publicado em espanhol: 2016
publicado em português pela Letra Livre (PT): 2019
publicado em português pela UFPR (BR): 2020
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Prólogo à edição brasileira (da UFPR)¶
Infelizmente, a teoria que se desenvolve neste livro tem um caráter planetário, e não há motivo nenhum para concluir que o Brasil fica longe dos conceitos que se empregam nestas páginas. Muito pelo contrário – e em virtude de elementos que procedem do passado e de outros que se manifestam no presente –, o Brasil parece estar no centro de muitos dos debates que se estudam nesta obra. Quando falo de elementos que vêm do passado, estou pensando, por exemplo, no desmatamento da Amazônia ou no crescimento sem medidas, e sem plano, de cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro. Quando faço referência, no entanto, a realidades que se revelam no presente, o que tenho na cabeça é, por um lado, a condição de um país que é uma das principais economias emergentes, imerso no turbilhão da adoração do crescimento e das tecnologias, mas marcado também, por outro lado, pelas previsíveis consequências de uma crise que pode multiplicar os efeitos da presença de dimensões facilmente vinculáveis ao conceito de colapso. Sabe-se que nos momentos de crise o meio natural não é precisamente objeto de singular atenção.
Sou consciente, porém, de que é razoável concluir que um trabalho dessa natureza mereceria uma adaptação, que não está entre as minhas possibilidades, ao cenário mental – falo agora de um âmbito diferente – próprio de brasileiros e brasileiras. As coisas não se apresentam da mesma maneira e os antecedentes históricos e de imaginário não são os mesmos no norte europeu e no sul latino-americano. Mesmo assim, acho que a maioria das categorias empregues neste livro, por serem universais, são perfeitamente compreensíveis para um leitor, ou uma leitora, que more no Brasil. Agradecerei, de qualquer forma, todos os comentários que possam chegar de pessoas que contribuam para enriquecer as discussões relativas ao colapso.
Permita-me o leitor que termine com a menção de algo que, porventura, falte neste livro. Em algum momento nestas páginas, saliento que, segundo uma versão dos fatos que considero confiável, o período crítico de manifestação de um colapso geral do sistema é o que separa os anos 2020 e 2050. Imaginemos que o colapso em questão se manifeste no ano 2045. Parece inevitável formular, então, uma pergunta importante: o que acontecerá no quarto de século que nos separa dessa data? Se nos debates desenvolvidos na Europa frequentemente sublinhei que, sob meu ponto de vista – e para descrever o cenário do pós-colapso –, não seria adequado falar em uma terceira guerra mundial, mas sim em uma ordem semifeudal com os senhores enfrentados pelos seus servos de ontem, é preciso se perguntar se antes de 2045 não se poderia manifestar, porém, uma nova guerra planetária. A existência dessa possibilidade – e na realidade há quem pense que já estamos imersos nessa guerra – faz com que nos organizemos e façamos frente a um horizonte no qual o ecofascismo retratado em um dos capítulos deste livro poderia se revelar, em condições infelizmente propícias para os seus interesses, antes do colapso. De qualquer forma, a consideração do colapso que vem, que é o alicerce deste modesto livro, não pode se traduzir em um esquecimento da realidade cotidiana que hoje conhecemos.
Quero agradecer, enfim, aos amigos e amigas da Universidade Federal do Paraná, e nomeadamente à Marília Andrade Torales Campos, o esforço de trabalho e de recursos que representa a tradução brasileira desta obra. Espero poder recompensar, no futuro, esse esforço.
Carlos Taibo, agosto de 2017