Artigo em inglês interessante pra pensar a questão das estratégias legais como um todo. Todo feminismo/lesbianismo que caminha em sentidos reformistas e legais, o que compromete de si mesmo nisso, o quanto essa estratégia é uma cilada.
Porém mais além eu acho a discussão em si dessa questão se tornou um tabu dentro do feminismo, graças novamente à politicas de identidade, pensar uma oposição à maternidade que é o pilar da imposição da heterossexualidade sobre nós é imprescindível, porém gera mil desconfortos e mal entendidos de teor pessoal muitas vezes. Arriscaria pensar além, inclusive se vale a pena reivindicar a identidade ‘mãe’, criada com esmero pelo próprio patriarcado (to aqui pensando no mesmo sentido que Wittig fala que abandonemos a identidade mulher, como sendo uma categoria de sexo produzida pela heterossexualidade mesma, abandonar todos termos da falo-realidade), se levamos a cabo uma estratégia radical de des-heterossexualização (vendo heterissexualidade não apenas como a prática sexual com homens mas tudo que regula esse regime, toda extração de nosso trabalho voluntário de reprodução e produção de sujeitos, e aí entra as práticas de cuidado de outros compulsorias que performamos diariamente dada nossa feminilidade)… e como sobrevivência lésbica. Pensar o que é essa sacralização da imagem da Mãe realizada pela Igreja, pelo cristianismo e boa parte das religiões, que função isso tem e como essa reverencia quase sagrada se reproduz entre nós (um exemplo, o quanto é intocável falar da opressão que mães exercem sobre filhas lésbicas, sobre meninas dado o poder familiar, mil outros exemplos que não elencarei agora)… além do quanto a imposição da política de identidade como moralidade autoritária nessa discussão constrange o pensar lésbico livre (radical) e impede de problematizar o impacto da socialização da maternagem nas nossas subjetividades. É necessário que o lesbianismo abrigue mais de um sentido de discussão deste tema que não apenas a discussão no sentido identitário (‘eu tenho o lugar de fala logo apenas eu posso pensar/conversar sobre isso’ pois é diferente de outras identidades, trata-se de uma instituição que afeta todas mulheres e se impôe sobre todas, mesmo que estas não tenham filh@s, se impôe como performance, como subjetivação essencial da feminilidade).