quando tiver metrô na porta de casa”, enquanto continuam a congestionar e poluir o espaço público, esperando que outros resolvam seus problemas, em vez de tomar a iniciativa para construir uma solução.
Não podemos e não vamos esperar. Precisamos usar nossas bicicletas já, dentro da lei e com segurança. Vamos, desde já, contribuir para melhorar a qualidade de vida da nossa cidade. Vamos liberar espaços no trânsito (uma bicicleta é um carro a menos para causar engarrafamento) e não poluir o ar. Vamos fazer bem para a saúde (de todos) e compartilhar, com os que ainda não experimentaram, o prazer de pedalar.
Preferimos crer que podemos fazer nossa cidade mais humana, do que acreditar que a solução dos nossos problemas é alimentar a segregação com ciclovias. Existem alternativas mais rápidas e soluções que serão benéficas a todos, se pudermos nos unir para construirmos juntos uma cidade mais humana.
Nós, que somos o trânsito.
Massa Crítica Porto Alegre: massacriticapoa.wordpress.com