problematizando o termo 'lésbica agressora'

um equívoco heterocentrado e lesbofóbico

Quando você expôe uma lésbica como agressora você só reforça estereotipos heteros preconceituosos sobre nós. Estereótipos históricos depreciativos como lésbica predadora, molestadora, afims. O que permite o debate feito nesses termos é a colonização heterossexual da qual sofre a mentalidade de muitas lésbicas – somente lésbicas heterocentradas podem depreciar lésbicas desta forma, deixar de ter empatia com lésbicas a esse ponto. Lésbicas e feministas heterocentradas sem compromisso político e ético com as lésbicas como povo, como as comprometidas com as políticas queer por exemplo, ou as feministas de internet que vivem num universo sem fim de hostilidade e julgamento excessivo em torno a outras mulheres. Tratar lésbicas como ‘agressoras’ e outros termos graves somente deprecia nossa comunidade e isola ainda mais as lésbicas que já sofrem solidão lésbica. Essa ladainha de ‘lésbica agressora’ é pós-modernismo, que não cuida com as palavras e seus reais agentes: os homens. É um pseudo-debate feito de forma irresponsável e ignorante, sem levar em conta questões diferenciais para com relacionamentos heterossexuais, abordando de forma punitivista e destrutiva, principalmente com o recurso da exposição. O feminismo liberal/interseccional tem paciência de ensinar feminismo para homens, agressores convictos, mas considera certo ostracizar e estigmatizar lésbicas sem cuidado qualquer, sem levar em conta a opressão que as construiu, as questões emocionais que possui, ou qualquer outra coisa que não leve relacionamentos lésbicos a serem perfeitos num heteropatriarcado, e sem buscar saber realmente o que aconteceu antes de julgar a partir de rumores ou exposição irresponsável. Comecem por mudar os termos com que abordam as questões lésbicas, tenham responsabilidade política. Guardem os termos clássicos para nomear a violência masculina para os homens, e parem de aplicar a mulheres, mulheres não são opressores estruturais, esse debate é uma distração bem típida das políticas identitárias, que não sabem mais alvejar o inimigo e sim ficar em problematizações obcessivas em cima de oprimidos. Parece com queer que fica falando “Agressorxs não são bem vindxs” em eventos, o que se trata de uma reversão: é bom lembrar que mulher não pode ser agressora de homem, e relacionamentos lésbicos exigem outra abordagem, nossa vivência não tem nada haver com a de heterossexuais. Tenham consideração pelas lésbicas e acabem com a cultura de difamação entre mulheres, rumores, parar com o punivitismo e abordagem penais e cristãs que remontam a justiça patriarcal estabelecida desde o evento da queima histórica das bruxas como pecaminosas, bodes expiatórios. Tenhamos consideração com lésbicas e busquemos uma abordagem mais profunda dos relacionamentos lésbicos e suas dificuldades, que é parte das dificuldades que lésbicas vivem como povo.
A destruição psicológica de uma lésbica com exposição não contribui em nada para o debate sobre violência entre lésbicas.
A questão da violência entre lésbicas é resolvida com trabalho e abordagens profundas, teóricas, práticas, nas nossas comunidades. Com debates, conversas, oficinas, acolhimento de nossa complexidade, com interesse genuíno pelo entendimento das subjetividades lésbicas. Exposição, trashing e o escracho mal utilizado, ostracismo excludente com pessoas que já são socialmente excluídas de toda realidade heterossexual e patriarcal, realizado de forma irresponsável e punitivista, não resolvem esse problema.

   

Lésbicas não são humanas e por isso somos bestas predadoras, opressoras, agressoras e lesadoras da zona de conforto de mulheres heterossexuais… indecentes para a sociedade… por isso não existe tratamento humanitário para lésbicas, seguimos sendo tratadas como criminosas por séculos e séculos, agora até mesmo pelo feminismo.