“O monstro é a encarnação da diferença com respeito ao corpo humano normativo. Neste sentido a monstruosidade pode aplicar-se segundo o contexto, a qualquer construção corporal não-normativa. (…)
“Ela”, como diz Braidotti, está sempre associada à desordem, ao sub-humano, é um fenômeno, um inimigo da humanidade, uma outsider (estrangeira) da civilização. Dentro dessa construção binária do mundo, a criação do monstro é o combustível necessário para a produção de qualquer discurso normativo a respeito do corpo e a imagem corporal. Se a posição das mulheres e os monstros como operadores lógicos na produção discursiva é comparável na lógica binária, a isso segue que a misoginia do discurso não é uma excepcionalidade irracional, senão que justamente a norma de um sistema que necessita da diferença para poder construir essa norma em positivo. Neste sentido se pode assegurar então que a misoginia é uma necessidade estrutural para um sistema que somente pode representar a outridade como negatividade. Esse mesmo discurso cria ao mesmo tempo, a feminilidade normativizada e a feminilidade abjeta, e dentro deste esquema existe toda uma tradição cultural na qual as lésbicas vieram sendo consideradas como monstros”
Beatriz Gimeno – A Construção da Lésbica Perversa