Segurança é uma ilusão: notas sobre Acontabilidade

texto crítico com processo de responsabilização

Segurança é uma Ilusão: Reflexões sobre a Resposabilização de Agressores
9 de Janeiro de 2011
retirado de www.anarchistnews.org/?q=node%2F13205

Eu fui inquirida por um amigo querido a escrever sobre processo de responsabilização dentro das comunidades radicais – oferecendo algum insight sobre os anos que passamos lutando contra a cultura de estupro. Exceto pelo fato de que eu não acredito nisso mais. Deveria ser notado que minha raiva e desesperança sobre o modelo atual é proporcional ao quanto eu estive me dedicando a isso no passado. Responsabilização parece como um amargo desamor para mim… os últimos 10 anos eu realmente tentei fazer este relacionamento funcionar mas sabe o quê?

Não existe tal coisa como um ‘processo de responsabilização’ nas comunidades radicais porque não há tal coisa como uma comunidade – não quando diz respeito a violência sexual e abuso. Faça uma pesquisa qualquer hora e você descobrirá que a gente não concorda. Não há consenso. Comunidade neste contexto é um termo mítico, frequentemente evocado e mal usado. Eu não quero mais estar investindo neste termo.

Eu acho que é hora de abandonar esses jogos linguísticos falsos que jogamos e voltar ao velho modelo. Sinto falta dos dias que era considerado razoável simplesmente expulsar a merda vivente fora do nosso povo e colocá-lo no próximo trem pra fora da cidade – ao menos aquela troca era clara e honesta. Estive perdendo muito tempo tanto com sobreviventes e perpretadores se afogando em um dilúvio de palavras que não levavam à cura ou mesmo a uma mínima catárse.

Estou cansada da linguagem da responsabilização sendo usada para criar categorias mutuamente exclusivas de ‘avacalhado’ e ‘equivocado.’ Eu considero a linguagem de ‘sobrevivente’ e ‘perpretador’ ofensiva porque não desnuda todas as formas nas quais abuso é uma dinâmica entre partes. (Embora eu irei usar esses termos aqui porque é a tendência mais comum que temos por hora.)

Anarquistas não estão imunes as dinamicas de abuso, podemos até todes concordar nisso mas tive que vir me dando conta mais e mais de que não conseguimos manter umas as outras seguras. Ensinando modelos de trabalho de consentimento conjuntos é um bom começo – mas nunca será suficiente: socialização de gênero, monogamia – as mentiras da exclusividade e o apêplo do “amor” como propriedade são muito fortes. As pessoas procuram esses níveis de inetnsidade quando o affair amoroso é novo, quando aquela intimidade obcessiva se sente boa e então não sabem negociar afeição amargada depois.

Esse é o negócio sobre patriarcado que é tão perversamente difundido e este é o ponto sobre ser uma anarquista, ou tentar viver livremente, violentamente e sem restrições – nada disso mantém você livre de violência ou segura. Não há um espaço que possamos criar num mundo tão danado como este no qual vivemos que seja isento de violência. Aquilo que até pensamos que é possível diz mais sobre nosso privilégio que qualquer outra coisa. Nossa única autonomia resta em como negociamos e usamos o poder e violência nós mesmas.

Eu de verdade quero enfatizar: não há tal coisa como um espaço seguro sob o patriarcado ou capitalismo na luz de toda dominação sexista, heteronormativa, racista, classista (etc) sob as quais vivemos. Quanto mais tentamos fingir que segurança pode existir num nível comunitário o mais desapontadas e traídas nos sentimos por amigues, e amantes será quando estes experimentam violência e não são apoiados. Agora mesmo estivemos fazendo um bom jogo mas os resultados em nada vêm agregando.

Há um monte de problemas com o modelo vigente – as diferentes experiências de violência sexual e relacionamento abusivo vêm acumulados juntos. Os processos de responsabilização encorajam triangulação ao invés de comunicação direta – e porque o conflito não é favorecido, uma comunicação mais honesta é evitada. Confrontação direta é bom! Evitá-la não permite novos entendimentos, saída catártica ou o eventual perdão 1 que as trocas de pessoa a pessoa podem levar a.

Estiveram estabelecendo um modelo onde todas partes são encorajadas a simplesmente negociar como el*s devem nunca mais ser uns a outres denovo ou dividir espaços. Algumas demandas/promessas impossíveis são distribuídas e em nome da linha da confidencialidade são desenhadas na areia na base de generalidades. Lidar com sua merda mas você não pode falar sobre as especificidades do que ocorreu e vocês não podem falar um* com o outre. O modelo corrente na realidade cria mais silêncio – a apenas alguns especialistas é oferecida informação sobre o que ocorreu mas de todo mundo ainda é esperado que evitem julgamento. Há pouca transparência nestes processos.

É um intento compreensível de não acionar ou causar mais dor nós falamos nós mesmes em círculos cada vez mais abstratos enquanto um momento ou dinâmica entre duas pessoas se torna cristalizada e não se modifica ou progride. “Perpretadores” se torna a soma total de seus piores momentos. “Sobreviventes” habilita uma identidade em torno de experiências de violência que frequentemente mantém estas emperradas naquele momento emocional. As cuidadosas comunicações não-violentas de responsabilização não levam a cura. Eu fui vendo esses processos dividirem um monte de cenas mas eu não as vi ajudarem as pessoas a adquirir ajuda, retomarpoder ou se sentirem seguras denovo.

Estupro te parte no meio – a perda de controle corporal, como aqueles sentimentos de impotencia revisitam você, como isso rouba você de qualwuer ilusão de segurança ou sanidade. Necessitamos modelos que ajudem as pessoas a tomar poder denovo e nós precisamos reclamar a retribuição, controle, e banir do corrente modelo pelo que ele é – vingança. Vingança é OK mas vamos não fingir que não é sobre poder! Se vergonha e violência retalatória é o que temos que trabalhar com eles então vamos ser realistas quanto a isso. Vamos escolher aquelas ferramentas se a gente puder dizer honestamente que é isso que queremos fazer. No meio dessa guerra precisamos nos tornar melhor em estar em conflito.

Abuso e estupro são consequências inevitáveis da sociedade doente que nós somos forçadas a viver sob. Precisamos envicerar e destruí-la, mas por enquanto, não podemos nos esconder disso – ou as maneiras que isso afeta seus relacionamentos mais pessoais. Eu sei na minha própria vida um importante processo na minha luta por libertação foi fazer minha paz com as piores consequências do meu assalto pessoal no patriarcado. Lidar com ser estuprada foi uma parte importante do entendimento do que isso significa escolher estar em guerra com essa sociedade.

Rape has always been used as this tool of control- proffered up as a threat of what would happen if I, in my queerness and gendered ambiguity, continued to live, work, dress, travel, love or resist the way that I chose to. Those warnings held no water for me- in my heart I knew it was only a matter of time- no matter what kind of life I chose to live because my socially prescribed gender put me at constant risk for violation. I was raped at work and it took me a while to really name that assault as rape. After it happened mostly what I felt, once the pain, rage and anger subsided was relief. Relief that it had finally happened. I had been waiting my whole life for it to happen, had had a few close calls and finally I knew what it felt like and I knew I could get through it.

I needed that bad trick. I needed a concrete reason for the hunted feelings that stemmed from my friend’s rape, murder and mutilation a few years back. I needed to have someone hurt me and realize I had both the desire to kill them and the personal control to keep myself from doing it. I needed to reach out for support and be disappointed. Because that’s how it goes down- ask the survivors you know most people don’t come out of it feeling supported. We’ve raised expectations but the real life experience is still shit.

I was traveling abroad when it happened. The only person I told called the police against my wishes. They searched the “crime” scene without my consent and took DNA evidence because I didn’t dispose of it. Knowing I had allowed myself in a moment of vulnerability to be pressured and coerced into participating in the police process against my political will made me feel even worse than being violated had. I left town shortly thereafter so I didn’t have to continue to be pressured by my ‘friend’ into cooperating with the police any more than I already had. The only way I felt any semi-balance of control during that period was by taking retribution against my rapist into my own hands.

I realized that I also could wield threats, anger and implied violence as a weapon. After my first experience of ‘support’ I chose to do that alone. I could think of no one in that moment to ask for help but it was OK because I realized I could do it myself. In most other places I think I could have asked some of my friends to help me. The culture of nonviolence does not totally permeate all of the communities I exist in. The lack of affinity I felt was a result of being transient to that city but I don’t think my experience of being offered mediation instead of confrontation is particularly unique.

In the case of sexual assault I think retaliatory violence is appropriate, and I don’t think there needs to be any kind of consensus about it. Pushing models that promise to mediate instead of allow confrontation is isolating and alienating. I didn’t want mediation through legal channels or any other. I wanted revenge. I wanted to make him feel as out of control, scared and vulnerable as he had made me feel. There is no safety really after a sexual assault, but there can be consequences.

We can’t provide survivors safe space- safe space, in a general sense, outside of close friendships, some family and the occasional affinity just doesn’t exist. Our current models of accountability suffer from an over-abundance of hope. Fuck the false promises of safe space- we will never get everyone on the same page about this. Let’s cop to how hard healing is and how delusional any expectation for a radical change of behavior is in the case of assault. We need to differentiate between physical assault and emotional abuse- throwing them together under the general rubric interpersonal violence doesn’t help.

Cyclical patterns of abuse don’t just disappear. This shit is really really deep- many abusers were abused and many abused become abusers. The past few years I have watched with horror as the language of accountability became an easy front for a new generation of emotional manipulators. It’s been used to perfect a new kind of predatory maverick- the one schooled in the language of sensitivity- using the illusion of accountability as community currency.

So where does real safety come from? How can we measure it? Safety comes from trust, and trust is personal. It can’t be mediated or rubber stamped at a community level. My ‘safe’ lover might be your secret abuser and my caustic codependent ex might be your healthy, tried and true confidant. Rape culture is not easily undone, but it is contextual.

People in relation to each other create healthy or unhealthy exchanges. There is no absolute for ‘fucked up’, ‘healed’ or ‘safe’- it changes with time, life circumstance, and each new love affair. It is with feelings of unease that I have observed the slippery slope of ‘emotional’ abuse become a common reason to initiate an accountability process…

Here is the problem with using this model for emotional abuse: its an unhealthy dynamic between two people. So who gets to call it? Who gets to wield that power in the community? (And lets all be honest that there is power in calling someone to an accountability process.) People in unhealthy relationships need a way to get out of them without it getting turned into a community judgment against whomever was unlucky enough to not realize a bad dynamic or call it abuse first. These processes frequently exacerbate mutually unhealthy power plays between hurt parties. People are encouraged to pick sides and yet no direct conflict brings these kinds of entanglements to any kind of resolve.

Using accountability models developed all those years ago to deal with serial rapists in the radical scene has not been much to help in getting people out of the sand pit of damaging and codependent relationships. Emotional abuse is a fucking vague and hard to define term. It means different things to every person.
If someone hurts you and you want to hurt them back- then do it but don’t pretend its about mutual healing. Call power exchange for what it is. Its OK to want power back and its OK to take it but never do anything to someone else that you couldn’t stomach having someone do to you if the tables were turned.

Those inclined to use physical brutality to gain power need to be taught a lesson in a language they will understand. The language of physical violence. Those mired in unhealthy relationships need help examining a mutual dynamic and getting out of it- not assigning blame. No one can decide who deserves compassion and who doesn’t except the people directly involved.

There is no way to destroy rape culture through non-violent communication because there is no way to destroy rape culture without destroying society. In the meantime let’s stop expecting the best or the worst from people.

I am sick of accountability and its lack of transparency.
I am sick of triangulating.
I am sick of hiding power exchange.
I am sick of hope.
I have been raped.
I have been an unfair manipulator of power in some of my intimate relationships.
I have had sexual exchanges that were a learning curve for better consent.
I have the potential in me to be both survivor and perp- abused and abuser- as we all do.

These essentialist categories don’t serve us. People rape- very few people are rapists in every sexual exchange. People abuse one another- this abuse is often mutual and cyclical- cycles are hard but not impossible to amend. These behaviors change contextually. Therefore there is no such thing as safe space.
I want us to be honest about being at war- with ourselves, with our lovers and with our “radical” community because we are at war with the world at large and those tendrils of domination exist within us and they affect so much of what we touch, who we love and those we hurt.

But we are not only the pain we cause others or the violence inflicted upon us.

We need more direct communication and when that doesn’t help we need direct engagement in all its horrible messy glory. As long as we make ourselves vulnerable to others we will never be safe in the total sense of the word.

There is only affinity and trust kept.
There is only trust broken and confrontation.
The war isn’t going to end anytime soon
h2. Let’s be better at being in conflict.

If you would like a copy of the zine please email downtothis@riseup.net

   

eu comecei a traduzir esse texto pois confundi com outro, que era sobre uma mina denunciando um cara que havia contagiado ela de HPV, e ela se considerava ‘trabalhadora sexual’ (hmm…) e disse que isso comprometeu o trabalho dela. Mas o nome do texto é Is the Anarchist Men our Comrade? Eu quis traduzir ele porque é muito invisibilizado o descuidado sexual como uma forma de violência, e no texto ela escracha ele, poe endereço e tudo. Daí eu me confundi e esse texto tava me irritando pois eu ODEIO essa história de ‘responsabilização dos agressores’. Daí quando vi que estava traduzindo o txto errado larguei, ia pôr ele naquela coletânea que atualizei, mas agora já era. Se alguém quiser terminar. Fiquei muito irritada com o texto.