Enquanto antigamente as mulheres se prendiam, na direita, pela palavra “boa”: preciso ser uma boa mulher, uma boa mãe, uma boa esposa e dona de casa; a mulher atual, a mulher de esquerda, está presa na palavra “livre”, ela é uma gatinha pra frente, sexualmente liberal, sem neuras. A pornografia, até então o segredinho sujo da direita; agora é dominada pela esquerda que a escancara, coloca em pedestais. Onde mulheres, em uma busca vã pela liberdade de expressão e sexualidade, aplaudem a tortura, o encarceramento, a escravidão e humilhação de mulheres. Mulheres tais como ela. A esquerda, tão “radical” na conduta contra a tortura, violência, racismo, capitalismo, poder do maior contra o menor, escravidão, fecha seus olhos se essas violências estão direcionadas às mulheres. Porque agora as mulheres são livres e escolhem. E eles escolhem o silêncio. Dizia Dworkin “A esquerda não pode ter suas putas e suas políticas também”.
Tradução da página 224 (trecho)
‘’Nós saberemos que somos livres quando a pornografia não existir mais. Enquanto isso existir, nós precisamos entender que somos as mulheres nisso: usadas pelo mesmo poder, sujeitas à mesma valoração, como as putas da vila que imploram por mais.
Os garotos estão apostando na nossa cumplicidade, nossa ignorância, nosso medo. Nós sempre recusamos a olhar o pior que os homens nos fizeram. Os garotos contam com isso. Os garotos estão apostando que as representações deles de nós como putas irão nos deixar para baixo e parar nossos corações. Os garotos estão apostando que os pênis, punhos e facas e fodidas e estupros deles vão nos tornar o que eles dizem que nós somos – as cúmplices mulheres do sexo, as vadias vorazes da pornografia, as vagabundas masoquistas que resistem porque nós, na verdade, queremos mais. Os garotos estão apostando. Os garotos estão errados.’’
Pornografia – Andrea Dworkin