O Anarquismo Intersecional é uma corrente anarquista inexistente (ou criada aqui e agora) que procura combater o reducionismo de classe dentro do anarquismo. Ela compreende que o ideal anarquista de oposição a todas as formas de opressão precisa ir além de ser um ideal e uma frase de efeito, e tornar-se uma prática, através da oposição ativa, atenta, próxima e firme às formas de opressão que atravessam questões diferentes da opressão capitalista e estatal, sem negacionismo, privilegismo e veja-bens. Queremos um anarquismo baseado na responsabilidade com as lutas de todas as classes. Esta corrente parte de um pressuposto fortemente posicionado sobre a legitimidade das reivindicações feitas por movimentos de minorias oprimidas historicamente e da necessidade de que estas minorias estejam inseridas no anarquismo, e não na presunção elitista de que o anarquismo irá salvá-las, ou no mito monista de que todas as opressões cairão junto com o Estado e o Capital. O anarquismo intersecional acredita que qualquer identidade oprimida merece visibilidade e agência, e que o papel do anarquismo é de potencializar e embasar e reforçar a necessidade de um caráter intersecional no seu esforço de resistência, bem como de ser um vetor para que estas lutas se tornem mais libertárias, radicais e leve também a intersecionalidade a elas, assim como é através da intersecionalidade que pretende lhes alcançar. O anarquismo intersecional é crítico da figura do anarquista privilegiado que recusa-se a reconhecer seus privilégios e que sua linguagem, suas relações com compas, sua vida política, são todas formas de potencialmente excluir e silenciar. O anarquismo intersecional sabe que, por padrão, o anarquismo sem adjetivos “é” assim, mas também sabe que não é. Entendemos que o anarquismo deve ser um espaço de luta e de formação política na construção de uma resistência antiautoritária classista, revolucionária e intersecional, capaz de alavancar dentro de si a luta contra todas as formas de dominação e opressão, principalmente na constante discussão e ação internas de questões frequentemente apagadas onde se pretende esta intersecionalidade. Isto significa combater o silenciamento, a trivialização, o desempoderamento e as opressões dentro de meios de organização política anarquista e significa ocupar o anarquismo para que se torne um espaço não só de formação anticapitalista libertária, mas também anti-autoritária em todo outro eixo da opressão social que sofremos.