“LÉSBICAS NO IRÃ TÊM DE ‘ESCOLHER’ ENTRE MUDANÇA DE SEXO OU MORTE”, DE TRISH BENDIX

http://www.afterellen.com/people/231442-lesbians-in-iran-are-being-asked-to-get-sex-changes-or-die

Hoje à noite, no canal BBC Notícias Mundiais, um documentário chamado “A solução da mudança de Sexo no Irã” Iran’s Sex Change Solution adentra o mundo da sexualidade no Irã, onde lésbicas e gays estão sendo forçados a transicionarem para serem aceitos em seu país. O apresentador Ali Hamedani fala com lésbicas e gays que se mudaram para Turquia e discute seus processos de “saída do armário” e como reconciliaram sua sexualidade com o gênero, a pressão exercida por suas comunidades, que negam a existência da homossexualidade e, como solução, oferecem cirurgias de mudança de sexo de graça, pagas pelo governo.

Donya é uma das lésbicas que aparecem no documentário; ela conta que um policial disse que ela não poderia ter o cabelo raspado, e que ela tinha que mudar de gênero.

“Eu estava sob tanta pressão que queria mudar meu gênero assim que possível”, diz Donya, que buscou ajuda médica para parar de menstruar e acabou começando o tratamento hormonal. Mas quando lhe recomendaram cirurgia, ela não tinha certeza se deveria fazê-la.

“Eu não tinha acesso fácil à internet – muitos sites são bloqueados. Comecei a pesquisa com a ajuda de amigos que estavam na Suécia e na Noruega”, disse Donya. “Passei a me conhecer melhor… Aceitei que eu era lésbica e estava feliz com isso”.
No Irã, viver abertamente como lésbica ou gay é crime punível com a morte, e por isso pessoas como Donya procuram asilo em países mais tolerantes. Execuções acontecem com frequência, apesar de Ali Hamedani mencionar que não se sabe os números exatos.

É incrível que o Irã veja a transição como uma saída para lésbicas e gays. Nos Estados Unidos, onde a transfobia é persistente e crimes de ódio contra pessoas trans acontecem muito frequentemente nessa sociedade moderna, há um tipo bizarro de homofobia para o qual pessoas trans não são parte da comunidade “queer”, e são obrigadas a se adequatrem à sociedade “hétero”. Ainda mais interessante é o fato de que o governo oferece empréstimos a esses indivíduos, encorajando mudanças físicas, mas não psíquicas. Como Ali observa no vídeo, “O problema é que mudanças de sexo estão sendo utilizadas de forma displicente, sendo oferecidas a pessoas que não são transgêneras, mas gays ou lésbicas, e falta informação para saber a diferença”.

Os índices de suicídio e depressão daqueles que transicionaram sem serem realmente transgêneros são altas, diz uma psicóloga Iraniana que não quis revelar sua identidade no documentário, mas achou importante falar sobre o assunto.

“Acho que o que está havendo é uma violação aos direitos humanos”, afirma. “O que me deixa triste é que organizações que deveriam ter propósitos humanitários e terapêuticos podem ficar do lado do governo, ao invés de cuidar das pessoas”.

Arsham Parsi fugiu para o Canadá e criou uma espécie de via subterrânea para ajudar exilados Iranianos, e conta que uma vez ouviu de uma mulher, a quem estavam exigindo fazer transição, que ela não tinha ideia do que era uma “lésbica”. Ele afirma achar que quase 45% dos iranianos que transicionam não são mesmo transgêneros, mas, na verdade, gays ou lésbicas.

A ativista lésbica iraniana Shadi Amin agora mora na Alemanha, e conversou com Ali sobre a tristeza que causa a repressão da sexualidade.

“Viver se escondendo significa ser forçado a não mostrar sua identidade para as pessoas que você ama. As pessoas que você ama não sabem sobre você”, disse. “Elas não sabem realmente como você vive. Elas não sabe quem você ama de verdade. Isso é muito triste”.

Shadi chama o Irã de “inferno dos homossexuais”, e quer que os homossexuais e lésbicas iranianos tenham acesso a mais informações antes de escolherem se submeter à cirurgia de redesignação de sexo.

“Até fazer 30 anos eu iria transicionar”, falou Donya. “Mas aí eu fui me conhecer melhor”. Ela disse que conheceu muitas pessoas que fizeram a cirurgia e ficaram infelizes com o resultado, e agora ela tem vários tumores cancerígenos que acredita serem produto do tratamento hormonal. Ela espera receber tratamento médico e algum dia se tornar advogada no Canadá, onde ela foi acolhida.

“A solução da mudança de Sexo no Irã” Iran’s Sex Change Solution é uma quebra de paradigma e, com sorte, irá formentar o diálogo internacional a respeito das recomendações perigosas do Irã para gays e lésbicas. Felizmente, muitos dos entrevistados tiveram direito a asilo ou estão agendados para começar o processo de requerimento num futuro próximo. Ainda assim, há centenas de outras pessoas no Irã que não tomaram conhecimento ou não têm condições de encontrar uma saída, e precisam de ajuda internacional, visto que seus governo e policiais não vão agir em prol de seus interesses.