"gênero não é performance"

“Gênero não é uma performance. Mulheres não são estupradas, espancadas, abusadas, molestadas e torturadas psicologicamente porque elas “performam” mulheridade. Essas coisas acontecem porque homens (não “aqueles que performam masculinidade”, a propósito, mas simplesmente homens) designam elas como aquelas-a-quem-é-ok-machucar. Para dizer que gênero é performance é essencial culpabilizar a vítima. Afinal, se uma pessoa escolhe seu gênero e existe em um estado generificado apenas através da performance, não é toda a violência de gênero algo que “se pediu”?"

(Jonah Mix)

   

“ser mulher significa ser membro duma classe, duma casta, ‘portar a estrela de davi’. Não é sensação nem sentimento nem performance nem decisão. É apartheid. É ser parte daquelas pessoas que como dito, foram designadas como estupráveis, e são mantidas nessa classe por meio disso, de estupro e pela força, pelo terror, para que não se sublevem. Identificar-se com uma classe seria o mesmo que dizer que proletariado e pobreza é uma performance e uma identificação e algo a ser celebrado. Não. Feminismo tá aqui porque as classes sexuais devem ser destruídas. Gênero é a divisão criada para determinar quais membros são de uma casta ou outra, a privilegiada e humana, e a desumanizada e violentada, apropriada. Gênero não é identidade. Não existe um “Ser mulher” imanente e transcendental, patriarcado é regime de escravidão, e determina que escravizadas e subordinadas cheguem a crer que nasceram e morrerão no “ser escravo”. Se alguém se identifica com o “Ser mulher” como algo inerente está se identificando com um “Ser escrava”, a feminilidade. E isso foi imposto pelo opressor. A gente se organiza como mulher para derrubar essa opressão. Mulher é nossa consciência de classe política. Agradeço a quem entender isso e não queira roubar nossos meios de luta nem desmantelar nossos espaços de auto-organização pra derrubar esse sistema."