por que meu feminismo é ‘genital’, ou ‘meu feminismo será genital ou não será’
Mulher é uma categoria política, um grupo artificial, criado para ser explorado,
baseando-se nas características fisiológicas que permitem explorar os produtos de seu corpo e trabalho, e criam a feminilidade que são as regras que essa casta deve observar e obedecer para não serem aniquiladas. Isso é gênero. Machos não vão sofrer essa assignação, somente as fêmeas sofrem a assignação de mulher que as identifica dentro dessa categoria, e a classificação é genital sim, porque o Patriarcado declara uma guerra contra esses corpos específicos. Não existe teoria feminista que não seja sobre os corpos das mulheres, por isso não podemos apagar essa materialidade e o foco sobre a realidade das mulheres e a importância dos seus corpos nessa teoria, destes corpos e de nenhum outro. É o corpo das mulheres que é alvo das políticas patriarcais. E foda-se a ‘dissidência sexual’ e a repressão da sua realização sexual e orgásmica, tem coisa muito mais grave acontecendo do que a repressão a essa gente poder ter barba e bigode e usar testosterona, dildo, filmar sua pornografia caseira. Agora tem mulher morrendo por aborto clandestino, ou tem mulher tendo um bilhão de filho, ou tem mulher sendo traficada, morta, estuprada. E sobre isso é feminismo, esse é o compromisso com as mulheres na qual a ética feminista se traduz.
Nunca vi movimento negro falar que raça é apenas uma ‘cor’ e reclamar que quem o faz, quem nomeia sua negritude, quem vê cor, está ‘racificando’ o movimento negro, e que ninguém é branco ou negro. Portanto parem de falar que estamos genitalizando feminismo ou que teoria feminista é uma teoria genital, é genital sim porque sexo importa, quem nasce com pinto nesse mundo patriarcal tá a salvo de muitas atrocidades gigantescas. Quem nasce com pinto na Nigéria não vai estar entre as 253 meninas desaparecidas, quem nasce com pinto em alguns lugares da África e India não vai ser casada aos 6 anos de idade, quem nasce com pinto em países do oriente médio não vai ter que andar com um pano na cara ou cobrindo todo corpo e até mesmo a visão, quem nasce com pênis não estará entre as possíveis vítimas de ataque de ácido e terá seu rosto desfigurado pra sempre, perdendo funções olfativas e visuais. Quem nasce com pinto não vai estar entre as desaparecidas em Juarez no México, pelas políticas de feminicídio. Quem nasce com pênis e é pobre não terá que vender seu corpo pra turistas aos 12 anos de idade durante a Copa Mundial este ano no Brasil, não será desaparecido nas redes de tráfico e prostituição. É muito dura a realidade dessa ‘genitalização’. Não peça pra eu divergir o foco do feminismo que é sobre as mulheres, e nenhum outro grupo mais, e pela destruição desses grupos enquanto categorias políticas para a liberdade das fêmeas serem fêmeas.1
1 Usei “fêmeas” pois ‘humano’, o ecce homo, ainda é a legitimação na masculinidade, pois até o humano tá significado no homem, tido como o parâmetro de humanidade. Quanto mais próximo do masculino, mais humano, na lógica falocêntrica e heteropatriarcal. Portanto uso “fêmea” que estaria mais próximo do que seria um estado originariamente íntegro das mulheres.