Sobre o termo Lesbofobia

Achei um trecho em um blog, chamado WitchWind e gostaria saber o que pensam sobre o que a autora escreve nesse trecho: "I refuse to use the words “lesbophobia” or “homophobia” since they are incorrect and psychologising terms. Phobia is a psychiatric term referring to a mental disorder, and means an irrational fear of something, or to be more precise, projecting a fear of a forgotten trauma (ie having been raped by your uncle as a child) on another object (ie spiders or birds). The psychologisation of phobia is itself questionable though, since it’s a direct consequence of male violence and isn’t a disorder per se. Anyway, anti-lesbianism has nothing to do with phobia: it isn’t a mental condition nor a somatic disorder. It’s an organised male system of repression of women who refuse to submit to compulsory heterosexuality and choose to dedicate their affection, intimacy and lives to women."
 

Isso tbm o diz Sarah Lucia Hoagland e eu concordo sim. (ela fala isso no texto que ta traduzido “Mulher Povo Colonizado” que pertence à coletânea Lesbian Ethics). O termo correto é heterossexismo e acho que lesbofobia é um termo LGBT… ele despolitiza e desresponsabiliza colocando como uma questão psicológica.

Eu sempre achei isso mas mantive (recuperei na verdade) o termo porque eu também além de achar que ele tem ressonância social e heterossexismo ainda é muito teórico/acadêmico, eu concordo com Lesbofobia (e outras autoras usam, como a Bev Jo) no sentido de que eu acho sim que existe um mecanismo psíquico que explica o ódio, é medo e ódio a alguém, no caso um diferente. A misoginia e o ódio à lésbicas, o que leva ao assassinato dessas pessoas, de gays, de negros, de judeus, o encarceramento de loucos, a necessidade do criminal, daquele que vai à cadeira elétrica ou à prisão… tudo isso se deve ao fato de que como Dworkin fala, o ato do homem estuprar, violar, o sexo com prostitutas, a pornografia, tudo isso estabelece a identidade masculina por meio da negação desse outro. Eu sou a medida que não sou esse outro, eu sou sujeito a medida que alguém é coisa. Então esse outro causa uma ansiedade e desestabiliza a identidade desse Mesmo, essa ansiedade aniquiladora frente ao Diferente gera o impulso de matar e aniquilar isso que ameaça… os grupos funcionam assim, criando o bode expiatório, por meio do rumor, ele demoniza um outro que ameace uma coesão identitária ou grupal… (alguém que denuncia, questiona ou pensa, por exemplo, que rompe a mesmice grupal) e daí vemos os fenômenos facistas, a Direita, essa tendência conservadora agora no Brasil, o ódio à Dilma, o ódio à esquerdas, quase alucinatório, as fantasias ameaçadoras e castradoras dos conservadores acerca dos ‘comunistas’, essa ansiedade persecutória… e como eles partem para a violência e para o assassinato, que é esse medo de desestabilizar o seu Eu. Explica as queimas às bruxas, o sistema penal, as lógicas maniqueístas… Lésbicas encarnam o lugar desse Mal, desses demônios, dessa ameaça à uma ordem social que dá curso à micropolíticas reativas de modo a reconquistar seu status quo abalado.

 
   

Outro problema das fobias é como vêm das políticas de identidade. É um risco que corremos quando usamos esses termos, já vimos o que rola no movimento graças ao liberalismo/individualismo, como caiu tudo numa coisa sem fim de falar de privilégios e troca de acusações, sem politizar a estrutura social. Daí surge tudo quanto é fobia, bifobia, transfobia… O movimento lésbico cai muito facilmente numa linguagem liberal e num individualismo se não cuidar bem de suas bases teóricas.

A questão com o termo é a responsabilização, o sujeito que pratica a lesbofobia é consciente, e também não são apenas homens, o feminismo possui muito medo e ódio à lésbicas também e analisar com essas lentes nos revela muita coisa. Porque considero que o feminismo participa da micro-política reativa heterossexual de algum modo e tem um compromisso com ela, não quer ver desestabilizar sua comodidade, o mundo inteiro tá muito confortável pro heterossexual, eles nos colocam às lésbicas, à existência lésbica, constantemente num lugar de ininteligibilidade e de deslegitimidade, e as feministas nos colocam num lugar secundário e medíocre. Quem se recusa a tão pouco ou aponta o seu ódio/medo à nós, é linchada, como prevê o mecanismo facista que descrevi e que tá enraizado nos processos grupais existentes dado a tanto tempo que vivemos sob sistemas de autoritarismo e violência.

Se eu fosse escolher um temro que considerasse radical, acho Ódio à Lésbicas mais interessante.