[projeto livro] A HERESIA LÉSBICA - Sheila Jeffreys

A Heresia Lésbica – Sheila Jeffreys

Introdução OK

A Criação da Diferença Sexual (FALTAM AS NOTAS)

A Lésbica Essencial OK

O Terapismo Sexual Lésbico

A Revolução Sexual Lésbica (incompleto)

Retorno ao Gênero: Pós-modernismo e a teoria Lésbica e Gay (faltam as notas)

A Lésbica Marginal (incompleto)

“Uma cópia mal-feita do homem”: Cultura Lésbica e Gay

Uma Separação Mais profunda

Sadomasoquismo: O Culto Erótico do Fascismo

Introdução

A teoria política do feminismo lésbico transformou o lesbianismo de uma uma prática sexual estigmatizada em uma ideia e uma prática política que representava um desafio à supremacia masculina e sua instituição básica da heterossexualidade. Lésbicas Feministas articularam esse desafio nos anos de 1970. Elas eram heréticas. Foi um ato de heresia. Fundamental para a prática lésbica feminista era a rejeição da construção sexológica do lesbianismo. As ideias do estabelecimento médico – que o lesbianismo era uma anomalia congênita, que o lesbianismo era psicologicamente determinado, um resultado da inveja do pênis, que o lesbianismo era um desvio sexual que deveria residir nos textos sexológicos ao lado do abuso infantil e fetichismo – foram jogadas pela janela.

Nós estávamos construindo um novo universo feminista. Começando com a tomada de consciência em uma atmosfera de grande otimismo, nós re-nomeamos lesbianismo como uma escolha saudável para mulheres baseada no amor-próprio, o amor por outras mulheres e a rejeição a opressão masculina. Qualquer mulher poderia ser lésbica. Era uma escolha política revolucionária, a qual, se adotada por milhares de mulheres, levaria a desestabilização da supremacia masculina, pois os homens perderiam a base do seu poder no serviço “altruísta”e não pago, doméstico, sexual, reprodutivo, econômico e emocional exercidos pela mulher. Seria a base a partir da qual nós iriamos ir além para destruir o poder masculino. Seria um universo alternativo no qual nós construiríamos uma nova sexualidade, uma nova ética, uma nova cultura em oposição à cultura masculina dominante. Seria um núcleo energético do qual novos valores positivos feministas e lésbicos saíram para transformar o mundo para mulheres e levar a sado-sociedade ao fim.

Lésbicas feministas foram instrumentais na criação das bases da comunidade lésbica que hoje em dia é tida como fato pelas jovens mulheres que começam a se entender como lésbicas. Nós organizamos editoras e arquivos lésbicos, festas, centros comunitários, grupos de suporte e desaguamos um oceano de ideias em jornais, revistas e livros. Algumas das que contribuíram para construção da cultura lésbica naqueles anos são agora profundamente criticas ao feminismo lésbico e estão se desassociando dele, mas eu continuaria a argumentar que a maioria, sejam lésbicas mais velhas ou novas lésbicas políticas, mantinham alguns valores lésbicos feministas daqueles tempos há apenas alguns anos, e que foi a energia criada por um movimento revolucionário que abasteceu esses desenvolvimentos. Lésbicas trabalhadoras, lésbicas negras, lésbicas de minorias étnicas e lésbicas indígenas estavam todas envolvidas desde o começo no feminismo lésbico em todos os países do mundo ocidental, apesar delas não terem sido a maioria e suas vozes não terem sido as mais escutadas antes do fim dos anos 70.

Esse livro foi escrito para ajudar a mim e outras feministas lésbicas a entender a reação contra backlash essas politicas que aconteceu nos anos 80 e 90. A reação contra o feminismo em geral foi poderosamente documentada por Naomi Wolf e Susan Faludi e a reação contra as análises feministas da sexualidade e pornografia foi bem traçada na excelente coleção The Sexual Liberals and the Attack on Feminism(1). A reação contra o feminismo é provavelmente quase sempre compreendida como um ataque proveniente das forças de reação da supremacia masculina, vindo de fora do movimento de liberação das mulheres. Tal ataque certamente tem acontecido como resultado do triunfo de politicas conservadoras no mundo ocidental na última década. Mas é necessário reconhecer que enquanto as forças externas ao movimento das mulheres aumentam suas pressões, haverá uma quebra dentro do próprio movimento. Como o volumeSexual Liberals mostrou, muitas daquelas defendendo pornografia nos anos 80 são feministas experientes, até mesmo professoras de estudos das mulheres, não apenas a indústria dominante da pornografia.

Dentro da comunidade lésbica tem acontecido uma reação contra paralela a essas. O conservadorismo dos anos 80 no mundo dominante teve um efeito particularmente prejudicial nas vidas de lésbicas e homens gays. Grupos conservadores e governos usaram lésbicas e homens gays como bodes expiatórios para divergir a atenção das amplas divisões sociais que a suas medidas econômicas estavam criando. Na Grã-Bretanha, a emenda ao Ato de Governo Local em 1998 proibiu a ‘promoção da homossexualidade’ e houveram tentativas, sem sucesso, de passar legislações similares nos E.U.A e em Queensland, na Austrália. A formulação dessas tentativas estava nos mesmos moldes e organizações internacionais patrocinaram e planejaram o ataque aos direitos de lésbicas e gays. Os ataques foram fundados pela histeria acerca da AIDS que tinham como alvo homens gays e lésbicas, mesmo lésbicas tendo pouquíssimos riscos de contrair o vírus através de práticas sexuais. O sentimento anti-gay levou a um aumento nos ataques físicos. Esse foi um tempo difícil para ser lésbica. As pressões levaram a mudanças na comunidade lésbica, a uma maior aceitação das prioridades e politicas de homens gays, e, interessantemente, a uma volta ao modo sexológico por parte algumas teóricas lésbicas. Começa então uma nova politica de marginalidade, de desvio sexual que reside nas construções da sexologia, uma politica que já estava bem desenvolvida por alguns homens gays e que estava em contradição direta à filosofia lésbica feminista.

Esse livro é sobre a fragmentação da comunidade lésbica quando as politicas feministas começaram a ser atacadas. Enquanto nos anos 70 a ideias lésbicas feministas pareciam ser dominantes nas politicas lésbicas, nos anos 80 essa situação foi evidentemente revertida. Quando o modelo sexológico, que feministas lésbicas estivaram tão determinadas a destruir, retornou, nós fomos atacadas como sendo anti-sexo, politicamente corretas, essencialistas e idealistas. Muitas feministas lésbicas que viam a comunidade lésbica como lar tiveram que aceitar que eram usualmente vistas por outras lésbicas como extremistas e uma minoria muito impopular. No começo dos anos 70 eram precisamente feministas lésbicas que organizavam o tipo de evento que permitiu às lésbicas construir uma comunidade. Foi o trabalho de feministas lésbicas que foi crucial nos países ocidentais para a criação de uma comunidade lésbica que está agora marginalizando o feminismo lésbico.

Eu suspeito que algumas leitoras lésbicas reagirão de forma indignada às minhas sugestões nesse livro de que a pornografia, o sadomasoquismo e os jogos de papéis são hostis ao projeto lésbico feminista. Nem todas aquelas envolvidas ou que se posicionam a favor dessas práticas rejeitam o feminismo. Algumas dirão que são feministas e ficarão compreensivelmente bravas que qualquer pessoa sugira o contrário. Por essa razão, eu penso que é útil fazer uma distinção entre feministas lésbicas e lésbicas que também são feministas. Na filosofia lésbica feminista as palavras ‘lésbica’ e ‘feminista’ são integrais uma a outra, o lesbianismo é feminista e o feminismo é lésbico. Existem muitas lésbicas que são ativas em uma politica lésbica de direitos iguais que não é especificamente feminista, elas podem de fato serem quase indistinguíveis daquelas de homens gays, e que são também feministas em relação a questões como pagamento igualitário, aborto, abuso sexual. Mas o lesbianismo e o feminismo estão separados. Eles existem em compartimentos que são hermeticamente fechados.

Na filosofia lésbica feminista a teoria e a prática do lesbianismo é construída através do feminismo. Logo, a compreensão feminista de que o pessoal é politico significa que todos os aspectos da vida lésbica serão examinando para ver como se encaixam a no projeto feminista. Uma ideia fundamental do feminismo é a importância do hoslimo e da conectividade. Tudo afeta tudo. Ninguém vive em um vácuo e nenhuma parte das nossas vidas está realmente separada da outra. Nos anos 70 havia uma determinação persistente de refazer nossas vidas de forma a se encaixarem na nossa visão de um futuro feminista. Para muitas esse é ainda o caso apesar de que as exigências da vida nos anos 80, a necessidade de arrumar empregos, o impacto dos governos conservadores tenham levados muitas de nós a sermos menos rigorosas.

A seriedade do feminismo lésbicos nos anos 70 pode ser ilustrada pelas discussões que aconteceram acerca de aspectos de politicas pessoais como atração simplesmente baseada em aparência física, ‘ficar afim/desejar’. ‘Ficar afim/desejar’ foi, e é, visto por muitas como objetificação, por ser baseado em regras acerca de perfeição física que eram profundamente discriminatórias, e até racistas e capacitistas, e que refletiam uma construção da sexualidade que era hostil aos interesses das mulheres. Sentia-se que uma necessidade física simples e aprendida em direção a uma estranha não era uma boa forma de começar relacionamentos. Nem todas as lésbicas sentiam que haviam superado, ou queriam superar, as práticas sexuais aprendidas de ‘ficar afim/desejar’, mas havia uma boa dose de vontade e comprometimento para discutir essas ideias. Apesar de talvez parecerem bizarras hoje, elas eram geralmente compreendidas entre homens gays envolvidos no movimento de liberação gay profundamente infundido com princípios feministas. Alguns homens estavam escolhendo ter um olhar igualmente critico em relação às politicas do cotidiano.(2) Isso é difícil de dar crédito em uma cultura gay contemporânea na qual a mídia e os entretenimentos são patrocinados pela indústria do sexo e é baseada exatamente no principio do ‘ficar afim/desejar’.

Monogamia e não-monogamia eram debatidas calorosamente. A ética dos relacionamentos pessoais, que era entendida como um microcosmo dos relacionamentos políticos da supremacia masculina e não como algo sem importância, estava no foco das considerações politicas. Isso não é dizer que havia um acordo geral, o que seria muito pouco provável em qualquer grupo de lésbicas, mas todas estavam discutindo a partir da base de que a forma como tratamos umas as outras deveria refletir nossa visão e propósito feminista. Não havia nenhuma área na vida pessoal que fosse considerada politicamente fora dos limites. Posse de propriedades era sujeita à critica, vida em comunidade e compartilhamento de renda foram propostas e vividas. Havia e ainda há nos eventos organizados por feministas lésbicas uma preocupação em oferecer uma gama de preços e pensar formas de compartilhar acesso a recursos. Isso pode parecer demasiado singular agora que empreendedoras lésbicas e empreendedores gays buscam sobreviver operando dentro das regras de mercado. Os negócios da vida cotidiana eram conduzidos, até onde fosse possível, de acordo com uma perspectiva feminista, que também era socialista e anti-racismo.

O feminismo do feminismo lésbico é diferente daquele que algumas teóricas lésbicas feministas têm descrito como ‘heterofeminismo’. O heterofeminismo assume que lésbicas são e sempre serão uma minoria e que a heterossexualidade é, por algum mistério, a preferência sexual majoritária. O feminismo lésbico transforma o feminismo por questionar a naturalidade da heterossexualidade, ao apontar que é uma instituição politica e buscar por um fim a essa instituição sob o interesse da liberdade das mulheres e sua auto-determinação sexual. Mais importante, o feminismo lésbico busca a criação de um mundo ajustado para lésbicas como um mundo em que todas as mulheres serão livres.

Algumas feministas lésbicas que, sentindo-se exaustas e desiludidas pela luta em convencer feministas hétero a levar lésbicas a sério, escolheram abandonar o nome feminista. Elas se nomeiam lésbicas radicais ou apenas separatistas. Eu não vejo como os interesses das lésbicas podem ser separados dos interesses das mulheres como uma classe e não penso que esses grupos mencionando realmente pensem que podem também. A famosa declaração de Monique Wittig de que ‘Lésbicas não são mulheres’ por que a mulher só pode existir em relação a homem e as ‘mulheres’ constituem uma classe politica, inspirou algumas a abandonarem a palavra feminista e a questionar se realmente é possível uma ‘liberação das mulheres’, já que nós devíamos estar buscando liberação de estar na classe politica das mulheres.(3) Wittig vê as lésbicas como refugiadas de sua classe. Mas até mesmo como refugiadas nós provavelmente seremos tratadas como membras da classe ‘mulher’ no ônibus, no trabalho. Mesmo que as lésbicas tenham feito uma quebra rumo à liberdade em relação a alguns aspectos fundamentais da opressão das mulheres, como trabalhado doméstico não remunerado, trabalho emocional para um homem e condições de trabalho apavorantes que podem as vezes prevalecer como formas de violência, ou gravidez indesejada, há alguns dos quais nós não conseguimos escapar facilmente.

Capítulo por capítulo A Heresia Lésbica examinará alguns dos desenvolvimentos dentro da comunidade lésbica que minaram qualquer tipo de consenso lésbico, desenvolvimentos que transformaram o feminismo lésbico em heresia não apenas contra o heteropatriarcado mas, aparentemente, dentro da cultura lésbica também. O Capítulo 1, ‘A Criação da Diferença Sexual’, focará na controvérsia que se desenvolveu entre historiadoras lésbicas acerca do impacto da sexologia na construção de uma identidade lésbica no começo do século vinte. Algumas historiadoras, como Caroll Smith-Rosenberg e Lillian Faderman, viram o impacto da sexologia como prejudicial, pois estigmatizou as amizades apaixonadas entre mulheres e minou o feminismo. Outras, como Esther Newton, e alguns historiadores homens gays, viram a construção sexológica da homossexualidade como útil por fornecer um papel e uma identidade lésbica e permitir que lésbicas fossem serem sexuais de uma forma que as amizades apaixonadas do século dezenove não faziam. Eu argumento, em acordo com Caroll Smith-Rosenberg, que ao adotar as definições sexológicas, as lésbicas da década de 20 perderam contato com uma geração anterior de irmãs feministas e vivenciaram um abismo intransponível na comunicação. Eu sugerirei que um processo similar aconteceu nos anos de 1980, quando uma nova geração de lésbicas re-adotou a linguagem da sexologia, de comportamentos desviantes e congênitos, butch e femme , de uma maneira a criar um igualmente destrutivo abismo de comunicação com as feministas lésbicas dos anos 70. Nos capitulo subsequentes eu examinarei as formas pelas quais o lesbianismo foi reconstruído por algumas teóricas lésbicas, por lésbicas da indústria do sexo e terapeutas sexuais e por lésbicas pornografas nos anos 80, para se encaixar na prescrição sexológica.

O capítulo 2, ‘A Revolução Sexual Lésbica’, olhará para a importância de abordar a prática sexual politicamente e as maneiras pelas quais os conceitos e a linguagem do liberalismo tornaram isso difícil. Eu desafiarei a ideia de que existe alguma área da vida sexual que possa ser inteiramente neutra politicamente, privada e individual, e pensarei por que é tão difícil politizar a prática sexual sem ser acusada de moralismo e de estar julgando por outras lésbicas. É então traçado o desenvolvimento de uma indústria sexual lésbica nos E.U.A, Grã-Bretanha e Austrália. Eu olharei para as politica da erótica lésbica, brinquedos sexuais lésbicos e prostituição. Mostrarei os perigos ao se aceitar que lesbianismo é simplesmente sobre sexo e de pensar que o caminho para liberação lésbica é expandir a indústria do sexo.

O capítulo 3 se volta para o lugar de onde a teoria das novas políticas sexuais lésbica está saindo, uma parte vital da indústria do sexo lésbica e da terapia sexual. Eu farei a sugestão de que as novas terapeutas sexuais lésbicas estão ensinando uma sexualidade baseada em princípios heteropatriarcais de dominação e submissão, objetificação e ódio às mulheres. Elas estão explicitamente se opondo aos esforços lésbicos feministas de reconstruir a sexualidade em linhas igualitárias e de amor às mulheres, que podem empoderar lésbicas e contribuir para a liberação de mulheres e lésbicas.

Feministas lésbicas tenderam a tomar um posicionamento extremo de construcionismo social em relação à identidade lésbica, resumido no slogan, usado em emblemas nos anos 70, de que ‘Toda mulher pode ser uma lésbica’. Isso certamente perdeu força nos anos 80 e 90 entre teóricas lésbicas. É por algumas terapeutas sexuais lésbicas que um novo essencialismo está sendo propagado. A terapeuta sexual JoAnn Loulan afirma em seu livro de 1990, A Dança Erótica Lésbica, que ‘Algumas de nós apenas nascemos assim.’(4) O capitulo 4 se voltara para o renascimento do essencialismo na teoria lésbica. Esse novo essencialismo tem sido utilizado em particular para defender a reintrodução da erotização do desequilíbrio de poder na forma de jogos de papéis butch e femme. O conceito de butch e femme está sendo usado atualmente para definir não só o erotismo lésbico, mas todos os aspectos da cultura e da ‘estética’ lésbica. Eu defenderei a continuação da importância de uma abordagem construcionista social radical à identidade lésbica e a desafiarmos a intrusão orquestrada da polaridade, divisão e hierarquia erotizadas dentro da cultura e da comunidade lésbica.

O capítulo 5, ‘Retorno ao Gênero’, reflete sobre a ‘alta’ teoria que está sendo usada para justificar práticas como jogos de papéis. Se volta para o impacto das ideias pós-modernas em um ramo particular da teoria lésbica e gay. Argumentará que essas ideias, que normalmente são derivadas dos trabalhos de intelectuais homens franceses que não consideraram mulheres, imagine então lésbicas, na construção de suas teorias, são, não surpreendentemente, hostis às politicas do feminismo lésbico. Se concentrará na forma pela qual algumas teóricas lésbicas que seguem os mestres pós-modernos estão defendendo que se pode brincar com o gênero de um jeito revolucionário para desestabilizar o heteropatriarcado. Essas teóricas defendem que o gênero não pode ser deixado de lado ou rejeitado e que as tentativas feministas de fazer isso são essencialistas ou fadadas a falhar. Algumas dessas teóricas lésbicas não veem o feminismo lésbico, e sim os jogos de papéis, drag e transsexualismo, como os únicos caminhos a diante para lésbicas e gays politicamente.

O pós-estruturalismo, a teoria do pós-modernismo, foi muito influente na academia nos anos 80 e 90, pois é uma filosofia adequada a tempos conservadores, uma que está engajada ao fatalismo e a não-ação, mas ainda assim uma que consegue parecer interessante por que muitos dos seus avatares eram gays ou sadomasoquistas ou por que fingiam se importar com as políticas de minorias. Devido a sua hegemonia dentro desses lugares onde muito da vida intelectual das comunidades lésbica e gay flui , teve um impacto considerável. O feminismo lésbico e o feminismo radical em geral foram consistentemente escarnecidos na teoria pós-moderna. Tal teoria sob o seu disfarce lésbico forneceu uma base de poder para o ataque ao feminismo lésbico e uma justificação teórica vital, usando a desculpa de brincar com o gênero, ou ‘difference’, para aqueles desenvolvimentos que foram os mais centrais para o enfraquecimento do projeto lésbico feminista.

O capítulo 6, “A lésbica marginal”, se ocupa da atração romântica pela marginalidade e a decadência compartilhada por lésbicas de diversas tendências, incluída eu mesma, versão lésbica do que o círculo de Oscar Wilde denominava na década de 1890 nostalgie de la boue nostalgia da lama. Esta decadência incluía a identificação com os grupos marginalizados da cultura heterorrelacional, frequentando por exemplo os fumadores de ópio ou simplesmente os bares de proxenetas (bordéis). Existia uma idealização da própria opressão e da marginalidade que esta supunha, simbolizada nos títulos de algumas novelas, como por exemplo Despised and Rejected Desprezado e repudiado de A. T Fitzroy 5 . No feminismo lésbico o valor e a rebeldia da lésbica marginal tiveram sua expressão política na desestabilização do poder masculino. Outras formas mais tradicionais da decadência gay mantêm atualmente seu atrativo e os teóricos gays do pós-modernismo as legitimam, apresentando-as como uma reinterpretação transgressiva. Critico aqui a política da transgressão e postulo que reconsiderar a visão romântica da marginalidade lésbica pode nos ajudar a compreender os papéis lésbicos e o sadomasoquismo. Este poderia ser o ponto de partida para uma re-orientação da rebeldia lésbica para o desafio à supremacia masculina, no lugar de idealizar nossa própria opressão.

O capítulo 7, “Uma cópia mal-feita do macho” estuda a influência da cultura gay masculina sobre a cultura e a política lésbicas. Nos escritos de muits lésbicas atuais, de algumas terapeutas sexuais, de novelistas e pornógrafas, resulta evidente sua admiração e seu propósito de copiar a cultura e a prática dos gays. Para essas autoras, as lésbicas são chatas, reprimidas e inferiores a seus irmãos gays. A norma dos homens gays se converte em alguns setores da comunidade lésbica na medida de todas as coisas. Esta identificação total com os homens gays vai unida necessariamente a um ataque contra o feminismo lésbico que pretendeu diferenciar a cultura e a política lésbicas da dos homens gays. Sublinho a contradição que existe entre a agenda tradicional dos homens gays e a agenda política do feminismo lésbico. Me pergunto por que algumas lésbicas se sentem tão deslumbradas pelos homens gays, até o extremo de declarar publicamente seu desejo de sê-lo e inclusive de submeter-se a operações de mudança de sexo 6 para conseguí-lo. Sugiro que talvez possa explicar-se em parte pelo dinheiro e o poder que dispôem os homens, que parecem oferecer às lésbicas um glamour e uma influência indiretas ou inclusive reais e, também, pelo profundo auto-desprezo das lésbicas dos 90, que se sentem decepcionadas pelo fracasso dos sonhos feministas e tentam voltar a somar-se à corrente masculina dominante. Me pergunto se é inevitável que o feminismo lésbico se apague na sombra deste poderoso setor da cultura masculina gay financiado pela indústria do sexo, indiferente ante o feminismo lésbico e diretamente contrário a nossos interesses.

Finalmente, o capítulo 8, “Uma separação mais profunda”, considera de que modo pode ajudar-nos a construção de uma amizade, uma comunidade, umas éticas e uma teoria lésbica, baseadas nos valores feministas, a manter a visão e a prática de um feminismo lésbico no futuro. Elogia o separatismo lésbico ao mesmo tempo que se pergunta: qual é a via mais adequada para a sobrevivência das separatistas na nova situação do lesbianismo nos 90. Como pode subsistir a noção de comunidade frente ao sadomasoquismo lésbico, contrário aos valores fundamentais do feminismo lésbico como são a Igualdade e a luta contra qualquer forma de hierarquia de poder? Penso que as comunidades lésbicas sofreram profundo dano ao colocar em suspeita seus valores feministas fundamentais e me pergunto se estabelecer uma separação mais profunda, sobretudo uma separação intelectual e ética com respeito aos valores do heteropatriarcado, poderá ajudar-nos a manter a heresia lésbica e o desafio feminista lésbico frente à supremacia masculina. O apêndice “Sadomasoquismo: o culto erótico ao fascismo”, escrito inicialmente em 1984, se publicou nos E.U.A. em 1986, dentro da antologia Lesbian Ethics Ética lesbiana. Concebe uma crítica contra o movimento S/M (sadomasoquista) por sua exaltação erótica do domínio e a submissão e inclusive do próprio fascismo. Compara a situação em Londres com a de Berlim a princípios dos 30, quando os gays conotaram eróticamente os costumes e a violência do fascismo que os acabaria destruindo. O texto, escrito desde uma postura de militância ativa na campanha política “Lésbicas Contra o Sadomasoquismo” (LASM) – iniciada para lutar contra acontecimentos que vivíamos como uma séria ameaça contra a ética e a política geral do feminismo lésbico -, conserva seu valor histórico. Demonstra que desde um primeiro momento existiu uma forte oposição contra esta nova política, não apenas por parte de LASM, senão também de outras feministas lésbicas estado-unidenses e australianas, e revela t

oda a magnitude do impacto que sofremos naqueles primeiros tempos da revolução sexual lésbica ante a firme decisão de muitas lésbicas de abandonar a filosofia igualitária que encarna o feminismo.


1 Susan Faludi, Backlash. The Undeclared War Against Women, Londres, Chatto and Windus, 1991. Naomi Wolf, The Beauty Myth, Londres, Vintage, 1990. Dorchen Leidholdt e Janice G. Raymond (comps.), The Sexual Liberals and the Attack on Feminism, Oxford e Nueva York, Pergamon Press, 1990.

2 Ver Aubrey Walters, Come Together: Collected writings from Gay Liberation in the UK, Londres, Gay Men’s Press, 1980.

3 Monique Wittig, The Straight Mind and Other Essays, Boston, Beacon Press, 1992

4 JoAnn Loulan, The Lesbian Erotic Dance, San Francisco, Spinsters, 1990, pág. 193.

5 5 A. T. Fitzroy, Despised and Rejected, Londres, Gay Men’s Press, 1988. Primeira edição de 1918.

6 A autora fala “cirurgia de mudança de sexo” para se referir às cirurgias de “transexualização”. Eu discordo deste conceito por achar impossível a mudança do sexo por conta duma cirurgia, já que o sexo é um elemento dado ao nascer e cirurgias estéticas apenas podem modificar a forma destes e sua aparência e no máximo a forma como são lidos socialmente, coisa que entendo como mutilação para adaptar-se aos binários de gênero. Ninguém deixa de ser mulher ou homem por retirar seios, colocar seios de silicone ou fazer do pênis uma réplica duma vulva natural (fariam um útero?). O gênero é uma construção e uma vivência social que não se apaga por mera intervenção médica-farmacológica-estética e o feminismo se volta para a destruição do gênero e não sua adaptação à estes. Ser mulher é uma vivência política de se encontrar, nascer, na classe subjugada e explorada pela classe dos homens e essa realidade não se modifica nem é socialmente superada com a política transgênero de mutilação das corpas N.T.

A Criação da Diferença Sexual

Na década de 1980, uma batalha séria foi travada relativa ao significado de lesbianismo. Nesse conflito ideológico, as definições concorrentes eram aquelas do feminismo lésbico e da sexologia. Algumas lésbicas, particularmente as adeptas da encenação de papeis, estão se opondo à definição politica do feminismo lésbico em prol de uma baseada na diversidade sexual. Lésbicas que se vêem como sexualmente diversas estão aceitando os pressupostos de categorização propostos pelos cientistas do sexo – Rechard Krafft-Ebing, Henry Havelock Ellis e similares – no séc. XIX. Os sexologistas e seus seguidores modernos vêem o lesbianismo como mais um dentre os vários comportamentos sexuais estranhos que se afastam da norma, isto é, o sexo heterossexual com penetração do pênis, posição “papai-mamãe”. Outros grupos de desviâncias sexuais incluem homens gays, mas também pedófilos, transexuais, variedades de fetichistas. Excetuando-se as lésbicas, essas categorias são principalmente relativas a comportamentos sexuais masculinos e mulheres aparecem apenas como vítimas do comportamento sexual desviante.

A política da diversidade sexual confina as lésbicas à companhia de homens gays e outros grupos de desviantes sexuais. As políticas da diversidade sexual têm se manifestado em muitos dos textos da nova literatura “queer”. As políticas do feminismo lésbico jogam as lésbicas para a companhia da classe política das mulheres, ou para seus próprios recursos enquanto lésbicas. Feministas lésbicas têm visto a si mesmas como o modelo para as mulheres livres, e não como sexualmente diversas. É uma visão diferente. Para que compreendamos as raízes desse conflito de definições será útil olhar para o momento em que se deu a criação da diferença sexual na sexologia, e como as acadêmicas lésbicas e gays compreenderam esse fenômeno.

Teóricas lésbicas e gays, como Mary MacIntosh e Jeffrey Weeks, argumentaram de maneira bastante persuasiva que a ideia de homossexual como um tipo específico de pessoa, a ideia de um “papel homossexual”, é uma invenção relativamente recente, dos sec. XVIII ou XIX. Antes disso, o desenvolvimento dessa atividade sexual entre homens, apesar de estigmatizada, era vista como algo que um homem qualquer poderia fazer. O conceito “do homossexual” – como um homem cujo comportamento tem uma causa específica, que tem um destino homossexual perceptível, cujos interesses sexuais se direcionavam exclusivamente àqueles do mesmo sexo, com características igualmente perceptíveis – ainda não havia se desenvolvido.

Historiadoras feministas e lésbicas, como Lillian Faderman e Caroll Smith-Rosenberg, também argumentaram que uma identidade lésbica específica, baseada nas categorias sexológicas, foi criada no final do séc. XIX. Elas mostraram que, antes disso, mulheres britânicas e americanas de classe média, casadas ou solteiras, engajavam-se rotineiramente em amizades apaixonadas, românticas e frequentemente muito duradouras entre si, o que incluía expressões constantes de amor pleno, dormir nos braços uma da outra, ou dividir o mesmo travesseiro até por uma vida inteira, sem que isso fosse visto como algo incomum ou suspeito. Havia algumas mulheres que, no entanto, ao longo do sec. XIX teriam se enquadrado no que viria a ser mais tarde o modelo sexológico, algumas inclusive teriam se vestido em roupas masculinas e amado mulheres apesar da ausência daquele modelo. Uma mulher, por exemplo, na Yorkshire do século XIX, Ann Lister, de fato se envolveu em relacionamentos sexuais entusiásticos com suas vizinhas, até o ponto de contrair doenças venéreas, segundo o que escreveu em seu diário, e realmente compreendia-se como “diferente”. Mas a existência de mulheres assim não parecia influenciar a inocência com a qual amigas apaixonadas levassem suas amizades, nem influenciou a aceitabilidade social do amor entre duas mulheres. Foi o advento da sexologia que tornou pública e estigmatizou uma categoria de “diversidade sexual”.

Historiadoras lésbicas e gays têm discordado sobre a vantagem ou desvantagem dos impactos das construções sexológicas para o desenvolvimento das identidades lésbica e gay. Historiadoras feministas e lésbicas, como Lillian Faderman, Caroll Smith-Rosenberg e eu mesma, percebemos a sexologia como uma força hostil que minou o feminismo, estigmatizou as amizades apaixonadas entre mulheres e criou o estereótipo destrutivo da mulher invertida masculinizada. Historiadores gays, como Jeffrey Weeks, tendem a ser mais otimistas e dizem que a categorização sexológica ajudou no desenvolvimento dos movimento pelos direitos homossexuais, ao prover uma identidade definitiva aos homens homossexuais, em torno da qual poderiam se unir e organizar 4.

É importante lembrar quais os componentes da construção sexológica, não apenas pelo fato de ter se tornado alvo de controvérsia, mas porque essa ideia tem reaparecido na agenda política lésbica e é útil conseguirmos reconhece-la. Um componente aceito generalizadamente no modelo sexológico é a atribuição genética. Havelock Ellis, o sexologista autor de Sexual Inversion em 1897, foi bastante influente em construir o estereótipo da lésbica na Grã-Bretanha. Ele dizia que “qualquer teoria sobre a etiologia da homossexualidade que desconsidere o fator hereditário da inversão não deve ser admitida”, e acrescenta como evidencia a “freqüência de inversão entre parentes próximos do invertido”. Essa ideia levou a ideias bastante curiosas em seus casos clínicos. Parece que, quando se pedia para que os pacientes produzissem evidências a respeito do fator hereditário, eles eram bastante criativos em suas respostas. Um homem ofereceu o seguinte:

“Alguns diziam que meu avô talvez tivesse um temperamento anormal, porque apesar de ser de origem simples, ele se organizava e trabalhava ardorosamente como missionário e se tornou um exímio linguista, traduzindo a bíblia para uma língua ocidental e editando o primeiro dicionário daquela lingua.’ 6

Realmente, isso pode parecer suspeito para alguns, mas não necessariamente conectado à homossexualidade. Mas a ideia da hereditariedade genética inspirou alguns ativistas dos direitos homossexuais nos anos 90, na Grã-Bretanha e na Alemanha. Ofereceu a possibilidade de apelar à simpatia da população e de repelir qualquer legislação hostil, baseados na premissa de que homossexuais foram apenas criados pela natureza, em vez de serem pecadores, e portanto deveriam ser aceitos. Radclyffe Hall, ao aceitar os argumentos sexológicos na década de 20, empregou essa estratégia em The Well of Loneliness e fez com que Ellis escrevesse o prefácio do livro, para que o argumento dela pudesse ser visto como apoiado pela ciência. O modelo sexológico se tornou mais sofisticado ao ser acrescido da psicanálise, que postulava uma causa determinista semelhante, apesar de psicológica e não biológica. Dado que a psicanálise apareceu para oferecer meios de cura, acabou por ser menos popular com os invertidos e se tornou mais popular com os sexólogos dos anos 50, que se empenhavam em eliminar a homossexualidade por meio de engenharia psicológica. Essas duas versões sexológicas estão sendo revividas. A nova popularidade das explicações biológicas será examinada no capítulo sobre “A Lésbica Essencial”.

A controvérsia atual sobre o impacto da sexologia se sustenta na maneira como ela foi selecionada e empregada pelos próprios invertidos. O trabalho de Edward Carpenter, ativista do Direitos Homossexuais Britânicos, é um bom exemplo do que seria visto por alguns historiadores como o uso positivo dessas ideias. Ele baseou muito de seu trabalho pela aceitação social da homossexualidade no trabalho de uma formidável lista de sexologistas. Ele aproveitou a ideia de hereditariedade genética para construir sua teoria do “sexo intermediário”. Em seu trabalho, ele reproduziu o entendimento de alguns sexólogos de que o terceiro sexo ou sexo intermediário consistia na ordenação biológica de características masculinas e femininas em combinações incomuns. Isso fica muito claro em sua descrição dos “espécimens extremos”. O macho intermediário extremo seria um ‘tipo distintamente feminino, sentimental, destituído de vigor, delicado em seu andar e em suas maneiras’. A versão extrema da fêmea ‘homogênica’ derivaria também de características de gênero inapropriadas.

“uma pessoa notavelmente agressiva, passional, de movimentos masculinos, pragmática em sua vida, sensata em vez de sentimental no amor, frequentemente despojada, alternativa em suas vestimentas; seu corpo é musculoso, sua voz é grave na tonalidade; seu quarto é decorado com cenas de esportes, pistolas etc e não dispensa o cheiro de erva na atmosfera; ao passo que seu amor (geralmente um espécimen delicado e feminino de seu próprio sexo) é frequentemente histérica, semelhante às amantes comuns dos homens, e às vezes quase incontrolável” 8

O cheiro de erva era provavelmente, pra nossa decepção, tabaco. Tais espécimens extremos, Carpenter nos ensina, são raros. A maioria não tem uma aparência incomum. O corpo de uma homogênica ‘mais normal’ seria ‘feminina até os detalhes’, mas sua ‘natureza interior é em grande parte masculina’.

“um temperamento corajoso, ativo, original, razoavelmente decidido, não muito emotivo; amante da vida fora de casa, de jogos e esportes, da ciência, da política, e até mesmo negócios; é organizada e gosta de posições de responsabilidade, às vezes fazendo uma líder excelente e generosa.” 9

Hoje em dia, seria difícil dizer o que há de masculino nessa descrição. Na verdade, mostra outra característica da abordagem sexológica sobre a fêmea invertida. Ativistas homossexuais como Carpenter e homens cientistas como Ellis sempre tendiam a associar assertividade, independência e uma mentalidade feminista, em mulheres, com o lesbianismo. Tais qualidades eram suficientes para lançar acusações de inversão nos anos 90, da mesma forma que o são hoje em dia. Mulheres de personalidade forte poderiam ser classificadas como anti-naturais.

Outra característica da abordagem sexológica sobre a lésbica era prescrever encenação de papeis para relações lésbicas. Carpenter segue essa tradição ao dizer que aquelas muito masculinas, esportistas com pistolas geralmente prefeririam ‘um espécimen delicado e feminino de seu próprio sexo’. 10 Os sexólogos explicam esse fenômeno dizendo que existem dois tipos de mulheres homossexuais. Existem as lésbicas congênitas, invertidas, que têm uma orientação masculina, e existem ‘pseudolésbicas’ que teriam sido heterossexuais se não tivessem sido vitimas dos estratagemas da verdadeira invertida. A segunda se pareceria e agiria como a heterossexual efeminada de seu tempo. Aqui vemos serem fundadas as bases para a ideia de que a encenação butch/femme seria a relação lésbica essencial.

O interessante é que o modelo sexológico do lesbianismo não era necessariamente baseado em contato genital. Os sexológos jogavam longe suas redes e incluíam, em seus estudos de caso, mulheres cujas relações teriam sido lidas como a mais inocente das amizades apaixonadas. Por essa razão, historiadoras feministas consideraram o trabalho dos sexólogos particularmente danoso. Este criou uma suspeita que limitava as possibilidades das amizades entre mulheres para qualquer uma que não desejasse ser jogada em uma minoria estigmatizada e encenadora de papeis. O trabalho dos sexólogos estimulou a campanha, como Faderman mostra em seu livro, para prevenir mulheres e meninas contra o lesbianismo nas escolas e universidades até que, no início dos anos 20,amizades apaixonadas entre mulheres haviam adquirido de maneira generalizada a aura de perversão. Lillian Faderman culpa a sexologia por ter tornado o lesbianismo algo perverso, proscrito e maligno. Os efeitos foram:

“muitas mulheres correram para o casamento heterossexual, desenvolveram nojo ou pena de si mesmas caso aceitassem o rótulo de invertida. No começo do século XX, a literatura popular europeia, influenciada expressivamente pelos sexólogos, se referia a “milhares de seres infelizes” que “experienciam a tragédia da inversão em suas vidas”, e a paixões que acabavam em “loucura ou suicídio”. Na imaginação popular, o amor entre mulheres tinha se ligado à doença, insanidade e tragédia.” 12

Historiadoras feministas lésbicas veem a categorização sexológica de lésbicas como engrenagem de um mecanismo de controle social tanto do amor entre mulheres quanto do feminismo, fenômeno que é particularmente poderoso em sua combinação.

Caroll Smith-Rosenberg, escritora do artigo viral The Female World of Love and Ritual sobre amizades apaixonadas, vê golpe sexológico sobre o discurso feminista nos anos 20 como nocivo. Ela fala sobre a importância, na historia feminista e lésbica, da “nova mulher” ao final do século XIX. As ’novas mulheres’ formavam amizades apaixonadas para se apoiarem na universidade, trabalhavam em casas de assistência settlement houses e no desenvolvimento de carreiras de assistência social e professorado. Elas ‘teceram a partir de suas mães’ amizades cheias de amor, frequentemente passionais, no tecido de seu novo mundo. 14 Elas eram reformistas sociais que se articulavam e criavam uma máquina de mudança, muitas vezes bastante feminista. Elas evidentemente eram a estrutura de muitas campanhas feministas, de maneira mais notável havia no RU havia a União Política e Social de Mulheres (WSPU). Smith-Rosenberg explica que médicos da era vitoriana tardia caracterizaram as ‘novas mulheres’ como masculinas e, em seguida, como “lésbicas masculinizadas”. Ela percebe a definição de lesbianismo oferecida pelos sexólogos como subordinadora das lésbicas, não empoderadora. ‘Ao transformá-la em um objeto sexual, fizeram dela material para a regulação política do Estado’. 15

Amizades românticas ou apaixonadas geraram controvérsia entre acadêmicas lésbicas. Enquanto eram celebradas por Smith-Rosenberg e Faderman, foram desprezadas como produto de classe-média, ou como anti-sexo, por outras. A discordância sobre amizades apaixonadas surge de diferentes pontos de vista sobre o que constitui a identidade lésbica. Quando escreveu Superando o Amor por Homens, Faderman viu, nas mulheres envolvidas em tais amizades, as mulheres feministas da década de 70. Faderman viu o feminismo-lésbico como um análogo das amizades românticas, que ela via como algo em que ‘duas mulheres são tudo uma para a outra e tinham pouca conexão com homens, que eram tão alheia e totalmente diferentes’. Ela sugere que ‘se as amigas românticas de outras épocas vivessem hoje, muitas teriam sido feministas lésbicas; e se as feministas lésbicas de hoje vivessem em outras épocas, a maioria delas teriam sido amigas românticas”. A definição de Faderman sobre o lesbianismo não dependia de contato genital. Ela diz ‘o amor entre mulheres foi primariamente um fenômeno sexual apenas na fantasia literária masculina’. 17 Ela fundamenta sua definição em emoções e diz que ‘o contato sexual pode ser parte da relação em maior ou menor grau, ou pode estar completamente ausente’. Ela diz que feministas lésbicas contemporâneas não são inocentes quanto ao sexo, mas ‘o aspecto sexual de suas relações geralmente possui menos significância que a base emocional e a liberdade que têm para definirem a si mesmas’ 18. Ela sugere que muitas relações entre feministas lésbicas continuam muito depois do ‘componente sexual ter se
esvaído’.

Os críticos de Faderman a acusaram de traição, de “dessexualisar” o lesbianismo ao incluir, em sua definição, mulheres que não tiveram contato genital no passado ou que tivessem contato genital pouco frequente no presente. 19 Para aquelas que veem o lesbianismo como diversidade sexual, amigas românticas claramente não qualificam. Mas feministas, para quem escolher e amar mulheres é a base da identidade lésbica, elas qualificam sim. A conexão genital é difícil de provar. As lésbicas, ao longo da história, podem se revelar bem poucas, e a história das lésbicas começará apenas a partir do século XIX, se o modelo sexológico for adotado. A história da heterossexualdiade nunca foi limitada à comprovação do contato genital. A heterossexualidade é uma instituição política que não começou com a sexologia em 1890. Não é apenas mais uma diversidade sexual. De acordo com o que eu e outras membras do London Lesbian History Group dissemos, o objetivo da historiadora lésbica é analisar a história da resistência feminina à heterossexualidade como instituição, em vez de apenas buscar mulheres que se enquadrem numa definição surgida no século XX baseada na sexologia. 20

A nova caracterização não foi simples e terminantemente rejeitada por mulheres que amavam mulheres. Algumas decidiram adotá-la como sua auto-definição na década de 20. Havia uma pressão para que mulheres fossem sexualmente ativas. Como detalhei em outros artigos, a ‘revolução sexual’ dos anos 20 visava a curar o feminismo, o ódio aos homens, o lesbianismo e apoio entre mulheres solteiras, por meio cientistas ganhando o entusiasmos das mulheres heterossexuais (e preferencialmente todas) para a atividade sexual com penetração. 21 O prazer sexual das mulheres era esperado para subordiná-las ao marido no casamento e em outras áreas da vida. Havia uma pressão considerável para resignar mulheres à posição “papai-mamãe” na heterossexualidade de maneira que seus prazeres pudessem ser orquestrados para a subordinação. Jovens mulheres heterossexuais aceitaram essa distração, Smith-Rosenberg argumenta.

‘Separando os direitos das mulheres de seu contexto econômico e politico, eles fizeram da jornada da filha por prazeres sexuais, e não das exigências da mãe por poder político, a personificação da liberdade feminina.’ 22

A estigmatização do lesbianismo foi uma arma poderosa que poderia ser usada para prensar as mulheres na heterossexualidade. A lésbica marginal era um complemento necessário para a dona de casa entusiasmada e heterossexual.

Mulheres que amavam mulheres e entraram em contato com o discurso sexológico tiveram que escolher como se relacionar com a nova prescrição. Elas poderiam abandonar a possibilidade de estabelecer amizades apaixonadas, na tentativa de evitar o estigma do ser desviante. Elas poderiam continuar com suas amizades apaixonadas, rejeitando o modelo sexológico como algo que nada tem a ver com elas. Muitas definitivamente escolheram este percurso, mas ele deve ter sido bastante tortuoso. A outra opção era aceitar a nova identidade oferecida. Smith-Rosenberg e Newton concordam que muitas o fizeram, e que suas decisões tiveram conseqüências para o feminismo e para a posterior história das lésbicas. Elas se ressentiam da geração anterior por não lhes oferecer especificamente uma definição sexual para o amor entre mulheres, em uma época onde o sexo se tornava mandatório; e por falharem, assim, em fornecer à nova geração um “vocabulário sexual”. O exemplo mais famoso é, evidentemente, Radclyffe Hall, que optou por utilizar o modelo sexológico em The Well of Loneliness, acreditando que se alcançaria uma simpatia social pelas lésbicas caso fossem vistas como geneticamente deficientes em vez de deliberadamente pervertidas.

Smith-Roseberg argumenta que a adoção da “lésbica masculina” estereotípica teve implicações ruins para o feminismo. Houve uma cisão entre as novas lésbicas e as gerações feministas anteriores, de forma que elas estariam vulneráveis enquanto os homens reafirmavam seu poder em oposição às vitórias feministas. A adoção de símbolos da masculinidade não foi libertadora, apesar dos esforços em revesti-los de um significado novo e positivo para as lésbicas, feitos a partir dos anos 20 e por lésbicas mais novas. “Elas falharam” nessa tarefa, diz a autora. Faderman explica que a adoção de um status estigmatizante de marginalidade fez com que a teoria lésbica se ocupasse de destruição e punições até os anos 60.

A historiadora lésbica Esther Newton tem uma perspectiva bastante diferente. Ela despreza a maneira como historiadoras lésbicas feministas escrevem sobre o mundo das amizades apaixonadas, “o século XIX se torna um tipo de Idade de Ouro das lésbicas, cheia de casais feministas inocentes e amorosos” 23. Ela vê a “lésbica masculina” como uma identidade que foi abraçada por aquelas que queriam “fugir do modelo assexual da amizade romântica”. Ela diz que Radclyffe Hall queria fazer da mulher que ama mulheres um ser sexual, e só poderia fazer isso adotando o estereótipo masculino nos termos impostos pelos machos. “Para tornar-se assumidamente sexual, a Nova Mulher precisou entrar no mundo masculino, seja como heterossexual nos termos dos homens… ou como uma lésbica travestida de homem” 24. Ela vê isso como um ato progressista e radical que desafia os estereótipos de gênero. Ao fazer a mulher encenar o papel masculino, Hall ‘questiona a inevitabilidade das categorias de gênero tradicionais’, mas ela também ‘as aprova’. Ela concorda que os homens têm usado a imagem da butch para ‘condenar lésbicas e intimidar as mulheres heterossexuais’, e reconhece que a visão de Hall sobre a identidade lésbica, caracterizada como ‘diferença sexual e masculinidade é inimiga da ideologia lésbica feminista’ 25.

As interpretações bastante diferentes do impacto da sexologia que se espalharam hoje em dia já eram alvo de críticas quando o romance foi publicado pela primeira vez. Feministas se mostravam frequentemente descontentes com a criação de Hall. Vera Brittain é uma das feministas que editaram Time and Tide. Ela conhecia bem o potencial do amor entre mulheres desde seu envolvimento com Winifred Holtby em uma amizade apaixonada 26. Em sua resenha, ela admite a existência de uma categoria de lésbicas que é anormal e uma que não é, que ela identificaria em seu livro como invertidas versus pervertidas.

“Mulheres do tipo de Stephen Gordon, desde que tenha sua anormalidade como inerente e não apenas como culto de um erotismo exótico, merece compreensão e compaixão totais, partindo de todas as pessoas que tiveram a sorte de escapar de uma das maiores crueldades da natureza” 27

Brittain claramente não se vê como alguém que possua qualquer conexão com tais aberrações, sejam as invertidas ou as pervertidas, apesar de amar mulheres. Isso mostra que o impacto da sexologia é que as lésbicas fossem separadas da classe das mulheres. O ‘culto do erotismo exótico’ soa tentador, quase que um chamariz para a agenda ‘queer’. Contudo, ao levarmos em consideração as manifestações exageradas de feminilidade e masculinidade de Stephen e de sua amante Mary Llewellyn, Brittain rejeita a mensagem de que isso viria do biológico. Ao contrário, ela condena a imposição de uma distinção de gênero tão exagerada, ao final do século XIX.

“Claramente parece provável que problemas como esse se intensifiquem com o exagero das diferenças sexuais, que foram marcadas de forma peculiar em algumas épocas, e que a classe média inglesa dos séculos XVIII e XIX vivenciava. A Sra. Hall parece dar como certo que a ênfase intensa nas características sexuais seja parte da educação correta de um ser humano; sendo assim, ela define a mulher ‘normal’ como dependente, ’irritantemente feminina’ e chega a dizer que atitudes que tomam o amor como um ‘fim em si mesmo’ são um atributo necessário de ser mulher” 28.

Brittain escrevia em 1928, muito antes de o termo “gênero” ser usado, mas é capaz de analisar criticamente o que hoje em dia seria chamado de gênero, vendo sua construção social e política. Brittain não aceitaria a ideia da encenação de papeis lésbica, visto que ela claramente acreditava que mulheres não deviam se comportar de modo masculino nem feminino. “Essa confusão entre o que é ‘masculino’ ou ‘feminino’ e o que é meramente humano, em nossas máscaras complexas, persiste ao longo do livro”. Ela não aceita que os comportamentos de Stephen na infância seriam uma pista para sua anormalidade. Ela diz que a “suposta predileção sinistra dessa criança" lhe parece apenas “as preferências bastante normais de qualquer menina vigorosa que por acaso possui mais vitalidade e inteligência do que suas colegas” 29. O feminismo sensato de Brittain está em intenso contraste em relação às visões de Esther Newton e das atuais protagonistas das encenação de papeis. É encorajador notar que as feministas dos anos 20 poderiam ser tão resistentes ao modelo sexológico dos invertidos masculinos e das pseudo-homossexuais femininas quanto qualquer feminista lésbica contemporânea.

Brittain viu que o desejo feminino por liberdade foi capturado pelo estereótipo da lésbica masculina, viu que a categorização sexual servia ao controle e não à libertação.

“Se um dos resultados da educação das mulheres, ao final do século XIX, era o de colocar a alcunha de ‘perversão’ em um ser humano cujo desejo principal era apenas a expressão mais plena de sua humanidade do que permitiam as convenções sociais, então aquela educação era de fato uma coisa ruim” 30.

É curioso que essa discussão esteja sendo replicada nos anos 80 e 90, com lésbicas buscando se resumir a estereótipos sexológicos, mesmo aqueles bastante antiquados, porque os tempos seriam tão diferentes hoje. Uma crítica feminista desses estereótipos foi parte massiva do movimento lésbico. A reafirmação de papeis é uma rejeição explícita dos insights lésbico-feministas. Por que ideias da década de 20, adotadas como auto-defesa por um grupo de lésbicas que sentiam não haver alternativas, seriam retomadas com entusiasmo por lésbicas de hoje que têm tantas possibilidades?

Newton explica seu interesse na questão sobre sexologia e Radclyffe Hall ao final de seu artigo. Ela se identifica diretamente com a “lésbica masculina”. Ela coloca que, assim como Hall, enxerga o lesbianismo como “diversidade sexual”. Newton é uma daquelas lésbicas dos anos 80 que escolheram o modelo sexológico do lesbianismo em lugar do que ela vê como a influência ultrajante do feminismo lésbico. Ela abraça a sexologia com zelo. Toda a sua linguagem e conceito de lesbianismo vêm dessa fonte. Um exemplo é sua busca por uma explicação para o lesbianismo. Feministas lésbicas não tendem a buscar uma explicação, porque elas não veem o lesbianismo como uma condição minoritária, mas como uma escolha positiva para todas as mulheres. Newton busca respostas na psicologia tradicional. Ela diz que vê o “erotismo mãe/filha’ como ‘componente central da orientação lésbica” 31. Esse é um conceito que deriva da psicanálise. Ela segue desejando que a “psicologia feminista” venha resolver a “charada da orientação sexual”.

Apesar de parecer, no começo, enxergar a adoção do estereótipo masculino como uma escolha feita para a obtenção de uma identidade lésbica nos anos 20, ela demonstra em sua conclusão o compromisso com um certo determinismo psicológico. Ela diz que Hall e os sexologistas estavam “escrevendo algo real” quando descreviam as lésbicas masculinas. Esse era o fenômeno da “disforia de gênero”, ou “um forte sentimento de que o gênero que foi designado como feminino ou masculino não concorda com o gênero percebido pelo indivíduo sobre si” 32. Essa ideia vem da sexologia. Aparentemente, “disforia de gênero” é imutável e não é sujeita à escolha, porque:

“Masculinidade e feminilidade são como dois dialetos da mesma língua. Apesar de todos compreendermos ambos, a maioria de nós “fala” apenas um deles. Muitas lésbicas, como Stephen Gordon, são fêmeas biológicas que crescem pensando e e “falando” o dialeto “errado” 33.

Isto não seria sujeito à mudança na vida adulta porque “a identidade de gênero é determinada na tenra infância”. Portanto, Newton diz que devemos apoiar as “mulheres masculinas e homens femininos” porque “muitas lésbicas são masculinas; muitas têm estilos compostos; muitas são enfaticamente femininas”. Seria difícil imaginar por que exatamente Newton enfatizou o “são” nessa frase, a menos que o tivesse feito para estabelecer a qualidade essencial e inevitável da ‘masculinidade’ lésbica. Esta claramente não é uma abordagem feminista. Feministas lésbicas acreditam, não apenas por um compromisso ideológico com o construcionismo social, mas por conta de sua própria experiência, que o comportamento humano pode ser mudado. Afinal de contas, feministas estão demandando que os homens mudem seu comportamento masculino, um comportamento visto como a afirmação do pertencimento à classe dominante, e a existência dessa classe depende justamente da subordinação de mulheres. Muitos homens pro-feministas demandam o mesmo. Mas Newton, uma professora de estudos de mulheres na State University, em Nova York, nos diz que a masculinidade em lésbicas butch deve ser apoiada, ao mesmo tempo em que tanto esforço feminista é feito para que nos livremos disso nos homens.

Newton decidiu “sair do armário” em 1984 como uma “lésbica butch”. Isto, na minha opinião, foi uma decisão política, apesar de que Newton não gostaria de vê-la desse jeito. Ela vê a si mesma, de alguma forma, como essencialmente butch. Ela diz que era incapaz de se assumir butch antes dos anos 80 porque, sendo ela uma lésbica educada de classe média, ela associava a masculinidade às lésbicas da classe trabalhadora, em cujos bares ela se assumiu como lésbica em 1959. Aparentemente, ela precisava achar um jeito “classe-média de ser butch” 34. Ela encontrou isso em um grupo de apoio a butches em Nova York. Ela diz que houve uma “grande dificuldade de conciliar essa identidade, para muitas de nós” 35. Como professora de estudos de mulheres, ela deve conhecer a montanha de estudos feministas e masculinos que tentam desconstruir e eliminar a masculinidade. Provavelmente foi devido a esse conhecimento que ela precisou de apoio contra o que ela chama de “ideologia lésbico-feminista dominante”. Parece que as butches do grupo estavam determinadas a agir corretamente de acordo com a masculinidade, e viram-se vítimas das limitações do papel masculino. Os procedimentos de grupo parecem uma paródia alienada da tomada de consciência dos homens contra o sexismo, nos anos 70.

“descobrimos que nos faltavam capacidades sociais, não havia ninguém lá para mediar ou para jogar conversa fora. A maioria de nós tinha dificuldades para falar dos sentimentos, de conversar com intimidade” 36

Elas se preocupavam com coisas como “não sou alta o suficiente. Você é mais masculina do que eu… Há problemas intrínsecos ao ser butch? Excesso de controle? Vocês gostariam de chorar mais?”. Contudo, diferentemente dos homens contra o sexismo, essas mulheres não queriam perder a masculinidade que era sua posse preciosa, queriam apenas melhorar alguns problemas que o comportamento masculino lhes dava. As “butches” imitavam a misoginia do comportamento masculino, tal qual é esperado se a masculinidade é justamente baseada no desprezo à mulher e na importância de não ser uma. Outro tópico, ela diz, eram as “femmes” e “começar a reclamar das femmes e do feminismo”. Isso parece com comportamento de aquisição de lealdade entre machos, onde homens estereotipados sentam em bares e tentam se convencer de que eles não podem se parecer em nada com mulheres.

Newton parece ter bastante ambivalência sobre ser mulher. Em certa época, isso poderia ser resolvido em algum grupo feminista de tomada-de-consciência, onde mulheres discutiriam, em segurança, seu ódio a si mesmas como membras da categoria de mulheres, que é desprezada e inferiorizada, e lá desenvolviam orgulho. Em vez disso, ela escolheu adotar uma masculinidade caricata e fingir que não tinha escolha. Dado que é uma acadêmica inteligente e instruída, ela é capaz de transformar sua justificativa pessoal em “teoria” sobre os efeitos positivos da sexologia, que criou o estereótipo da butch que a autora busca aperfeiçoar. Nos anos 80, o hábito feminista de desenvolver uma auto-crítica pesada e análise política, aliadas à crença na possibilidade de mudança pessoal segundo os próprios interesses e os da liberação lésbica, foi substituído em alguns círculos lésbicos por uma crença na identidade ou destino invioláveis e inevitáveis, baseados em sentimentos acríticos sobre “quem você realmente é”. A ideia de uma construção social e, certamente, a ideia de que era bom sujeitar seus “sentimentos” a análise em contexto feminista, tornaram-se ofensivas para a auto-percepção de outras lésbicas. O feminismo interrompia a busca pela verdade.

A ideia de homens gays, e de Newton, de que as construções sexológicas tiveram um efeito positivo, encontram sua base teórica em Michel Foucault. Foucault argumenta que, apesar de a sexologia prover a possibilidade de maior controle social por meio de sua criação, ela também continha a possibilidade de um “discurso reverso”. De acordo com essa ideia, os objetos da categorização sexológicas poderiam usar as próprias para combater as forças de poder.

“A homossexualidade começou a falar em prol de si, a demandar que sua legitimidade e ‘naturalidade’
fossem aceitas, muitas vezes com o mesmo vocabulário e as mesmas categorias pelas quais foi medicamente desqualificada” 37.

The Well of Loneliness de Radclyffe Hall tem sido encarado por acadêmicas lésbicas e gays como um criador do “discurso reverso” para as lésbicas. Jonathan Dollimore explica que The Well:
“ajudou a iniciar um discurso reverso no sentido foucaultiano: lésbicas estariam aptas a se identificar, às vezes pela primeira vez, pela própria linguagem de sua opressão” 38

Hall fez mais do que, meramente, aceitar para as lésbicas um status de amaldiçoadas e marginais. A partir do momento em que coloca em Stephen “o mártir (religioso) e o marginal (romântico)”, uma imagem poderosa foi criada, a imagem de uma “sensibilidade e integridade superiores sendo buscadas por pessoas ordinárias e normais”. Dollimore aceita, assim como muitos outros acadêmicos gays, que o “discurso reverso” criado levou a uma politica sexual positiva.

“Bizarro como possa parecer, muitos desenvolvimentos posteriores na liberação sexual e nas politicas sexuais radicais podem ser encontradas nessas apropriações feitas por Hall, mesmo aqueles desenvolvimentos que a teriam desagradado, por exemplo a ideia de desvio sexual como potencialmente revolucionário, subvertendo o centro corrupto e o opressivo a partir de suas margens desviantes” 40

A questão agora, muito debatida por teóricos gays, é até onde o movimento por direitos homossexuais, que usava tais categorias, se tornou refém e enfraquecido por elas, e o quanto ele teria de fato sido capaz de subverter as categorias para uso em uma resistência efetiva.

O movimento de liberação sexual que Dollimore tem em mente com certeza serve aos interesses dos homens gays. Disso não decorre que para lésbicas, que se inserem na classe sexual feminina, essas politicas sejam boas. A adoção de categorias sexológicas para as lesbicas – apesar de terem parecido úteis a curto prazo, argumentando pela empatia das pessoas heterossexuais, e oferecendo uma identidade definitiva ao redor da qual nos organizarmos – significou que as lésbicas do séc. XX aceitassem a linguagem e ideias da sexologia para descreverem a si mesmas. O lesbianismo se tornou uma minoria desviada, baseada em atividade sexual genital, que aceita causas biológicas ou psicológicas e frequentemente também aceita as terríveis amarras da encenação de papeis. Lésbicas foram obrigadas a quebrar sua comunidade em dois grupos de acordo com princípios bastante arbitrários, para buscar suas amigas em uma e suas amantes em outra, e modelar seu comportamento nos comportamentos inadequados, inventados por homens, da feminilidade e masculinidade. Lésbicas também foram divididas com sucesso do restante das mulheres e feministas. Sendo uma minoria desviada e separada, agora estavam sob controle.

É compreensível que historiadores gays sejam mais otimistas sobre o impacto da sexologia, afinal a situação histórica do homem homossexual é bastante diferente daquela das mulheres. Os sexologistas associaram a inversão sexual em mulheres ao feminismo e se engajaram em ataques danosos ao movimento de mulheres. Os sexologistas não viram os homens homossexuais como representativos de um movimento de libertação que os amedrontasse. Amizades passionais são outro jeito no qual a historia dos homens homossexuais é diferente. Pouco sobre tais histórias tem sido escrito a respeito de homens. Se o potencial para uma tal amizade foi danificado pela construção sexológica, e pode mesmo ter sido, isso não foi uma questão para a história gay. Homens gays podem se satisfazer com um status desviante dado que eles são membros da classe dominante e não precisam lutar contra seu status de classe sexual. Foucault, afinal, não escreveu qualquer consideração sobre lesbicas e pouquíssimo sobre mulheres. É uma medida do poder da cultura e teoria gay masculina que se definam as políticas sexuais particularmente na academia, que um modelo extremamente inadequado deva ser aplicado tanto a mulheres como a homens.

É precisamente o modelo sexológico do lesbianismo que está sendo adotado, mesmo nos anos 80 e 90, por aquelas lésbicas que mais se opõem ao feminismo. Tais lésbicas estão lutando para se enquadrar em textos médicos e acreditar que estes estão dizendo a ‘verdade’, que a sexologia é a ‘verdade’, sobre si mesmas. É difícil entender como o modelo médico poderia receber, de repente, uma nova ocorrência a essa altura. Estudantes gays sugeriram para mim que isso se relaciona com o modo como a profissão medica está reafirmando seu comando sobre a homossexualidade masculina devido à sua importância durante uma epidemia de AIDS. Mas isso não explica por que lésbicas como Esther Newton escolhem esse modelo no inicio dos anos 80. Compreender o apelo do modelo medico é um dos objetivos de A Heresia Lésbica.

O impacto das ideias sexológicas e a década de 20, em particular, podem agora ser vistas como um ensaio, se não da construção da identidade lésbica, então ao menos presente nos debates contemporâneos sobre sexualidade lésbica. Feministas lésbicas e lésbicas da ‘diversidade sexual’ enxergam de maneiras muito diferentes esse período histórico. A década de 20 pode ter mais relevância direta para o presente. Podem haver algumas pistas sobre o que houve nos anos 20 para compreendermos a rendição da comunidade lésbica na década de 80. Assim como algumas lésbicas, naquela época, adotaram as categorias sexológicas para dar sentido a suas experiências, e descobriram que isso entrava em conflito com as concepções feministas sobre sexualidade, da mesma forma as lésbicas da sexualidade libertária, mais recentemente, têm usado a sexologia mais uma vez para explicar seu lesbianismo em termos de biologia, diversidade sexual, butch e femme, com uma similaridade muito grande em relação rejeição das teoria e prática feministas.

(COMPARAR COM ORIGINAL E VER SE TÁ COMPLETO ESSE CAPÍTULO)

A Lésbica Essencial

Os ativistas gays liberais e as feministas lésbicas, nos anos 70, se opuseram à ideia de que a
orientação sexual é biológica. Os anos sessenta e setenta foram décadas importantes para o
construcionismo social. Teoristas sociais se opuseram vigorosamente aos argumentos biológicos
de inferioridade racial, diferenças de gênero e doença mental. É conhecido que as explicações
biológicas fornecem as bases cientificas para os manejos sociais conservadores. Argumentos
biológicos, argumentos na natureza, podem ser usados para afirmar a certeza e inevitabilidade
da subordinação das mulheres, da desigualdade racial, da hegemonia heterossexual e das drogas
e instituições para aqueles que sofrem de doença mental. Nos anos 80, a confidência no
construcionismo social foi embalada pela aderência de algumas lésbicas e homens gays à nova
onda do determinismo biológico para explicar a orientação sexual. Algumas teoristas lésbica s
haviam até começado a definir os papeis de butch/femme e masculinidade e feminilidade em
suas formas estereotipadas como naturais, até inevitáveis, para lésbicas.

A crença na biologia veio, principalmente, de teoristas homens gays. Isso, provavelmente,
não surpreende, pois os ativistas gays não aderem ao slogan, ‘’Qualquer homem pode ser gay?. A
política tradicional gay masculina continua dependente da ideia de que a homossexualidade
deve ser tolerada porque os homens gays não podem se ajudar. Eles são uma minoria oprimida
biologicamente, ou se a biologia não for culpada, então há uma ’’certa coisa?, ao menos, que fez
os homens gays inevitavelmente diferentes. As lésbicas frequentemente se abalavam ao
descobrir o quão profunda é a confiança dos homens gays com a biologia, por vezes, até mesmo
naqueles de outra forma progressiva política. Quando ensinando estudos gays e lésbicos em
uma classe noturna no começo dos anos 80, eu percebi que os estudantes homens gays
rapidamente expressavam alguma crença na biologia. A maioria das estuda ntes lésbicas
expressava completa rejeição pela ideia. Frequentemente, as lésbicas já haviam sido
heterossexuais, esposas e mães, e, frequentemente, nunca haviam pensado que amariam uma
mulher, até bem depois da adolescência. Uma explicação biológica não faria sentido em termos
de suas experiências ou políticas.

A diferença considerável sobre a biologia entre os homens gays ativistas e as lésbicas feministas
ficou evidente na campanha do Reino Unido contra a seção 28 da Ação Governamental Local
de 1988. A proeminência de porta-vozes gays foi à televisão para argumentar que a emenda
contra a ’’promoção da homossexualidade? foi um disparate porque a homossexualidade é inata e
não pode ser promovida. As lésbicas estavam atônitas. Isso era o oposto da política lésbica
feminista e, julgando pelo debate pela emenda na Câmara dos Comuns, parecia que eram
precisamente esforços feministas lésbicos para promover o lesbianismo que estavam causando
alarme nos legisladores conservadores. Parecia haver uma política fundamental diferente aqui,
e, ainda que alguns ativistas gays fossem críticos a essa posição biológica, eles não estavam em
ascensão 1.

Em 1987 houve uma conferência de estudos gays e lésbicos em Amsterdam, na qual o tema
era „Essencialismo versus construcionismo social?. Isso parecia ser uma controvérsia que estava
pressionando aqueles que planejaram a conferência. A introdução dos papeis coletados afirma
„Há uma década há uma crescente controvérsia entre estudiosos gays e estudiosas lésbicas,
centrada entre duas teorias científicas rivais e suas implicações para a homossexualidade:
essencialismo e construcionismo. ? 2. As lésbicas feministas estavam simplesmente perplexas que
uma questão que elas achavam ter respondido vinte anos atrás ainda excitava interesse em 1987.
O fato é que tal questão podia ser vista como suficientemente importante para encenar uma
conferência inteira em torno da sugestão de que uma crença no essencialismo devia estar viva , e
em um lugar fora da comunidade lésbica feminista. Teoristas lésbicas feministas continuavam
ocupadas desafiando a instituição da heterossexualidade, sugerindo que todas as mulheres
podem escolher serem lésbicas, exceto pelas restrições impostas pela heterossexualidade
compulsória. Considerar se elas eram lésbicas essencialmente, não era uma questão.

Nos anos 90, a diminuição do construcionismo social na comunidade gay continuava em
ritmo acelerado. Em 1991, os resultados das pesquisas do Dr. Simon LeVay, caracterizado
como um „gay ativista?, foram publicados nos EUA. LeVay estudou os neurônios dos homens
gays que morreram de AIDS, e dos homens que não se declaravam gays e qu e morreram da
mesma causa. Ele encontrou uma área minúscula do hipotálamo que era, em média, duas vezes
maior em homens heterossexuais, do que em mulheres heterossexuais ou homens homossexuais.

Ele sugeriu que essa variação de níveis de hormônios antes do nascimento „conectava? o
hipotálamo à heterossexualidade ou homossexualidade. Desde então, outro estudo da
Universidade da Califórnia Escola Médica, aparentemente apoiava suas descobertas. LeVay vê
seu trabalho como realmente positivo para o fim da discriminação contra gays. Ele sempre
acreditou que a homossexualidade era biologicamente determinada, e preparou-se para provar
que esta discriminação anti-gay podia ser combatida com o fundamento de que os gays eram
condenados pela natureza por seu comportament o, e que deviam ser tratados com misericórdia,
como qualquer grupo que não pode ajudar a si mesmo. Este é um velho argumento que recorda
a virada do século. Esta é uma ideia que morreu duramente. Mas isso não se adapta à
experiência lésbica ou à teoria feminista lésbica. LeVay ainda não havia tido acesso aos
neurônios das lésbicas, mas estava convencido que encontraria neles semelhanças com os
neurônios de homens heterossexuais em sua área crucial.

É significativo que LeVay também acredita que a biologia é responsável pelas diferenças no
comportamento de machos e fêmeas. Ele pensa que as mulheres são verbalmente mais
competentes que os homens, e os homens são mais competentes espacialmente do que as
mulheres, devido à diferença nos neurônios. Ele consegue associar estas diferenças nos
neurônios com o fato dos homens gays serem ’’menos fortes com a mão direta do que os homens
heterossexuais?. (Campaign, 1992) 3. LeVay é claramente preparado para acreditar que qualquer
número de diferenças estereotipadas entre homens e mulheres são resultado da biologia, sem
qualquer evidência além de seus próprios palpites. O mais preocupante é que ele
acredita que „os impulsos sexuais masculinos e femininos são determinados
biologicamente?. Uma visão fundamental da teoria feminista é a que o comportamento
sexual masculino é aprendido, e não natural. Não haveria outra forma de libertar as
mulheres da violência sexual. A sabedoria de LeVay sugere o contrário:

Em geral, em todo o reino mamífero, os homens são mais
promíscuos que as mulheres. Os homens têm o potencial de
serem pais de um número ilimitado de filhos. Sai mais barato
para eles inseminarem uma fêmea, então é do interesse deles ser
tão promíscuos quanto podem. Para uma fêmea, isto é
completamente diferente… Não há dúvidas em minha mente que
esta característica é determinada biologicamente. Há algo nos
neurônios de machos e fêmeas que faz com que sejam assim.
Agora, se você olha homens gays e lésbicas, esta característica
não é revertida pelo sexo. Na verdade, esta característica nos
homens gays não é mais restrita por falta de vontade das
mulheres – então, o céu é o limite. A maioria dos homens
heterossexuais não tem tantas relações sexuais quanto querem
porque as mulheres não deixam. 4

Levay nos mostra que estes argumentos biológicos sobre ’’genes gay? podem nos conduzir
diretamente a argumentos biológicos que justificam a opressão das mulheres.

É preocupante que a teoria de LeVay venha sendo tratada com entusiasmo por algumas
imprensas gays e ao menos com curiosidade simpática pelos outros. O retorno do essencialismo
parece estar em pleno andamento. As feministas foram particularmente hostilizadas pelas
explicações biológicas deterministas porque a própria ideia do feminismo, a possibilidade de
seu nascimento, depende da luta contra a ideia de que o biológico constrói diferenças
psicológicas entre os sexos. Após uma boa fundamentação de tal batalha não é possível para as
lésbicas feministas serem otimistas quanto a explicações biológicas sobre a homossexualidade.
Homens gays podem ser porque a liberdade deles como homens não depende da mesma forma
do combate ao biologismo.

A ’’diferença? das mulheres ou a feminilidade foi explicada pela teoria lésbica feminista
como uma invenção masculina, e a submissão das mulheres à feminilidade como uma projeção
nas mulheres das fantasias dos homens, ou como uma separatista coloca isso:

Os homens projetam nas fêmeas as próprias deficiências deles
(covardia, irracionalidade, inanidade, desonestidade, traição,
mesquinhez, etc.) e empurram para as fêmeas uma matriz de
maneirismos femininos inventados pelos machos e estilos que
encorajam a fraqueza, dependência, submissão e geral fuckability 5.

A feminilidade tem sido experimentada pelas lésbicas feministas simplesmente como uma
brutal restrição da liberdade, como tortura do corpo. As lésbicas estão mais livres para
abandonar estas ordens e expressar total rejeição. A mesma escritora faz a feminilidade soar
bastante brutal:

…nós somos supostas a acreditar que é natural querer
requebrar em cima de sapatos de pau, o rosto mascarado com
produtos químicos fedidos e escabrosos, unhas compridas e
sangrentas, corpos operados dietaexercitados -depilados-plásticos,
envoltos em vestidos expositivos, vozes anormalmente altas,
gestos „?fofos?? e flertes agressivos, e a mente focada em agradar
os homens a qualquer preço. 6

Feministas heterossexuais demoliram o mito da feminilidade efetivamente também, mais
notavelmente Naomi Wolf no Mito da Beleza 7. Ela, tal como outras teoristas feministas
anteriores a ela, mostra o quanto a indústria fashion e da beleza levam as mulheres a causarem
grandes danos a seus corpos, e até a passarem fome até a morte através de d istúrbios
alimentares. O que é surpreendente é que a feminilidade venha sendo, atualmente, reintroduzida
à cultura lésbica como uma nova e revolucionária possibilidade erótica.

Nos anos 70, lésbicas feministas, nas quais eu me incluo, usavam crachás dizendo „Qualquer
mulher pode ser uma lésbica? e nós acreditávamos nisso. Acreditamos nisso não só por bons
motivos políticos, tal como nossa resistência a teorias biológicas de comportamento sexual e de
gênero, mas porque, para muitas de nós, essa foi nossa experiência. Milhares de mulheres que
nunca consideraram conscientemente o lesbianismo como uma possibilidade, deixaram os
homens e cometeram todas as suas energias emocionais e sexuais para as mulheres, e continuam
cometendo isso hoje 8. A ideia do lesbianismo político, como esse fenômeno é geralmente
chamado, foi polêmico todo o tempo. As lésbicas políticas foram acusadas por alguns de não
serem lésbicas „reais?, pois elas eram vistas como voltadas às mulheres mais por razões políticas
do que por uma determinação vitalícia. Mas nenhuma lésbica feminista teria pensado em
argumentar que lésbicas e mulheres heterossexuais eram simplesmente duas categorias
biológicas distintas.

Joan Nestle, a principal propagandista da nova encenação de papeis lésbicos, afirma
categoricamente que ‘’Eu penso que a frase Toda mulher é uma Lésbica em potencial, não é
mais útil? 9. Ela diz que isso era simplesmente um ’’dispositivo retórico? , e agora é hora das
lésbicas e mulheres heterossexuais simplesmente reconhecerem suas ‘’escolhas ? diferentes. As
lésbicas devem agora ’’parar com o bullying em mulheres por suas posturas sexuais, para
encerrar o assunto de que apenas Lésbicas fazem escolhas?. O ’’bullying? que ela tem em mente
provavelmente compreende o excitante trabalho teórico de lésbicas feministas, tais como
Adrienne Rich e Monique Wittig, que analisam a heterossexualidade como uma instituição
política. Um novo feminismo que materializa as categorias sexuais do sistema sexual de
supremacia masculina engatinhou até aqui sob a retórica da escolha. E para os pornógrafos da
nova encenação de papeis, os terapeutas da encenação de papeis, que esse novo essencialismo
flui. Particularmente, isso não é surpreendente. Eu argumentarei aqui que na raiz da crença na
encenação de papeis há, inevitavelmente, uma fundação essencialista.

A feminilidade e a masculinidade retornaram à comunidade lésbica no contexto de reabilitar
o jogo de papeis do começo dos anos 80. Ainda que houvessem lésbicas não afetadas por tais
desenvolvimentos, a diminuição do fetichismo de gênero nos anos 60 e o impacto do feminismo
providenciaram uma libertação para muitas das lésbicas que previamente usaram tais papeis.
Julia Penelope é uma teorista lésbica que escolheu abandonar a encenação do papel de butch.
Ela estava horrorizada em ver uma revalidação e em 1984 ela atacou a nova encenação de
papeis de uma perspectiva feminista radical forte e clara.

O impulso de reviver os rótulos ?butch’’e „?femme? e injetar
alguma honorabilidade em seus significados (embora
tardiamente) falando sobre ?sentimentos viscerais, ?intuições
e ?poder? é a manifestação lésbica da ala backlash da direita
contemporânea e, além disso, encorajada pela nostalgia dos anos
50 ‘’Dias Felizes?), e a ilusão de segurança que temos ao voltar ao
que imaginamos ter sido ’’dias melhores? (geralmente porque
não vivemos neles), e falar sobre ?recuperar nossa herança? 10.

Como Penelope aponta, a nova encenação de papeis foi legitimada com recursos da história
lésbica, geralmente dos anos 50.

Outra lésbica que abandonou o papel de butch explica que ela definia-se nos anos 50 como
uma butch e aspirava ser uma ‘’Grande Butch Má?, que via as femmes como ’’muito menininhas
ou inadequadas para serem butch?. Ela ficou assombrada por qualquer lésbica hoje poder ’’alegar
ignorância dos elementos de ódio às mulheres que permearam as tradicionais identidades butch-femme?.

É fácil sentir nostalgia pelos bons e velhos, maus e velhos
tempos… Há uma emoção em conquistar. Há uma emoção em ter
poder sob alguém, seja literalmente ou figurativamente. Mas,
para mim, estes velhos papeis eram terrivelmente deformados, e
levou muito tempo para que eu me libertasse de suas garras 11.

Ela explica que a rigidez dos papeis foi aliviada pelos „anos 60 hippie?, que permitiam
homens ter barba e cabelo comprido. Mas o que ela descreve como o „grande avanço? veio com
o Movimento de Libertação das Mulheres, através do qual ela aprendeu a „combinar a força e a
sensibilidade, e a ampliar seus conceitos de sexualidade e sensualidade?. Ela conclui:

Neste ponto parece louco por em risco este caráter pelas
emoções baratas de jaqueta preta de couro e vestidos de boneca…
Nós não temos mais qualquer desculpa para deixar a cultura
popular punk definir para nós o que é sexy, o que é romântico,
pelo que vale a pena viver 12.

Mas a busca de „emoções baratas? através da encenação de papeis através da comunidade
lésbica brotou nos anos 80 e 90 e, de fato, colocou em risco a sobrevivência da crítica lésbica
feminista da masculinidade e feminilidade. A imitação do sistema político de classes da
heterossexualidade demonstra uma exatidão impressionante na recente literatura de encenação
de papeis. Os encenadores não vêem humor em seu projeto, mesmo em suas manifestações mais
improváveis, talvez porque o humor iria perfurar o rumor abrasivo, o que é suposto que seja o
principal benefício do mesmo. O Desejo Persistente, uma encenação de papeis de antologia,
editada por Joan Nestle, revela a extensão extraordinária que os promotores da encenação de
papeis são preparados para passar em sua imitação de alguns dos aspectos da heterossexualidade
mais politicamente opressores. Os propagandistas da encenação de papeis rejeitam qualquer
sugestão que suas práticas podem ser politicamente construídas
e derivadas da opressão da mulher.

Um artigo de Paula Austin, uma ‘’negra que se identifica femme?, dá um quadro
representativo do modo que essa encenação de papeis imita a antiquada heterossexualidade.
Austin percebeu que é uma femme enquanto estava em um relacionamento com uma lésbica
chamada Rhon. Austin opina que ’’Eu estava convencida que ela havia escondido, em algum dos
recessos de sua calça, um pênis? 13. Rhon é atraente por ser ‘’durona, a dyke mais durona com
quem já estive?. Sobre outra amada Buddy, ela escreve „Eu amo a dureza, o rústico de poder e
violência, a força, o indício de ser possuída? 14. Austin confessa uma angústia sobre sua ’’femmenilidade? e se isso é politicamente correto, mas claramente decide ignorar suas preocupações.
Essa é sua descrição de sua ’’femme-nilidade?:

Ser uma femme, para mim, significa vestir uma saia curta e
apertada, cinta-liga e salto alto quando vou sair. Isso significa
parar na frente do espelho, passar rímel e batom marrom
avermelhado. Isso significa comprar uma blusa de corte baixo
para revelar um pouco de decote algumas noites. Isso significa
sorrir, ou às vezes fazer beicinho quando minha mulher coloca
seu braço em volta da minha cintura e com a outra mão vira meu
rosto para beijá-la. Isso significa sussurrar, ?Eu sou sua, me
possua? quando fazemos amor. Isso significa sentir-se sexy 15.

Esta, tal como outras descrições da nova encenação de papeis, tem uma característica Mills
and Boon. Mas o que é irônico é que entre as mulheres heterossexuais são rejeitadas como
desigualdade de gênero. A geração de mulheres jovens heterossexuais encontraria tal material
para uma audiência heterossexual francamente embaraçosa e até Mills and Boon estão tendo que
vender levemente mais personagens igualitárias para os anos 90. O „indício de poder e
violência? que excita Austin é provável que signifique abuso real na heterossexualidade e,
frequentemente, significam o mesmo nas relações lésbicas também.

O modelo de relacionamentos de encenação de papeis descrito na antologia tem um sabor de
vida rural, folclórica, operária, alma americana, heterossexualidade dos anos 50. Femmes
recebem suas butches em casa depois de um dia difícil, geralmente realizando trabalho manual,
mas às vezes uma ocupação profissional, e prosseguem a oferecer a elas conforto contra um
mundo áspero. Como Nestle expressa isso, ‘’Quando ela vem pra casa por mim, eu devo
acariciar as partes dela que foram desgastadas, tentando fazer o trabalho dela em um mundo de
homens? 16. Quem adivinha o que as femmes são supostas a fazer o dia todo, assar bolos? Então
a femme é suposta a fazer sua butch sentir-se segura o suficiente para deixar ela ser vulnerável,
revelada ao fazer amor, mas a masculinidade dela deve ser protegida: ’’Eu sei como fazer amor
ao/ Seu corpo de mulher/ Sem levar sua masculinidade embora? 17. O papel de femme, como esse
da dona de casa tradicional, é para nutrir o poder de sua butch, então ela pode manter seu lugar
na classe dominante masculina e seu poder sob ela.

Embora isso possa parecer muito perplexo de uma perspectiva feminista, a idealização das
dinâmicas precisas de poder que mantêm as mulheres subordinadas e abusadas através de
relacionamentos heterossexuais é vista como positiva pelos novos encenadores de papeis. Mas
então eles parecem ter afirmado uma declaração de independência do movimento feminista.

Alguns repudiam o seu antigo feminismo, outros dizem que nunca foram feministas. Lyndall
MacCowan, uma femme, explica em O Desejo Persistente que ela nunca se identificou como
feminista ou como sendo uma mulher. Ela diz que quando ela saiu do armário na década de
setenta:

Isso seria herético, então, como isso continua sendo agora, ser
uma lésbica e declarar que o feminismo tem um significado
pequeno para mim – imagine tentar ser uma ateísta na Europa
central do século XIV. Ainda que tal afirmação seja verdadeira, e
seja importante dizer isso, porque o feminismo veio para ofuscar
o significado do lesbianismo. Não é que eu não acredite que as
mulheres são oprimidas, mas eu nunca fui capaz de me identificar
com esse grupo abrangente „?mulher??. Eu nunca estive perto de
ser oprimida como uma mulher como eu sou como lésbica. 18

MacCowan afirma que ser uma lésbica significa „saber que não sou uma mulher? 19. Ainda
que ser uma lésbica femme, atualmente, sujeite ela diretamente à opressão da mulher. Paula
Austin escreve sobre a dificuldade de ter que sofrer assédio sexual dos homens por parecer uma
mulher heterossexual e pode-se imaginar que MacCowan, que favorece um traje similar, teria o
mesmo problema.

Declarações raivosas sobre o comportamento autoritário e bullying de feministas lésbicas
entre aquelas de categorias como MacCowan ou JoAnn Loulan, que realmente queriam ser
femmes, são comuns na literatura de encenação de papeis. Esta abordagem as alivia da
responsabilidade de terem conscientemente adotado ideias feministas nos anos 70. Ao invés de
realmente terem sido vitimas silenciadas quando estavam no movimento lésbico feminista, é
provável que elas simplesmente mudaram suas mentes para se adaptarem ao fashion do
backlash conservador.

Está nas explicações oferecidas pela encenação de papeis que o essencialismo por trás da
ideologia butch/femme é uma explicação biológica mais clara e sem rodeios que não é
geralmente sugerida, embora esteja retornando em algumas áreas. Loulan sugere que a
homossexualidade é hereditária, uma ideia abandonada até pela maioria dos sexólogos, uma vez
que os psicanalistas se popularizaram antes da Segunda Guerra Mundial.

Algumas de nós apenas nascemos dessa forma. Isso é
provavelmente genético: homossexualidade acontece fortemente
em algumas famílias. Eu conheço uma mulher que tem seis
irmãos e irmãs e todos, menos um, são gays 20.

Ela diz que ‘’nós podemos contar? com histórias de homossexualidade acontecendo em
famílias ’’para provar que sim, um dos componentes é nosso DNA? 21. Pode parecer
surpreendente o fato da vasta maioria de lésbicas e homens gays ter pais heterossexuais não
abalar o recurso do argumento hereditário. É interessante que ela quer usar uma combinação de
explicações usando tanto a genética para uns quanto a ‘’escolha? para outros. A variedade
genética é aparentemente identificada por si própria, se você diz que você é genético, então você
é. Esta combinação é reminiscente da velha ideia sexológica de que os homossexuais são
divididos em invertidos e pervertidos. Invertidos eram os congênitos que não podiam se ajudar e
isso merecia simpatia, e os pervertidos haviam escolhido deliberadamente serem maus.
Interessante este pensamento de alguém como Loulan, que teve uma queda pelo feminismo nos
anos 70, e mudou tão facilmente para a sexologia tradicional. Isso sugere um conservadorismo
profundo e enraizado que a experiência dela no feminismo não foi capaz de alterar. Loulan tem
aflições em sugerir que toda a homossexualidade é genética porque ela está consciente que isso
pode ser usado para sugerir um „defeito genético? e ela não pensa que o lesbianismo é
’’patológico?.

Na explicação da encenação de papeis, Loulan opta por uma explicação psicológica em
termos de arquétipos. Ela diz que as lésbicas têm certos arquétipos enterrados profundamente
em seu inconsciente coletivo que não pode ser discutido. Cada um é „uma imagem que
determina reações comportamentais e psicológicas inconscientes? 22. A encenação de papeis
então, não é o resultado de um determinismo biológico, mas psicológico. Os arquétipos lésbicos
mais comuns são ‘’os conceitos de butch e femme e, recentemente, andrógino também? 23. A
encenação de papeis arquétipos é aparentemente tão determinante que todas as lésbicas estão, de
alguma forma, conectadas à encenação de papeis, mesmo que não admitam isso. Ela descreve
„esse erotismo lésbico de butch e femme? como algo que cada uma de nós está conectada, que
cada uma de nós foi feita para negar, rebaixar, e envergonhar-se…? 24. Isso deixa aqueles que
permanecem querendo negar isso em uma espécie de falsa consciência. O público dela tende a
estar neste estado ignorante. Ela diz que quando ela pergunta ao público se eles já se
classificaram em uma escala butch/femme, 95% diz que sim, mas quando ela pergunta se a
encenação de papeis é importante para elas, 95% diz que é ’’insignificante em suas vidas? 25. A
única explicação, para Loulan, é que 95% das lésbicas estão negando e é o triste dever de
Loulan tentar abri-los para os prazeres da encenação de papeis. Sexólogos tradicionalmente
retomam tais incríveis responsabilidades e não recuam da ideia de ter que mudar o
comportamento sexual das mulheres em massa para ajustarem a essas prescrições.26

Joan Nestle, em uma palestra de 1985 sobre encenação de papeis, ofereceu uma versão da
teoria de arquétipos. Ela diz que quando conheceu uma butch ela experimentou „algum tipo de
básica e pré-histórica previsão uma da outra?27. Outra participante da palestra, Jewelle Gomez,
assegurou que a encenação de papeis é natural e inevitável. Ela vê butch e femme como
representando os ‘’dois pólos que a natureza presenteia a cada um de nós? 28. Como evidência ela
apresenta a sabedoria popular do yin e yang da religião oriental. Ela considera que essa
sabedoria popular se perdeu na religião puritana da Europa Ocidental, que fez com que as
pessoas esquecessem que „há dois lados dentro dos indivíduos?. Provavelmente, o feminismo,
que questionou a sabedoria popular de todas as ideologias patriarcais sobre a natureza essencial
de gênero, compartilhou deste trágico esquecimento. Este essencial dualismo, ela descreve
como ’’um principio natural, um princípio natural, psicológico, biológico, emocional e
fisiológico?29. Isso não deixa muito espaço para opositores conscientes.

Também há lésbicas acadêmicas, como terapeutas sexuais, envolvidas em promover o novo
essencialismo da encenação de papeis. Saskia Wieringa é uma antropóloga que reivindica que
cometeram o erro, devido a uma consciência feminista, de ver a cultura ocidental de
butch/femme como „bastante ultrapassada?. Então ela experiment ou a cultura bar lésbica de
Jakarta e Lima e percebeu o „quão estreito meu próprio, então chamado, lesbianismo político
era?30. A descoberta de alguma coisa similar à encenação de papeis ocidental em outras culturas
convenceu ela da pobreza da abordagem construcionista social do lesbianismo. Ela determinou
que fatores psicobiológicos devessem estar envolvidos. A existência da encenação de papeis em
outras culturas fora do ocidente podia ser usada para suportar a abordagem feminista
construcionista social. Se a encenação de papeis lésbica é relacionada à encenação de papeis
heterossexual, então seria de se esperar que isso fosse particularmente forte nos períodos e
culturas onde a diferenciação de cada gênero foi forçada mais estritamente dentro da
heterossexualidade. Isso pode explicar a cultura bar de Jakarta e Lima mais facilmente do que a
invenção de alguma essência da encenação de papeis.

Explicações feministas da encenação de papeis que vinculam isso aos papeis de sexo da
supremacia masculina são severamente rejeitadas por seus proponentes. Loulan atribui a ideia
feminista de que a encenação de papeis lésbica é „imitação dos papeis macho/fêmea? ao ódio
próprio das lésbicas, nosso medo que as lésbicas sejam tão inferiores quanto na versão da
heterossexualidade. Ela diz que „em algum lugar, em nosso mais profundo eu homofóbico, nós
concordamos que as lésbicas são uma versão substituta do modelo heterossexual?, quando na
realidade ‘’butch e femme nao têm nada a fazer com o macho e fêmea? 31. A encenação de papeis
é ’’algo profundamente feminino? que, ao invés de derivar de macho/fêmea, deriva de alguma
outra raiz, um arquétipo ou principio dos quais tanto os papeis macho/fêmea quanto os papeis
lésbicos derivam, um dualismo na natureza. Isso significa que ao invés de i mitar o original
heterossexual, as lésbicas adquirem seus papeis independentemente e da mesma fonte natural
que os homens e mulheres adquirem. É um pouco surpreendente então que o grande dualismo
original na natureza seja tão especifico sobre quem aspira e quem expira, mas parece ser assim.
Essa é a descrição de Loulan da ’’energiafemme?:

Uma certa leveza, um certo brilho, um certo interesse em cada
pequeno detalhe sobre o que minha melhor amiga disse à pessoa
que ela conheceu na mercearia. Uma ligação com colunas de
fofocas cheias com pessoas que eu não conheço e nunca
conhecerei 32.

Provavelmente, lésbicas que sofrem de depressão não podem ser femmes, uma vez que elas
carecem do brilho requerido. As entrevistadas da pesquisa dela que se identificaram como
femmes irritaram Loulan por serem „mais prováveis de iniciar a limpar e decorar a casa, cuidar
das crianças, organizar atividades sociais e fazer a verdadeira socialização? 33. Ela nota que esses
são também papeis macho/fêmea. Isso pode até sugerir que a femmeness tem algo para fazer
com a subordinação feminina aprendida mais do que os grandiosos arquétipos no céu.

Lyndall MacCowan afirma que a masculinidade e a feminilidade na heterossexualidade são
apenas dois gêneros, e realmente pode haver algo mais. Butch e femme são gêneros também,
‘’gêneros lésbico-específicos? e parte da variedade potencialmente grande. Ela acredita que
’’Sistemas de gênero são uma cultura universal? e não é verdade que „um sistema de gênero
sempre implica em sexismo e homofobia? 34. O gênero é apenas opressivo se limitado em uma
sociedade particular de dois e ’’rigidamente correlacionados? com o sexo biológico. De acordo
com esta interpretação incomum do gênero como simplesmente uma categoria corroída, ela vê a
„androginia? como um gênero lésbico também. Claramente, encenadores de papeis devem
repudiar uma análise feminista de gênero se eles tiverem respeito próprio e acreditarem que são
jogos inofensivos. Então, eles buscam procurar confusão sobre o que o gênero é.

Uma análise feminista veria o gênero como sendo uma categoria política. Na verdade, uma
classe política, na qual os seres humanos são colocados de acordo com a sua posse ou não de
um pênis. Estes que possuem a forma do gênero masculino, não simplesmente por uma
interessante categoria erótica, mas pela classe de papeis no sistema de opressão chamado
supremacia masculina, no qual as mulheres estão sofrendo e morrendo. A diferença de poder
entre as duas classes de gênero é erotizada para ser entendida como sexo sob a supremacia
masculina. Portanto, para muitos, para fazer sexo eles precisam ter um gênero e relacionar-se
com alguém do gênero oposto. „Gênero? como um modo de estímulo sexual é diretamente
derivado do gênero como mecanismo de regulação do sistema de classes da supremacia
masculina. MacCowan termina sua peça dizendo que é ’’tempo de reivindicar o direito de foder
com o gênero? 35. Mas é difícil ver como a repetição servil do papel do feminino no qual uma
mulher tem sido educada, tentando viver como uma heroína Mills and Boon, é „foder? com tudo,
de qualquer forma. E as oportunidades para as mulheres heterossexuais para „foder? parecem
ainda mais limitadas. Se elas praticarem a feminilidade, ninguém notará, e se praticarem a
masculinidade, elas podem encontrar alguma oposição dos homens.

Lésbicas feministas que se opõem à encenação de papeis são chamadas „andróginas? na
literatura de encenação de papeis. As lésbicas feministas, geralmente, não usam esta palavra
para aplicar a si mesmas porque não significa a eliminação da masculinidade e f eminilidade, o
que é o projeto feminista. Androginia representa a combinação de masculinidade e feminilidade
em uma pessoa. Janice Raymond vê a ideia da androginia como fundamental para justificar a
heterossexualidade como instituição política:

…realidade-hetero e relações-hetero são construídas no mito
da androginia. „?Tu, como uma mulher, deve unir-se a um
homem?? para cumprir o suposto propósito cósmico de reunir o
que foi misticamente separado em macho e fêmea. Argumentos
que suportam a primazia e prevalência de relações heterossexuais
são, de algum modo, baseados na polaridade cósmica de machofêmea na qual as metades perdidas procuram ser reunidas. 36

Androginia é um conceito que feministas lésbicas rejeitam. Não pode ser por acidente que,
por isso, as encenadoras de papeis usem isso para referirem-se às feministas. Elas procuram
desenhar aqueles que especificamente rejeitam e procuram desmantelar o gênero dentro de seus
papeis venenosos. Loulan chama o projeto feminista de demolição de hierarquias de Poder e
procura por igualdade de ’’imperativo andrógino?37. Ela está, particularmente, desconsiderando
qualquer propósito de igualdade em relações sexuais.

A lésbica que adere ao imperativo andrógino idealiza um
relacionamento que não possui diferenças de poder… Não há
qualquer jeito de manter um relacionamento de qualquer tipo livre
de poder. O fato de haver duas pessoas trocando energia significa
que elas estão passando poder para frente e para trás. 38

Estas são as excitantes possibilidades eróticas oferecidas pelas diferenças de poder
introduzidas ou formalizadas nos relacionamentos lésbicos através da encenação de papeis que
explicam esta nova popularidade. Isso não deriva da natureza, imperativo psicológico ou
tradição. As novas encenadoras de papeis apelam para a história lésbica para legitimar suas
práticas, como se elas estivessem simplesmente continuando uma tradição honorável. Eu
argumentei em outro lugar que esta procura por reabilitar a encenação de papeis nos anos 80
estava acontecendo por diversas razões, especificamente, as eróticas. 39 A nova encenação de
papeis é uma variedade do recente sadomasoquismo moderno. Isso não se assemelha à
contrapartida histórica porque os papeis de gênero explodiram pela teoria feminista e não eram
mais compulsórios, certamente, não por aquelas que agora estavam promovendo eles que são
bem versados em tal teoria. A repressão política dos anos 50 fez da encenação de papeis uma
força de proteção quando uma de um casal lésbico pode ’’passar? pela rua, e ser difícil para
algumas lésbicas pensarem além da diferença de gênero por causa da propaganda abafada das
esferas separadas e diferença das mulheres que impregnou a década. As décadas de 80 e 90 são
um tempo diferente. Uma avançada pesquisa feminista crítica da heterossexualidade de Jill
Johnston a Adrienne Rich e Monique Wittig decifrou o vazio da heterossexualidade tradicional
e nomeou isso como uma instituição de controle político da mulher. Uma imitação das leis desta
instituição não podia ser realizada fora da ignorância nos anos 80 por aqueles que estavam
impregnados na teoria feminista.

A encenação de papeis na década de 80 é pornografia suave comparada com a pornografia
hard core de lésbica S/M. Isso providencia a emoção da erotizada diferença de poder sem os
extremos de violência e vulgaridade. Merrill Mushroom descreve as vantagens da encenação de
papeis usando os lemas do S/M, tais como vulnerabilidade, confiança e poder.

As dinâmicas básicas de butch-femme referem ao envolvimento
de poder, confiança, vulnerabilidade, ternura e carinho. Quando
eu, como uma butch, pedia a minha amada ’’Dê isso para mim,
baby, agora?, indo o mais profundo dentro dela quanto eu podia
penetrar; e ela se solta completamente fluía para mim… Algumas
vezes eu quero que ela me tenha naquele instante, e então eu a
seduzo como uma femme seduz uma butch – seduzo ela a me ter
ao invés de querer que eu a tenha. Algumas vezes a própria butch
dela vai dominar, e ela vai Ter Seu Jeito comigo, e eu vou deixar. 40

Mushroom permanece vendo a si mesma como uma butch, apesar de uma troca de papel um
pouco controlada. As desvantagens da encenação de papeis foram esquecidas nessa nova versão
na qual é suposta a ser mais apenas um jogo do que de verdade. Há outras razões para a
revitalização da encenação de papeis. Lésbicas querem descrever os problemas em seus
relacionamentos, particularmente em torno da sexualidade, e na falta de uma linguagem
feminista, agora que esse feminismo é tão desprezado e descartado, a linguagem da encenação
de papeis parece útil.

A terapeuta sexual JoAnn Loulan, em seu livro A Dança Erótica Lésbica, expressa que sua
visão da encenação de papeis é sobre a construção de categorias corroídas. Butch/Femme para
ela é sobre como escolher uma parceira sexual e o que fazer com elas. Para ela, o lesbianismo é
uma prática sexual e esta prática sexual, por ela mesma, ao fazer isso, que faz o lesbianismo
revolucionário. A crítica feminista da encenação de papeis é referida pelos propagandistas como
lesbianismo „dessexualizado?. Loulan nota que ela „não pode deixar de comentar sobre a
dessexualização da nossa cultura? 41. Contribuintes de O Desejo Persistente produzem o mesmo
argumento. Madeline Davis observa:

Frankly, eu não entendo não ter papel identificado. Claro, eu
acredito quando elas dizem que não são, mas tudo isso me parece tão „o
mesmo? para mim, e um tipo chato. Elas estão tão ocupadas pegando
nas mãos e remexendo e cantando sobre ?encher e transbordar? 42.

Arlene Istar reclama sobre o feminismo, ‘’Nós temos limitados nossas opiniões sobre
dessexualizar nossa comunidade? 43. Lyndall MacCowan explica que „butch e femme são
construções de gênero que surgem de uma definição sexual de lesbianismo? 44 e que ’’Butch e
femme foram feitas invisíveis porque a sexualidade lésbica foi feita invisível? e prossegue numa
rejeição explícita da temeridade do feminismo lésbico em dar ao lesbianismo um significado
político.

É hora de dizer explicitamente que a análise lésbico-feminista
vincula a opressão das mulheres com o gênero, papeis de sexo,
sexualidade, e a orientação sexual é tanto simplista quanto incurável, e
sobrevive a habilidade para abastecer um movimento para a libertação
de mulheres – não apenas lésbicas. 45

A sexualidade da encenação de papeis, como demonstrada em coleções tais como O Desejo
Persistente, imita a felação heterossexual clássica e relações religiosamente a fim de realizar o
potencial dessas práticas para satisfações sadomasoquistas. Uma butch prestativamente explica
a excitação de penetrar para ela: ‘’… foder entre iguais é impassível… Quando nós fodemos, nós
possuímos. Quando nós somos fodidas nos tornamos a posse? 46. Joan Nestle descreve ser fodida
com um dildo, ’’… ela desce e desliza o pênis em mim… ela começa a mover seus quadris em
empurrões curtos e fortes? 47. Pat Califia tem um poema na coleção sobre ela querer ter um pênis
com linhas como ‘’Imagine o dilatado e rígido comprido/empurrado dentro de você,? ’’Fodendo
você até eu chegar/ Ficando em você até eu ficar duro novamente? 48. As palavras usadas para
foder no poema são ’’empurrar, introduzir e arquear?, „furar?, „machucar, preencher e perfurar
em você? 49.

Mais surpreendente que a imitação das relações sexuais brutais é a prática da felação. Ou
seja, o ato da felação em um dildo. Jan Brown explica que a razão para esta prática é que é essa
a definição da dominação e submissão. ‘’Isso é sobre o estímulo de dominar, ter e degradar. Isso
é sobre a feroz necessidade de submeter. De servir a alguém? 50. Nestle também descreve a
felação. Para que não careçam do potencial erótico para a mulher amarrada nisso, Nestle inventa
uma variação. ’’Eu tomo uma das mãos delas e envolvo em torno da base, então ela pode sentir
meus lábios como eu movo nela… lambendo o pênis de lavanda? 51.

As práticas de encenação de papeis, descritas na determinação delas em imitar o sexo
heterossexual tradicional, inclui violência não consensual. O poema acima de Pat Califia sobre
perfurar e machucar também menciona o alcoolismo e violência da butch. Scarlet Woman
escreve sobe o que poderia em um contexto heterossexual ser passível de algumas jurisdições
pela acusação de estupro marital. A mulher acorda ‘’Debaixo de mãos rápidas, alarmada em
excitação instantânea? e ’’Você move mais rápido do que posso acreditar? enquanto ’’Meu
cérebro está dormente? 52. Mas isso é representando como aceitável porque a vítima fica excitada
no decorrer do evento. Talvez não seja surpreendente que quando as dinâmicas da
heterossexualidade são imitadas nas dinâmicas de atividade e passividade, então o estupro é
provável de se tornar uma possibilidade real entre mulheres.

É um segredo aberto entre proponentes do sadomasoquismo lésbico que a sexualidade da
crueldade é vinculada ao abuso sexual de crianças. Praticantes defendem o S/M afirmando que é
esse o único modo que elas podem experimentar o prazer sexual porque seu abuso amarrou
abuso e prazer tão rigorosamente juntos que para elas qualquer possibilidade de um erotismo de
igualdade está impedida. Dos escritos das encenadoras de papeis isso parece bastante claro que
há ligações similares entre a compulsividade da prática do S/M moderado e a opressão das
mulheres. Jan Brown, em The Persistent Desire nos diz que ela trabalhou como uma prostituta
de rua na década de 70. Como uma butch adulta, ela nos diz que ela e suas amigas encenadoras
de papeis mentiram para as feministas para tentarem fazer suas práticas sexuais parecerem
respeitáveis. „Nós explicamos a elas que mesmo que muitas de nós pudessem masturbar em
estupro coletivo, torturar, papai em nossas camas, e outras imagens inegavelmente incorretas,
mas não era nada de se perder o sono? 53. Elas enfatizaram a diferença entre a fantasia e a
realidade, e que elas estavam no controle de suas fantasias. Mas ela diz, „nós mentimos?. Na
verdade, a falta de controle que é atraente. O poder das fantasias mente:

…na luxúria de ser dominada, forçada, machucada, usada,
objetificada. Nós masturbamos o estuprador, o Hell’s Angel
motociclista, o papai, o Nazi, o policial, e todas as outras imagens que
não havia nada a fazer com o tipo de sexo lésbico que implica
murmúrios de carinho, acariciamento de seios, e longo e lento trabalho
de língua. E, sim, nós também sonha mos em tomar. Nós sonhamos com
o sangue em nossas mãos, em rir com os choros de misericórdia. Nós
vestimos o uniforme e a arma; nós arrastamos nossos pênis para fora de
nossas calças para dirigir a um corpo relutante. Algumas vezes,
queremos dar as mãos à estrangulada. Algumas vezes, nós precisamos
ter um pênis tão duro quanto verdadeiro entre nossas pernas, para ter a
liberdade de ignorar o „?não?? ou para ter nosso próprio „?não??
ignorado. 54

Brown explica que as fantasias surgem diretamente da opressão das mulheres porque ‘’muitas
de nós tem graduação na universidade de autodestruição?. Elas são ’’sobreviventes das ruas,
sobreviventes de incesto?, viveram com ‘’namorados abusivos? ou ’’abusavam de substâncias? e
‘’mantinham muitos tipos de cicatrizes?. Mas o sexo que é crueldade erotizada é a salvação delas
e ’’nos mantêm vivas – fora das prisões e enfermarias trancadas, relacionamentos abusivos, e
probabilidade de brigas ruins em bares? 55. Brown explica bastante diretamente o quanto a
encenação de papeis erotiza a verdadeira experiência material da brutalidade.

Um poema em Leitora Femme-Butch cria o mesmo ponto. A narração poética de Sonja
Franeta explica que ela ouvia os sons de seu pai batendo e abusando de sua mãe e ‘’descobriu
como limpar/a ferida diretamente em mim? 56. Ela estava batendo nela mesma. Mais uma vez,
erotizar a crueldade é visto como a solução na qual ’’nossa dor se tornará prazer? e esse tempo é
expresso em cinto de fivela, botas, jaqueta de couro, navalha e ser ’’forte?. A ideia de que a
sexualidade da encenação de papeis, como outras formas de S/M, é um tipo de ritual religioso
de masoquismo que vai salvar ou compensar pela verdadeira dor é um refrão comum.

Não são apenas encenadores de papeis libertários que caem na falácia essencialista. Três
lésbicas radicais separatistas, moradoras de Oakland, Califórnia, que têm perspectivas
inquestionavelmente feministas sobre sadomasoquismo e feminilidade, estão usando a ideia de
butch e femme de modos que compartilham alguns das implicações mais profundas e
problemáticas da perspectiva libertária que nós vimos acima. Bev Jo, Linda Strega e Ruston
atacam o que elas veem como opressão das butchs pelas femmes. Elas não veem butch e femme
como categorias eróticas, de qualquer modo. As definições delas são políticas. Elas veem
butches como ‘’aquelas que, como garotas, rejeitaram a feminização, e recusaram-se a encenar o
papel designado pelos homens para as mulheres? e femmes como ’’aquelas que aceitaram o papel
feminino, em vários graus, como garotas? 57. Elas rejeitam a ideia da encenação de papeis
inteiramente e acreditam que lésbicas devem se abster de qualquer comportamento „masculino?
e ‘’feminino?. Mas elas acreditam que butch e femme são categorias que todas as lésbicas caem,
sem exceção, que elas são as ’’identidades de núcleo básico? que ‘’todas as Lésbicas têm? 58. Elas
perguntam ’’É possível não ser Butch nem Femme? e respondem ’’não? 59.

Elas parecem ter decidido usar o vocabulário de encenação de papeis com a finalidade de
endereçar uma questão de significância política. Esta é a diferença na experiência entre lésbicas
que sempre se viram como lésbicas e lésbicas que ‘’passaram? a adotar roupas femininas ou que
se assumiram lésbicas depois de algum tempo vivendo como heterossexuais e ganhando os
privilégios que as lésbicas de há muito tempo eram incapazes de adquirir. Elas definem as
lésbicas que carregam o padrão da visibilidade lésbica como bravas heroínas da libertação das
lésbicas, e como butches. Joan Nestle, que vem de uma política muito diferente, faz o mesmo
ponto. Realmente, a admiração pelas butches visíveis, expressada pelas novas femmes, parece
emanar de alguma culpa compreensível sobre a suposição dos privilégios de passagem.
Femmes, como muitas delas assinalam, são apenas visíveis quando nos braços de uma butch. Jo,
Strega e Ruston têm uma abordagem diferente. Elas convocam todas as lésbicas a simplesmente
abandonarem os privilégios de passagem e desistirem da feminilidade, então as ’’butches? não
sofreriam mais pela visibilidade delas. Esta é uma solução positiva lésbica mais dinâmica.

Mas o uso delas do vocabulário de encenação de papeis em situações nas quais dificilmente
parece apropriado faz enfraquecer pontos políticos importantes que elas estão fazendo. Para
dizer que crianças a partir de dois anos fazem uma decisão de aceitar ou rejeitar a feminilidade,
estão trancando elas mesmas em um sistema pelo que elas vão durante toda a vida oprimindo
butches ou sendo oprimidas como butches, fazendo ressaibo do essencialismo. Isso aumenta a
rigidez das categorias butch/femme e não permite mudanças. Elas procuram reverter o que elas
veem como a opressão de butches pelas femmes, mas ao fazerem isso, criam uma nova
hierarquia. Butches, que elas veem como bastante raras, possivelmente 5 a cada 100 lésbicas,
são ‘’muito mais próximas de nosso estado inato e natural?, de ser uma fêmea. Femmes nunca
serão capazes de tornarem-se ’’naturais? e então são relegadas a estarem em uma categoria
inferior durante toda a vida. A criação de tais divisões desnecessárias não pode ajudar na
construção da comunidade lésbica feminista. Duas lésbicas que parecem e se comportam
identicamente, ambas em blusa xadrez, jeans e botas, podem, de fato, de acordo com esta
análise, permanecerem em estados de categorias diferentes por todas as suas vidas.

De acordo com isso, esta análise de butches e femmes pode ser identificada pela cognoscente
de observação, mesmo que elas não saibam o que elas são, ‘’Você pode geralmente dizer quando
você conheceu alguém pela primeira vez se ela é Butch ou femme? 60. Algumas pistas para
reconhecer são fornecidas sob o título de ’’Uma Lista Honesta Femme de AutoReconhecimento?. A femme explica que quando ela conhece outras lésbicas, ela sente ‘’menor
diferença com fêmeas?, e com uma butch ela sente uma ’’barreira potencial?. Ela sente ela
mesma ‘’movendo como uma Fem, e automaticamente usando alguns gestos femininos? 61. O que
mais ela percebe é que ’’ativistas feministas gostam de costurar, bordar, cozinhar, e outras coisas
designadas ?trabalho de mulheres? sente que estas coisas que pertencem a ela e à ’’esfera de
ação? dela. Parece que o grande arquétipo no céu está em ação novamente.

O trabalho dessas três lésbicas também contém mais clara e convincente análise feminista tal
como o de Linda Strega do movimento para a feminilidade na comunidade lésbica na década de
80. Linda Strega chama a feminilidade lésbica de ‘’A Grande Definição?. Ela explica que outras
lésbicas ’’verbalmente atacaram? ela em aglomerações sociais sobre por que ela quis ‘’vestir um
uniforme? 62. Neste ataque social no que as lésbicas feministas sempre tenderam a usar, camisa e
jeans, é o paralelo do ataque literário seguido pelas encenadoras de papeis, como Margaret
Nicholls. Como Strega pontua, aquelas que podem com mais justiça serem vistas como vestindo
uniforme, são certamente as lésbicas que escolheram imitar a tradicional feminilidade designada
pelos machos. De alguma maneira, as recentes lésbicas feministas se veem como
verdadeiramente corajosas por mudarem uma pequena fração do mundo ocidental que não
aplica a feminilidade compulsória em mulheres lésbicas feministas. Strega sugere que mais do
que ser um ato de heroísmo, o retorno à feminilidade é sobre ’’passar? para ganhar privilégio.

No fim dos anos 80, se tornou mais e mais difícil declarar que tal e tal mulher ’’parece uma
lésbica?. Protestantes lésbicas irritadas diriam que não há nenhuma coisa como „de que modo
uma lésbica se parece?. Bem, como Strega, eu penso que não é assim. Há uma tradição histórica
de lésbicas rejeitando a feminilidade de diferentes formas, e diferentes extensões, mas a rejeição
da feminilidade tem sido, como eu sugiro, um tema comum. Lésbicas tendem a declarar
dignidade humana contra as indignidades sociais da feminilidade designada pelo macho.
As lésbicas em discotecas feministas nos anos 70 e começo dos anos 80 não pareciam muito
diferentes das lésbicas de discotecas tradicionais, camisa, camiseta e jeans predominavam, e
cabelo curto. A estratégia política de parecer como lésbicas é mais do que apenas um desejo
pessoal de estar aquecida, confortável e na posse de liberdade de ação, muito útil em um mundo
onde homens atacam mulheres. Esta é uma estratégia importante para a criação da liberdade
lésbica. No local de trabalho, em suas famílias de origem, na rua, lésbicas que „parecem como
lésbicas?, e seus agressores sabem o que significa estar em risco. Por mais que lésbicas e
mulheres rejeitem a feminilidade, mais fácil se torna para outras mulheres escapar das normas
femininas degradantes, e mais difícil se torna a discriminação contra lésbicas.

A nova encenação de papeis é o fundamentalismo do lesbianismo. Como o fundamentalismo
em todas as religiões patriarcais, fundado sobre e designado para manter a opressão das
mulheres através da aplicação da dominação masculina e submissão feminina, assim também é a
encenação de papeis lésbica. Isso requer o mesmo embasamento próprio entusiástico das
mulheres e alcança isso. Isso é explicado pela mesma mitologia de biologia ou yin e yang. A
encenação de papeis lésbica precisa ser explicada como parte do muito grave, em todo o mundo,
backlash contra a libertação de mulheres, na qual algumas mulheres são, assim, abraçando a
opressão delas com obediência servil e repetição compulsiva, mas muito mais estão se
rebelando. A dança erótica da encenação de papeis, o ritmo da escravidão, a dominação
masculina e submissão feminina, um velho ritmo, de fato, mas não natural.

Notas:
1. Veja Alderson, Lyn e Wistrich, Harriet (1988). ‘’Cláusula 29: Perspectivas Radicais Feministas?. Em
Apuros e Conflitos. No. 13. PP. 3-8. 1. (Durante a passagem a Seção 28 se torna, em um ponto, Cláusula
29.
Em 1987 houve uma conferência de estudos gays e lésbicos em Amsterdam, na qual o tema
era ’’Essencialismo versus construcionismo social?. Isso parecia ser uma controvérsia que estava
pressionando aqueles que planejaram a conferência. A introdução dos papeis coletados afirma
‘’Há uma década há uma crescente controvérsia entre estudiosos gays e estudiosas lésbicas,
centrada entre duas teorias científicas rivais e suas implicações para a homossexualidade:
essencialismo e construcionismo.
2. Altman, Dennis et al (Eds.) (1989). Que Homossexualidade? Londres: Imprensa dos Homens Gays.
Introdução p. 6.
3. Campaign (1992). ’’Nós Nascemos Para Ser Gay?? No. 199. p. 69. Outubro. Austrália.
4. Ibid.
5. Jo, Bev, Strega, Linda e Ruston (1990). Dykes Amam-Dykess. Oakland, California: Battleaxe. p. 168.
6. Ibid.
7. Wolf, Naomi (1990). O Mito da Beleza. Londres: Vintage.
8. Para uma descrição da minha decisão de tornar-me uma lésbica política, veja: Holdsworth, Angela
(1988). Fora da Casa de Bonecas. Londres: BBC Publicações. Minhas razões estão citadas nos capítulos 7 e 8.
9. Nestle, Joan (1988). Um País Restrito: Ensaios e Histórias Curtas. Londres: Sheba. p. 124.
10. Penelope, Julia (1984). ‘’Que Passado Estamos Reivindicando?? Vidas Comuns, Vidas Lésbicas. No. 13. p. 42.
11. Koertge, Noretta (1986). ’’Butch Imagens? 1956–86.? In Éticas Lésbicas. Vol. 2. No. 2.
p. 103.
12. Ibid.
13. Austin, Paula (1992). ‘’Femme-inismo.? In Nestle, Joan (Ed.). O Desejo Persistente.
Boston: Publicação Alyson, p. 362.
14. Ibid. p. 363.
15. Ibid. p. 365.
16. Nestle, Joan (1992b). „My Woman Poppa.? p. 348.
17. Califia, Pat (1992b). „O Poema Femme.? p. 418.
18. MacCowan, Lyndall (1992). ’’Re-coletando Historia, Renomeando Vidas: Estigma Femme e a Feminista dos anos
Setenta e Oitenta.? p. 309. In Nestle, Joan. p. 309.
19. Ibid. p. 311.
20. Loulan, JoAnn (1990). A Dança Erótica Lésbica. São Francisco: Spinsters. p. 193.
21. Ibid. p. 194.
22. Bolen, Jean Shinoda citada em Loulan, JoAnn (1990). p. 17.
23. Ibid. p. 20.
24. Ibid. p. 29.
25. Ibid. p. 43.
26. Veja o capitulo ‘’A Invenção da Mulher Frígida? no meu livro (1985). A Celibatária e Seus Inimigos.
27. Citado em Loulan, JoAnn (1990). p. 98.
28. Ibid. p. 49.
29. Ibid. p. 50.
30. Wieringa, Saskia (1989). ’’Uma Crítica Antropológica do Construcionismo:
Berdaches e Butches.? In Altman, Dennis et al (Eds.). Que Homossexualidade? p. 215.
31. Loulan, JoAnn (1990). p. 48.
32. Ibid. p. 102.
33. Ibid. p. 102.
34. MacCowan, Lyndall (1992). p. 318.
35. Ibid. p. 323.
36. Raymond, Janice G. (1986). Uma Paixão para Amigas: Relativo à Filosofia da Afeição Feminina. Londres: A
Imprensa das Mulheres, p. 12. Boston: Beacon Imprensa.
37. Loulan, JoAnn (1990). p. 73.
38. Ibid. p. 76.
39. Veja meu capitulo (1989). ‘’Butch e Femme: Agora e Depois?. No Grupo de História Lésbica (Eds.). Não é Uma
Fase Passageira. Londres: A Imprensa das Mulheres.
40. Mushroom, Merrill (1983). ’’Confissões de uma Butch Dyke.? Vidas Comuns, Vidas Lésbicas. No. 9. p. 43.
41. Loulan, JoAnn (1990). p. 203.
42. Davis, Madeline (1992). ‘’Epilogo, Novo Anos Depois.? In Nestle, Joan (Ed.) p. 270.
43. Istar, Arlene (1992). ’’Femme-Dyke.? In Nestle, Joan (Ed.) p. 382.
44. MacCowan, Lyndall (1992). p. 306.
45. Ibid. p. 306.
46. Brown, Jan (1992). ‘’Sexo, Mentiras e Penetração: Uma Butch Finalmente “Admitem”.? Em Nestle, Joan (Ed.) p.
411.
47. Nestle, Joan (1992). ’’Minha Mulher Papai.? p. 350.
48. Califia, Pat (1992). ‘’Gênero Fode Gênero.? Em Nestle, Joan (Ed.) p. 423.
49. Ibid. p. 424.
50. Jan Brown (1992). p. 413.
51. Nestle, Joan (1992). ’’Minha Mulher Papai.? p. 349.
52. Scarlet Woman (1992). ‘’Role Sobre Mim e Me Traga uma Rosa.? Em Nestle, Joan (Ed.).
O Desejo Persistente. p. 352.
53. Brown, Jan (1992). p. 411.
54. Ibid. p. 412.
55. Ibid.
56. Franeta, Sonja (1992). ’’Bridge Poem.? In Nestle, Joan (Ed.). The Persistent Desire.
p. 375.
57. Jo, Bev, Strega, Linda, and Ruston (1990). pp. 140–141.
58. Ibid. p. 139.
59. Ibid. p. 157.
60. Ibid. p. 147.
61. Ibid. pp. 150–151.
62. Ibid. p. 163.

O Terapismo Sexual Lésbico

Las terapeutas sexuales forman parte de la pujante industria norteamericana del sexo para lesbianas. Las nuevas terapeutas sexuales lesbianas libertarías se dedican a la construcción de un tipo de sexo lesbiano lo más parecido posible a la versión heterosexual. Reciclan para las lesbianas los viejos dogmas de la ideología de la supremacía masculina. Intentan convencerlas de su deficiencia sexual, de su erotofobia, de su heterofobia y, en general, de su incapacidad para el sexo, sobre todo en comparación con los varones gays. Estas terapeutas sexuales lesbianas se dedican a reconstruir el sexo lesbiano a través de la imposición de algo que yo denomino “deseo heterosexual”, a saber, un deseo que connota eróticamente la desigualdad.

Quienes comercian con el sexo lesbiano pretenden dar la impresión de estar prestando un servicio vital y desinteresado a la retrasada comunidad lesbiana. Se consideran a sí mismas caballeros de brillante armadura, portadoras de una “revolución sexual” para las lesbianas. Pero esta “revolución sexual” lesbiana no resulta más positiva para la libertad de las lesbianas de lo que resultó ser la revolución heterosexual para la libertad de

105 Monique Wittig, The Straight Mind and Other Essays, Boston, Beacon Press, 1992, pág. 7. 106 Sheila Jeffreys, Anticlimax, 1990, pág. 251.

31

las mujeres heterosexuales. Los valores y la ideología de ambas son muy parecidos, cosa nada sorprendente. Las terapeutas sexuales lesbianas se formaron en institutos presididos por varones que, asimismo, formaron a terapeutas sexuales heterosexual es para que aquéllos a su vez contagiaran a las mujeres heterosexuales díscolas los valores de la sexología: el dominio masculino y la sumisión femenina. La revolución sexual lesbiana no nace del espacio independiente que las feministas lesbianas han intentado crear desde principios de los 70. Está impregnada de la misoginia propia de los anticuados valores patriarcales.

Se podría objetar que todo el mundo académico detenta los valores de la supremacía masculina y que los institutos dedicados al estudio de la sexualidad humana y a la formación de terapeutas sexuales no son lugares más adversos para la formación de una lesbiana que, digamos, un departamento de historia. No obstante, si, de acuerdo con mi argumentación en mi obra Anticlimax, partimos de que el coito es el fundamento de todas las demás relaciones sociales del sistema de supremacía masculina, y de que la orquestación y la manipulación de este acto contribuyen de manera significativa a perpetuar la subordinación femenina dentro y fuera del hogar, entonces un instituto sexológico se convierte en un lugar ligeramente más peliagudo para la formación de una lesbiana que un departamento de historia. La alumna lesbiana consciente podría sencillamente rehusar los valores" de la ciencia política masculina de la sexología, pero entonces no podría ganarse la vida. Al comenzar a ejercer como terapeutas sexuales, los profesionales ya habrán adoptado ciertos valores fundamentales de la sexología que de hecho dominan su trabajo.

EL IMPERIALISMO SEXUAL

Todos los profesionales de la terapia sexual participan de la idea de que el sexo no debe someterse a un análisis político. En su opinión, la práctica sexual es una cuestión total mente individual y privada, sin relación alguna con el mundo más allá de la alcoba. La importancia vital de esta idea para la sexología machista resulta obvia. La actual construcción del sexo sirve a los intereses de los varones y cualquier cuestionamiento pone estos intereses en peligro. La idea de la neutralidad política de la práctica sexual se traslada a la sexología lesbiana. Las teóricas lesbianas y los teóricos gays que se definen como seguidores de un construccionismo social progresista no defienden habitualmente la actual construcción del sexo calificándola de “natural” – aunque a menudo parecen hacerlo de forma implícita-, y, en cambio, están dispuestos a recurrir a una defensa igualmente eficaz, a saber, que el sexo es un asunto “privado”. A quienes pensamos que el sexo debe someterse a un análisis feminista riguroso, como cualquier otro campo de actividad humana, se nos considera enemigas del sexo y hasta de la propia liberación lesbiana.

La terapeuta sexual lesbiana JoAnn Loulan pretende tomar una postura “moralmente neutral”. El capítulo “Lo que hacemos en la cama” de su libro Lesbian Sex comienza de la siguiente manera:
Siempre hay alguien que enjuicia toda posible actividad sexual calificándola de no ser verdadero sexo, de asquerosa, insípida, poco higiénica, incorrecta, identificada con los varones, anormal, repulsiva, tonta, demasiado violenta, demasiado suave, demasiado agresiva, demasiado pasiva, demasiado parecida al sexo heterosexual, etcétera. Algunas personas creen que para ser lesbiana hay que practicar el sexo de una manera determinada. El sexo lesbiano comprende cualquier actividad que dos lesbianas realicen juntas. El control de nuestra propia conducta sexual y de la de las demás sólo sirve a los intereses de nuestros opresores107.

La palabra “control” remite a las actividades de los grupos de presión conservadores, que representan la moral mayoritaria y que están ansiosos de prohibir por ley ciertas actividades sexuales y de encerrar a los transgresores. Lo cual dista mucho de un análisis político feminista y, sin embargo. Loulan incluye este análisis como otra parte más de la opresión de las mujeres. Esta confusión intencionada entre la crítica feminista y la censura de derechas impide a las lesbianas la discusión política de su práctica sexual. ¿Qué lesbiana quisiera ser tildada de opresora de las mujeres?

Algunas terapeutas lesbianas son capaces de cualquier cosa para evitar la intrusión de un análisis político feminista en su trabajo. Resumiendo los problemas que las terapeutas lesbianas afrontan en su trabajo con la sexualidad, Susan Hamadock alude al obstáculo que supone el feminismo: “En algunos casos, los conflictos no resueltos entre nuestra política feminista radical y determinadas formas de expresión, como el S&M, incrementan nuestra reticencia a incluir la sexualidad en nuestro trabajo como terapeutas”108. Hamadock decidió desarrollar su “ideal de las cualidades útiles para las clientas” que define como “calidez, interés, objetividad y aceptación”. Con este fin participó en un “inestimable proceso de formación” denominado Reevaluación de las actitudes sexuales (Sexual Attitudes Reassessment), que consiste en “una explícita presentación multimedia de todos los aspectos de la conducta sexual humanas”109. Al parecer, la RAS liberó a

107 JoAnn Loulan, Lesbian Sex, San Francisco, Spinsters, 1984, página 47. 108 Susan Hamadock, “Lesbian Sexuality in the Framework of Psychotherapy”, en Ellen Cole y Esther Rothblum (comps.), Women and Sex Therapy, NY, Harrington Park Press, 1988. 109 Ibíd., pág. 211.

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Hamadock de cualquier molesto residuo de política feminista en el campo de la sexualidad. Es conveniente que la sexología machista convencional disponga de este tipo de herramientas para las terapeutas turbadas por el feminismo.

Pero no todas las terapeutas lesbianas pretenden situarse en este relativismo moral. Otras manifiestan sin rodeos sus prejuicios y parece que los imponen a sus clientes. Margaret Nicholls se define como feminista, proclamando orgullosa su rechazo de lo que para ella representa una práctica sexual feminista incorrecta.

Me opongo a las relaciones sexuales lesbianas políticamente correctas… Dos mujeres se tumban lado a lado (queda estrictamente prohibido ponerse encima o debajo: las lesbianas no deben tener jerarquías); durante varias horas se acarician con suavidad y dulzura por todo el cuerpo110.

A primera vista resulta difícil saber qué hay de malo en este retrato. Sin embargo, no se ajusta a la agenda política de Nicholls. No es cierto que para las terapeutas sexuales lesbianas todo vale. Tienen sus propios prejuicios que se dirigen a menudo contra lo que ellas consideran un feminismo desorientado.

En un reciente libro muy esclarecedor, Changing Our Minds: Lesbianism, Feminism and Psychology Cambiar

nuestras mentes: lesbianismo, feminismo y psicología
, sus autoras, Celia Kitzinger y Rachel Perkins, analizan las repercusiones de las ideas y de la práctica de una floreciente industria terapéutica sobre el lenguaje y los conceptos del pensamiento feminista, en detrimento de un análisis político. Estas terapeutas aseguran haber aportado relativismo moral a la comunidad terapéutica, al suprimir las palabras “debería”, “tendría que”, “correcto” e “incorrecto” y sus correspondientes juicios morales. Kitzinger y Perkins mantuvieron una conversación con JoAnn Loulan y con otra terapeuta sexual lesbiana norteamericana, Marnie Hall, para la revista Feminismo and Psychology. Dice Marnie Hall: “En cambio, ‘correcto’ e ‘incorrecto’ representan una dualidad patriarcal… Son como el cielo y el infierno, el pecado y la redención… Creo que acabamos destruyéndonos mutuamente por creer que algo está mal”. Celia Kitzinger reivindica en su respuesta la necesidad de poder hablar de correcto e incorrecto:

… cualquier intento de construir los conceptos de correcto e incorrecto, o sea, una ética lesbiana. Todo esto queda anulado en el encuadre psicológico que dice: “Todo lo que excita, vale” o “Sobre gustos no hay nada escrito”. Dentro de este encuadre resulta prácticamente imposible hablar de correcto o incorrecto sin que tu ética sea tildada de incapacidad psicológica111.

LA ERÓTICA DE LA DESIGUALDAD

Algunas terapeutas sexuales lesbianas promocionan la connotación erótica de la desigualdad o lo que yo denomino el deseo heterosexual. Han asumido por completo el principio sexológico de que la igualdad nunca puede resultar excitante. Defienden el sadomasoquismo en revistas de sexo para lesbianas y en publicaciones especializadas, aportando de esta manera una importante justificación seudo-científica para esta práctica. Estas terapeutas califican de mojigatas y pusilánimes a las mujeres que se resisten a aceptar cualquier práctica sexual. Inician a las parejas lesbianas en la práctica del S/M con el fin de introducir un nuevo erotismo en sus relaciones. En la revista Bad Attitude, Carolyn Stack define la función de la terapeuta. Según Stark, los problemas con que las lesbianas acuden a una terapeuta están cambiando. El problema más frecuente solía ser que una de las dos quería más sexo que la otra. Ahora, es probable que una de las dos quiera practicar el S/M y la otra no. No especifica de qué manera ayuda ella a resolver este problema. Cabe deducir, dados nuestros conocimientos sobre la terapia sexual y sobre la actitud aparentemente positiva hacia el S/M reflejada en su artículo, que utiliza su autoridad en favor de la lesbiana S/M y no de su pareja reacia112.

Stack nos recomienda el fetichismo, la pornografía, el sadomasoquismo y la lluvia dorada como posibles soluciones a la espantosa condición de erotofobia, que consiste precisamente en una sensación de incomodidad respecto a estas actividades. En la actualidad la palabra “erotofobia” se ha convertido en un término genérico para señalar la disconformidad de una mujer con cualquier tipo de actividad sexual. La propia crítica política feminista podría considerarse erotofobia. Los sexólogos varones, al referirse a las mujeres heterosexuales, han empleado tradicionalmente los conceptos de “frigidez” o de “inhibición” con el mismo propósito: minar la oposición a una práctica sexual no deseada.

Margaret Nicholls enseña la práctica del sadomasoquismo con el fin de estimular la actividad sexual en relaciones de larga duración. Se define como potenciadora del sexo y afirma que “es fundamental que las terapeutas nos encarguemos de ayudar a las mujeres gays a renovar y reanimar su sexualidad decaída”113.

110 Margaret Nicholls, “Lesbian Sexuality: Issues and Developing Theory”, en Boston Lesbian Psychologies Collective (comps.), Lesbian Psychologies, Univ. of Illinois Press, 1987. 111 Marny Hall, Celia Kitzinger, JoAnn Loulan y Rachel Perkins, “In Conversation”, Feminism and Psychology, vol. 2, núm. 1, 1992, páginas 7-25. 112 Carolyn Stack, “Lesbian Sexual Problems”, Bad Attitude, primavera 1985, pág. 21. 113 Margaret Nicholls, “Doing Sex Therapy with Lesbians: Bending a Heterosexual Paradigm to Fit a Gay Lifestyle”, en Boston Lesbian Psychologies Collective (comps.), 1987, pág 256

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Resume así las posibles formas de potenciación:
La literatura o los medios audiovisuales eróticos pueden ayudar a las lesbianas a potenciar su vida sexual… tal vez algunas parejas quieran fomentar o estimular el uso de los fetiches; los juegos con cuero, látex o ciertas piezas de

ropa. Otras pueden encontrar excitación experimentando con técnicas menos corrientes y más licenciosas, como el S/M, el bondage, el uso de la orina, etcétera114.

Nicholls no se plantea posibles contraindicaciones, como que la clienta posea una historia de abusos sexuales, la posible existencia de violencia y coacción dentro de la relación, el impacto de la práctica sexual sobre la dinámica de la relación o la importancia del sexo seguro y la prevención de graves daños físicos. Se acerca a la práctica sexual del mismo modo que la sexología tradicional: como si existiera en un vacío intemporal de diversión inocente, alejada del resto de la vida de quienes la practican. En opinión de Nicholls, el sadomasoquismo es tan positivo que incluso sus detractoras dentro de la comunidad lesbiana acabarán beneficiándose de su adopción. Será una medida positiva para todas nosotras.

… puede significar la liberación de nuestra sexualidad, un intento de apertura, de expansión, un realce de nuestra técnica sexual y de nuestro potencial erótico y como tal puede ser exactamente lo que necesitamos en este momento. Incluso las lesbianas que no se interesan por el S/M y sus variantes acabarán beneficiándose de la apertura sexual que esta tendencia anuncia a nuestra comunidad115.

Nicholls recomienda asimismo la recuperación de otros elementos de dominio y sumisión de la práctica heterosexual, con el fin de superar el problema de la apatía sexual. Las lesbianas “tienden en menor medida a presionar a su pareja reacia a la práctica sexual… comparadas con los varones”; considerando la coacción sexual como un “comportamiento masculino y, por tanto, agresivo y abusivo”116. Nicholls opina que, “en contra de nuestra convicción feminista, tal vez cierta presión beneficie la relación”. De esta manera Nicholls pone en entredicho el importante principio feminista según el que “si significa sí, y no quiere decir no”. Propone asimismo que, por el bien de su salud sexual, las parejas de lesbianas deben “pelearse” más a menudo. De esta manera se atenúa el problema de un vínculo demasiado estrecho entre el sexo y el amor. Nicholls utiliza “la ausencia de peleas en una relación lesbiana como clave para el diagnóstico de una sexualidad de baja intensidad, incluso si las integrantes de la pareja no han abordado este problema de forma explícita; y casi nunca me equivoco”117. ¿Querrá decir que los malos tratos favorecen el sexo?

La intimidad de las lesbianas constituye otra dificultad para la frecuencia sexual. Puede “perjudicar el deseo sexual” puesto que éste requiere una “barrera”, “algún tipo de tensión, un tabú, una diferencia, una divergencia de poder, un componente romántico, la intriga de lo nuevo o la emoción de la caza: cierto desequilibrio”118. Nicholls ofrece aquí una definición bastante acertada del deseo heterosexual: El deseo heterosexual se apoya en la connotación erótica de lo otro y de la diferencia de poder. Las lesbianas tienen el problema de que no pertenecen a distintas clases sexuales y de que la dinámica del dominio y de la sumisión no forma parte de su relación. Por consiguiente, corren el peligro de experimentar una “disminución o desaparición de las diferencias individuales”: un problema relacional, denominado “fusión o convergencia” por las terapeutas lesbianas estadounidenses, que requiere terapia.

En lugar de celebrar las diferencias entre las lesbianas y el mundo heterorrelacional y de sentirse orgullosa de nuestra capacidad de establecer vínculos íntimos, Nicholls reprocha a las lesbianas su desconocimiento de la dinámica de poder de la cultura patriarcal. El tratamiento terapéutico de un exceso de intimidad consiste en “introducir otros ti- pos de barreras/tensión/diferencia en nuestra relación”119. Lo cual se consigue “mediante el uso de juguetes y accesorios sexuales, cierta vestimenta, el S/M (potenciando al máximo las diferencias entre las dos partes de la pareja), los rituales sexuales con nuestra pareja, así como los encuentros casuales”. En resumen, las lesbianas deben procurar volver a las diferencias de poder que caracterizan el modelo heterosexual. Al parecer estas ideas se han convertido ya en la opinión ortodoxa dentro de la comunidad lesbiana. En su libro Odd Girls and Twilight Lovers, Lillian Faderman da por hecho que “el deseo sexual requiere algún tipo de "barrera”120. Ahí se demuestra el poder de la terapia sexual en la elaboración de las ideas de las lesbianas sobre el sexo.

No resulta extraño que Nicholls se muestre asimismo partidaria de los juegos de roles butch/femme, ya que éstos se prestan igualmente a la connotación erótica de las diferencias de poder. En su libro más reciente, The Lesbian Erotic Dance, JoAnn Loulan, la terapeuta sexual lesbiana más conocida de los EE.UU., abraza los juegos de roles entre

114 Ibíd., págs. 258-259. 115 Margaret Nicholls, “Lesbian Sexuality: Issues and Developing Theory”, en Boston Lesbian Psychologies Collective (comps.), 1987, pág. 113. 116 Ibíd., pág. 103. 117 Ibíd., pág. 104. 118 Ibíd., pág. 106. Nicholls cita aquí a C.A Tripp, The Homosexual Matrix, Nueva York, McGraw Hill, 1975. cast.: La cuestión homosexual, Madrid, Edaf, 1978.. 119 Ibíd., págs. 107-108. 120 Lillian Faderman, Odd Girls and Twilight Lovers. A History of Lesbian Life in Twenthieth-Century America, NY, Columbia Univ. Press, 1991, pág. 248. [Versión cast. en preparación.

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lesbianas. Da las gracias a las otras lesbianas por ayudarle a “comprender que en realidad siempre he sido una femme y que estoy orgullosa de serlo”121.· Loulan asegura que los juegos de roles representan la principal dinámica sexual lesbiana, y tal vez la única. Rechaza el análisis político de los juegos de roles de las feministas y afirma que las lesbianas no identificadas de alguna manera con butch o femme, sencillamente se niegan a sí mismas y son hipócritas. En un capítulo posterior volveremos sobre sus ideas acerca de los juegos de roles.

LA NECESIDAD SEXUAL

Otro concepto generalmente aceptado por las terapeutas lesbianas es el de la “necesidad” sexual. Los sexólogos varones, para quienes el sexo es un mecanismo para el ejercicio del dominio masculino y la reafirmación de la subordinación femenina, consideran la actividad sexual necesariamente como un factor esencial para la salud humana. Durante el último siglo los sexólogos han presagiado terribles males a las mujeres reacias a practicar el sexo con los varones. Actualmente las terapeutas sexuales nos lanzan mensajes análogos. En un capítulo dedicado a las mujeres menopáusicas que sufren molestias durante su actividad sexual. Pat Califia afirma que “es importante mantener la actividad sexual. Un orgasmo al día, bien con una pareja, bien a través de la masturbación, conserva el tono muscular de la pelvis y la salud de la vagina”122. Naturalmente las “necesidades” son una construcción social. El sexo no es una necesidad biológica como el alimento o el agua. Las terapeutas sexuales lesbianas actuales están construyendo estas “necesidades” sexuales para lesbianas.

La terapeuta sexual Carolyn Stack expone en Bad Attitude su visión de la trágica situación de las lesbianas.

Las estadísticas confirman que la actividad sexual de las lesbianas, consideradas como grupo, es menor que la de los hombres gays, los hombres heterosexuales o las mujeres heterosexuales. Las parejas lesbianas llevan a menudo años sin contacto sexual alguno o con un contacto sexual muy irregular. Según una opinión muy extendida en nuestra comunidad, el sexo se agota inevitablemente en cualquier relación con la desaparición de la atracción erótica inicial. Algunas lesbianas pueden pasar años sin pareja y sin sexo123.

Para Stack la falta de actividad sexual representa un problema evidente que requiere terapia. Posiblemente no lo sea, para las lesbianas afectadas, hasta que se enfrentan con la coacción de la industria del sexo para lesbianas. Stack denomina “atrofia erótica” al diagnóstico de carencia de sexo, un término nada agradable para algo que ninguna lesbiana que se precie querrá padecer.

Resulta interesante observar que, para la sexología, las lesbianas se han convertido en el nuevo colectivo de mujeres rebeldes. A lo largo del último siglo, los sexólogos y autores de manuales sexuales en general han estado obsesionados por la falta de entusiasmo que mostraban las mujeres heterosexuales por la actividad sexual y concretamente por el coito con los varones. Actualmente parece que, tanto las lesbianas como las mujeres heterosexuales, participan de cierta resistencia a conceder la debida importancia al sexo dentro de sus relaciones. Este hecho debería dar que pensar a las feministas. ¿Por qué suponer siempre que las mujeres somos el problema y que nosotras, heterosexuales o lesbianas, debemos reciclamos? Tal vez debamos reflexionar sobre la sexualidad en su totalidad poniendo en entredicho el concepto de “necesidad” sexual utilizado para tildar de “deficientes” a las mujeres, e intentando comprender la dimensión política de la sexualidad.

LA COSIFICACIÓN

Otro concepto fundamental de la terapia sexual machista y también de la lesbiana es el de la cosificación. Durante mucho tiempo las feministas han criticado la pornografía masculina por cosificar a las mujeres, es decir, por convertirlas en objetos de consumo para los varones. Estos aprenden a considerar a las mujeres como meros objetos que sirven para la escenificación de sus fantasías. Los varones pueden cosificar a las mujeres porque éstas constituyen la clase subordinada y viven en un estado de subordinación, convirtiéndose así en las víctimas de la pornografía y de la prostitución, de la violación y de los abusos sexuales. En el ejercicio de la cosificación los miembros de la clase opresora consiguen desestimar cualquier elemento de la común condición humana que los une a sus víctimas y que podría llevarlos a identificarse con ellas. Así ocurre en la guerra, cuando los reclutas aprenden a cosificar al enemigo para poder matarIo, proceso utilizado en la guerra del Vietnam. La sexualidad masculina gira en tomo a la cosificación. El deseo sexual de la cosificación parte de la mente y del imaginario. Los varones fantasean sobre lo que les gustaría hacer y con quién y, después, salen al encuentro del objeto adecuado.

La nueva industria del sexo para lesbianas y las nuevas terapeutas sexuales lesbianas se han dedicado a la construcción de un tipo de sexo cosificador para las lesbianas. Estas deben ayudarse con fantasías y pornografía y deben representar estas fantasías con sus amantes. Además, ahora deben disponer de ciertos objetos y saber qué hacer con ellos. El libro Sapphistry, de Pat Califia, es un excelente ejemplo de este modelo. Comienza con un

121 JoAnn Loulan, The Lesbian Erotic Dance, San Francisco, Spinsters, 1990, pág. ix. 122 Pat Califia, Sapphistry: The Book of Lesbian Sexuality, Tallahassee, Naiad Press, 1988, pág. 80. 123 Carolyn Stack, Bad Attitude; 1985, pág. 21.

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capítulo sobre “El imaginario erótico” y consta de una selección de fragmentos de las fantasías sexuales de algunas lesbianas. Califia afirma que: “Una experiencia sexual se produce por la interacción entre nuestras fantasías, nuestras reacciones emocionales y la sensación física”124. Aunque esta afirmación no sea necesariamente cierta para la sexualidad en general, lo es para la sexualidad cosificadora. La sexualidad lesbiana puede surgir de la apasionada interacción emocional y física con otra mujer, sin que intervengan de manera consciente fantasías ni guiones sexuales. En esta interacción sexual, las lesbianas pueden aprender el sexo la una de la otra y junto con la otra, a través de la exploración mutua de sus cuerpos. Se trata de un modelo de sexualidad distinto. Califia es la máxima exponente estadounidense del sadomasoquismo, una práctica que requiere obligatoriamente la cosificación. Califia puntualiza que las sadomasoquistas pueden establecer relaciones con ambos géneros, ya que lo único importante es el guión representado. También se pueden utilizar animales; un capítulo del libro está, de hecho, dedicado a los animales.

Loulan también defiende la cosificación. Con respecto a las fantasías afirma: “En vez de rechazar tus fantasías creyéndolas incorrectas, trata de abrazarlas como un regalo que puede mejorar tu vida sexual”125. A su modo de ver, las lesbianas están en su derecho de imaginarse estar haciendo el amor con otra persona mientras están con su amante. Dice así: “Depende de ti, si quieres contado a tu pareja o no… Decidas lo que decidas, recuerda que tienes derecho a una vida de fantasías secretas"126. A Ia compañera de la lesbiana entregada a sus fantasías, Califia le da el siguiente consejo: “Si tu pareja reconoce tener fantasías eróticas mientras está contigo, debes sentirte halagada antes que celosa”127. Ambas terapeutas sexuales lesbianas defienden decididamente la cosificación, una forma de sexualidad que constituye la base del abuso y de la explotación sexual.

Uno de los cambios que estas terapeutas sexuales lesbianas quisieran provocar en la conducta de las lesbianas es la disociación del vínculo que acostumbramos establecer entre el sexo y el sentimiento. Carolyn Stack lo explica así:

Creo que es importante que las mujeres aprendan a separar su vida emocional de su sexualidad más de lo que acostumbran hacer… La lucha por la liberación sexual en nuestra comunidad, reflejada en la reciente publicación de revistas de o sexo lesbiano y la polémica en torno a la pornografía y el sadomasoquismo, es una manera de disociar los vínculos sexuales de los amorosos y de nombrar nuestro erotismo128.

Stack nos anima, por tanto, a separar el sexo del sentimiento amoroso. Las actividades que propone van unidas a sentimientos de odio, de ira, de desprecio, de indiferencia y de alienación. Los seres humanos no somos máquinas y, en consecuencia, no podemos representar el sexo sin sentimientos. Ahora bien, podemos elegir los sentimientos que quisiéramos ver relacionados con el sexo, y éstos pueden ser positivos o negativos. Algunas terapeutas sexuales lesbianas defienden los ligues de una noche como remedio a la atrofia que acusan las relaciones de larga duración. Para lo cual las lesbianas han de aprender nuevas y eficientes formas de cosificación.

ANTILESBIANISMO

Todas las ideas sexológicas apuntadas hasta el momento pueden considerarse contrarias al lesbianismo, ya que no conducirán a la liberación de las lesbianas. Pero algunas terapeutas sexuales lesbianas son más explícitas en su desprecio de las lesbianas que otras. En efecto, Margaret Nicholls se define como bisexual. A su modo de ver, las lesbianas padecen una lamentable deficiencia sexual. Nos describe como “sexualmente reprimidas en el fondo"129. Salimos especialmente mal paradas cuando nos compara con los varones gays, que integran el grupo social menos reprimido sexualmente.

Tenemos más conflictos sexuales que los varones, ya sean gays o heterosexual es, un deseo sexual menos desarrollado y menos recursos para expresar nuestras necesidades sexuales. Nuestras relaciones representan el emparejamiento de dos individuos con una relativa inhibición sexual; por tanto, no es extraño que el contacto sexual se produzca con menor frecuencia en nuestras relaciones que en las heterosexuales o las de los varones gays… Asimismo, nuestras prácticas sexuales son menos variadas que las de los gays e, incluso, posiblemente que las de las parejas heterosexuales130.

De acuerdo con este modelo, el sexo sería aceptable solamente en aquellos casos donde intervienen uno o más varones. Sólo ellos saben realmente cómo practicar el sexo y no es sólo que los varones tengan penes, sino que tienen, de alguna manera, la exclusiva del buen sexo en todos los aspectos. Nicholls sostiene que las lesbianas deben imitar a los varones gays: “La sexualidad lesbiana requiere una orientación más ‘masculina’ que le dé mayor énfasis

124 Pat Califia, 1988, pág. 1. 125 JoAnn Loulan, 1984, pág. 62. 126 Ibíd. 127 Pat Califia, 1988, pág. 12. 128 Carolyn Stack, 1985, pág. 21. 129 Margaret Nicholls, “Lesbian Sexuality: Issues and Developing Theory”, en Boston Lesbian Psychologies Collective (comps.), 1987, pág. 100. 130 Ibíd.

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al sexo y menos importancia a la historia amorosa"131. Cualquier feminista lesbiana apreciará a simple vista el antilesbianismo de una argumentación basada en la inferioridad de las lesbianas con respecto a los varones heterosexuales o gays. Nicholls reniega escrupulosamente de toda interpretación que una perspectiva feminista pudiera aportar a la construcción de la sexualidad. Las lesbianas son sencillamente inferiores a los varones y deben parecerse más a ellos.

LA NECESIDAD DEL CONSOLADOR

Es de agradecer que algunas terapeutas sexuales lesbianas rechacen gran parte de los supuestos machistas sobre el sexo como, por ejemplo, el modelo centrado en la consecución del clímax rápido. Loulan rehúsa la idea opresiva de que toda actividad sexual deba ir siempre encaminada hacia el orgasmo y tener a éste como finalidad última. Por otra parte, la terapia sexual lesbiana promociona ampliamente el uso de-los consoladores. Las nuevas revistas sexuales para lesbianas anuncian los consoladores y explican cómo adquirirlos. En caso de cualquier problema durante su uso, las terapeutas ofrecen asesoramiento. En un artículo de Women and Sex Therapy Mujeres y terapia sexual, dedicado al tratamiento de mujeres con problemas de vaginismo, se apunta la singular sugerencia de tratarlas para que puedan ser penetradas con un consolador. El vaginismo se define como “condición caracterizada por contracciones reflejo-espasmódicas de la musculatura que recubre el tercio anterior de la vagina… Puede impedir el coito o, cuando menos, hacerlo molesto"132. La terapeuta sexual recomienda un brutal tratamiento con dilatadores vaginales de plástico de tamaño gradual. La propia mujer debe aprender a utilizarlos hasta que “pueda introducir sin dolor un dilatador cuyo grosor equivalga al del objeto que ella y su pareja suelen utilizar para la inserción vaginal”133. En sexología la introducción del pene es fundamental para la perpetuación del poder masculino. Ahora bien, en el caso de las lesbianas, la introducción de objetos constituye sin duda un acto facultativo. Si en una relación concreta se considera necesario el uso de algún objeto, sin duda se podría usar uno más pequeño.

ANTIFEMINISMO

Asimismo, las terapeutas sexuales lesbianas cuestionan directamente la política feminista lesbiana. Margaret Nicholls arremete contra los principios sagrados del feminismo, burlándose de ellos y acusándolos de falta de atracción sexual y de ser el origen de la erotofobia lesbiana. A su modo de ver, las feministas lesbianas suelen tener un aspecto poco atractivo. Así describe la estampa clónica de las feministas lesbianas:

… botas de trabajo o chirucas, pantalón vaquero, camisa de trabajo o de franela, chaleco de corte varonil con o sin corbata, pelo corto, sin maquillaje, las piernas y los sobacos preferentemente sin depilar, a veces incluso vello facial que no se decolora ni afeita, sino que se resalta. En el intento de alejamos de los conceptos de belleza femenina acuñados por los varones, muchas de nosotras terminamos pareciéndonos a chavales adolescentes134.

Nicholls opina que esta imagen resulta “sexualmente aburrida” y alaba los intentos de las defensoras del modelo butch/femme de “reconocer la importancia que tienen para el deseo sexual el atractivo físico y la diversidad de aspectos creada por la vestimenta y los adornos”. Refiriéndose a los esfuerzos de las feministas lesbianas para oponerse a la tiranía de la imagen, afirma que “en ocasiones la buena política es nefasta para el sexo”135. Sus prioridades están a la vista. Por otra parte, resulta sorprendente su suposición de que las lesbianas vestidas con camisas de trabajo carecen necesariamente de atractivo sexual para las otras lesbianas. También, según Loulan, el feminismo lesbiano está falto de sexo. Refiriéndose a los años 70, dice:

Las camisas de franela, los vaqueros, la ausencia de maquillaje y de alhajas así como el pelo corto eran los requisitos para pertenecer al club. El resultado era una desexualización de nuestros códigos de vestimenta. No estaba claro quién se acostaba con quién136.

Estas terapeutas sexuales se dedican a impulsar unos principios convencionales y heterosexistas de lo que debe entenderse por atractivo y por sexy. Son incapaces de reconocer o imaginar una atracción erótica donde no existen los juegos de roles o algún tipo de “femineidad” y entienden que sus lectoras comparten estas dificultades. Las terapeutas sexuales lesbianas se han unido a la tarea sexo lógica de ridiculizar y de enterrar los hallazgos feministas sobre política sexual. Empezando por Havelock Ellis, todos los sexólogos se han dedicado a esta tarea. Nicholls y Loulan no son una excepción. Gran parte de las terapeutas sexuales lesbianas piensan que el feminismo perjudica al sexo y que las lesbianas deberían elegir bien sus prioridades.

POLITIZAR EL SEXO

La terapia sexual en su acepción tradicional, así como la práctica de las terapeutas lesbianas antedichas, se apoya en

131 Margaret Nicholls, “Doing Sex Therapy with Lesbians”, en Boston Lesbian Psychologies Collective (comps.), 1987, pág. 259. 132 Jo Marie Kessler, “When the Diagnosis is Vaginismus: Fighting Misconceptions”, en Cole y Rothblun (comps.), 1988, pág. 176. 133 Ibíd.; pág. 180. 134 Margaret Nicholls, “Lesbian Sexuality”, en Boston Lesbian Psychologies Collective (comps.), 1987, pág. 114. 135 Ibíd., pág. 105. 136 JoAnn Loulan, 1990, pág. 27.

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la privatización del sexo. Por consiguiente, están reñidas con el principio feminista según el cual lo personal es político. Como feministas debemos sospechar abiertamente de una argumentación que excluye cualquier ámbito de la vida “privada” de la práctica política. Si la lucha feminista por unas relaciones personales igualitarias y por acabar con la connotación erótica de la desigualdad del fetichismo de género supone un peligro tan grave para el “sexo” como sospechan estas terapeutas lesbianas, entonces quedan dos opciones. Una es la privatización del sexo y la erradicación de los hallazgos feministas con el fin de proteger la construcción heteropatriarcal de la sexualidad. La otra consiste en comprender que la sexualidad es un elemento fundamental para la opresión de las mujeres y en aplicar el coraje y la visión del análisis político feminista lesbiano a lo que las lesbianas hacen en la cama.

A Revolução Sexual Lésbica

Nos anos 80 se produziu uma revolução sexual lésbica. Os historiadores tradicionais da sexualidade da corrente dominante masculina valoram muito positivamente as duas revoluções ocorridas, a seu entender, nas décadas dos 20 e dos 80, e que levaram à liberação e o prazer às mulheres. Em meus dois livros anteriores quis demonstrar que estas revoluções são na verdade ajustes de forças da supremacia masculina.
O poder masculino ficou re-afirmado mediante o recrutamento das mulheres para o coito e a orquestração de sua resposta sexual ante a conotação erótica de sua própria subordinação. Estas revoluções ou ajustes das técnicas de controle do poder da Supremacia Masculina se realizaram em nome da ciência e da saúde utilizando, não obstante, a retórica do liberalismo.

Estas revoluções contribuíram à legitimação de una pujante indústria pornográfica, à criação de uma indústria de terapias sexuais e de manuais de consulta sexual e à instalação de sex shops e reuniões de sexo ao estilo tupperware nas quais se vendia o instrumental de sexo como os dildos e os trajes de couro, goma e de vinil. Durante todo esse tempo as lésbicas conseguiam de alguma maneira amar-se e fazer amor sem toda essa parafernália, enquanto que no mundo heterossexual o sexo sem livros de autoajuda, sem pornografia e sem o equipamento adequado se tornava praticamente impossível. O sexo lésbico era inovador, imaginativo, se podia aprender por conta própria, era de baixa tecnologia, não custava dinheiro nem proporcionava lucros aos industriais do sexo. Nos anos 80, a situação mudou e deu lugar a uma indústria do sexo lésbico. Para que esta indústria fosse lucrativa, foi necessário transformar a sexualidade lésbica para adaptá-la ao modelo da coisificação, que requer a criação de consumidoras de sexo lésbico – consumidoras não apenas de produtos mecânicos, senão ademais de outras mulheres, através da pornografia e da prostituição. A sexualidade lésbica começava por fim a captar a atenção de empresários, terapeutas sexuais e pornógrafos.

A consequência desta dramática acometida elaborada com o fim de reconstruir a sexualidade lésbica, se produziu a incorporação parcial das lésbicas às estruturas políticas de controle do Heteropatriarcado. As lésbicas que inventavam sua própria sexualidade não encaixavam na engrenagem devido a sua visão de uma

sexualidade alternativa não centrada em pênis, metas, coisificação, domínio e submissão. Não estavam sujeitas ao poderoso controle sexual da Supremacia Masculina que determinava a configuração do prazer sexual. Não sempre se dedicavam a conotar eroticamente sua própria subordinação, constituindo assim um perigo potencial para o sistema sexual do Heteropatriarcado. A revolução sexual lésbica aprisionou às lésbicas submetendo-as sexualmente também a elas.
Porém, a interpretação da revolução sexual lésbica que fazem os meios gays mistos e a literatura dos estudos acadêmicos lébicos-e-gays, é distinta . O novo e reluzente despliegue de posibilidades…parece que falta uma parte, complementar depois
Utilizo o termo “lésbico-e-gay” para assinalar aqueles teóricos que não distinguem em sua teoria entre lésbicas e homens gays. Eluden as descobertas feministas a respeito das distintas classes sexuais de mulheres e homens, homogenizando a experiência de ambas com o fim de criar uma teoria gay universal onde a condição específica das lésbicas fica oculta. Este enfoque é próprio sobretudo dos teóricos e teóricas pós-modernas a cujo trabalho me refiro no capítulo “Retorno ao gênero”. Dildos, pornografia, clubes de sexo, prostitutas – aparece como fonte de uma livre escolha, de diversão prazer e liberdade individual, como a encarnação daquilo pelo que sempre lutaram as lésbicas: o objetivo mesmo da revolução lésbica. A luta política das lésbicas se desvia a uma falsa liberação que, a meu ver, resultará tão enganosa para as lésbicas como o foi a liberdade sexual dos 60 e 70 para as mulheres heterossexuais. Esta última elevou a quantidade de coitos e, porém, as mulheres não alcançaram a liberdade. A revolução sexual lésbica para lograr seu êxito depende da aniquilação de toda discussão política sobre a construção do prazer sexual e seu lugar dentro da revolução lésbica e feminista. Depende do acordo sobre a separação entre o público e o privado a respeito do prazer sexual: o

que nos excita não tem relevância para a luta política. Depende da linguagem do liberalismo sexual. Quando se trata de sexo, muitas lésbicas que se consideram progressistas, feministas, socialistas y antirracistas, abandonam sua postura política e adotam um liberalismo profundo.

Sempre que quis analisar a terapia sexual ou o sadomasoquismo desde uma postura política fui tachada de moralista ou sentenciosa. A crítica política se considerou tabu. Gostaria de analisar este tabu e sua origem, em um intento de voltar a introduzir o prazer sexual e a prática sexual na discussão política. A prática sexual é o único caso em que a análise política é normalmente tachada de moralista; não ocorre com outras questões. Porém, me atreveria a dizer que todos os juízos políticos costumam ter uma base moral. A raiva contra o que se vive como opressão nasce justamente de um sentido do bem e do mal. Agora, o debate sobre a moral não está na moda na sociedade capitalista e menos ainda esteve nos 80 e nos 90, quando o mercado decreta a irrelevância deste debate. Porém, nada mais misterioso que este sentido de bem e do mal subjaz a todos os juízos políticos. As mesmas pessoas que chamam de moralista a análise política da prática sexual emitem juízos morais em outros campos da vida. Normalmente não se chamaria moralista a quem luta por conseguir a desigualdade econômica. A sexualidade é o único terreno que deve estar livre de todo juízo moral ou político. Quero analisar o conceito feminista de sexo como questão política, começando pelas áreas menos conflituosas e terminando pela que mais problemas apresenta: a prática sexual.
A maior parte das feministas coincide provavelmente no caráter político da violência sexual dos homens contra as mulheres. As teóricas feministas vieram escrevendo páginas após páginas sobre o papel político da violência sexual como suporte crucial e funcional do sistema político da supremacia masculina . Todo o espectro da violência sexual – incluídos o abuso sexual na infância, o exibicionismo e o assédio sexual, a pornografia, a violação conjugal e os assassinatos de mulheres – tem como fim o controle, o desarme e a submissão das mulheres.

Na universidade onde exerço se deu vários exemplos de como a violência sexual pode limitar as vidas e as oportunidades das mulheres. Em uma ocasião certos avisos expostos em três zonas distintas advertiam as alunas de que deviam ser precavidas. Outras notas nos banheiros de mulheres do centro estudantil preveniam as mulheres de possíveis assaltos, recomendando-as a não entrar sozinhas nos serviços e olhar atrás das portas das cabines. Posteriores avisos no mesmo sentido adornavam os vestiários femininos do centro esportivo, assim como distintas zonas da biblioteca. Desta maneira a “igualdade de oportunidades” das alunas ficava seriamente mermada na hora do intervalo, do estudo e da micção. A maioria das universidades conta provavelmente com problemas parecidos ou piores de violência sexual masculina.

Todas as precauções rotineiras se convertem em uma segunda pele para as mulheres, e somente uma análise feminista descobrirá seu sometimento ao sistema de controle político. Não todas as teóricas feministas estão de acordo na definição do estupro marital e do abuso sexual; porém, a maioria coincidiria em qualificar a violência sexual de construção política com uma determinada finalidade política dentro do sistema de supremacia masculina.

Outro tema referido ao caráter político da sexualidade em que coincidiria grande parte das teóricas feministas é o da construção da heterossexualidade como princípio organizador das relações sociais em um sistema de Supremacia Masculina. Talvez estejam em desacordo sobre a magnitude da relevância da

heterossexualidade como instituição perpetradora do Poder Masculino, mas provavelmente coincidirão em assinalar que as pressões exercidas sobre as mulheres para que estas adotem a heterossexualidade assistem os propósitos da Supremacia Masculina. Sem o princípio da heterossexualidade um homem concreto dificilmente obteria sem remuneração o conjunto de todos os serviços sexuais, reprodutivos, econômicos, domésticos e emocionais das mulheres. Por regra geral, as feministas atuais não consideram a orientação heterossexual um assunto meramente privado e individual, independente do poder masculino.
Para debate do liberalismo sexual, ver la antologia de D. Leidholdt y J.G. Raymond (comps.), The Sexual Liberals & the Attack on Feminism, Oxf. y NY Pergamon Press (TCP), 1990.

[Para um debate de la violencia sexual masculina como controle social, ver: Susan Brownmiller, Against Our Will: Men, Women and Rape. Londres, Secker & Warburg, 1975. en cast.: Contra nuestra voluntad. Hombres, mujeres y violación, Barcel., Planeta, 1981. Lal Coveney y cols. (comps.), The Sexuality Papers, Londres, Hutchinson, 1984. Ver introducción. ]

Referente a heterossexualidade como institución, véase: Adrienne Rich, “Compulsory Heterosexuality and Lesbian Existence”, en Anne Snitow y cols. (comps.), Desire: The Politics of Sexuality, Londres, Virago, 1984. Editado como Powers of Desire, Nueva York, Monthly Review Press, 1983. Monique Wittig, The Straight Mind and Other Essays, Boston, Beacon Press, 1992. El capítulo 6 de mi obra Anticlimax. A Feminist Perspective on the Sexual Revolution, Londres, The Women’s Press, 1990. Para una formidable crítica de la idea de la preferencia sexual, véase: Celia Kitzinger, The Social Construction of Lesbianism, Londres, Sage Publications, 1987.

É na área da construção do prazer sexual e da prática sexual onde surgiram os conflitos sobre uma concepção política da sexualidade. O sexo se segue considerando um assunto privado, individual e consensuado, um tabu para a análise política. O feminismo estabelece conexões, e neste caso as conexões parecem evidentes. Tanto a heterossexualidade como sistema político, como a violência sexual como controle social obedecem à construção do desejo heterossexual. Com “desejo heterossexual” me refiro à conotação erótica do desequilíbrio de poder que tem sua origem nas hetero-relações, mas que pode dar-se igualmente nas relações entre pessoas do mesmo sexo. Uma análise feminista assinalaria a necessidade de reconstruir a sexualidade com o fim de desmantelar o sistema sexual da Supremacia Masculina.
Com este fim haveria que construir o que denomino “desejo homo-sexual”, ou conotação erótica da igualdade. En minha obra Anticlimax aponto que a liberação das mulheres não será possível enquanto se considere sexy sua subordinação.

Agora pois, com respeito ao tema do prazer sexual algumas feministas e lésbicas não estão dispostas a estabelecer estas conexões. Para poder apreciar a carga política da prática sexual é necessário por em juízo o conceito liberal do privado. Tanto as feministas como as ativistas lésbicas e os ativistas gays utilizaram de forma estratégica a noçao de‘o privado’ na luta por seus objetivos, já que se trata de um conceito que o estado liberal compreende bem. A liberalização da lei sobre a homossexualidade masculina na Grão Bretanha em 1967, por exemplo, se apoiava na idéia do direito da pessoa à intimidade. Porém, para as feministas esta é uma idéia muito conflitiva. A teórica feminista estadunidense Catharine MacKinnon expôe admiravelmente os problemas que supôe o conceito legal da intimidade para as mulheres: “Reafirma e reforça o objeto da crítica feminista sobre a sexualidade: a separação entre o público e o privado”. Em sua luta por conseguir que a violência conjugal e os abusos sexuais fossem considerados delito, as feministas tiveram que insistir no fato de que a opressão das mulheres se produzia tanto no âmbito privado da casa e do dormitório como no âmbito público. Tanto em sua luta contra a violência masculina como em sua crítica do trabalho doméstico não remunerado, as feministas esgrimiam o slogan da campanha: “O pessoal é político”. MacKinnon aponta:

“Certamente não é casual que as mesmas coisas que o feminismo considera centrais para o sometimento das mulheres – o lugar mesmo: o corpo; as relações mesmas: heterossexuais; as atividades mesmas: coito e reprodução; os sentimentos mesmos: íntimos – constituem o eixo da doutrina da intimidade. Desde esta perspectiva o conceito legal de intimidade pode proteger o lugar dos maus-tratos, da violação conjugal e da exploração do trabalho feminino – e o havia protegido de fato- e ajudou para perpetuar as principais instituições mediante as que se despoja as mulheres de sua identidade, de sua autonomia, de seu controle e sua auto-definição; e protegeu assim a principal atividade através da qual se expressa e se impôe a Supremacia Masculina.”

É factível pôr em entredito o sagrado princípio apolítico do “pessoal” com o fim de lutar contra o abuso sexual. Embora existam sérias diferenças de opinião sobre os requisitos da “violação conjugal”, há consenso entre as feministas sobre a existência deste fenômeno e sobre a necessidade de erradicá-lo. Mas parece ser mais difícil converter o pessoal em político quando se trata de uma prática sexual aparentemente consensuada, se bem os trabalhos feministas sobre a violação conjugal tenham colocado entredito o conceito mesmo de consentimento, e por minha parte farei o mesmo logo mais com relação ao sadomasoquismo. Segue

existindo, portanto, um aspecto do sexo que as liberais feministas continuam considerando privado. Parece crucial para elas que uma área da vida siga se mantendo em certo estado natural, a modo de reserva onde o indivíduo coaccionado possa recorrer em pós de alivio.

O problema da politização do sexo “consensuado” não somente estriba no conceito liberal de intimidade, senão ademais em outras idéias chave da revolução sexual que se converteram na opinião ortodoxa sobre o sexo e que impedem o debate feminista. Uma delas é a noção de sexo, em todas suas formas “consensuadas”, como um fator bom, positivo e necessário para a saúde humana. A mentalidade masculina está dominada por uma concepção dualista do sexo: este se considera ou “bom” ou “mal”. Desde 1890 os reformadores sexuais lutaram contra o puritanismo e os valores considerados contrários ao sexo, promovendo a idéia de sexo como um bem supremo. Ao conferir-lhe este halo de santidade e fomentá-lo como o elixir da vida, se fez difícil colocar em juízo. Quem se auto-proclamava progressista sentenciava que a crítica de qualquer forma de expressão sexual supunha render-se às ocultas forças da repressão da igreja católica, da inquisição e do puritanismo. As forças da Supremacia Masculina que representam o postulado de “o sexo é mal” seguem existindo e é preciso combatê-las1, se bem que não devem servir de pretexto para demostrar o perigo que traz falar de sexo em termos políticos.

Outra idéia chave que impede a discussão política da prática sexual se refere à obrigada suspensão dos valores quando se trata da sexualidade. Meu exemplo favorito é o livro, supostamente progressista, dos anos 60,“The ABC of Love” O ABC do amor onde se proclamava a aproximação moralmente neutra às diversas formas do comportamento sexual masculino – como a necrofilia – que constituíam um abuso de poder ou de violência.
Para um debate da lei de 1967, ver: Jeffrey Weeks, Coming Out, Londres, Quartet, 1977.
Catherine MacKinnon, Feminism Unmodified, Cambridge, MA, Harvard University Press, 1987, pág. 93. Ibíd., pág. 101.

Para uma crítica feminista do conceito de consentimento, ver Carol Pateman, The Sexual Contract, Cambridge, Polity, 1988. Palo Alto, California, Stanford Univ. Press, 1988.

(colocar a referencia em português)
También Susan Hawthorne, “What do Lesbians Want? Towards a Feminist Sexual Ethics”, Journal of Australian Lesbian Feminist Studies, vol. 1, núm. 2, 1991.

“A necrofilia, a necromania, o necrosadismo: todos estes são atos sexuais que as pessoas podem realizar em relação com os cadáveres. Deixar-se tentar pelos cadáveres não é um fenômeno desconhecido entre quem não há conseguido encontrar uma saída habitual para seus impulsos sexuais. “
Ao que parece, as mulheres não devem sentir-se turbadas ante a idéia de uma violação post-mortem a mãos dos encarregados de depósito de cadáveres. Estes argumentos em favor da suspensão de valores – quando é óbvio que os valores não estão suspendidos – os esgrimem quem assegura que segue a luta contra a herança vitoriana e suas presuntas novas representantes entre a geração atual de lutadoras feministas contra a violência. As principais abandeiradas desta ideologia do liberalismo sexual se encontran atualmente entre as terapeutas, que introduzem no feminismo sua terminologia terapêutica junto com uma forte dose de relativismo moral.
Em meus dois livros anteriores, The Spinster and Her Enemies A solteira e seus inimigos e Anticlimax assinalei que os sexólogos estiveram assignando sempre uma função política ao sexo. Ao largo do último século as indústrias da sexologia e da terapia sexual estiveram se dedicando a orquestrar a submissão das mulheres aos homens mediante a aceitação do coito e de sua experiência do prazer de “entrega” neste ato. Todos os sexólogos, psicanalistas, médicos, ginecólogos, conselheiros sentimentais e trabalhadores sociais implicados nesta campanha compreenderam sempre o vínculo crucial – o caráter eminentemente político, portanto – entre o «prazer» supostamente consensuado, pessoal, privado e individual das mulheres e a perpetuação do poder masculino e da submissão das mulheres. Os sexólogos de princípios do século XX tiveram menos escrúpulos na hora de manifestar sua mensagem política. Wilhelm Stekel, por exemplo, lutou sem reserva contra o feminismo, convencido de que o prazer que as mulheres experimentavam por meio do coito constituiria o melhor remédio contra o feminismo, o ódio aos homens, a solteria e o lesbianismo: os grandes perigos para a “civilização”. Em seu livro de 1926, Frigidity in Woman in Relation to Her Love Life A frigidez da mulher em relação com sua vida amorosa Stekel demonstra conhecer perfeitamente as consequências políticas do coito prazeroso para a mulher. Afirma que: “Deixar-se acender por um homem significa reconhecer-se como conquistada”.

Os sexólogos dos anos posteriores ratificaram com igual franqueza a função política do prazer sexual das mulheres. O mais conhecido entre os sexólogos britânicos dos anos 50, Eustace Chessler apontou que algumas vezes uma garota:
“… é incapaz de entregar-se completamente no ato sexual. E a entrega total é a única via para que ela e seu marido obtenham o máximo prazer. A submissão não é igual a entrega. Muitas mulheres se submetem e, no entanto, guardam em seu interior um espaço não conquistado que na realidade supôe uma feroz resistência à submissão”.

Tendo em conta que a atual ciência do sexo proclama sua neutralidade explícita, pode parecer surpreendente que os sexólogos conhecessem tão bem a importância política do prazer sexual das mulheres.

Com frequência afirmavam satisfeitos que uma mulher que se entregava ao coito se entregaria igualmente em outras esferas da vida, tais como a tomada de decisões no matrimônio. Na história e na bibliografia da sexologia se encontram formidáveis exemplos da construção política da sexualidade. A sexologia se dedicou sobretudo à construção do coito. Afirmava que as mulheres não o apreciavam o suficiente e que os homens não sabiam executá-lo com a devida eficácia. O estudo dos textos sexológicos acerca do ato sexual convenceria a qualquer pessoa de que não há nada “natural” nesta prática. Em um momento histórico de maiores oportunidades para as mulheres se proclamava a importância vital do coito, dado seu papel na perpetuação do poder masculino. O coito convertia ao macho em “homem” e a mulher em “submissa”. Inclusive nos anos 80 e 90 as revistas femininas e os manuais de educação sexual seguem enfatizando a importância da entrega da mulher no coito. É a versão supostamente científica e respeitável da expressão que os homens costumam empregar para referir-se às mulheres díscolas no ambiente de trabalho ou na rua: “O que necessita é uma boa trepada/pica”.

(Ver minha obra The Spinster and Her Enemies, Londres, Pandora, 1985.

Inge Helgeler y Stan, An ABC of Love, Londres, New English Library, 1963, pág. 252.

Para um debate relativo ao impacto da terminologia e a prática terapêuticas sobre o feminismo, ver: Celia Kitzinger y Rachel Perkins, Changing Our Minds: Lesbianism, Feminism and Psychology, Londres, Onlywomen Press, 1993.

Sheila Jeffreys, The Spinster and Her Enemies. Feminism and Sexuality 1880-1930, Londres, Pandora, 1985, pág. 182.

Citado em Anticlimax, 1990, págs. 29-30.)
Em sua cruzada para submeter as mulheres mediante o coito, os sexólogos encontraram apoio na capacidade destas para conotar eróticamente sua própria subordinação e vivê-la como “prazerosa”. Ao longo da vida as mulheres aprendem suas emoções e suas respostas sexuais em situações de desigualdade e inclusive, muitas vezes, de abusos sexuais. Temos que analisar escrupulosamente a palavra “prazer”. As mulheres podem chegar ao orgasmo durante uma violação ou em uma situação de abuso sexual. Estes orgasmos não demonstram que os “desejavam”, nem que tivesse ocorrido qualquer coisa positiva. Na atualidade não existem palavras para descrever os sentimentos sexuais não-positivos. Somente existem palavras como prazer e gozo. É importante por em entredito o conceito de prazer sexual em sua totalidade e não assumir que os sentimentos sexuais são necessariamente positivos. Assim nascerá uma terminologia mais sensível e mais matizada que permita às mulheres a expressão de uma maior gama de sentimentos sexuais, incluídos aqueles que se vivem como inequívocamente negativos.
Muitas pessoas, incluídas algumas lésbicas, aducen que uma resposta sexual que adota a forma da exaltação erótica do domínio e da submissão é inofensiva, privada, pessoal e individual, ou inclusive útil para lograr sensações sexuais sublimes e para permitir também às vítimas de abusos uma resposta sexual.

Não somente os sexólogos defendem o sadomasoquismo, tanto no “imaginário” como na realidade, senão mais recentemente também os editores e as editoras da nova literatura erótica destinada às mulheres, as terapeutas sexuais heterossexuais e lésbicas, assim como as organizações sadomasoquistas, compostas por heterossexuais ou lésbicas e gays. Mas o interesse que manifesta a sexologia pela entrega sexual das mulheres demonstra a relevância política dos sentimentos sexuais. É justo atribuir aos sexólogos um certo grau de astúcia. Se durante o século passado atuaram sob a premissa de que a aceitação voluntária de uma resposta sexual masoquista debilitava a posição das mulheres nos terrenos político e pessoal, este fato deve bastar para que as teóricas feministas se coloquem ao menos esta possibilidade.
O primeiro indício de uma pujante indústria do sexo nos EUA foi a aparição de uma pornografia lésbica, concebida por uma nova geração de empresárias lésbicas.
Quando começaram a formar-se as organizações antipornografia, as porta-vozes do grupo “Mulheres Contra a Violencia Contra as Mulheres”tinham que responder a seguinte pergunta: “Como podemos criar uma literatura erótica positiva para as mulheres e mais concretamente para as lésbicas?” Um dos resultados da revolução pornográfica dos anos 60 foi a idéia da obrigatoriedade da erótica para o sexo. Este pressuposto se encontrava tão extendido inclusive entre as feministas que as ativistas do movimento antipornografia se viram obrigadas a distinguir entre erótica e pornografia, para demonstrar que não eram nem estraga-prazeres nem umas sexofóbicas. Gloria Steinem define a erótica como:

“uma expressão sexual mutuamente prazerosa entre pessoas que possuem o poder suficiente para estar ali graças a sua livre escolha”, enquanto que a pornografia “leva a mensagem da violência, do domínio e da conquista. É a utilização do sexo com o fim de reforçar ou criar uma situação de desigualdade…“

Algumas militantes contra a pornografia se negaram a tomar este caminho assegurando desde o começo que não existia nenhuma diferença substancial entre erótica e pornografia. Andrea Dworkin explica assim a relação:
“Este livro Pornography: Men Possessing Women – Pornografia: Homens possuindo Mulheres não trata da diferença entre a pornografia e a erótica. As feministas fizeram um honorável esforço por definir a diferença entre ambas, alegando geralmente que a erótica traz mutualidade e reciprocidade, enquanto que a pornografia implica domínio e violência. Mas no léxico sexual masculino, que é o vocabulário do poder, a erótica é simplesmente uma pornografia de luxo: mais apresentável e desenhada para uma classe de consumidor*s mais sofisticad*s. Ocorre o mesmo que entre a ‘prostituta de luxo’ e a ‘puta de rua’: a primeira vem melhor arrumada, mas ambas dão o mesmo serviço. Sobretudo os intelectuais chamam “erótica” ao que eles produzem ou codician, para indicar que por trás deste produto há uma pessoa tremendamente inteligente… Em um sistema machista a erótica é uma subcategoria da pornografia.”

Embora muitas ativistas antipornografia não queiram dedicar tempo e energia à confecção de uma erótica positiva, esperavam impacientes sua aparição para ver que aspecto teria este fenômeno. Estávamos convencidas de que esta nova erótica criada por mulheres seria muito distinta à pornografia produzida pelos homens, se apoiaria em valores completamente diferentes e representaria uma nova sexualidade, vaticinio do futuro pós-revolucionário. Certamente algumas feministas criaram algo que denominavam uma nova classe de erótica. Um exemplo é Tee Corinne. Suas fotografias de vulvas2 sobrepostas a paisagens, árvores e praias são uma tentativa de prestigiar a vulva. A associação dos genitais femininos com formas naturais, conchas, flores e frutas tem uma larga historia na arte lésbica. Estas fotografias supôem uma clara ruptura com a tradição pornográfica masculina, na qual a vulva aparece com o único fim de provocar a ereção masculina sugerindo a idéia de penetração. Parece ser que as mulheres sim são capazes de criar uma arte de conteúdo sexual, sem que seja uma réplica da pornografia masculina.
Porém, a nova indústria erótica surgida nos 80 não se dedica a celebrar a beleza da vulva. Quer provocar a excitação e o caminho mais fácil passa, pelo que parece, pela estimulação da capacidade das mulheres de conotar eroticamente nossa opressão.

Ver capítulo 6 sobre o “desejo heterosexual” em Anticlimax, 1990.

Ver relevância do sadomasoquismo na prática heterossexual dos 80: B. Ehrenreich y cols., Re-Making Love: The Feminization of Sex, Londres, Fontana/Collins, 1987. NY,

Doubleday, 1986. Para crítica del sadomasoquismo en la práctica lesbiana, ver: R. R. Linden y cols. (comps.), Against Sadomasoquism, Palo Alto, Cal., Frog in the Well Press, 1982.

Gloria Steinem, “Erotica and Pornography: A Clear and Present Difference”, en Laura Lederer (comp.), Take Back the Night, Nueva York, Quill, 1980, pág. 37.

Andrea Dworkin, Pornography: Men Possessing Women, Nueva York, Perigree, 1981, págs, 9-10

Pat Califia, autora de pornografia sadomasoquista, o explica com toda franqueza:
“Desgraçadamente uma grande parte da nova pornografia lésbica, embora valiosa, não passaria o que Dorothy Allison chama “a prova úmida” … A “erótica feminista”, que apresenta uma imagem simplista do sexo lésbico – duas mulheres apaixonadas juntas em uma cama que encarnam todo o positivo que o patriarcado pretende destruir – não és excessivamente sexy.“

O tipo de pornografia que, ao que parece, passa na “prova úmida” supôs uma considerável comoção para as mulheres, que esperavam ver representada uma nova forma de sexualidade feminina. Praticamente a totalidade do material está relacionado com a conotação erótica da subordinação das mulheres. As autoras desta erótica insistem em que o enfoque inovador da sexualidade feminina que mostra as mulheres como lascivas, quentes e agressivas no lugar de passivas e submissas. Na nova erótica as mulheres podem escolher entre dois papéis: podem assumir o lugar dos homens e deixar-se excitar pela coisificação, a fetichização e a humilhação de outras mulheres; ou podem adotar os velhos papéis submissos, igualmente disponíveis nesta erótica. De maneira que as mulheres possam escolher se deixar excitar pelo papel dominante ou pelo submisso em sua relação com outra mulher.

Barbara Smith, uma autora britânica de erótica, justifica uma pornografia lésbica

onde as mulheres se limitam a adotar um dos dois papéis que oferece a pornografia heterossexual, sem mudar em nada os valores representados:
“A pornografía para lésbicas é excepcional por pressupor um olhar feminino e inclusive lésbico. Pressupôe uma sexualidade feminina ativa. Preconiza o gozo sexual soberano da mulher. Se bem continua apresentando as mulheres como objetos, o faz por meio dos olhos e para os olhos de outras mulheres como sujeitos. Adota imagens estereotipadas, subvertendo-as por completo tanto em sua intenção como em seu contexto, às vezes com um toque de humor. A pornografia para lésbicas nos retrata ao menos tal e como somos, em todo o espectro de nosso ser mulheres: fortes, sexualmente exigentes e realizadas, ativas, passivas e sempre afirmativas.”

As teóricas feministas antipornografia lutaram ativamente contra a coisificação através da pornografia. Segundo nossa argumentação, esta coisificação submete a pessoa coisificada, e constrói e reforça uma sexualidade de domínio e de submissão, sobretudo das mulheres. En opinião das feministas antipornografia, a coisificação representa o mecanismo fundamental em que se baseia a violência sexual masculina. Catharine MacKinnon explica com grande acerto a dinâmica da pornografia.

Em uma situação de domínio masculino, tudo aquilo que excita sexualmente aos homens, se considera sexo. Na pornografia a violência mesma é sexo. A desigualdade é sexo. Sem hierarquias, a pornografia não funciona. Sem desigualdade, sem violação, sem domínio e sem violência não pode haver excitação sexual.

Se a erótica significava somente a representação dosexo – sem pretender a excitação senão como uma parte da trama- não teria que denotar necessariamente a desigualdade. A nova erótica, porém, cuja finalidade é a excitação sexual, recorre ao que todo mundo compreende em um sistema de supremacia masculina: o domínio e a submissão.

Alguns editoriais feministas, anteriormente dedicadas a publicação de textos, com novos valores feministas, començaram então a publicar literatura erótica porque se vende. Este é o caso de Sheba, na Grão Bretanha. Sua primeira antologia, “Autênticos Prazeres”, continha uma erótica supostamente alternativa e feminista. Um dos relatos da antologia constitui uma tentativa, bastante divertida, de incorporar valores alternativos nesta nova literatura erótica. Apresenta a um grupo de mulheres claramente afastadas do estereotipado modelo de beleza que prevalece na pornografia tradicional. Enquanto se preparam para uma

festa, a autora nos informa de seus problemas com as criaturas. Elas não são nem jovens nem ricas.
“Amy estava olhando a televisão enquanto secava sua larga cabeleira cinza. Sobre a mesa, adiante do sofá, havia uma taça de sopa e uma torrada comida pela metade. Não se podia perder Coronation Street, nem sequer pela mesmísima Deusa. As seis mulheres estiveram se reunindo ao longo de treze semanas de abstinência sexual para preparar um místico encontro sexual, rodeadas de velas, espíritos e cânticos.”

O marco pode parecer insólito, mas a linguagem sexual empregada é a da pornografia masculina tradicional. Há certo tom de reminiscências decimonônicas como na expressão: “… explorava a abundância nacarada de Sally”. Entretanto, outra mulher suplica a Sally que a “foda com mais força”.

Pelo que parece, inclusive as lésbicas feministas comprometidas e dotadas de certo gênio em muitos terrenos se encontram confinadas aos clichês patriarcais quando escrevem literatura erótica. Longe de construir uma nova sexualidade, estão reciclando a velha.

Pat Califia, Macho Sluts, Boston, Alyson Publications, 1989, pág. 13 de la introducción.
Bárbara Smith, “Sappho was a Right-off Woman”, en Gail Chester y Julienne Dickey (comps.), Feminism and Censorship, Londres, Prism, 1988, págs. 183-184.

Catharine MacKinnon, “Not a Moral Issue”, Yale Law and Policy Review, vol. II, núm. 2, 1984, pág. 343.

As novas revistas eróticas estado-unidenses carecem destos escrúpulos. Não se esforçam por retratar as lésbicas canosas, obesas ou pobres. A mais conhecida se entitula On Our Backs Sobre nossas costas. O nome mesmo revela sua intenção de subverter o feminismo: a publicação feminista estadunidense de mais solera se chama Off Our Backs Sai de cima de mim. A política explícita destas revistas consiste em despolitizar o lesbianismo. Encontramos um excelente exemplo na página de subscripções de On Our Backs. Enquanto que as “Radicalesbians” haviam afirmado em um dos primeiros manifestos feministas lésbicos que “uma lésbica é a fúria de todas s mulheres condensada até o ponto da explosão”, On Our Backs assevera que “uma lésbica é o desejo de todas as mulheres condensado até o ponto da explosão” . A frase aparece em cima da imagem de um torso de mulher embutido em um traje de couro negro, os peitos fortemente apertados. A mudança política se substitui pela satisfação sexual pessoal mediante a prática S/M.

continua, está na metade

notas de rodapé minhas.

1 Será mesmo? Não acho que tem que combater a noção de que o sexo é mal, a verdade nos libertará. Nesta sociedade muito provavelmente será uma experiência má para maior parte das mulheres, porque nesta sociedade supremacista masculina está formulada para que sexo seja experiência da violação, do abuso e da coisificação, levando muito trabalho consciente e de éticas e cura de abusos e consciência ativa do que é abusivo e traz dano pra podermos construir outra sexualidade distinta disso nas nossas vidas privadas. Sexualidade é no Patriarcado, como diz Mackinnon, a experiência do prazer em sua forma de gênero, e por isso a colonização nos leva a erotizar a dominação, o poder e ser incitadas por discursos culturais e correntes a nos colocar em situações de risco por meio da sexualidade. Se não posso me cuidar, não é minha revolução. Sexualidade é um sistema político na teoria feminista radical. Se nos acusam de anti-sexo, talvez estejam identificando bem, que estar contra o sexo nesta sociedade é estar contra o Poder em sua forma erotizada. A distinção entre sexo e estupro no Patriarcado não passa duma ilusão na maior parte das vezes, não passa de manipulação. (N.T.)

2 Traduzi ”genitais femininos” deliberadamente por ‘vulva’ porque acho mais interessante, também não verifiquei no original como está mas não duvido em nada que essa tradução para espanhol na qual estou me baseando não esteja bem ruimzinha em relação ao original. Caso verifique farei alterações no futuro. N.T..

Retorno ao Gênero: Pós-modernismo e a teoria Lésbica e Gay

(Estão faltando as notas deste texto, portanto essa tradução se encontra ainda incompleta.)

Nos anos 80, produziu-se um repentino entusiasmo pela obra dos Mestres do pós-modernismo- Foucault, Lacan e Derrida – seguido de sua incorporação à teoria feminista. Algumas críticas feministas sinalizaram que esse fato causou certa despolitização do feminismo. No campo da teoria gay e lésbica, a obra das grandes figuras masculinas do pós-modernismo, assim como a de outros teóricos inspirados neles, tem sido recebida com ainda mais entusiasmo. Não deveria ser surpreendente que a chamada teoria lésbica-e-gay, a saber, aquela que homogeneíza lésbicas e homens gays, se mostre tão atrativa aos olhos desses últimos. Tudo que remeta de forma demasiadamente explícita ao feminismo é contemplado com suspeita. No momento atual, o projeto de elaborar uma teoria lésbica independente aparece como uma empresa extravagantemente separatista. As estrelas da nova teoria lésbica-e-gay, Judith Butler e Diana Fuss, ambas mulheres, se dedicam a reciclar um feminismo fundamentado nos Mestres pós-modernos – na sua maioria gays – que no fira a sensibilidade dos gays. Não é uma tarefa fácil. Como conseguir, por exemplo, que o fenômeno do travestismo seja considerado não apenas aceitável, mas também revolucionário para a teoria lésbica-e-gay, quando sempre havia sido um tema sumariamente controverso para a teoria feminista desde que as lésbicas se distanciaram do movimento de liberação gay? Isso só é alcançável pelo retorno ao gênero, pela invenção de uma versão inofensiva do gênero, com a qual as lésbicas e os gays possam jogar eternamente e serem revolucionários ao mesmo tempo.
A versão de gênero introduzida pela teoria lésbica-e-gay é muito distinta do conceito de gênero das teóricas feministas. Trata-se de um gênero despolitizado, asséptico e de difícil associação com a violência sexual, a desigualdade econômica e as vítimas mortais de abortos clandestinos. Aqueles que se consideram muito distantes dos escabrosos detalhes da opressão das mulheres redescobriram o gênero como jogo. E essa perspectiva é bem recebida no mundo da teoria lésbica-e-gay porque apresenta o feminismo como uma diversão, e não como um desafio irritante. Uma análise preliminar de quem são esses novos porta-vozes da teoria lésbica-e-gay pode nos ajudar a entender a razão da escolha dessa política em concreto. Enquanto as destacadas feministas dos 70 faziam sua formação profissional em ciências políticas, história e sociologia, essa nova variante procede dos estudos literários e culturais, assim como dos estudos fílmicos. Temos, por exemplo, o livro compilado por Diana Fuss, Inside/Out. Lesbian Theories, Gay Theories. Judith Butler exerce a docência em um Centro de Humanidades e, por consequência, não pertence necessariamente ao campo da crítica cultural. As outras dezoito autoras procedem do campo da literatura, dos meios de comunicação, dos estudos fílmicos, da fotografia e da historia da arte. Não há razão para que uma crítica de arte não possa realizar contribuições valiosas ao desenvolvimento da teoria política; entretanto, talvez seja um sinal preocupante que tudo o que a nova geração de alunas e professoras lésbicas e alunos e professores gays chamam de “teoria” venha do mundo das artes e não das ciências sociais. Talvez isso explique o fato de que nessa nova teoria não há lugar para o antiquado tema das autenticas relações de poder, nem tampouco para a economia ou para uma forma de poder que não simplesmente flui, mas que se encontra nas mãos de classes e elites determinadas. A teoria pós-moderna outorgou um lugar preeminente à linguagem dentro do político: a palavra se tornou realidade e o crítico cultural se converteu em ativista político, soltando a pena enquanto a dona de casa maltratada por seu marido por esquecer uma teia de aranha em um canto da sala se torna extremamente invisível. Atentemo-nos agora às autoridades citadas pela nova teoria lésbica-e-gay. Nas notas da sua introdução, Diana Fuss cita Judith Butler, Derrida em várias ocasiões, Foucault, nove homens e duas mulheres. O que é bastante surpreendente, levando em conta o importante corpus de teoria lésbica-feminista original que poderia servir de fonte de inspiração; mas essas obras não existem para a nova teoria lésbica-e-gay. Não há referencias a Mary Daly, Audre Lorde, Janice Raymond, Julia Penelope, Sarah Hoagland ou Charlotte Bunch. Desapareceram com as separatistas de pensamento que advogam por uma teoria lésbica na qual os homens gays não tem lugar. A raiz do problema de gênero para a nova teoria lésbica-e-gay se encontra na ideia de predomínio da linguagem e das oposições binárias que procede de Lacan e Derriba. A linguagem adquire uma importância sem par. Enquanto outras feministas consideram a linguagem um fator importante, que faz parte de um panorama composto por outras forças opressoras que perpetuam a opressão das mulheres – as restrições econômicas, a violência exercida pelos homens, a instituição da heterossexualidade -, para as novas defensoras pós-modernas da teoria lésbica-e-gay a linguagem se converte em um assunto primordial. A linguagem atua através da construção de falsas oposições binárias que controlas misteriosamente a maneira de pensar e, consequentemente, de agir. Um desses binômios – masculino/feminino – é o mais crucial para a opressão das mulheres, assim como para a das lésbicas e gays. A feminista pós-moderna exclui os homens de sua análise. O poder se converte, em sentido foucaultiano, em algo que navega por aí em perpétua reconstituição, sem sentido real e sem conexão alguma com pessoas reais. Consequentemente, Judith Butler associa o poder a certos “regimes”, afirmando que “os regimes de poder do heterossexismo e do falocentrismo perseguem seu próprio crescimento por meio de uma constante repetição de sua própria lógica”. Em outro lugar, antropomorfiza a heterossexualidade:

O fato de que a heterossexualidade está em contínuo processo de auto-interpretação é prova de que se encontra em perigo constante: “sabe” da possibilidade de que desapareça.

Uma heterossexualidade com tese de doutorado! Normalmente, uma analise feminista questionaria em interesse de quem ou de que se constituem esses regimes, e a pergunta, por sua finalidade, não pareceria estar fora de lugar. E aí os homens voltariam a aparecer.
O conceito de gênero que utiliza Butler se encontra igualmente distanciado de todo contexto que envolva relações de poder. O gênero da repetida estilização do corpo, uma serie de atos repetidos dentro de um marco regulador altamente rígido, que com o tempo se cristalizam e criam a aparência de uma substancia ou de uma existência natural. Em outra parte do livro, afirma que “o gênero é uma forma de travestismo (drag)”. Dessa forma, o gênero significa uma maneira de sustentar o corpo, uma atuação, uma aparência, e não é surpreendente que a conclusão de Butler seja de que todas as formas de intercambio genérico, como o travestismo e os jogos de papeis entre as lésbicas, são atos revolucionários. Nesse enredado, não fica claro onde se encaixa a vulgar e verdadeira opressão das mulheres. Se um homem cruel maltrata a mulher com a qual vive, é porque ela adotou o gênero feminino em sua aparência externa? Ela solucionaria sua situação se durante um dia adotasse o gênero masculino, se aparecesse vestida com uma camisa social e sapatos de couro? Quando o gênero se converte em ideia ou em aparência, a opressão das mulheres efetivamente desaparece. Algumas teóricas feministas radicais ressaltaram que a ideia de gênero tende a ocultar as relações de poder do sistema de supremacia masculina. O conceito de gênero sempre foi bem aceito pelas feministas liberais e socialistas e, mais recentemente, também pelas pós-modernas. No passado, quando as teóricas feministas de qualquer ideologia política se referiam ao gênero, sempre o entendiam como algo que pode ser superado ou subtraído. Tanto as feministas heterossexuais como as lésbicas se sentiam insultadas quando eram chamadas de femininas ou masculinas. Consideravam-se – e muitas seguem se considerando – conscientemente contrárias ao gênero e não queriam nenhum trato com este, resistindo a representas qualquer um deles. Algumas escolheram a via da androginia; entretanto, as teóricas feministas radicais apontaram as limitações dessa aproximação. A ideia da androginia se apoia na perpetuação dos conceitos de masculino e feminino: é uma suposta combinação das características de ambos e, por consequência, os reifica antes de abandoná-los. Durante mais de vinte anos as feministas e feministas lésbicas trataram de rebater o gênero, se negando a atuar de acordo com suas regras; na atualidade, algumas pós-modernas tem qualificado esse projeto não apenas de malsucedido, como também inalcançável. Dentro da teoria feminista, Butler chama de movimento “pró-sexualidade” aquele que sustenta que a sexualidade “se constrói sempre em termos de discurso e poder, entendendo parcialmente o poder como certas convenções culturais heterossexuais e fálicas”. Corrobora com essa definição e afirma que é impossível construir uma sexualidade que esteja à margem dessas convenções: se a sexualidade é uma construção cultural dentro das relações de poder existentes, o postulado de uma sexualidade normativa “antes”, “às margens” ou “à revelia” do poder representa uma impossibilidade cultural e um sonho politicamente inviável, que atrasa a missão concreta e atual de repensar todas as possibilidades subversivas, para a sexualidade e para a identidade, dentro dos próprios termos do poder. O feminismo, na sua acepção habitual, tem sido considerado impossível. A teoria pós-moderna é utilizada para apoiar o projeto libertário sexual e, mais concretamente, o sadomasoquista. A maioria das feministas dos 70 e dos 80 lutou a favor da eliminação do gênero e da sexualidade falocentrica. Tratamos de criar algo novo e distinto. E agora descobrimos que perseguíamos algo impossível. Minhas jovens alunas lésbicas me dizem “não há dúvida de que o gênero está presente nas relações”. Não são conscientes de que com esse comentário ofensivo invalidam vinte anos de luta das feministas lésbicas contra essa situação. É quase tão frustrante como quando, recém iniciada no feminismo, os homens tentavam me ensinar sobre o caráter “natural” da feminilidade e da masculinidade. Os homens já não falam assim, agora o fazem as pós-modernas e os pós-modernos. Essas alunas assumem, em consequência de seu consumo de leituras teóricas pós-modernas, a impossibilidade de evadir do gênero. Segundo Derrida, não se pode escapar a uma oposição binária, somente dar maior peso à parte mais débil, provocando pressões e tensões. Quem pretende evitar o binário é tachada de essencialista. O termo “essencialista” adquiriu um significado totalmente distinto e é empregado para denotar as que conservam certa convicção na possibilidade de uma ação social para conseguir uma mudança social. Tempos atrás talvez soubéssemos o que era o essencialismo, uma vez que sinalava a convicção de que homens e mulheres eram separados por uma diferença natural e biológica. As feministas radicais, eternas missioneiras do construcionismo social, discrepavam dessa convicção, ainda que certas teóricas feministas de outras tendências finjam o contrario. A feminista pós-moderna Chris Weesdon insiste, nos seus escritos, na desconcertante afirmação de que as feministas radicais empenhadas em transformar a sexualidade masculina em interesse da liberação das mulheres são, na realidade, deterministas biológicas convencidas da impossibilidade de qualquer tipo de mudança. O que agora se denomina “essencialismo” é a convicção das lésbicas de poderem evitar o estereótipo de gênero, ou da possibilidade de praticar uma sexualidade que não se organiza em torno ao penis ou algum desequilíbrio de poder. O pós-modernismo chama essa convicção de essencialista por confiar na existência de uma essência incognoscível do lesbianismo. Todo o conhecido, o pensado, está baseado no gênero e no falocentrismo e o sistema só pode ser modificado através do desempenho de caminhos alternativos, mas dentro de seus próprios termos. Também puderam, talvez com mais razão, inverter o jogo, acusando de essencialistas aquelas que asseguram que as lésbicas não podem escapar do gênero ou do falocentrismo. Entretanto, queria evitar a invenção e o lançamento de novas versões essencialistas. Basta dizer que a ideia do caráter inevitável do gênero e do falocentrismo me parece uma visão brutalmente determinista e pessimista, que consegue eliminar o projeto feminista dos últimos vinte anos. Concorda com a tendência geral do pós-modernismo de considerar a m

ilitância política e a convicção na viabilidade de uma mudança política como uma atitude suspeitável, ridícula ou até mesmo vulgar.

Agora, atentemo-nos no que Butler entende como o potencial revolucionário do travestismo. A construção social do gênero é um velho principio fundamental do feminismo. Não obstante, da mesma maneira que outras descobertas feministas tradicionais e tremendamente manuseadas, parece novo e fascinante aos olhos das seguidoras do pós-modernismo. E, efetivamente, é possível que o seja para toda uma nova geração de mulheres jovens que não tiveram e não tem acesso à literatura feminista dos sessenta e dos setenta, uma vez que essa não aparece nas referencias bibliográficas dos seus cursos. Butler afirma que o potencial revolucionário do travestismo e dos jogos de papéis consiste na capacidade dessas práticas de ilustrarem a construção social do gênero, “descobrindo” que o gênero não possui nenhuma essência ou forma ideal, mas apenas um disfarce (drag) utilizado tanto por mulheres heterossexuais quanto por homens heterossexuais, tanto por lésbicas que “desempenham papéis” como por travestis gays sobre palcos.

O travestismo é uma forma trivial de se apropriar, teatralizar, usar e praticar os gêneros; toda divisão genérica supõe uma imitação e uma aproximação. Se isso está correto – e parece estar -, não existe nenhum gênero original ou primário que o travestismo imite, e sim o gênero é uma imitação para a qual não há original algum.

O gênero, entendido como gestos, ação e aparecencia, pode, efetivamente, ser considerado um disfarce, travestismo ou, nas palavras da Butler, “representação” (performance). Ao seu modo de ver, a “representação” demonstra a ausência de um “sexo interno ou essência ou centro psíquico de gênero”. Como essa suposta estratégia revolucionaria pode traduzir-se em mudanças? Não fica totalmente claro.

Como, pois…, utilizar o gênero, em si mesmo uma invenção inevitável, para inventar o gênero em termos que denunciem toda pretensão de origem, de verdade ou real como nada mais que efeitos do disfarce, cujo potencial subversivo deve ser praticado uma e outra vez, para que assim possam converter o “sexo” do gênero no lugar de um jogo político pertinaz?

O público que assiste à função do travestismo de gênero deve se dar conta de que o gênero não é nem “real” e nem “verdadeiro”. Mas, depois de dar-se conta, o que mais devem fazer? Ao acabar a função do travestismo, as mulheres e os homens heterossexuais voltarão para casa correndo para desfazer-se do gênero e dizer aos seus cônjuges que não existem tais coisas como a masculinidade e a feminilidade? Não parece muito provável. Se o gênero fosse de fato apenas uma ideia, se a supremacia masculina se perpetuasse somente porque as luzinhas nas cabeças dos homens e das mulheres sobre o erro que é o gênero ainda não foram de todo acendidas, então a estratégia de Butler poderia ter algum tipo de êxito. No entanto, sua concepção da opressão das mulheres é liberal e idealista. A supremacia máscula não se perpetua somente pelo fato de que as pessoas não percebem a construção social do gênero ou por uma desgraçada equivocação que devemos de alguma maneira corrigir. Se perpetua porque serve aos interesses dos homens. Não há razão para que os homens tenham que abrir mao de todas as vantagens econômicas, sexuais e emocionais que lhes oferece o sistema de supremacia masculina, só para que possam vestir-se com saias. Do outro lado, a opressão das mulheres não só é constituída pela obrigação em maquiar-nos. A imagem de um homem com saia ou de uma mulher de gravata não basta para liberar uma mulher de sua relação heterossexual, enquanto o abandono da opressão pode causar-lhe sofrimento social, econômico e provavelmente até mesmo físico, e em algumas ocasiões a perda de sua vida.

Segundo as defensoras dos jogos de gênero, o potencial revolucionário reside não apenas na adoção de um gênero de aparência inadequado, a saber, a feminilidade por parte de um homem ou a masculinidade por parte de uma mulher. Parece ser que também a representação do gênero previsto pode ser revolucionaria. Faz tempo que essa ideia tem estado presente na teoria gay masculina. Os gays que tem descrito o fenômeno do homem clónico vestido de coro dos 70 não fecharam acordo sobre o papel revolucionário desse fenômeno. Muitos teóricos gays mostraram seu incomodo, coisa bastante compreensível. Ao seu entender, o modelo viril dos gays traía os princípios da liberação gay, que tratava de destruir os estereótipos de gênero, considerando a masculinidade como um conceito opressivo para as mulheres. Outros autores ressaltaram o caráter revolucionário do tipo masculino gay pelo seu questionamento do estereotipo gay afeminado. Por outra parte, também sinalizaram que o potencial revolucionário do gay masculinizado pode permanecer invisível, uma vez que o espectador desatento não o reconhece como gay, mas o toma simplesmente por masculino. De que maneira deveria saber-lo? O argumento do caráter politicamente progressista da masculinidade utilizado pelos homens gays parece, por último, uma simples maneira de justificar algo que certos gays desejam ou que os atrai. A aprovação se inventa depois do fato, talvez porque alguns gays se deram conta do caráter retrogrado da pose masculina que adotavam para “se camuflarem”, se sentirem poderosos ou sexualmente atrativos. Necessitavam justificar-se.

O retorno ao gênero produzido na comunidade dos homens gays a partir de finais dos 70, em termos de um renovado entusiasmo pelos espetáculos de travestismo e por um novo estilo viril, aparece na comunidade lésbica muito mais tarde. Somente nos anos 80 começamos a observar um retorno ao gênero entre as lésbicas, com a reabilitação dos jogos de papéis e a aparição das lésbicas “de carmim”. As ideias das obras dos Mestres pós-modernos se mostraram sumamente convenientes porque constituíam uma justificativa intelectual e permitiam anular e ridicularizar, desde a academia, qualquer objeção feminista. Em Gender Trouble, Judith Butler demonstrou que a psicanálise de “antigamente”, representada por um trabalho de Joan Riviere de 1929, somado a algumas declarações de Lacan sobre a feminilidade como mascarada e paródia, podem ser utilizadas pelas novas teóricas lésbicas e gays procedentes dos estudos culturais em defesa da representação da feminilidade pelas lesbianas como uma estratégia política. Em outro lugar essa representação é chamada “mimetismo”, ainda que essa palavra não se adeque à análise de Butler, dado que sugere a existência de um original que é mimetizado e, de fato, ela não o utiliza. Carol-Anne Tyler explica a ideia do mimetismo da seguinte maneira, recorrendo a Luce Irigaray:

Segundo Irigaray, mimetizar significa “assumir o papel feminino de propósito (…) para fazer visível, através de um jogo de repetições, algo que deve permanecer invisível”. Representar o feminino significa “dizer-lo” com ironia, entre aspas… como hipérbole… ou como paródia (…). No mimetismo e também no campo, a ideologia se “faz” com a finalidade de se desfazer, e assim agregar novos conhecimentos: que o gênero e a orientação heterossexual que deve assegurar-lo são antinaturais e inclusive opressivos.

Entretanto, Tyler critica essa ideia. Afirma que se todo gênero é uma mascara, é impossível distinguir a paródia do “real”. O real não existe. Dessa maneira, o potencial revolucionário se perde.

A ideia do mimetismo esta presente no elogio que algumas criticas culturais fazem de Madonna. Afirmam que Madonna acaba com a ideia de rigidez e autenticidade do gênero, ao assumir a feminilidade como representação. O mimetismo requer a exageração do papel feminino assumido. Ao que parece, é assim que as espectadoras inexpertas devem reconhecer que estão diante de uma estratégia revolucionaria. O excesso de maquiagem ou da altura dos saltos indicaria que o gênero é entendido como representação. Cherry Smyth, nome conhecido da política queer, aponta em uma resenha sobre a obra da fotografa lésbica Della Grace que a indumentária feminina tradicional pode ter um efeito revolucionário:

Na realidade, parte da iconografia foi inspirada nas e na moda pós-punk, o que confere uma autonomia violenta à elegância femme, e converte o fato de levar mini-saia e de exibir o corpo em um gesto conscientemente antiestético e intimidatório, antes que vulnerável e submisso.
A encarnação por excelência desse estilo é, segundo Smyth, “a própria Madonna, provavelmente um dos exemplos mais famosos da transgressão queer”. As teóricas feministas que não são nem queer e nem pós-modernas tem grandes dificuldades para apreciar a transgressão da Madonna contra outra coisa que não seja o feminismo, o antirracismo e política progressista em geral. A teórica feminista estadunidense negra bell hooks aponta que Madonna não denuncia as regras da supremacia masculina branca, mas as acata e explora. Segundo hooks, as mulheres negras não podem interpretar o loiro dos cabelos de Madonna como uma “simples escolha estética”, mas que para elas isso nasce da supremacia branca e do racismo. A autora entende que Madonna utiliza sua “condição de marginal” em Truth or Dare: In Bed With Madonna com o propósito de “colonizar e apropriar-se da experiência negra para seus próprios fins oportunistas, ainda que trate de disfarçar de afirmativas suas agressões racistas”. Aponta que, quando Madonna utiliza o tema da garota inocente que se atreve a ser má, “se apoia no mito sexual racista/sexista incessantemente reproduzido, segundo o qual as mulheres negras não são inocentes e nem chegariam a sê-lo, jamais”. Hooks começa seu artigo com uma citação de Susan Bordo que sinala que o “potencial desestabilizador” de um texto só pode ser medido em relação à “prática social real”. Se acatamos o “potencial desestabilizador” do mimetismo segundo essa perspectiva, descobrimos numerosos exemplos em nosso entorno – nos meios de transporte publico, nas festas do escritório, nos restaurantes – nos quais as mulheres adotam uma feminilidade exagerada. É difícil distinguir entre a feminilidade irreflexiva e corrente, e a sofisticada feminilidade como mascarada. Aqui também encontramos certo esnobismo. Mulheres que levam vestimentas muito parecidas são julgadas com critérios distintos, sendo elas antiquadas e ignorantes ou tendo cursado estudos culturais, lido Lacan e tomado a decisão deliberada e revolucionaria de colocar um body. Por que tanta agitação sobre esse tema? É difícil acreditar que as teóricas lésbicas pós-modernas realmente entendam o mimetismo e os jogos de papeis como uma estratégia revolucionaria. No entanto, a teoria permite que as mulheres que queiram usar o fetichismo do gênero para seus próprios fins, sejam eles de índole erótica ou simplesmente tradicional, o façam com um petulante sentido de superioridade política. Parece divertido jogar com o gênero e com toda a parafernália tradicional de domínio e submissão, poder e impotência, que o sistema de supremacia política cria. Se a maquiagem e os sapatos de salto agulha representavam dor, gastos, vulnerabilidade e falta de auto-estima para a geração de mulheres que se criaram na década dos 60, a nova geração de jovens nos informa que essas coisas são maravilhosas, uma vez que se tratam de escolhas. Essa nova geração se pergunta incrédula como podemos nos divertir sem depilarmos as sobrancelhas ou as pernas. Enquanto isso, a construção de gênero parece incontestada. Estamos diante do fenômeno da participação de certas lésbicas na tarefa de reforó da fachada da feminilidade. Houve um tempo em que as feministas lésbicas apareciam em público ou na televisão vestidas de uma maneira que escapava deliberadamente do modelo feminino, como uma estratégia de conscientização. Acreditávamos que, dessa forma, mostrávamos às mulheres uma possível alternativa ao modelo feminino. Atualmente, todas as parodistas, mimetistas e artistas de performance nos dizem que o sistema da supremacia masculina sofrerá uma maior desestabilização se uma lésbica se vestir da mesma maneira que uma mulher heterossexual extremamente feminina. É difícil saber por que. As mais desestabilizadas são, muito provavelmente, as feministas e as lésbicas, que se sentem totalmente desarmadas e inclusive humilhadas por uma lésbica que demonstra e proclama que também quer ser feminina. Além do retorno ao gênero, há outro aspecto do enfoque pós-moderno dos estudos lésbicos-e-gays que não parece constituir uma estratégia revolucionaria realmente útil. Trata-se da incerteza radical em respeito às identidades lésbica e gay. Tanto os teóricos como as teóricas adotam uma postura de incerteza radical. Para os incipientes movimentos lésbico e gay dos 70, nomear e criar uma identidade eram princípios políticos fundamentais. Nomear tinha uma importância especial para as feministas lésbicas conscientes de como as mulheres desapareciam normalmente da historia, da academia e dos arquivos, ao perder seu nome quando se casavam. Éramos conscientes da importância de fazermo-nos visíveis e de lutar por permanecer visíveis. A adoção e a promoção da palavra “lésbica” eram fundamentais, uma vez que estabeleciam uma identidade lésbica independente dos homens gays. Por conta disso, s feministas lésbicas do mundo ocidental intentavam preencher essa identidade de sentido. Estávamos construindo uma identidade política consciente. As feministas lésbicas sempre defenderam um enfoque construcionista social radical para o lesbianismo. Por meio de poemas, trabalhos teóricos, conferencias, coletivos próprios, bem como o trabalho político de cada uma, íamos construindo uma identidade lésbica que se propunha a vencer os estereótipos preconceituosos e predominantes e que devia formar a base para nosso trabalho político. Tratava-se de uma identidade historicamente especifica. A identidade lésbica que constroem as atuais libertarias sexuais e as teóricas da nação queer é radicalmente diferente. A identidade escolhida e construída deve ser correspondente às estratégias políticas que se querem empreender. A teóricas e os teóricos do pós-modernismo lésbico-e-gay também refutam o conceito de uma identidade temporalmente estável. Por trás desse empenho existem três questões políticas. A primeira é o medo do essencialismo. Não parece ser uma questão especialmente relevante para as feministas lésbicas, que são conscientes de que sua identidade lésbica é uma construção social deliberada e claramente intencional. Gera preocupação, entretanto, sobretudo aos teóricos gays, involucrados numa cultura gay muito mais arraigada na ideia de uma identidade essencial que a lésbica. A preocupação dos homens gays em relação ao essencialismo é derivada de uma especial atenção da teoria lésbica-e-gay a este tema. Segundo as palavras de Richard Dyer em Inside/Out, a “noção de homossexual”:

(…) parecia se aproximar demasiadamente às etiologias biológicas da homossexualidade que haviam sido utilizadas contra as relações entre pessoas do mesmo sexo e, ao exibir o modelo inexorável do nosso ser, nos privavam da prática política de decidir o que queríamos ser.

A outra questão política que se esconde por trás do empenho da incerteza radical, é a de evitar o etnocentrismo. Um conceito estável sobre a identidade de uma lésbica ou de um homem gay seria necessariamente o reflexo das ideias do grupo racial ou étnico dominante, e não prestaria atenção às consideráveis diferenças vivenciais e práticas das demais culturas.
Dyer aponta:

Os estudos que tratavam de estabelecer uma continuidade da identidade lésbica/gay, através de distintas épocas e culturas, impunham o conceito que temos atualmente na “nossa” sexualidade à diversidade e às diferenças radicais que existem, tanto em relação ao passado quanto em relação às “outras” culturas (não brancas, do terceiro mundo), ocultando as diferenças entre lésbicas e homens gays.
Do movimento de liberação das mulheres e do feminismo lésbico surgiu uma considerável quantidade de trabalhos realizados por mulheres negras e pertencentes a minorias étnicas, que afirmam suas próprias identidades sem, por meio disso, desestabilizar radicalmente a ideia da existência lésbica. Lésbicas negras, judias, chicanas, asiáticas e indígenas realizaram esses trabalhos afirmando sua identidade lésbica. Essa identidade comum nasce da cultura urbana do ocidente e provavelmente não pode ser trasladada fora desse cenário. As lésbicas indígenas australianas, por exemplo, questionaram o valor que pode ter uma palavra derivada de certa ilha grega para sua própria identidade, afirmando que no amor entre mulheres em uma cultura indígena tradicional não há espaço para uma identidade lésbica urbana. Entretanto, as lésbicas políticas de maneira geral tem fincado o pé na importância de uma identidade reconhecível para a organização das lésbicas na cultura urbana ocidental. O fato de que essa identidade necessite de significado para a maioria dos povos indígenas ou para as pessoas não urbanas não lhe retira sua importância, como instrumento organizador, dentro do seu próprio contexto. Outro motivo para suspeitar da identidade lésbica ou gay se apoiava nas noções foucoultianas sobre “o exercício mesmo do poder através da regulação do desejo ao qual a política e a teoria lésbica/gay supostamente de opunham”. Segundo Dyer, se as categorias da homossexualidade foram idealizadas como ferramentas de controle social, devemos observar de que forma a nossa utilização dessas categorias pode contribuir para essa regulação. É útil e proveitoso que recordemos nossa obrigaçao de expressar tanto nossa pratica política quanto nossos pressupostos políticos – por exemplo, o fato de nos chamarmos lésbicas -, com o fim de comprovar que o nosso procedimento não se torne politicamente inútil ou prejudicial. Não obstante, se nos atemos ao uso que se faz nos escritos lésbicos da incerteza radical, nos questionaremos se a limpeza geral não foi longe demais. As autoras pós-modernas anunciam, com fervor, a importância da sua postura subjetiva, afirmando que não poderiam aspirar à universalidade ou à objetividade. As feministas lésbicas desenvolvem sua própria versão – à margem da teoria pós-moderna – nos boletins informativos dos oitenta, onde se encontram descrições da seguinte ordem: “ex-hétero, classe media, obesa obsessa, feminina, libra”, etc; entretanto, habitualmente estavam seguras de todos esses aspectos de sua identidade. Elizabeth Meese nos brinca um exemplo da versão pós-moderna da incerteza radical: Como é que a lésbica parece uma sombra – uma sombra de/dentro a mulher, de dentro a escritura? Uma forma contrastada em um teatro de sombras, algo amorfa, com as bordas difusas devido à inclinação do campo visual, da tela sobre a qual se projeta o espetáculo. O sujeito lésbico não é tudo o que sou e está em tudo o que sou. Uma sombra de mim mesma que da fé da minha presença. Não estou nunca de/fora esta lésbica.E sempre dando voltas, assim e assado, aqui e ali. As sombras, para não falar no corpo, compõem uma complexa coreografia na nossa luta por um significado. Os textos pós-modernos sobre os temas lésbicos começam com varias paginas desse tipo de reflexões introspectivas sobre a identidade lésbica da autora. Assim mesmo, as acadêmicas pós-modernas tentam empregar os vinte primeiros minutos de suas conferencias questionando sua própria postura subjetiva e deixando pouco espaço para o verdadeiro conteúdo da fala que o público espera com paciência. Possivelmente muitas leitoras lésbicas nunca tenham se sentido como uma sombra, ou complicadas em uma busca formidável por seu significado; não obstante, os textos das feministas pós-modernas estão repletos de balbucios desesperados sobre a dificuldade de falar ou de escrever. Há certa angustia de artista atormentada à qual não nos podemos permitir na nossa luta política habitual, se nos propomos simplesmente a expressar-nos com a maior frequência possível. O texto de Judith Butler em Inside/Out começa com uma angustiada introspecção sobre quem é ela ante uma solicitação de que desse uma conferencia como lésbica:

De principio, pensei em escrever um ensaio distinto, em um tom filosófico: o “ser” de ser homossexual. As perspectivas de ser algo, sobretudo em troca de dinheiro, sempre me causaram certa angustia, uma vez que “ser” lésbica parece ser mais profundo que o simples mandato de converter-me em algo que já sou. E dizer que isso é “uma parte” de mim não aplaca minha angustia. Escrever ou falar como lésbica aparece como um aspecto paradóxico desse eu, nem verdadeiro e nem falso. Trata-se de um produto, a resposta à petição de sair ou escrever em nome de uma identidade que atua em muitas ocasiões como um fantasma politicamente eficaz. Não me sinto confortável com as “teorias lésbicas”, “teorias gays”, uma vez que (…) as categorias de identidade se propõem a ser instrumentos de um regime regulador (…). Não quero, com isso, dizer que em atos políticos não voltarei a me apresentar pelo signo da lesbiana, mas gostaria de conservar uma permanente duvida sobre o significado exato desse signo.
Um texto como esse parece preocupante, se analisado de uma perspectiva política. Na frase inicial, Butler emprega a palavra homossexual para referir-se a si mesma, algo que uma feminista lésbica não faria nunca. Para grande parte das lésbicas que se uniram à luta política nos 60, e que se negariam a ser incluídas junto aos homens gays em uma mesma categoria designada por uma única palavra, o vocábulo homossexual tem conotações especificamente masculinas ainda maiores que a palavra “gay”. O que indica que Butler pertence ao grupo das novas teóricas lésbicas-e-gays que optaram por abandonar uma política lésbica independente. Seu uso de certar palavras pode ajudar-nos a situá-la dentro do panorama político, ainda que sua angustia ao perguntar-se onde se situa constitua um problema para a política lésbica e para a política gay. Não é emocionante ou interessante enfrentar as mostras de incerteza radical, ainda que isso não baste como critica. O que temos que perguntar e o que muitas feministas heterossexuais, autoras negras e lésbicas tem se perguntado é o seguinte: é politicamente útil pleitear tantas duvidas sobre a palavra lésbica ou sobre outras categorias políticas, como mulher ou negra, quando os grupos oprimidos que utilizam essas categorias de identidade estão apenas começando a abrir seu espaço na historia, na cultura e na academia? Com o questionamento das posturas subjetivas, os teóricos pós-modernos pretendiam obrigar os membros dos grupos dominantes a reconhecer sua parcialidade, para que as leituras pudessem reconhecer que determinados textos formavam parte de um sistema regulador. Tudo isso está bem; entretanto, não são precisamente os membros dos grupos dominantes que aproveitaram a ocasião para demonstrar sua incerteza radical, e não temos motivos para pensar que o farao. Não são os vice-reitores das universidades tradicionais que começam suas conferencias com vinte minutos de titubeios sobre suas posturas subjetivas e seu direito a dizer o que vão dizer. Tampouco são os acadêmicos homens, heterossexuais e brancos, quem majoritariamente aproveitam tal contexto. Ao que tudo indica, são sobretudo as mulheres, as lésbicas e os gays, assim como as minorias étnicas em geral que se sentem obrigados a mostrar sua incerteza radical. Enquanto os regimes reguladores conservam suas certezas, talvez a melhor forma política de combatê-los seja mantendo, nós também, algo de certeza sobre quem somos e o que estamos fazendo. Talvez a obrigaçao de exibir uma atitude de incerteza radical coincida simplesmente com a dificuldade habitual dos grupos oprimidos de se reafirmarem perante a máquina dominante, produtora de mitos. Só faz com que nos sintamos impotentes. Diana Fuss dedica um capítulo inteiro do seu livro Essentially Speaking à questão da política de identidade das lésbicas e dos gays. Ao seu modo de ser, as teóricas lésbicas estão mais comprometidas com a ideia de uma identidade essencialista que os gays.

A teoria lésbica atual está geralmente menos disposta a questionar ou abandonar a ideia de uma “identidade lésbica” junto com a política de identidade que deriva dessa essência comum. Por outro lado, os teóricos homens gays referendaram rapidamente a hipótese construcionista social que proclama Foucault, e vêm desenvolvendo análises mais escrupulosos referentes à construção histórica das sexualidades.
Imagino que essa afirmação tenha gerado uma autentica surpresa para as leitoras feministas lésbicas, porque nossa experiência indica o contrário. Na minha trajetória enquanto docente, pude constatar que a ideia da homossexualidade masculina como uma construção social é mal aceita pela maior parte dos alunos. Por outro lado, não é esse o caso das lésbicas; no final das contas, muitas delas decidiram amar a outras mulheres por razoes políticas, mesmo tendo passado meia vida como esposas e mães e sem sequer imaginar a possibilidade de se sentirem atraídas por mulheres. Muitos poucos homens gays compartem essa experiência. Dificilmente dirão que sua preferência sexual tem motivos políticos e que é consequência de uma decisão consciente de renunciar às mulheres ou à heterossexualidade. Talvez Fuss queira dizer que as autoras lésbicas não promoveram a ideia da construção social, ainda que muitas lésbicas a tenham aceitado a nível vital. Mas essa afirmação tampouco parece razoável. Existe uma abundante bibliografia referente ao lesbianismo político e a ideia da heterossexualidade como instituição política sobre a qual se fundamente a opressão das mulheres. Entretanto, a exceção de algumas alusões a Adrienne Rich, Fuss se omite em relação a esses textos. Talvez não os conheça, ainda que grande parte ainda seja usada nos cursos de estudos das mulheres. Segundo Fuss, as lésbicas aderem ao essencialismo cm maior entusiasmo que os gays pelo fato das mulheres serem mais marginalizadas, pois assim criaríamos identidades que nos garantiriam maior seguridade. Quando, na realidade, deveria se questionar o contrário: por que os homens gays, com menos necessidade de uma identidade essencialista que lhes gerasse seguridade, aderem a essas ideias com maior tenacidade? De acordo com Fuss e outras teóricas lésbicas-e-gays pós-modernas, Foucault revelou para o mundo a construção social da sexualidade. E concretamente nos mostrou que as identidades sexuais se vivem de distintas maneiras em distintas épocas históricas. Fuss acredita que o fato de que existiram “escassos análises foucaultianos em torno da sexualidade lésbica, a diferença dos copiosos estudos sobre o sujeito gay masculino”, pode ser resultado de uma suposta maior necessidade das lésbicas de professar um essencialismo político. Uma afirmação verdadeiramente surpreendente. Além do equivoco de atribuir o essencialismo à teoria lésbica, há um problema mais: por que as lésbicas deveriam praticar análises foucaultianos? Por que, para descrever sua experiência, deveriam valer-se da obra de um gay que nunca teve em conta as mulheres, muito menos as lésbicas, e cujas “grandes descobertas” foram precedidas em anos pelo feminismo lésbico? Algumas feministas lésbicas – notavelmente Lillan Faderman – realizaram trabalhos magníficos sobre as formas cambiantes e a evolução do amor entre mulheres ao largo da historia. Não obstante, Fuss não menciona a Faderman. Como consegue ignorar o feminismo lésbico e pensar que as lésbicas não poderiam produzir um corpus teórico sem que se pugnem para que possam ajustar-se aos conceitos inapropriados de um homem gay? Deve ser porque Fuss não parte da teoria lésbica e nem do feminismo lésbico. Não compreende que a teoria gay masculina nunca poderá abarcar o lesbianismo por completo. Ao falar da importância das teorias construcionistas sociais sobre a identidade lésbica e gay, sugere que estas contribuiriam à teorização das diferenças existentes entre as lésbicas e os homens gays, se bem essas diferenças não lhe pareçam importantes:

(…) as teorias sociais nos permitem traçar uma importante distinção entre os homens gays e as lésbicas, dois grupos que as investigações sobre as minorias sexuais aglutinam ainda que, de fato, não se construam exatamente da mesma maneira.
Poderíamos ir mais longe e dizer que as lésbicas e os gays se constroem, na realidade, de maneira radicalmente diferente; entretanto Fuss, com seu enfoque consequentemente lésbico-e-gay, opta por ser mais suave e cautelosa. Se levarmos em conta que as teóricas e os teóricos do pós-modernismo se consideram campeões da atenção à “diferença”, é interessante observar que em algumas ocasiões se mostram bastante tímidos na hora de constatar as diferenças politicamente construídas entre homens e mulheres. Fuss parte da teoria gay masculina e dos homens pós-modernos em geral. E, se por um lado não cita a Faderman, sua bibliografia lista dezenove títulos de Derrida. A obra desse filósofo parece ter comovido profundamente a algumas teóricas lésbicas e feministas no que se refere ao essencialismo. Fuss menciona seus “recentes esforços em reconstruir a essência”. Obviamente a palavra “essencialismo” não se emprega nesses escritos pós-modernos com um sentido tradicional. Muitas detratoras da teoria feminista radical a acusam – sem nem sequer possuírem provas – de ser essencialista no sentido tradicional do determinismo biológico. As ativistas anti-pornografia, por exemplo, são acusadas de sustentar que a sexualidade masculina e feminina não essencialmente diferentes. Mas Fuss não emprega a palavra no mesmo sentido. Igual que outras teóricas pós-modernas, tende a usá-la para denotar toda política que se apoie em algum conceito de identidade, construída ou não construída, assim como toda política que confia em certa afinidade entre as pessoas de uma determinada classe, sobre a qual é possível construir uma teoria ou uma ação política. Esse conceito de essencialismo se dirige contra qualquer sugestão ou tentativa de ação política, de maneira que algumas feministas e outras ativistas chegaram à conclusão de que a palavra é simplesmente uma maneira de vulgarizar a ação política. Possivelmente, os pós-modernos tenham cometido o verbicídio dessa palavra, que já não poderá ser utilizada de maneira produtiva. Os conflitos de teóricas como Butler e Fuss, com respeito aos conceitos de gênero e identidade, tem sua origem na obra de suas autoridades masculinas. Essas lésbicas não têm suas raízes teóricas dentro da política lésbica ou feminista, e se dedicam a construir uma política lésbica e gay unificada, apoiada na teoria gay masculina. Desaprovam a política feminista lésbica, se é que a mencionam – por não estar na altura de seus Mestres Pós-Modernos – e pugnam para encaixar a política lésbica nas teorias pós-modernas, sem solução de continuidade. Enquanto isso, as teóricas feministas lésbicas se vêm complicadas em uma estranha função de teatro de sombras, tratando de refutar a intrusão de uma teoria totalmente inapropriada ao cenário, sem conhecer suas origens. Poucas lemos os dezenove textos de Derrida e tampouco temos vontade de fazê-lo, ainda que sejamos obrigadas a responder às perguntas feitas por suas seguidoras. Por minha parte, afirmo que as teóricas pós-modernas, por atrevidas que se imaginam, simplesmente aplicam uma camada de verniz intelectual sobre as velhas teorias do liberalismo e do individualismo. O caso da pornografia é um bom exemplo das consequências que o contato com a teoria pós-moderna pode exercer sobre as análises políticas. Kobena Mercer formava parte do Grupo de Gays Negros de Londres e, atualmente, ministra aulas de história da arte na Universidade da California; durante sua vinculação ao Grupo de Gays Negros, utilizava as contribuições das militantes feministas anti-pornografia para criticar a obra do fotógrafo gay branco estadunidense Robert Mapplethorpe. Grande parte do travalho de Mapplethorpe gira em torno de nus de homens negros. Segundo a interpretação de Mercer, a fotografia “Homem com traje de poliéster”, que mostra o perfil de um homem negro com o pênis seccionado ou “decapitado”, por assim dizer, perpetua o “estereotipo racista, segundo o qual o homem negro não é essencialmente mais que seu pênis”. Na opinião de Mercer, as fotografias perpetuavam o “fetichismo racial”, uma “idealização estética da diferença racial que simplesmente inverte o eixo binário do discurso colonial”. Mais tarde, nos dice Mercer, e por conta de seu contato com a teoria pós-estruturalista, descobriu as interpretações contraditórias da obra de Mapplethorpe. Sua posição atual na academia fez com que deixasse de sustentar posturas que poderiam ser consideradas “toscamente políticas”, graças às ideias de estudos culturais pós-modernos, se deu conta de que:

A multiplicidade de interpretações contraditórias sobre o valor da obra de Mapplethorpe aponta para o fato de que o texto não tem um significado único, singular e inequívoco, mas se presta a um sem fim de interpretações.
Mercer decide que o argumento da “morte do autor” que esgrime a teoria pós-moderna converte em “incontestável” a pergunta de se os nus de homens negros de Mapplethorpe “reafirmam ou solapam os mitos racistas em torno à sexualidade dos negros”. Agora questiona sua própria postura subjetiva ao contemplar as fotografias, e se pergunta se sua “raiva se confundia com sentimentos de ciúme, rivalidade ou inveja”, sendo “a raiva e a inveja” consequência da sua “identificação tanto com o objeto quanto com o sujeito do olhar”. Esse tipo de crítica da cultura se apoia no indivíduo. Trata-se apenas de uma opinião, e as opiniões são muitas e variadas. “Uma grande parte depende do leitor e da leitora e da identidade social que eles aportam ao texto”. Mercer se converteu à incerteza radical e se desfaz em desculpas sobre sua postura anterior e claramente anti-racista, tal qual, como vimos nesse livro, fizeram muitas feministas com seu constrangedor feminismo do passado. Outro exemplo da perda do significado político que provoca o jargão pós-moderno é a sinopse de un ciclo de conferências chamado “As forças do desejo”, apresentado no prestigioso centro de Investigação de Humanidades da Universidade Nacional Australiana de Canberra em junho de 1993. Os principais temas foram a revisão da sexualidade sem a preponderância de um modelo maestro e a estruturação e reestruturação do desejo. Os conferencistas são convocados a abordar uma série de temas: as múltiplas sexualidades como práticas e estilos de vida, à margem dos modelos dominantes com sua ênfase na sexualidade – masoquismo, sadismo, perversões, heterossexualidades, sexualidades gays, a sexualidade como normativa e as possibilidades e os atos de resistência contra essas normas e sua transformação; o saber como parte integrante das práticas sexuais: a erótica de produção do saber, o desejo pelo saber; a interação entre sexualidade, saber, poder e violência. As leitoras lésbicas se perguntarão onde há espaço para sua própria análise. De fato, elas não são nem mencionadas. Parece que desapareceram dentro das “sexualidades gays”. Quantas dessas sexualidades existem? A lista das sexualidades múltiplas está encabeçada pelo masoquismo e o sadismo, e em nenhum lugar há referências a um modelo especificamente igualitário. A crítica feminista lésbica da heterossexualidade como instituição não parece ser bem recebida, já que nesse “modelo” só aparece como “heterossexualidades”, forma plural que desaconselha de alguma maneira uma análise dessa índole. Os “s” finais da forma plural aparecem em toda classe de contextos, coisa nada surpreendente em um enfoque pós-moderno, ansioso por abarcar todas as eventualidades com formas plurais, que acabam excluindo a lésbicas e feministas, junto com grande parte do que poderíamos chamar de uma análise política. Em nome da “diferença”, tudo foi homogeneizado. Sempre me pergunto como se decidem os singulares e plurais. Por exemplo: masoquismo, sadismo, desejo e poder aparecem em singular, mas todo o restante é plural. Não há dúvida de que aqui intervém uma determinada política, talvez até mesmo um “modelo maestro”. Desde meu lugar, suspeito que se trata da política sexual libertaria orientada às minorias sexuais a prática política dominante dos homens gays atuais. Talvez as “sexualidades gays” impliquem a inclusão da pedofilia, do transexualismo, etc., tudo isso equiparável ao lesbianismo – se é que este tem lugar. Não há nenhuma feminista radical ou revolucionária na lista de bolsistas ou conferencistas. No entanto, nela figura Gayle Rubin, defensora do sadomasoquismo lésbico e do transexualismo lésbico butch; Jeffrey Weeks, historiador gay foucaultiano; Carol Vance, uma destacada teórica libertária dos estudos lésbicos-e-gays; assim como Cindy Patton, que encontramos no capítulo 2 queixando-se do papel crucial que as feministas outorgam ao tema dos abusos sexuais. Deve ser difícil par

a as sadomasoquistas e habitantes das “margens sexuais”, como Rubin, manter sua imagem temerária quando recebem convites e ajudas econômicas procedentes dessas prestigiosas instituições.
A teoria lésbica-e-gay pós-moderna faz com que aqueles que não querem outra coisa senão utilizar as ferramentas e a parafernália do sexismo e do racismo, se sintam não somente em seu direito, mas revolucionários. Os jogos de papéis lésbicos, o sadomasoquismo, a masculinidade do homem gay, o travestismo (drag), o mimetismo da Madonna, a utilização dos homens negros e da iconografia negra, os estereótipos sexuais racistas de Mapplethorpe: de tudo isso podem extrair o prazer e o proveito do sistema da supremacia masculina, no qual o sexo é e não poderá ser nada mais que desigualdade de poder. Então, desfrutar do status quo se denomina “paródia”, para que os intelectuais alarmados pela sua própria excitação possam senti-la tranquilamente. Às teóricas lésbicas-e-gays pós-modernas que não queiram conseguir seu prazer dessa maneira, as ideias da incerteza radical, da natureza utópica ou essencialista de todo projeto de mudança social, lhes proporcionam o suporte teórico de um liberalismo e de um individualismo cavalheiresco.

A Lésbica Marginal

Nos anos 80 e 90,muitas lésbicas buscaram se rebelar contra o feminismo, em lugar de se rebelarjunto dele. Uma das razões para isso é o romance lésbico com o status decriminoso. O status lésbico de criminalidade é, para muitas lésbicas, uma fonteimportante de satisfaçãovinda do lesbianismo. Aolado de todas as desvantagens e penalidades da desaprovação social, olesbianismo oferece o glamor e excitação da criminalidade. Talvez isto não sejauma compensação suficiente para a perda de aprovação social, para aquelas quequerem uma vida calma em lugar das delícias da ousadia, mas mesmo quando estátotalmente confinada na cabeça em vez de na experiência vivida, a criminalidadeparece oferecer um tipo de consolo. Tanto feministas lésbicas como lésbicas porestilo de vida podem tirar proveito do status criminoso. Feministas lésbicas ganham a vantagem ambígua de serem criminosas tantono mundo heterossexual como no mundo lésbico, devido à sua política. Umdesafio real à instituição política da heterossexualidade provê uma experiênciade criminalidade e até mesmo de martírio para suas expoentes, mas essa versãoda criminalidade não é assim tão excitante agora como já foi para jovenslésbicas há uma década.

Lésbicas por estilo de vida, que sequer sonhariam em oferecer umdesafio para o mundo da hetero-realidade dominante, dado que veem a orientaçãosexual como mera questão de preferência, podem ganhar o status de criminosaspela adoção do que é visto como uma ‘criminalidade sexual’, isto é, osadomasoquismo. As novas lésbicas consideradas “sexualmente criminososas” podemcompensar os problemas postos pelo feminismo lésbico e pelo crescimento dacultura lésbica, em direção ao status de criminalidade. Se houve um tempo onde a criminalidade poderia ser afirmada apenas pelaadoção da sexualidade e estilo de vida lésbicos, parece que a aparenteampliação das possibilidades sociais conquistadas para as lésbicas, pelaliberação lésbica, tornou as coisas fáceis demais. Uma personagem noromance de Sarah Schulman, After Delores, expressa esse sentimento:

“Hoje em dia, é fácil demais ser gay em Nova York. Eu soudaquele tempo em que a excitação sexual só podia existir em lugares escondidos.Mulheres doces precisavam se arriscar constantemente para fazer amor comigo.Toda a minha vida erótica se envolve em intriga e segredos. Hoje em dia, vocênão entende o que é isso. De maneira nenhuma. As lésbicas nunca mais serão tãosensuais” 1

Uma cena lésbica expandida foi criada largamente pelos esforçosdas feministas lésbicas. Lésbicas que serevoltam contra a possibilidade de vidas lésbicas relativamente aconchegantes,em especial devido à excitação sexual oferecida pela criminalidade, só podemrecuperar sua excitação hoje em dia ao aderir a um estilo e prática desenhadaspara chocar a mesma comunidade lésbica que lhes oferece uma vida fácil demais.Ruby Rich defende que o S/M lésbico se origina em uma tentativa de ganharnovamente essa excitação sexual. Eladescreve a excitação que algumas lésbicas se sentem a perder como um resultadodos sucessos do feminismo lésbico.

“A lésbica saiu da posição de criminosa para aquela de umacidadã respeitável. Já na era pré-Stonewall, anterior a 1969, a lésbica era umafigura muito mais criminosa, tendo sua própria sexualidade criminalizada emdiversas leis, seus desejos eram inaceitáveis, e suas roupas eram um tabu (aomenos para a butch, que era a única lésbica visível naquele período). Paramuitas mulheres, o desejo sobre o lesbianismo não era apenas sexual, mas tambémuma vontade de ser marginal, o mesmo desejo que movia outras subculturas, comoos Beats, atravessar para o lado “errado” do caminho, quisera metaforicamente[?]. Sendo assim, houve uma sensação de perda bastante grande com essarespeitabilidade conquistada a duras penas: a perda do tabu e, com ele, doerotismo” 2

A criminalidade e a decadência foram um tema importante nacultura lésbica do séc. XX. Houve uma época em que os bares lésbicos eram olugar onde os prazeres da rebeldia poderiam ser facilmente apreciados.Surpreendentemente, pouco se escreveu sobre a importância e o significado dobar na cultura lésbica. Karla Jay escreveu um pequeno conto sobre esse tema,denominado Life in the underworld: the lesbian bar as a metaphor. Jay frisa queo bar sobreviveu aos desenvolvimentos que esperaria-se que os teriam feitodesaparecer, tal qual a liberação gay.

“Chegou a hora de admitir que, se não conseguimos honrar o barlésbico, então somos também incapazes de enterra-lo. Tanto quanto nos diasanteriores à liberação gay, os bares são uma parte grande das vidas de lésbicase homens gays… Longe de serem extintos pela liberação gay, a subcultura dosbares se proliferou nos anos após a rebelião de Stonewall em 1969” 3
-
Pode ser que alguns bares lésbicos de hoje, especialmente com odesenvolvimento do tea-dance dos domingos à tarde, tenham se tornado respeitáveisdemais e removido as delícias da criminalidade, mas botecos se mantêm e novasimitações estão sendo criadas ao redor do tema do sadomasoquismo. Há lesbicasque odeiam a ideia do bar e da cultura lésbica de bares, mas para muitas o bartem um apelo constante que deriva de muito mais do que a decadência. O baroferece uma auto-afirmação, particularmente para lésbicas que ainda não saíramdo armário, mas também para aquelas que estão assumidas em todos os aspectos. Obar oferece um lugar para as lésbicas serem elas mesmas. Da forma colocada porJay, “é o único teatro onde as atrizes podem encenar a si mesmas, dado que é nomundo afora que elas elas usam máscaras e desempenham papeis alheios” 4. Obar oferece apoio. Romances lésbicos e histórias populares estão repletos dereferências ao apoio conseguido, particularmente relativos a corações partidos,da parte de outras lésbicas em bares. O bar oferece apoio real na forma denovas amantes, lésbicas solícitas ou house painters.

Mas é irônico que o bar tenha sido capaz de oferecerauto-afirmação quando a atmosfera e as facilidades do bar eram frequentementehostis em aparência. Jay explica sua reação ao ir a um bar lésbico pelaprimeira vez.

“eu fiquei estarrecida …”5

Como apontado por Jay, os problemas associados com o bar lésbicoincluem um sério de abuso de álcool. Bares lésbicos tradicionalmente selocalizam em sótãos cellars ou galpões basements com banheirosimprovisados, fumaça e comidas horríveis. Em um bar particularmente sujo noKing’s Cross, em Londres ao final dos anos 70, a discotecagem ocorria no sótão(que chamávamos de urinol devido ao cheiro persistente e à decor), ou paraalém de muitos lances de escada com banheiros malcheirosos nos landings.Alguns bares são menos sujos hoje em dia, mas geralmente não se enquadram notipo de lugar onde uma pessoa escolheria comer e beber. A sujeira é o resultadoda exploração das lésbicas. Venues dependem da boa vontade de donos quereconheçam o fato de que lésbicas bebem e estão preparados para aceita-las comsuas premissas, apesar de normalmente não as proteger de emboscadas e violênciamasculina enquanto estão lá. Acostumadas a lugares assim, ficamos genuinamentesurpresas de entrar em um venue lésbico que seja tão confortável que nossentimos apenas como pessoas comuns, apesar de que tais lugares geralmente sãoencontrados fora da gra-bretanha.

Mas apesar disso tudo, lésbicas negras e brancas, lésbicas comdiferentes histórias de vida e diferentes classes sociais se juntam no mesmoturf desses bares. Até mesmo bares seriamente sujos podem parecer glamorosospor conta da decadência que incorporam. O conceito de marginalidade é steepedno amor à decadência que é uma temática gay e lésbica poderosa. Isso é reveladona relação de amor e ódio que muitas lesbicas possuem pelo cenário dos bares. Énos bares que a lésbica criminosa encontra um lar e a decadência deve reinar. Aclássica descrição do bar lesbico e gay é dada por Radclyffe Hall em The Wellof Loneliness.

“Enquanto esteve viva, Stephen nunca se esqueceu das primeirasimpressões que teve daquele bar conhecido como Alec’s – aquele ponto deencontro miserável, do mais miserável de todos aqueles who comprised thatmiserable army. Aquele lugar sem piedade, boca de fumo, mórbido, …” 6

Parece que Hall estava, aqui, tentando persuadir suas leitorasde que tal cena era indesejável. Mas ela não teve muito sucesso. Afinal, paraaqueles que acham a criminalidade atraente, isto não é necessariamentedesagradável.

Este romance tido com a decadência e com a criminalidade existena cultura heterossexual também e, em especial, na cultura dos homens gays.Heterossexuais rebeldes da contra-cultura, que obtém prazer ao viver emoposição aos valores suburbanos, podem experimentar um pouco da decadência indoa algum club de jazz sleazy.Paraheterossexuais, a decadência é um caminho escolhido que pode ser rapidamenterevertido a qualquer momento, de volta para o estilo bairrista de vida. Paralésbicas e gays, a natureza sórdida de nossos venues sociais é o resultado denossa opressão. Lésbicas que sejamforçadas a buscar a companhia de outras como ela em bares sujos podem aprendera apreciar a coragem, humor e cultura das lésbicas que ela lá encontra. Exiladapara sempre dos confortos suburbanos, elas podem aprender a encontrar confortoem seu status criminoso. Rebelião, coragem, excentricidade, tudo isso tem seuglamor, especialmente quando não há alternativa. Afinal de contas, maioria daslésbicas provavelmente não quer mesmo ser como “gente normal”. A existêncialésbica, tal qual o bar, é um rebellious thumbing of the nose contra asocidade heterossexual e contra uma familia de origem que possivelmente foiperdida.

Outro motivo possível para a atracao de algumas lésbicas pelosbares pode ser a nostalgie de la boue, uma expressão cunhada ao final do séculoda decadência, c. 1980, para denotar a fascinação pela ‘vida de baixo nível’low life, entre a burguesia. Essa fascinação era reproduzida por homensheterossexuais de classe media, principalmente por meio do engajamento comprostitutas em bares londrinos. É um passatempo fechado a mulheres devido aosriscos à sua integridade física e da exploração sexual. É o trabalho dasmulheres responder as demandas masculinas por decadência, em vez de nossoprazer buscar tal situação. Mas para lesbicas as delicias da nostalgie de laboue estão disponíveis até certo ponto. Oscar Wilde era fascinado pela suaversão favorita da boue, isto é, o uso de homens proletários prositutos edrogas, não apenas nessa prática mas nas artes. Em O Retrato de Dorian Gray, Wilde pinta umaimagem decadentemente romântica do opium den. A caminho de um destes, Graymused:

bla bla bla 7

O ópio encontrado por Gray é convenientemente sórdido.

bla bla bla 8

Há semelhanças, aqui, com os bares londrinos para lésbicas nosanos 70. A descrição de Maureen Duffy de um bar londrino para lésbicas, em seuromance de 1966, O Microcosmo, evoca algo com a mesma atmosfera sinistra eamaldiçoada.

“E isso também é o país das maravilhas, o mundo virou as costas…” 9

Duffy também captura a melancolia romântica que é frequentementeassociada à cena lésbica em sua descrição de uma das frequentadoras do bar.

“Brilhante, triste, rodeada por uma espiral de satélites que sãotrazidos para mais perto ou giram pálidos, luas inconsoláveis distantes nasmargens da luz enquanto seus olhos piscam negativa ou positivamente, ela passapara o bar. Eles giram ansiosamente, hovering para ver quem será chamado pelocalor de seu sol, nesta noite enquanto que o resto é deixado a refletir nosolhos uns dos outros ou furtar-se nas sombras próximas a parede” 10

Aqui, Duffy escolhe expressar a tristeza do cenário dos bareslésbicos. As virtudes positivas, de apoio, amizade e rebelião que os baresofereciam não são expressadas em livros com frequência. Nos impressos, temosmuitos exemplos do meio lésbico e gay sendo descrito como homogeneamentedepressivo, antes dos anos 70. Ele é descrito como um mundo no qual relaçõessao inevitavelmente breves e trágicas, e pobres vítimas sofredoras cortam seuspulsos nos banheiros e, ao envelhecer, vivem vidas insatisfeitas e indesejadas.O bar é visto como um haven para os marginais da sociedade.

Ann Bannon oferece para nós uma visão da cultura lésbica e gayatravés dos olhos de Jack em Mulheres das Sombras. Este é o romance maispessimista que ela fez, como podemos deduzir a partir do título. O próprio Jackestá deprimido a respeito da cena gay, por conta da rotina de ter seu coraçãopartido, e tenta tirar Laura daquele meio para que ela aceite casar com ele porconveniência, e mudarem-se para um bairro mais respeitável.

“Nós não sabemos nada sobre um amor que dure uma vida ou sobreuma vida que valha algo. Perdemos todo nosso tempo de joelhos, cantando hosanaspara os marginalizados. Tentando nos fazer atraentes. Tentando esquecer que nãosomos pessoas saudáveis e generosas como os outros” 11
A imagem dele a respeito de envelhecer na comunidade lesbica éainda mais negativa.

“Você ja viu aquelas mulheres velhas e coitadas vestindo seusoxfords masculinos e cabelos cortados, stumping por aí como almas penadas, errandode bar em bar e encarando as doces crianças e choramingando porque elas nãopodem mais te-las? Ou morando juntas, duas delas, feias e gordas e enrugadas,com nada para fazer e nada com que se importar, além de seus bons e velhostempos que já se foram?” 12

Lésbicas greeted os novos romances positivos dos anos 1969 emdiante, como Patience e Sarah e Floresta Rubyfruit, com entusiamos. 13 É compreensívelque acreditássemos e esperássemos que os romances sobre lésbicas amaldiçoadas fossem algo do passado. Mas não foi o caso.

Desde un nuevo contexto político pesimista la cultura lesbiana de los 90 nos ofrece una descripción de los bajos fondos como ejemplos, la novela norteamericana After Delores y la película Kamikaze Hearts acogida elogiosamente por la crítica. Está resurgiendo el coqueteo con los bajos fondos, la muerte y la desesperación, motivo recurrente en la cultura lesbiana y gay durante gran parte del siglo XX. La citada novela se desarrolla en los sórdidos bares de ciertas zonas abandonadas de Nueva York:

Un tipo con un tatuaje de Iron Maiden vomitó, vuelto hacia nosotras, mientras Coco me conducía por los nuevos bloques de apartamentos y por los pocos hoteluchos que aun quedaban en el Bowery. Pasamos delante del albergue para transeúntes, del restaurante de langostas con sus camareras cantantes, del asqueroso bar de Phoebe y cruzamos el mugriento portal del CBGB, el palacio punk244.

La narradora se halla sumida en el dolor por una ruptura amorosa y no debemos esperar una novela optimista.
238 Ibíd., pág. 142. 239 Maureen Duffy, The Microcosm, Londres, Panther, 1967 pág. 15. Primera edición de 1966. 240 Ibíd., pág. 11. 241 Ann Bannon, Women of the Shadows, Londres, Sphere, 1970, pág 78, Primera edición de 1959. 242 Ibíd., pág. 79. 243 Isabel Miller, Patience and Sarah, Greenwich (Connecticut), Fawcett Publications, 1973. Londres, The Women’s Press, 1979. Rita Mae Brown, Rubyfruit Jungle, P1ainfie1d (Vermont), Daughters Inc., 1973. Hay versión castellana: Frutos de rubi, Madrid, Horas y Horas, 1995. 244 Schulman, 1990, pág. 106.

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Sin embargo, el tono deprimente de la novela transciende esta circunstancia. La industria del sexo constituye el argumento de fondo. Pero en vez de criticarla, la narradora participa alegremente en la utilización de la mujer en la industria del sexo:

Me tomé otra cerveza e intenté decidir si debía dar una propina a la bailarina… Alargué la mano por encima de la barra… tendiéndole un dólar… este cariñito, bendito sea su corazón, me propinó una sonrisa de un dólar, cogió el billete y lo metió en sus bragas como si yo fuera una cualquiera245.

La novela no presenta la elección de una identidad lesbiana como positiva. La narradora define su elección
como un mal menor: “Cuando descubrí lo canallas que podían ser las mujeres consideré por un momento a los chicos, hasta que me acordé de lo deprisa que me aburrían…“246. En la novela se describe una escena de

violación deseada por la protagonista pese al dolor y el desgarro de vagina que le provoca.

En opinión de sus defensoras, estas novelas son realistas y representan un grato cambio que permite a las lesbianas contar las cosas “tal y como son”, sin tener que poner buena cara para dar una imagen favorable. Sin embargo, parece que hayamos vuelto al mundo deprimente de la lesbiana maldita, aunque en esta ocasión falten la felicidad y la risa, el humor descarnado y el coraje de las novelas de Ann Bannon. El avance del feminismo varía la situación actual. Las lesbianas ya no tienen que sentirse tan mal consigo mismas y las editoriales feministas, como la que publicó After Delores en Gran Bretaña, editan también novelas positivas. No basta con acreditar el “realismo” de esta novela: los varones alegan el mismo argumento respecto de Lolita y de American Psycho . Escribir novelas, y sobre todo novelas lesbianas, es un gesto político. La presentación de las lesbianas como fracasadas, malditas, desesperadas y sadomasoquistas es una elección política.

La publicidad califica a la película Kamikaze Hearts de “historia de amor entre lesbianas”. Dos mujeres, una de ellas con cierto parecido con una transexual convertida de hombre en mujer, mantienen una atormentada relación. Ambas trabajan en la industria pornográfica. Mitch saca los morritos y se balancea sobre tacones altísimos, se pinta los labios de rojo chillón, se parece a una drag queen, la follan en la película pornográfica que protagoniza, y dice amar su trabajo. Para Mitch el sexo sobre la pantalla y el sexo fuera de la pantalla son exactamente la misma cosa: teatro, Mitch es adicta a la heroína. Tras sufrir trastornos de lealtad no correspondida, Tigr sucumbe ante los atractivos de Mitch y vuelve a engancharse a la heroína. En la escena final Mitch enarbola una jeringuilla diciendo: “La follé con mi ampolla y le encantó”. La cinta da una falsa imagen de las modelos de la industria pornográfica, que no suelen trabajar por gusto, no por el dinero. Pero la idealización de la decadencia produce esta exaltación de la industria del sexo. La película comparte algunos temas con After Delores: las drogas, el sadomasoquismo, la prostitución y la desesperación.

La prostitución es un elemento omnipresente en el ambiente decadente. La relación de poder que existe en el sistema de supremacía masculina dicta que en los sueños decadentes de los varones no suelen ser ellos los prostitutos sino los consumidores de prostitutas. Cuando las lesbianas optan por la decadencia, actúan de acuerdo con el papel que les asigna su género. Aunque consideren la prostitución un tema esplendoroso y sexualmente satisfactorio para sus protagonistas, en la actualidad tanto las fantasías como la práctica de las mujeres se limita en gran medida a ser no sujeto, sino objeto de la industria del sexo. En un intento de restituir la prostitución como una forma legítima de audacia sexual de las mujeres, Joan Nestle alude a la antología entre los intereses de lesbianas y prostitutas, que han compartido una misma historia de opresión. En su trabajo Lesbians and Prostitutes: A Historical Sisterhood Lesbianas y prostitutas: Hermanas históricas, se propone “demostrar la relación permanente entre Lesbianas y prostitutas, no ya en el imaginario masculino, sino en sus propias historias”247. Afirma que antes del surgimiento del feminismo lesbiano, las prostitutas y las lesbianas compartían el mismo escenario:

En los bares de finales de los 50 y principios de los 60, donde me convertí en Lesbiana, las putas formaban parte de nuestro mundo. Estábamos subidas a los taburetes codo a codo, celebrando juntas nuestras fiestas y haciendo juntas el amor248.

Esta situación era idéntica en Londres en aquellos años. Nestle afirma que más tarde el feminismo lesbiano rompió esta feliz unión de hermanas al relegar la opinión y la presencia de estas “trabajadoras”. En su reivindicación de los lazos de solidaridad entre lesbianas y prostitutas, Nestle expone su reciente opción por ejercer ella misma de prostituta:

Escribo relatos eróticos para revistas Lesbianas, poso de forma explícita para fotógrafas Lesbianas, hago lecturas públicas de textos sexualmente explícitos, vestida de manera sexualmente provocadora, y he aceptado dinero de
245 Ibíd., pág. 26. 246 Ibíd., pág. 35. 247 Joan Nestle, A Restricted Country, Londres, Sheba, 1988, pág. 158, Ithaca (NY), Firebrand Books, 1987. 248 Íbid.

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otras mujeres a cambio de actos sexuales249.

De algún modo resulta difícil imaginarse a Óscar Wilde persiguiendo su nostalgie de la boue de esta manera, pero era un varón de clase media que usaba a los demás como prostitutos, antes de dejarse usar.

Nestle idealiza la prostitución cayendo en la tentación de la decadencia. Tal es el glamour que la prostitución ejerce sobre Nestle, que ha decidido hacer sus propios pinitos en el tema. Nada parece indicar que las lesbianas hayan tenido históricamente trato social con las prostitutas porque les pareciera emocionante, ni que el trabajo de las lesbianas como prostitutas se deba a la excitación sexual o el glamour. Así y todo, la prostitución como fantasía emocionante forma parte de la vida sexual de muchas mujeres heterosexuales y lesbianas. La razón es el perfecto entrenamiento de las mujeres para connotar eróticamente su propia subordinación, y la utilización como prostituta puede considerarse la máxima expresión de la subordinación sexualizada.

Sin embargo, la exaltación de la prostitución es sólo una parte del movimiento político de proscripción sexual que ha surgido entre las lesbianas en los años 80. La nueva política lesbiana de la transgresión es una ramificación de una tradición anterior, perteneciente a la cultura y a la política de los varones gays. En The Sexual Outlaw El proscrito sexual, John Rechy asegura que, por una feliz coincidencia, la práctica sexual tradicional del varón gay constituye un acto revolucionario.

Los homosexuales promiscuos… son las tropas de asalto de la revolución sexual. Las calles son el campo de batalla, la caza del sexo, la revolución; cada vez que un hombre practica el sexo con otro en la calle hace un enunciado radical.

¿Qué significa, pues, ser un proscrito sexual? Como el marginado arquetípico, es:
… símbolo de la supervivencia, viviendo plenamente en el borde, vencedor de todas las amenazas, represión, persecución, prosecución, agresiones, denuncias y odio que, desde los albores de la “civilización”, han tratado de aplastarlo250.

Es posible, empero, que nadie aprecie sus actos revolucionarios realizados bajo un puente o tras unos arbustos. La excitación de su transgresión depende justamente de su carácter furtivo. La rebelión que propone Rechy no es nueva, ni específica de los gays. Antes pertenecía al grupo de los beatnik que exhibía, aparte de la tendencia homoerótica de algunos de sus protagonistas, como Jack Kerouac y William Burroughs, una feroz rebeldía de todos ellos contra una vida respetable y el “gobierno” de las mujeres. Rechy ha abandonado una forma de rebeldía a cambio de otra.

Las lesbianas no se han dedicado tradicionalmente a las mismas prácticas por razones obvias. Si las mujeres exhibieran este comportamiento en la calle correrían un grave peligro. Pero además, la sexualidad lesbiana se ha construido de acuerdo con el mismo modelo que la de las mujeres heterosexuales: más centrada en la relación y en la intimidad, puesto que las mujeres no pertenecen a la clase dominante ni cuentan con una clase sometida cuya utilización sexual sirva para reafirmar su estatus. Al igual que las mujeres heterosexuales, las lesbianas no adquieren mejor estatus gracias a sus proezas sexuales, de manera que no se ha valorado positivamente la actividad sexual asidua y gratuita con extrañas. Las lesbianas no tuvieron que reafirmar su masculinidad, aunque actualmente algunas luchan por adquirirla, un hecho que podría provocar ciertos cambios en su conducta sexual.

Sin embargo, en este momento nos encontramos con que algunas lesbianas aspiran a construir una sexualidad lesbiana que refleje con la máxima fidelidad la marginalidad sexual de los varones gays. En algunos de los estudios lesbianos y gays se manifiesta una nueva verdad política: la desesperación sexual de las lesbianas al compararse con los varones gays. En su antología de 1991, Inside/Out, Catherine Saalfield y Ray Navarro aluden alegremente al “pánico sexual de las lesbianas” como si se tratara de un concepto perfectamente reconocido: “… el pánico sexual de las lesbianas (timidez, represión y un “comportamiento femenino”) existía mucho antes de la aparición del sida”251, apuntan. La lesbiana canadiense Chris Bearchell explica cómo algunas lesbianas tratan de reconstruir la sexualidad lesbiana con el fin de superar este problema:

Muchas tortilleras, incluidas las que nos autodenominamos feministas, somos compulsivas infractoras de reglas. Llevamos a las mujeres a la playa, o nos las encontramos allí, y desaparecemos con ellas tras las dunas, o nos llevamos a nuestro ligue al váter del bar para un rapidillo. Rechazamos el lesbianismo de Playboy porque no nos parece lo bastante fuerte, y en cambio sacamos nuestra polaroid. Nos buscamos unas amantes dignas de confianza
249 Íbid, pág. 159. 250 John Rechy, The Sexual Outlaw Londres, Futura, 1979, pág. 299. 251 Catherine Saalfield y Ray Navarro, “Shocking Pink Praxis: Race and Gender on the ACT UP Frontlines”, en Diana Fuss (comp.), Inside/Out. Lesbian Theories, Gay Theories, Londres y Nueva York, Routledge, 1991, pág. 356.

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para representar el S/M o elegimos nuestros juegos sexuales justamente a causa de los riesgos que implican. Somos chavalotes irresponsables que se negaron a crecer y que ahora se niegan a apartar de sus vidas, incluidas sus vidas amorosas y sexuales, a aquella alma gemela, por el mero hecho de tener quince o dieciséis años. No es cierto que el sexo en público, la pornografía, el S/M y el sexo entre adultas y menores de edad no sean temas lesbianos252.

Aunque las prácticas descritas no son prácticas lesbianas tradicionales, Bearchell parece albergar la esperanza de que su adopción procurará a las lesbianas la emoción de la sexualidad proscrita de la que, a su modo de ver, disfrutan los varones gays. La política de esta sexualidad es una política antifeminista. La sexualidad masculina de clase dominante constituye un peligro para los intereses de las mujeres, al apoyarse tradicionalmente en la esclavitud sexual de gran parte de la clase de las mujeres. Esta verdad incómoda se subsume bajo la búsqueda individual de la marginalidad sexual en igualdad de condiciones.

Las teóricas del sadomasoquismo lesbiano han enarbolado el estandarte de la proscripción en protesta contra el feminismo y sus secuelas. Aunque el lenguaje de la proscripción sexual tiene su origen en la cultura gay masculina, las defensoras del S/M como Pat Califia y Gayle Rubin lo han adoptado plenamente. Rubin establece una analogía deliberada entre “salir del armario” como lesbiana y salir como sadomasoquista. Se sintió estafada porque había sido privada de los placeres de la marginalidad cuando se dio a conocer como lesbiana:

… ser una joven lesbiana en 1970 significaba tener una gran confianza moral en una misma. No sólo gozabas de la certeza de ser todo menos una pringosa pervertida, sino además tu sexualidad se hallaba especialmente bendecida por motivos políticos. Por consiguiente, nunca conocí la experiencia de alguien que, por ser gay, se enfrentara a actitudes de desprecio implacable253.

Rubin confiere al sadomasoquismo el estatus marginal más romántica que es capaz de imaginar al comparar la experiencia de una sadomasoquista en 1980 con la de un homosexual comunista en 1950. Establece a propósito una analogía con la experiencia gay, apelando a las simpatías de quienes albergan sentimientos liberales respecto de la opresión de los homosexuales. Relata así su encuentro con la comunidad sadomasoquista:
Las vías de acceso están aún más ocultas. La aureola de terror, aún más intensa. Las sanciones sociales, el estigma y la falta de toda legitimidad son aún mayores254.

¿Acaso no evoca el fumadero de opio? Rubin sostiene que la proscripción del sadomasoquismo es de carácter político. A su modo de ver, las sadomasoquistas pertenecen a una tipología de minorías sexuales referidas, en su mayoría, exclusivamente a los varones gays. Estas minorías sexuales se consideran ora herejes religiosos, ora disidentes políticos. Siempre, sin embargo, son “proscritos”:

Los proscritos sexuales pederastas, sadomasoquistas, prostitutas y transexuales, entre otros poseen un conocimiento particularmente rico del sistema dominante de la jerarquía sexual y del ejercicio de los controles sexuales. Estos colectivos de disidentes eróticos…255.

Para las lesbianas decididas a ser proscritas sexuales el feminismo es un tema aburrido que forma parte de la jerarquía represiva de la sociedad heterosexual. En Coming to Power, Gayle Rubin señala como antagonista el “feminismo”, término que utiliza para referirse a las feministas que luchan contra la violencia masculina y la pornografía:

Debido a una serie de casualidades y a través del tema de la pornografía, el S/M se ha convertido en el caballo de batalla de toda esta tendencia política llegada al poder por la manipulación del miedo de las mujeres al sexo y a la violencia256.

Rubin convierte a las feministas antipornografía en figuras maternas contra quienes dirigir su rebeldía adolescente. Afirma que “por mi parte, no me uní al movimiento de mujeres para que me enseñaran a ser una buena chica”257. A estas lesbianas libertarías el ejercicio de sus transgresiones en el marco relativamente seguro del movimiento de mujeres y el intento de provocar un delicioso oprobio les produce una considerable satisfacción.

Resulta sorprendente que las sadomasoquistas elijan una forma de proscripción mucho más aceptable a los ojos del mundo heterosexual de lo que pudiera ser nunca el feminismo lesbiano o sobre todo el lesbianismo radical o el separatismo lesbiano. En Gran Bretaña el incipiente culto al sadomasoquismo lesbiano contó con la
252 Chris Bearchell, “Why I am a Gay Liberationist: Thoughts on Sex, Freedom, the Family and the State”, en Resourcesfor Feminist Research, Vol. 12, núm. 1, 1983, págs. 59-60. 253 Gayle Rubin, “A Personal History of the Lesbian S/M Community and Movement in San Francisco”, en Samois (comp.) Coming to Power. Writings and Graphics on Lesbian S/M, Boston, Alyson, 2a ed. 1982, pág. 209. 254 Ibíd., pág. 221. 255 Ibíd., pág. 224. 256 Ibíd., págs. 215-216. 257 Ibíd., pág. 214.

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obsequiosa cobertura de los medios de comunicación. Este asunto intriga a los varones encargados de los periódicos y los programas de televisión. En una sado-sociedad, el cuero y los encajes resultan más fotogénicos que un grupo de separatistas lesbianas, y el mensaje que las mujeres pueden abusar de otras mujeres y suspirar por su propia subordinación mucho más aceptable. En una demostración de sexo seguro de ACT UP en el Bourke Street Mall, una calle comercial peatonal de Melbourne en mayo de 1992, una lesbiana engalanada con zahones y sin bragas simuló un acto de sexo oral y el uso de barreras de látex, con una mujer vestida con falda, arrodillada delante de ella. Al parecer, el público jaleó y los varones, acostumbrados al consumo de simulacros de sexo lesbiano en sus revistas pornográficas, probablemente encontraron la escena excitante, aunque tal vez no revolucionaria. Es difícil comprender de qué manera la consumación de las fantasías pornográficas masculinas pueda romper la construcción machista de la sexualidad.

La apropiación de la transgresión como filosofía causa a las lesbianas ciertas dificultades que guardan relación con la condición de clase sexual tan diferente de las mujeres. En el sistema de la supremacía masculina las mujeres pueden elegir entre el papel sexual de la chica buena y el de la chica mala. Ninguno de estos dos caminos les conduce a su libertad. Quienes eligieron o se vieron obligadas a elegir la vía de la prostitución, reservada a las chicas malas, no incluían la emoción de la transgresión revolucionaria entre sus placeres. Era normalmente una experiencia más liberadora para los varones hacer de chico malo, lo cual generalmente se producía por mediación de los cuerpos de mujeres o de otros varones y chicos desvalidos. Los varones podían realizarse a través de una demostración sexual jamás disponible para las mujeres, de cuyos cuerpos se servían para conseguir la liberación. Me atrevería a afirmar que el papel de las chicas malas elegido como protesta contra la ética y la política feministas de la sexualidad se revelará como tan restrictivo como ha sido siempre en un sistema de supremacía masculina.

La legitimidad académica de la idealización de la marginalidad de los varones gays y de las lesbianas nace de la teoría postmoderna, que valora positivamente la conducta proscrita. Gayle Rubin por ejemplo se considera foucaltiana. En la teoría postmoderna, y sobre todo en sus versiones lesbiana y gay, abundan las alusiones al potencial revolucionario de la transgresión. Jonathan Dollimore sienta las bases de su libro Sexual Dissidence con la transgresión heroica de Oscar Wilde. Dollimore demuestra que Wilde trató de derribar las categorías de respetabilidad de la vida de clase media victoriana. Como ejemplo de su conducta transgresiva cita la ayuda que prestó a André Gide para que éste pudiera reconciliarse con su homosexualidad, o pederastia, como el la llama. En Argelia en 1899 Wilde compró los servicios de un joven músico por quien Gide había mostrado su interés. En palabras de Dollimore: “La experiencia africana de Gide es uno de los relatos modernos más importantes de liberación homosexual" 258. Resulta poco probable que el chico experimentara esta misma liberación y no simplemente otro acto más de explotación perpetrado por ricos colonialistas blancos. Sin embargo, el incidente demuestra que ni Wilde ni Gide, y ni siquiera Dollimore en la actualidad, advirtieron que la liberación sexual de una persona puede significar la opresión de otra. Y nuevamente evidencia la asimetría entre hombres y mujeres a la hora de disfrutar de la decadencia de la prostitución. Tanto para Wilde como para Gide, la transgresión suponía una filosofía masculina individualista y despiadada.

La rebeldía manifestada históricamente por los varones blancos de clase alta no les ha perjudicado. Era un rito de paso. Viajaban al infierno de la prostitución de mujeres y chicos jóvenes, hacían sus pininos con las drogas y el sexo explotador y abusivo, y a continuación volvían al negocio familiar o a su carrera profesional. Esta forma de rebeldía es una característica de los varones que la realizaban generalmente a costa de las mujeres. El mundo de los bajos fondos es la otra cara de la moneda, sirve tanto de distracción como de recordatorio de la necesidad de una boda respetable. Algunos teóricos gays y teóricas lesbianas actuales afirman que el mundo de los bajos fondos puede ser un lugar de rebeldía; que el centro del poder no se sostiene si los queer provocan un alboroto lo bastante grande; que lesbianas, gays, transexuales, pedófilos, prostitutas y sadomasoquistas irrumpirán desde los márgenes para derribar el mundo convencional y restringido de la familia nuclear. Una afirmación inversa, a través de la cual los desviados sexuales reivindican las categorías sexológicas convirtiéndolas en movimientos revolucionarios, producirá un cambio social masivo. No obstante, no hay motivos para creer en la viabilidad de este plan o para suponer que el sistema heteropatriarcal que ha creado un mundo sexual subterráneo para sobrevivir se acoquinará sólo porque los personajes que habitan en este mundo se lancen a la calle. Los teóricos de la transgresión cuentan asimismo con el impedimento de que el éxito de su política anulará precisamente el placer de su práctica, al eliminar el elemento transgresivo.

El postestructuralismo es la “alta” teoría empleada para justificar la transgresión como posibilidad revolucionaria.

Foucault y Derrida sirven de apoyo teórico a las practicantes de los juegos de roles lesbianos y del sadomasoquismo.

258 Jonathan Dollimore, Sexual Dissidence. Augustine to Wilde, Freud to Foucault, Oxford, Clarendon Press, 1991, pág. 12
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La busca de un apoyo análogo en la teoría feminista lesbiana resultaría vana. Se invoca a Derrida por su conceptualización de la destrucción de las oposiciones binarias, por medio de la apropiación subversiva de la parte más débil. Dollimore alude a Derrida para respaldar su propio concepto del valor subversivo de la transgresión:

Derrida ha insistido en que la metafísica sólo puede refutarse desde dentro, al desbaratar sus estructuras y reconducir su fuerza contra sí misma. Define la oposición binaria como una “jerarquía violenta” en la que uno de los dos términos ejerce un dominio sobre el otro e insiste en que un paso crucial en la deconstrucción de los binarios es su inversión, un vuelco que pone abajo lo que estaba arriba. Efectivamente, la inversión del binario es una etapa necesaria para su eliminación… añade que el efecto político de la no inversión de la oposición binaria, el simple intento de saltar más allá hacia un mundo sin ella, significa sencillamente garantizar la indemnidad del binario en el único mundo que tenemos259.

Según esta teoría, la inversión es necesaria y revolucionaria y el proyecto feminista lesbiano, irrisorio. El proyecto feminista de transcender el género y no restituirlo en el S/M o los juegos de roles, es calificado de simplista y destinado al fracaso. La crítica feminista de lo que los postmodernos denominan binarios los géneros masculino y femenino, las chicas buenas y las chicas malas, dominio y sumisión apunta que su reproducción no elimina las opresivas estructuras de poder, sino que las alienta. La justificación postmoderna de la transgresión y de la inversión ha llegado en un momento muy conservador en que el feminismo se halla expuesto a un ataque generalizado, con su conveniente reinscripción como revolucionarias de las formas tradicionales de la práctica gay masculina. Según este análisis, el único cambio político necesario para que las lesbianas puedan formar parte de este proyecto revolucionario exige que se parezcan más a los varones gays. El feminismo ha tratado de liberar a las mujeres de la cárcel del género y de las dicotomías entre chicas buenas y chicas malas. Ser feminista significaba, y sigue significando para muchas, ser una objetora de conciencia que se resiste con obstinación y rebeldía a entrar en los juegos de género y del dominio y la sumisión, y que cree – en contra del escepticismo postmoderno- en la posibilidad de vivir al margen de ellos.

La política de la transgresión constituye la base de la nueva política Queer. Éste es el nombre que denota la política de los gays y de las lesbianas que responden con legítima rabia a la inacción homicida del gobierno norteamericano ante el sida y a la ola de odio, protagonizada por los medios de comunicación y por los médicos, contra los gays seropositivos. Prefieren la palabra queer a “gay” u “homosexual” por considerarla más incluyente, ya que no sólo se refiere a los varones blancos. Para las lesbianas ésta es una idea profundamente problemática, y así lo he hecho constar en otro lugar de este libro. Por otra parte, un problema específico de la política queer, que se fundamenta en la transgresión, son las alianzas poco adecuadas con que se pueden encontrar las lesbianas. Un folleto londinense titulado “Poder Queer” ofrece la siguiente definición de la palabra:

Queer significa cagarse en el género. En todas y cada una de las calles de este apático país nuestro existen queer héteros, queer bi, queer transis, queer lesbis, queer maricas, queer S/M y queer fistfucking260.

Según esta definición, la palabra queer es indicativa de una política en la que todas las personas transgresoras comparten con las demás cierta afinidad y cierta igualdad. Esta política realza el potencial revolucionario de lo que la sexología define como “minorías sexuales”; éstas, unidas en la lucha por sus derechos, deben constituir una fuerza en favor de la revolución sexual. El historiador gay británico Jeffrey Weeks formuló esta política ya en 1982:
Para bien o para mal, la defensa de la elección y de la libertad sexual les ha correspondido a quienes hasta hace poco parecían estar en los márgenes más alejados del espectro sexual: los sadomasoquistas, las lesbianas y los gays aficionados a los juegos de roles, los activistas pedófilos, así como a los socialistas y radicales libertarios más convencionales261.

De manera que la política queer no es nueva. Según Weeks y otros autores, las raíces de esta política se hallan en Foucault y, por supuesto, en su concepto de la “afirmación inversa” citada en el capítulo 1. Las categorías sexuales creadas para reforzar el control social al excluir y estigmatizar las minorías sexuales se transforman en una política afirmativa, capaz de poner en entredicho el sistema sexual.

Las lesbianas han utilizado estas estrategias en algún momento. Sin embargo, la adopción de esta política significa aceptar que el lesbianismo es tan sólo una manera de cometer impudicias con los genitales, equivalente a la pedofilia. Más allá del hecho de que el feminismo lesbiano ha reconstruido el lesbianismo como empresa más amplia que una mera práctica sexual, las otras prácticas sexuales incluidas resultan profundamente problemáticas para las feministas. A excepción de la categoría gay, representan formas de sexualidad que las teóricas feministas han denunciado por su peligro para el interés de las mujeres y por formar la base crucial de la opresión de las mismas. Las demás prácticas abarcadas por el término queer están vinculadas con el fetichismo de género y con el
259 Ibíd., págs. 65-66. 260 Citado en Cherry Smyth, Lesbians Talk: Queer Notions, Londres, Scarlet Press, 1992, pág. 17 261 Citado en Sheila Jeffreys, Anticlimax. A Feminist Perspective on the Sexual Revolution, Londres, The Wornen’s Press, 1990, pág. 212; Nueva York, New York University Press, 1991.

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dominio y la sumisión. Incluso la omisión de las categorías más inaceptables como la pedofilia, requeriría una reconstrucción de la política queer desde una perspectiva feminista que acabaría extirpando el núcleo del movimiento. Por otra parte, con la exclusión de alguna otra categoría, amén de la de las feministas lesbianas, el carácter incluyente se vería de alguna manera afectado y sería difícil decir: “Somos queer, pero no tanto como los pedófilos, etc.”, cuando uno de los motivos para celebrar esta nueva política reside justamente en su carácter transgresivo.

Muchas lesbianas se recrean en su condición de proscritas. Si no fuéramos rebeldes, tal vez no tendríamos el coraje y la fuerza de seguir siendo lesbianas en un mundo lesbófobo. ¿Cuál podría ser el cauce más útil para canalizar esta rebeldía que tanto goce y satisfacción procura a las lesbianas? Aunque las proscritas sexuales lesbianas lleven el escándalo a las acomodadas salas de estar al practicar el S/M en el Canal 4, probablemente no cambien el mundo. También el feminismo lesbiano brinda el placer de la proscripción, aunque de una manera probablemente más eficaz para lograr un cambio en la condición de las mujeres y de las lesbianas. Monique Wittig facilita una perfecta definición de la política proscrita de la separatista lesbiana:

Somos fugitivas de nuestra clase al igual que lo eran los esclavos fugitivos norteamericanos que escapaban de la esclavitud y se convertían en libres. Para nosotras es absolutamente necesario; nuestra supervivencia requiere la inversión de toda nuestra fuerza en la destrucción de la clase de las mujeres, cuya existencia permite a los varones adueñarse de las mujeres. Este propósito lo lograremos únicamente a través de la destrucción de la heterosexualidad, en tanto que sistema social basado en la opresión de las mujeres por los varones que elabora la doctrina de la diferencia entre los sexos como justificación de esta opresión262.

Esta estrategia es bien distinta de la de vestir cuero negro en centros comerciales. La proscripción sexual desvía con eficacia la rabia de las lesbianas de la tarea de poner en entredicho el poder masculino. Quienes vivan y expresen la política feminista lesbiana en contra del heteropatriarcado verán cumplidos todos sus deseos de excitación y oprobio, sin necesidad de copiar a las lesbianas ideadas por el imaginario pornográfico de los varones.

“Uma cópia mal-feita do homem”: Cultura Lésbica e Gay

El historiador gay Jeffrey Weeks describe así el fin de siglo en París y Berlín: “Existía una especie de sub cultura lesbiana; sin embargo, no era más que una mala copia de la masculina…”263. Un análisis feminista no puede

consentir que las lesbianas sean consideradas simples varones gays de tamaño inferior, de formas culturales menos sofisticadas y con un desarrollo insuficiente de la libido. Una buena parte de la teoría feminista se ha dedicado a demostrar hasta qué punto las culturas creadas por los varones excluyen habitualmente a las mujeres y cuánto depende la identidad de los varones de la opresión de las mujeres. La cultura gay masculina no es necesariamente más pro-feminista o más amante de las mujeres que la cultura dominante masculina. Y sin embargo, en los 80 y 90 se puede observar cómo algunos sectores de la comunidad lesbiana persiguieron la imitación incondicional de las formas culturales gays masculinas, aun cuando pudieran resultar inapropiadas para describir la experiencia lesbiana.

En la cultura gay del siglo XX la influencia y el dinero de los hombres han asegurado la hegemonía a los varones gays. La articulación de una consciencia lesbiana independiente fue difícil y las lesbianas se hallaban normalmente ocultas. Los varones gays eran los únicos homosexuales que tenían interés para los sexólogos, los medios de comunicación y los demás varones y, por consiguiente, el término “homosexualidad” ha llegado a denotar la homosexualidad masculina. Hay pruebas abundantes de la ocultación de las lesbianas. El historiador A. L. Rowse es autor de una conocida aportación a la historia gay, titulada Homosexuals in History La homosexualidad a lo largo de la historia264. No incluye a las lesbianas. Se podría citar un sinfín de ejemplos similares. En la literatura sexo lógica sobre homosexualidad, las lesbianas suelen aparecer en el apéndice o en una nota a pie de página, si es que se las menciona.

Con la aparición del feminismo lesbiano al principio de los 70 muchas creíamos que por fin las lesbianas tenían voz y que así iba a seguir siendo. En el interior de las organizaciones homosexuales las lesbianas dejaron de ser las hermanas pequeñas, se independizaron conscientemente de los varones gays para formar sus propias organizaciones y comenzaron a construir una cultura lesbiana específica. Esta separación tenía sus raíces en la consciencia feminista, mediante la cual se habían descubierto los aspectos misóginos de la cultura gay masculina tradicional, y que mostró que sus agendas políticas eran en realidad bastante diferentes y en algunos

262 Monique Wittig, The Straight Mind and Other Essays, Boston, Beacon Press, 1992, pág. 20. 263 Jeffrey Weeks, Coming Out: Homosexual Politics in Britain from the Nineteenth Century to the Present, Londres, Quartet, 1977, pág. 87. 264 A. L. Rowse, Homosexuals in History, Londres, Weidenfeld and Nicolson, 1977.

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puntos hasta contradictorias. Las feministas lesbianas dedicaron sus energías a la creación de espacios y servicios sólo para mujeres desde los que brindaban a la nueva generación de lesbianas un punto de partida muy distinto. Actualmente la cultura lesbiana independiente símbolo de los valores lesbianos específicos ha sido sofocada en sus bases. Una nueva generación de lesbianas está adoptando con alegría los valores y las prácticas de la cultura gay masculina, hasta el extremo de querer ser varones gays, como algunas están dispuestas a confesar. Estas lesbianas, que se confunden con la cultura y la política gay masculina arremeten contra las feministas lesbianas en general, y contra las separatistas en particular. Algunas se esfuerzan por emular determinadas prácticas sexuales de los varones gays, tratando de resultar verosímiles, aunque las nuevas sexólogas lesbianas siguen afirmando que no lo hacen del todo bien y que sencillamente no podemos comparamos con los varones gays en el terreno sexual.

Dadas ciertas similitudes en la experiencia de opresión vivida por lesbianas y varones gays, las lesbianas se han embarcado en repetidas ocasiones en una política conjunta: la liberación gay a principios de los 70, y ahora en la política queer. Tanto las lesbianas como los gays sufren la discriminación en el lugar de trabajo y en cuestión de impuestos y seguros, el acoso en la calle y en los medios de transporte público. Tanto las lesbianas como los gays sufren la agresión a su orgullo y a su autoestima de tener que ocultar sus relaciones amorosas y de no poder mostrarse en público su afecto. Tanto las lesbianas como los gays sufren la pérdida de la familia de origen y tienen que construirse relaciones de amistad y una comunidad para sobrevivir. El público homofóbico no suele discriminar mucho entre lesbianas y varones gays con las expresiones de su odio. También las lesbianas han sufrido la ola de odio contra los gays que provocó la epidemia del sida en países como Gran Bretaña y los EE.UU. La aprobación de ciertas leyes adversas, justificada por esta nueva atmósfera, ha preocupado a lesbianas y a gays por igual. Resulta razonable que lesbianas y varones gays estén luchando codo a codo ante ciertas medidas, como el artículo 28 de la Ley de Gobierno Local británica en contra del “fomento de la homosexualidad”. Por consiguiente, puede parecer que varones gays y lesbianas tengan muchos puntos en común en el terreno político. No obstante, la historia de esta relación política ha estado cargada de dificultades y vez tras vez las lesbianas han decidido separarse.

Las lesbianas han moderado siempre su crítica a la política gay masculina porque eran conscientes de que el mundo heterosexual las consideraba una versión meramente inferior de los varones gays y de que toda crítica política de éstos se volvería en contra nuestra. Además, a medida que aumentan las ofensivas contra los derechos civiles, conquistados por lesbianas y gays a partir de 1970, cualquier crítica contra los varones gays resulta aún más peligrosa e inoportuna. Parecería conveniente mantener la posibilidad de un frente común de lucha contra las leyes y la discriminación que mide a lesbianas y gays con el mismo rasero. A fin de cuentas los varones gays tienen más dinero, mayor peso político y mayor visibilidad que las lesbianas. Por consiguiente, son muy pocas las teóricas feministas lesbianas que se han esforzado por exponer las diferencias políticas que hostigan las relaciones entre lesbianas y varones gays. Esta tarea se vuelve más apremiante a medida que aumenta la influencia de la imitación de formas gays masculinas dentro de la comunidad lesbiana.

La filósofa lesbiana norteamericana Marilyn Frye es una de las pocas lesbianas que han emprendido la tarea de criticar la política gay masculina265. Afirma que las diferencias entre lesbianas y gays “resultan ser tan profundas que cabe dudar del supuesto de una afinidad básica, cultural o política” “sobre la cual construir las alianzas"266. Sugiere que la cultura masculina gay y la heterosexual comparten los mismos principios generales de la falocracia, que Frye identifica como: la presunción de la ciudadanía masculina; el culto al pene; el homoerotismo masculino o la androfilia; el desprecio hacia las mujeres o la misoginia; la heterosexualidad masculina obligatoria; así como la presunción de acceso fálico generalizado. En opinión de Frye, el potencial revolucionario del lesbianismo reside en el rechazo de estos principios.

El amor hacia los varones distingue de manera obvia a gays y lesbianas. Los varones gays desean y aman a miembros de la clase dominante de los varones. En este aspecto los gays son fieles al principio básico de la supremacía masculina, a saber el amor hacia los hombres. La virilidad y la condición masculina, los símbolos y la conducta que indican la pertenencia a la clase política de los varones son celebrados en múltiples aspectos de la cultura gay masculina. Los teóricos gays han descrito la transición que tuvo lugar en la cultura gay masculina del mundo occidental durante los 70, y que algunos han denominado “el giro butch”. Mientras que antes de la liberación gay la homosexualidad se asociaba con el afeminamiento, y los gays solían elegir a sus parejas sexuales entre los supuestos “hombres de verdad” del mundo heterosexual, tras la liberación gay los varones gays comenzaron a buscar a sus parejas sexuales en la propia comunidad gay, más visible entonces y más segura de sí misma. La atracción hacia la parafernalia de la masculinidad subsistía, y tuvo que ser recreada

265 Marilyn Frye, “Lesbian Feminism and the Gay Rights Movement: Another View of Male Supremacy, Another Separatism”, en The Potitics of Reality, NY, The Crossing Press, 1983. 266 Ibíd., pág. 130.

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por los propios gays.
Los varones no gays solían ser objetos de nuestro deseo ¿serían acaso nuestro equivalente de lo inalcanzable?; sin embargo, el “giro butch” ha dirigido nuestra atención hacia nosotros mismos. Creando entre nosotros a hombres de aspecto aparentemente masculino que desean a otros hombres, refutamos la idea que proclama que somos en verdad almas femeninas dentro de un cuerpo de hombres267.

El entrenamiento con pesas, las camisas a cuadros, los vaqueros desteñidos, las botas de asalto, el pelo rapado y los bigotes, los atuendos de cuero o de tela vaquera fueron la consecuencia. La pasión por los varones puede encarnarse en el deseo de incorporar el poder otorgado por la masculinidad, y del que tal vez los gays creen que carecen por no participar de la habitual dinámica heterosexual que incluye la posesión de una mujer. La apropiación de los símbolos y de las formas de la masculinidad puede producirse incluso de manera más exagerada que en la cultura masculina heterosexual. Puede asimismo revestir la forma del masoquismo y del culto a los aspectos agresivos y autoritarios del principio de la masculinidad. La ingestión del semen del hombre poderoso puede ser considerada un acto de habilitación268. También las mujeres heterosexuales deben rendir culto a los varones y al principio de la masculinidad. La diferencia consiste en que ellas no eligen este papel de forma voluntaria, como hacen los varones gays, rechazándolo a menudo enérgicamente, tal y como nos advierten las fuentes sexológicas. Para las mujeres la heterosexualidad es una institución de control que se perpetúa a la fuerza. Las mujeres heterosexuales, comparadas con los varones gays, están en desventaja respecto al culto de la masculinidad. Jamás llegarán a ser varones o masculinas aunque ingieran todo el semen del mundo. Frye lo explica así:

Si, como yo creo, el amor hacia los hombres es la ley de la cultura falocrática; y si, por lo tanto, la homoerótica masculina es obligatoria, los varones gays deben constar entre los ciudadanos más fieles, leales y respetuosos de la ley; mientras que las feministas lesbianas son pecadoras y criminales o bien, en términos políticos, insurgentes y traidoras269.

Las lesbianas se hallan en una posición completamente distinta. Por inaudito que parezca, ellas han elegido amar a miembros de la clase sexual inferior. En este aspecto son desleales a la supremacía masculina. Mientras que las lesbianas han tenido que deshacerse de todo el aprendizaje recibido acerca de la naturaleza repulsiva y despreciable de las mujeres para poder amarlas, los varones gays adoradores de la masculinidad demuestran una misoginia análoga a la de la sociedad heterosexual. El potencial político radical del lesbianismo se apoya justamente en el amor de las lesbianas hacia las mujeres. En la cultura heterorrelacional únicamente las lesbianas aprecian a las mujeres sin reservas luchando por la liberación de quienes aman y valoran. También las feministas heterosexuales han reconocido la conveniencia del amor y del aprecio hacia las mujeres y, sin embargo, reservan la parte más importante de sus energías emocionales y sexuales a los varones. El amor y el respeto de las lesbianas por las mujeres constituye un inevitable foco de tensiones en la relación entre lesbianas y varones gays, que se manifiesta con singular claridad en la actitud de las lesbianas hacia ciertos aspectos de la cultura gay masculina, como el travestismo. Frye señala que la diferencia más aparente entre los varones gays y las lesbianas es el amor hacia las mujeres que éstas últimas profesan:

Ella no ama a los hombres; no les reserva toda su pasión ni el vínculo más importante. No odia a las mujeres. Parte de la igualdad entre el cuerpo femenino y el masculino, o incluso considera el cuerpo femenino como superior o como canon. No le interesan los penes, más allá de su preocupación por la forma en que los varones los utilizan contra de las mujeres. Reivindica los derechos civiles de las mujeres, sin considerarlas varones con una fontanería diferente. No dedica su vida a ser la excepción a la regla de la heterosexualidad. No es accesible para el pene; no se concibe como el objeto natural del coito y niega que los varones tengan el derecho o el deber de follarla270.

Los diferentes objetivos políticos de lesbianas y gays se manifiestan con mayor nitidez en el terreno de la sexualidad. Tanto la británica Liz Stanley como la australiana Denise Thompson han apuntado las dificultades mayúsculas surgidas en organizaciones mixtas de lesbianas y gays en torno a los temas de sexualidad271. Las teóricas feministas han señalado que la sexualidad masculina incluida la sexualidad masculina gay se construye a partir de la identidad masculina, y se ejerce con el fin de reafirmarla. El teórico gay John Stoltenberg lo expone con particular contundencia en este su análisis:

Gran parte de la sexualidad de los varones está tan estrechamente vinculada a la actualización del género sentirse como un hombre de verdad que éstos apenas pueden recordar alguna sensación erótica que no esté cargada del significado cultural pertinente a su género… La sexualidad masculina aculturalizada lleva incorporado un mecanismo de seguridad: si el contexto político no reifica la condición masculina, la experiencia no se vive como sensual…272.

267 Martin Humphries, “Gay Machismo”, en Andy Metcalf y Martin Humphries (comps.), The Sexuality of Men, Londres, Pluto Press, 1985, pág. 84. 268 Para las diferentes prácticas sexuales gays masculinas, véase: James Spada, The Spada Report, Nueva York, Signet New American Library, 1979. 269 Marilyn Frye, 1983, págs, 135-136. 270 Ibíd., pág. 144. 271 Véase Liz Stanley, “Male Needs: The Problems and Problems of Working with Gay Men”, en Scarlet Friedman y Elizabeth Sarah (comps.), On the Problem of Men, Londres, The Women’s Press, 1982. Denise Thompson, Flaws in the Social Fabric. Homosexuals and Society in Sydney, Sydney, George Allen and Unwin, 1985. 272 John Stoltenberg, Refusing to be a Man, Londres, Fontana, 1990, pág. 40.

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Ciertos aspectos de la conducta gay masculina como el sexo fortuito, el número de parejas sexuales y la compulsión sexual, pueden explicarse así en términos políticos, antes que biológicos. La actividad sexual asidua es necesaria para la reafirmación de la identidad sexual masculina. La política de los varones gays parte a menudo de la suposición de que ser gay se limita a la actividad sexual, esto es, a la definición sexológica de la homosexualidad. En un par de interesantes artículos sobre la masculinidad gay antes y después de la irrupción del sida, Seymour Kleinberg sugiere que a finales de los 70 y principios de los 80 la actividad sexual reemplazó a la política:

A medida que el sexo dominaba el estilo de vida desde las discotecas hasta las manifestaciones, sin importar la garantía de los derechos civiles, menos cabida había para la política en la vida de la mayoría de los varones, y menos tenía que aportar el movimiento gay a otros grupos como el de las lesbianas, las feministas y las minorías. Los varones gays entendieron la política sexual en un sentido extrañamente literal. Tanto antes como después del movimiento, se rendía culto a la promiscuidad como signo de la agresividad del individuo, al margen de su pasividad en la cama. Follar suponía una provocación, al igual que en el caso de las chicas malas del pasado, que se dedicaban a desmantelar las ideas acerca de la virtud más queridas de la sociedad273.

Las reivindicaciones más radicales de la liberación gay, que pretendía cambiar el mundo, se convirtieron en peticiones de mayor acceso fálico.

Según Marilyn Frye, la conducta sexual masculina, tanto la gay como la heterosexual, se fundamenta en la presunción del acceso fálico generalizado. Esta presunción se expresa como sigue:
… en el derecho cuasi universal a follar, para afirmar el dominio del individuo masculino sobre todo aquello que no es él mismo, utilizándolo para su gratificación fálica o su autoafirmación, tanto a nivel físico como simbólico. Cualquier objeto físico puede ser utilizado para orinar sobre él o dentro de él, eyacular sobre él o dentro de él o penetrarlo con el pene; también cualquier animal o cualquier mujer…274.

Aparte de los derechos de propiedad y las costumbres sociales locales, la única limitación seria a este derecho consiste en que los varones no deben “follar a otros varones, sobre todo no a varones adultos de su propia clase, tribu, raza, etcétera…”. A medida que los varones gays violan esta limitación, se muestran más fieles que los varones heterosexuales al principio del acceso fálico universal, llevándolo más lejos aún. Según la explicación de Frye, la prohibición de que los varones no deben follarse entre sí es una manera de asegurar el reinado sobre el mundo del principio de la masculinidad. Si los varones pudieran hacer de forma habitual entre ellos lo que suelen hacer con las mujeres en el terreno sexual, los vínculos masculinos se verían perjudicados y la supremacía masculina, aniquilada.

La proscripción del coito entre varones pone un límite a la masculinidad, supone el principio del imitador que impide que la masculinidad arrase cual interminable tormenta de fuego de su yo no diferenciado … La reacción fóbica del varón heterosexual frente a la homosexualidad masculina puede considerarse, pues, como el miedo a una masculinidad sin restricciones, sin límites y sin gobierno275.

Contra este argumento se podría alegar que el coito con otro varón podría en efecto fortalecer los vínculos masculinos antes que destruirlos. Por otra parte, podría presentar un problema para el análisis feminista, ya que los vínculos masculinos constituyen el andamiaje de la supremacía masculina y no conviene precisamente a los intereses de las mujeres que salgan fortalecidos.

En opinión de Marilyn Frye, la política gay masculina es la “antítesis” del feminismo lesbiana, por las siguientes razones:
La tendencia general de la política gay masculina es reivindicar la masculinidad y los privilegios masculinos de los varones gays y ampliar el espectro de la presunción de acceso fálico hasta el infinito. En cambio, la política feminista lesbiana persigue el desmantelamiento del privilegio masculino, la desaparición de la masculinidad y la inversión de la ley del acceso fálico: la ley que permite el acceso, a menos que exista una prohibición específica, se sustituye por otra que lo prohíbe, a menos que exista un permiso específico276.

Frye no descarta la posibilidad de que algunos varones gays puedan romper filas solidarizándose con la lucha feminista. A fin de cuentas los gays tienen el privilegio del conocimiento y de la percepción auténticos de quienes se hallan al margen y pueden ver con particular claridad los rasgos de la supremacía masculina. Podrían utilizar en su favor esta situación y la cultura gay masculina podría desarrollar su “tendencia a perseguir simplemente el placer físico, en contraposición a su tendencia al fetichismo, a las fantasías y a la alienación, impulsando así una nueva concepción extremadamente radical y hasta la fecha inimaginable sobre lo que puede significar vivir como cuerpo masculino”. Ahora bien, al escribir este texto en 1983, Frye no vio

273 Seymour Kleinberg, “The New Masculinity of Gay Men”, en Michael Kaufman (comp.), Beyond Patriarchy, Toronto y Nueva York, Oxford Uníversity Press, 1987, pág. 36. 274 Marilyn Frye, 1983, pág. 142 275 Ibíd., pág. 143. 276 Ibíd., pág. 145.

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indicios de que se fuera a producir este proceso radical. Sólo un movimiento radical pro-feminista de los varones gays puede cambiar las formas de la cultura gay y este proceso no parece estar más próximo en los 90.

No es difícil comprender cómo las lesbianas caen bajo el influjo de la política y de la cultura de los varones gays. La política de la corriente dominante masculina suele meter a lesbianas y gays en un mismo saco, como demuestra la subvención al Centro Lesbiano y Gay de Londres. Este centro, inaugurado en 1984, recibió específicamente para las lesbianas una subvención del orden de 100,000 libras esterlinas. Debían sufragar la instalación de un piso sólo para lesbianas en un edificio donde todas las demás instalaciones, incluido el bar, eran mixtas. Las feministas lesbianas de ideología feminista radical o revolucionaria no consideramos prioritario este proyecto ya que habríamos preferido un centro para lesbianas. Cuando un grupo de sadomasoquistas solicitó un espacio para sus reuniones en el edificio y el colectivo decidió concedérselo, las feministas lesbianas nos opusimos a la decisión. Nos pareció importante para las usuarias lesbianas del edificio que fuera un espacio libre de S/M, sobre todo porque parte del dinero iba destinado específicamente a ellas. Perdimos la votación, como era de esperar: aunque la inmensa mayoría de las lesbianas del centro votó en contra, la abrumadora mayoría de los varones gays, que nos superaban en número, votó a favor del derecho de los sadomasoquistas a reunirse.

Éste es un buen ejemplo de lo difícil que resulta la organización conjunta de lesbianas y gays sin aceptar necesariamente las prioridades de los varones gays. Por regla general, los varones gays son mayoría en las organizaciones mixtas. El grupo feminista Lesbianas Contra el Sadomasoquismo, del que yo formaba parte, se constituyó para afrontar la evolución del sadomasoquismo lesbiano en Londres. Su labor corroboró las serias contradicciones que suelen surgir en organizaciones mixtas de lesbianas y gays. A una de las reuniones generales del nuevo Centro Lesbiano y Gay acudió un nutrido grupo de madres lesbianas para transmitir su opinión sobre el sadomasoquismo. Según ellas, no podían traer a sus criaturas a un centro donde podían encontrarse con hombres y mujeres vestidos de cuero o con las ropas propias del S/M, cuando ellas estaban luchando por educarlas en la resistencia a esta sado-sociedad. Las madres lesbianas habían traído a sus criaturas, en parte porque no sabían dónde dejarlas, pero también para dar mayor fuerza a su testimonio. Sobre un fondo de berridos de bebés algunos gays y lesbianas trataron de mantener una abstracta discusión intelectual acerca de su derecho a perseguir sus placeres de la manera que les apeteciera.

En general, las madres y las feministas lesbianas toparon con dificultades análogas en torno a temas como el transexualismo, la bisexualidad y la pedofilia. Las lesbianas no entendían por qué tenían que aceptar a los transexuales en los servicios de señoras si, en su opinión, la cirugía no los convertía en mujeres. Otro problema era el tema de la bisexualidad. Si bien podían aceptar la presencia de varones gays en el centro que no las acosaban sexualmente, no se encontraban cómodas junto a los varones bisexuales, tan potencialmente molestos para las mujeres como cualquier varón heterosexual. Muchos gays del centro, comprometidos en el apoyo a las minorías sexuales, no compartían esta argumentación, ya que para ellos su propia homosexualidad era tan sólo otra perversión más dentro de una lista de tipologías sexuales cada vez más exóticas. Mientras que algunos gays defendían una postura liberal respecto a la pedofilia, las lesbianas eran incapaces de hacer otro tanto, pues eran conscientes que tras ella se dan abusos sexuales reales. Finalmente, la única opción para las lesbianas empeñadas en utilizar los servicios del centro consistía en aceptar o dejar de criticar la política sexual de los varones gays. Quienes la encontraban demasiado indigesta boicotearon el centro.

Siempre que las lesbianas se ven obligadas, por las subvenciones estatales o por las presiones comerciales, a utilizar servicios mixtos, vencen inevitablemente las prioridades masculinas. También sucede lo mismo en el caso de las publicaciones mixtas. La conclusión de que los servicios mixtos eran básicamente servicios masculinos fue el origen de que feministas y lesbianas empezaran a defender las organizaciones, fiestas y revistas independientes en la época del auge feminista. Los servicios mixtos, es decir, masculinos, incorporan y defienden una versión del lesbianismo que resulta inofensiva para los intereses de los varones gays. Difícilmente podía ser de otra manera. Por consiguiente, la oposición feminista al sadomasoquismo y la pornografía encuentra poca simpatía en la prensa gay mixta. Las señas de la cultura gay comercial, a saber, el cuero negro, las saunas y el travestismo, suelen dominar estas publicaciones puesto que las sufragan económicamente. El feminismo lesbiano se convierte en objeto de burla. Los anunciantes que apoyan los medios gays no consideran a las lesbianas un mercado lucrativo. Sólo el poder del dinero les podría conceder el derecho a hablar. Mientras tanto, las publicaciones feministas lesbianas pugnan por sobrevivir en forma de boletines informativos multicopiados de difusión limitada, cuando no naufragan por falta de dinero y de recursos.

A principios de los 70 no sólo las feministas lesbianas sino también muchos teóricos de la liberación gay emprendieron el análisis crítico de los fenómenos del camp y del travestismo señalando sus posibles raíces en la misoginia. Las lesbianas abandonaron las organizaciones mixtas a causa de las dificultades que muchos varones gays
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comprometidos políticamente tenían para aplicar una mirada crítica a estos aspectos de la cultura gay masculina. Actualmente ocurre algo muy distinto. Estas mismas prácticas son objeto de admiración por parte de algunas lesbianas que tratan de encontrar para sí versiones análogas. El largo recorrido desde la crítica hasta la admiración indica el signo conservador y anti-feminista de los tiempos actuales y la falta de confianza en sí mismas de las lesbianas.

La novelista lesbiana Fiona Cooper es un buen ejemplo de este recorrido. En 1989 la revista londinense City Limits la eligió junto a otras tres lesbianas y varones gays para que elaboraran un monográfico sobre el orgullo gay en el que debían proponerse “distintas perspectivas de los últimos veinte años”. Cooper aprovechó la ocasión para retractarse del feminismo. Por lo visto, al convertirse en feminista “me corté el pelo, me puse una cazadora y un peto, botas Dr. Marten’s, bebía Guiness, jugaba al billar americano y con la boca abierta trataba de asimilar los modelos que en aquel año poblaban ese nuevo mundo feliz”. Entonces se le abrieron los ojos y se percató de que el feminismo estaba “lleno de reglas y leyes”, y ella no quería que le “dijeran lo que tenía que hacer”277. Por consiguiente, Cooper optó por sublevarse contra el feminismo adoptando junto con muchas otras lesbianas la realidad gay masculina como si se tratara de algo verdaderamente revolucionario. Sin duda el mundo dominante recibió a estas rebeldes con los brazos abiertos y éstas se libraron de las dificultades que conlleva la defensa de ideas feministas en la hostil actualidad.

Cooper se convirtió a la realidad gay masculina al observar a un artista del travestismo gay que la embriagó con el glamour de la cultura gay masculina.

Entonces cuando tenía veinticinco años mi querida amiga Maureen me llevó a ver Polyester y descubrí el camp, la basura, la cochambre, la sordidez y a Divine… Fui a ver actuar a Divine siete veces, gritando hasta quedarme afónica. Durante las semanas siguientes me pavoneaba por ahí repitiendo las amables palabras de Divine: “¡Que os jodan a todos, que os jodan cuarenta veces!” Era lo más parecido a una no-filosofía que me había encontrado nunca. Me di cuenta que ya no necesitaba a nadie que me diera el visto bueno. Si yo quería llevar oropeles y baratijas y pintarme las uñas, ¿quién coño me lo iba a prohibir?

Las reinonas que gritaban frases llenas de humor corrosivo desde el fondo de un sórdido bar me alucinaban. Me sentía como en casa. A menudo me preguntan por qué me chiflan tanto las locas, así que lo diré: pienso que es divertido. También es valiente, atrevido, anárquico, magnífico, hortera, extraño y fantástico. ¿Y cómo creéis que comenzó Stonewall?278

Descubrió que los gays eran a menudo más agradables que las feministas, “amables, cálidos y con un componente camp 10”, mientras que las feministas hacían unos “análisis miserables, quejicas y sin gracia”. Este elogio de la cultura gay masculina expresa su malestar no sólo con el feminismo, sino con la cultura lesbiana. Tradicionalmente las lesbianas no se han dejado cautivar por el fenómeno del travestismo, exclusivo de los varones gays. Los artistas transformistas visten la ropa que la supremacía masculina impone a las mujeres, una ropa que simboliza la condición inferior de éstas. El lenguaje y las actuaciones de los artistas travestís evidencian a la perfección la misoginia de los varones gays.

Según Marilyn Frye, algunas lesbianas se han dejado engañar por los apologistas gays que argumentan que el travestismo demuestra su aprecio hacia las mujeres. Frye desmiente enérgicamente este argumento.
… el afeminamiento y la exhibición de prendas femeninas por parte de los varones gays en absoluto demuestran el amor o la identificación con las mujeres o con lo femenino.

En gran medida esta femineidad resulta afectada y se caracteriza por la exageración teatral. Supone una mofa superficial y cínica de las mujeres para quienes la femineidad constituye la parafernalia de la opresión, y a la vez es un juego, un jugueteo con el tabú: .. La afectada femineidad de los gays me recuerda un deporte en el que los varones ejercen su poder y su control sobre lo femenino, al igual que en los demás deportes se ejerce el poder físico y el control sobre ciertos elementos del universo físico. Algunos varones gays sí logran una prodigiosa maestría para lo femenino, y los enterados los tratan a menudo con el respeto reservado a los héroes. Sin embargo, la maestría en la representación de lo femenino no es lo femenino. Es lo masculino. No es una muestra de amor hacia las mujeres, sino de misoginia. El maestro puede tener preferencia a la hora de acceder a la condición masculina279.

Algunas lesbianas deseosas de tener su propia variante de “travestismo” han propuesto el uso del atuendo masculino como posible alternativa para ellas. Sin embargo, desde una perspectiva política esto no funciona. Una mujer vestida con las tradicionales ropas masculinas no provoca la misma hilaridad inmediata que causa un varón vestido con el tradicional atuendo femenino. La vestimenta de las mujeres es símbolo de la falta de poder, mientras que en el caso de la vestimenta masculina ocurre al revés. En la actualidad, tanto lesbianas

277 Fiona Cooper, City Limits, junio 8-15, 1989, pág. 11. 278 Ibíd. 279 Marilyn Frye, 1983, págs. 137-138.

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como mujeres heterosexuales llevan lo que históricamente se consideraba ropas de hombre, porque ofrecen toda la comodidad y las ventajas que cabe esperar de la vestimenta tradicional de la clase dominante. Una lesbiana con pantalones no produce estupor. Otros sectores proponen la posibilidad de que las propias lesbianas adopten un atuendo afeminado, para crear un equivalente al travestismo. El problema es que las ropas “de mujer” no son divertidas si las visten mujeres.

El fenómeno del camp no sólo se refiere al afeminamiento. En su artículo Notas sobre lo camp, Susan Sontag lo presenta como un estilo cultural mucho más amplio:

Es más, la esencia de lo camp es el amor a lo no natural: el artificio y la exageración. Y lo camp es esotérico: tiene algo de código privado, de símbolo de identidad incluso, entre pequeños círculos urbanos280.

El camp tuvo un papel importante en la historia de la supervivencia gay en el interior de una cultura hostil, representando una forma de lenguaje y de conducta por la que los varones gays se reconocían mutuamente y que les facilitaba cierto humor para la resistencia.

Las lesbianas no han usado el camp en este sentido. Las historiadoras lesbianas norteamericanas Elizabeth Lapovsky Kennedy y Madeline Davis han recogido el testimonio oral de algunas lesbianas practicantes de los Juegos de roles durante los años 50 y 60 en el estado de Nueva York. Descubrieron que “la comunidad lesbiana no contaba con un fenómeno análogo a la cultura camp surgido en torno a las “reinas” de las comunidades de homosexuales masculinos”281. El fenómeno del travestismo no contaba con un equivalente en los espectáculos para lesbianas, ya que “pocas mujeres butch actuaban como imitadoras de hombres”. En opinión de las autoras, las imitaciones de varones no produjeron ninguna “estética cultural”. Las lesbianas tampoco cultivaron el argot sexual ni el estilo provocador relacionados con el camp. Cuando las lesbianas actuales tratan de recuperar el camp o el travestismo para su cultura simplemente adoptan las formas culturales de los varones gays. Un análisis feminista demostraría que los fenómenos del travestismo y también del camp en tanto que asociado al afeminamiento, surgen de la opresión de las mujeres y no permiten una simple apropiación por parte de las lesbianas.

En estos momentos algunas lesbianas adoptan una simple imitación de la masculinidad de los varones gays. La teórica lesbiana Gayle Rubin es una fanática del modelo de masculinidad de la cultura gay. El tema de su investigación es el ambiente gay de cuero. Tanto le seduce el modelo gay que le parece lógico que las lesbianas se sometan a operaciones transexuales para convertirse en varones gays, como hacen en California. Al parecer, la imitación puede llegar bastante lejos, mucho más allá del “artificio” y la “parodia” que tanto aprecian los apologistas postmodernos de la cultura y de la política gay masculina. La cirugía es un asunto serio e irreversible. Gayle Rubin aboga por el sadomasoquismo. Durante los 70 se hizo famosa en los círculos de los estudios de las mujeres gracias a su artículo titulado The Traffic in Women Tráfico en mujeres. En el libro Placer y Peligro, Rubin se detracta de este artículo y explica que antes creía en la interconexión ineludible entre sexo y género, pero que ahora acepta la existencia de un sistema independiente de opresión sexual que subyuga a minorías sexuales como los practicantes del “sexo intergeneracional” y que este sistema no puede ser analizado por las feministas, puesto que para el estudio del sexo la utilidad de su teoría es limitada282. La nueva vanguardia lesbiana insiste en distanciarse de las “mujeres” o del “sistema de género”, para que sus prácticas favoritas como los juegos de roles o el sadomasoquismo no parezcan políticamente sospechosas. De esta manera justifican sus predilecciones eróticas basadas en las desigualdades de poder, sin reparar en su posible impacto sobre la condición de las mujeres.

Recientemente Gayle Rubin se ha alejado aún más de sus afirmaciones feministas de antaño. En una antología sobre los juegos de roles, discurre acerca de “la butch, el género y los márgenes”. Su definición de butch es la de “una categoría de género lesbiana constituido a través de la utilización y la manipulación de códigos y símbolos del género masculino”. Incluye a las que padecen “disforia” de género, es decir, que están “descontentas con el género asignado” y recurren a la cirugía transexual. Según Rubin, “muchas butch tienen una identidad de género parcialmente masculina”. En la comunidad lesbiana la iconografía de la butch comparte sus raíces con la figura correspondiente en el ambiente gay masculino, el “motorista proscrito vestido de cuero”. Estas raíces proceden de las pandillas de motoristas y de las bandas callejeras de principios de los años 50. Ambos estilos se basan en el “modelo blanco, joven y de clase trabajadora de la masculinidad"283. Rubin asocia esta imagen de agresividad masculina, que provoca el temor de muchas

280 Susan Sontag, “Notes on Camp”, en Against Interpretation, Nueva York, Anchor Books, 1975, pág. 275 en cast.: Contra la interpretación, Barcelona, Seix BarraI, 1984. 281 Elizabeth Lapovsky Kennedy y Madeline Davis, “They Was not One to Mess With: The Construction of the Butch Role m the Lesbian Community ofthe 1940s and 1950s”, en Joan Nestle (comp.), The Persistent Desire, Boston, Alyson Publications, 1992, pág. 75. 282 Para una discusión del giro ideológico de Rubin véase mi obra Anticlimax, 1990, págs. 272-275. 283 Gayle Rubín, «Of Calamities and Kings: Reflections on Butch, Gender and Boundaries», en Joan Nestle (comp.), The Persistent Desire, 1992, págs. 466-482.

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mujeres, con la rebeldía. Esta clase de teoría y, de práctica indica que la revalidación del modelo masculino agresivo se ha infiltrado en algunas áreas de la cultura lesbiana.

Rubin señala la existencia de muchas otras variantes del modelo masculino, además del de motorista, que la butch adopta. Existe una gran variedad de “estilos masculinos definidos” y de “mujeres butch que manifiestan su masculinidad dentro de cada repertorio simbólico”.

Hay mujeres butch del tipo callejero duro, otras que son deportistas o intelectuales, butch artistas o aficionadas al rock-and-roll, butch con motocicletas y otras con dinero. Hay mujeres butch que imitan los modelos masculinos del hombre afeminado, del mariquita, de la reina y de muchos otros tipos de homosexuales masculinos284.

No obstante, Rubin presta una especial atención a la variedad de los FTM o transexuales convertidos de femenino en masculino. Está molesta por las suspicacias que han levantado en el pasado en el movimiento feminista, ya que no considera el transexualismo políticamente problemático. Anima a las lesbianas a que apoyen el creciente número de FTM: “Su número es cada vez mayor y su presencia más evidente”285. Si está en lo cierto aunque sólo referido a San Francisco, se trataría de un aspecto estrambótico de la reacción contra el feminismo. Mientras que en el pasado las feministas trataban de crear las condiciones para que las mujeres pudieran sentirse orgullosas de seda y de amar a otras mujeres, actualmente nos encontramos ante el fenómeno, no ya de una tremenda admiración por la masculinidad la fuerza opresiva de nuestros enemigos, sino del deseo de dejar de ser mujeres para poder apropiarse del poder masculino. Si un número cada vez mayor de mujeres acomete su mutilación por medio de la cirugía impulsadas por su imperioso deseo de dejar de ser mujer, hay que concluir que el feminismo ha fracasado en la tarea de reconciliar a las mujeres con su cuerpo286.

Según Rubin, al principio muchas lesbianas se sienten molestas por el fenómeno FTM; no obstante, deben aprender a ser más comprensivas y complacientes.

Cuando un cuerpo de mujer comienza a convertirse en un cuerpo masculino, la transposición de los signos masculinos y femeninos constitutivos de la butch comienza a desintegrarse. Una butch con ropas masculinas, que luce consolador y se dedica al culturismo, tal vez, utilice nombre y pronombres masculinos, pero seguirá teniendo un cutis suave, no tendrá vello facial, se apreciará la inequívoca turgencia de los senos o de las caderas bajo sus ropajes masculinos, tendrá las manos y los pies pequeños junto con otras características evidentes de su femineidad. Si esta misma persona se deja bigote, gasta una voz más grave, se venda los pechos o muestra una calvicie incipiente, en su cuerpo no habrá pruebas que impugnen las marcas de la sociedad. Cuando empiece a parecerse a un varón, muchas lesbianas dejarán de encontrarlo atractivo y algunas querrán desterrarlo de su universo social287.

Por lo visto, las lesbianas deberían apoyarlos hasta que ellos decidan alejarse, ya que “abandonarán por voluntad propia el contexto lesbiano”288. Es decir, las comunidades lesbianas deben hacer de parteras y asistir el renacimiento de las lesbianas en forma de varones. Resulta fácil comprender por qué a las feministas lesbianas les cuesta prestar este servicio. No sorprende, por otra parte, que gracias al entusiasmo por la cultura gay masculina que domina en algunos sectores del ambiente lesbiano, algunos de estos FTM quieran ser varones gays o, en palabras de Rubin, “identificados con el varón gay”. Ella espera que los gays acepten a los FTM gays “con ecuanimidad y de buen grado”, aunque por mi parte sospecho que semejante aceptación pueda resultar difícil. Los FTM no dispondrán de un pene de funcionamiento impecable puesto que la faloplastía aun no consigue confeccionarlos, y los penes son cruciales para el erotismo gay masculino.

Las teóricas feministas han apuntado que el transexualismo está reñido con la búsqueda de libertad de las mujeres. En este sentido, el libro The Transsexual Empire El imperio transexual no ha sido superado289. Demuestra cómo la invención y el constante apoyo prestado al transexualismo por la profesión médica reifica el género, mermando el proyecto feminista que pretende eliminar los constrictivos roles de masculinidad y femineidad, causantes principales de la “disforia del género” y de todo el dolor y de la confusión propios del transexualismo. Cabe esperar que en un ambiente de fetichismo y enaltecimiento de la masculinidad y de la femineidad, como es el caso de los nuevos juegos de roles, el transexualismo se manifestará con más fuerza, dadas la construcción y la reafirmación del poder que implica y las limitaciones que los roles imponen.

El movimiento S/M lesbiano de los EE.UU. y de Gran Bretaña que tiene en Rubin una importante portavoz, utiliza el lenguaje de la cultura gay masculina. Las lesbianas defensoras del S/M aprendieron sus técnicas y su lenguaje en los clubes de los gays, practicando con varones gays, como todavía algunas siguen haciendo. Durante varias décadas el

284 Ibíd., pág. 470. 285 Ibíd., pág. 475. 286 Para un debate sobre las lesbianas que se someten a cirugía transexual, véase mi obra Anticlimax, 1990, págs. 184-187. 287 Rubin, op. cit. pág. 475. 288 Ibíd., pág. 476. 289 Véase Janice G. Rayrnond, The Transsexual Empire, Londres, The Women’s Press, 1982. Boston, Beacon Press, 1979.

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sadomasoquismo ha tenido una gran influencia en el ambiente gay. Pat Califia, una de las fundadoras del primer grupo S/M lesbiano de los EE.UU., Samois, narra las dificultades que tuvo tras el descubrimiento de su atracción por el S/M, para encontrar a otras lesbianas con quienes compartir sus prácticas. Alude a su encuentro con una “tortillera de cierta edad” que le habló de sus “recorridos con su amante por los bares gays de chicos de cuero, a principios de los 60, en busca de otras mujeres que compartiesen sus intereses sexuales"290. Afirma que, hacia finales de 1977:

Las lesbianas que acabarían fundando Samois solían encontrarse en la Sociedad de Janus, un grupo mixto con mayoría de varones gays; en Cardea, donde había muchas mujeres dedicadas al S/M profesional; en Las Catacumbas, un club de gays fistfucking que permitían el acceso de mujeres a sus fiestas; y en los bares Says de cuero, sobre todo en el Balcony y en el Ambush291.

Califia es autora de una selección de relatos eróticos S/M. Tanto el título del libro como su contenido demuestran su entusiasmo por el culto gay a la masculinidad. Se titula Macho Sluts Guarras machas. En un intento de legitimar la adopción del “machismo”, Califia lo define en la introducción de su libro como el estilo político de las minorías oprimidas. “En este país el machismo es el mecanismo de supervivencia de los varones de las minorías que tratan de defender así su autoestima y su cultura" 292. En realidad, el machismo y las demás formas de masculinidad son mecanismos mediante los cuales los varones perpetúan su poder sobre las mujeres. Sin embargo, hay algo de verdad en su afirmación. Los varones más desfavorecidos en la jerarquía de la cultura de la supremacía masculina adoptan como compensación una masculinidad exagerada, pues el poder relacionado con la virilidad y la opresión de las mujeres es el único poder que está a su disposición, ya que carecen del que confiere el dinero o el nacimiento. Por otra parte, el machismo de la cultura latina no se inventó como respuesta a la vida en los EE.UU. En las culturas latinas, de las que estos hombres provienen, el machismo constituía la forma aceptada de dominio masculino. Por tanto, no es revolucionario, sino simplemente un importante componente del poder masculino sobre las mujeres.

Es prácticamente imposible que Califia no haya reparado en que la masculinidad, en cualquiera de sus formas, no es nunca neutral con respecto al género y en absoluto puede considerarse favorable para las mujeres. El “machismo” no aporta nada a quien pertenece a la clase sexual de las “mujeres”, aunque sea lesbiana. Sin embargo, puede suponer un adelanto circunstancial. La virilidad es un valor en alza en la cultura heteropatriarcal y sobre todo en la cultura gay masculina, por lo que las lesbianas que adoptan atributos masculinos se benefician de la admiración y de la influencia sobre aquellas mujeres para las cuales el poder masculino tiene una carga erótica positiva, y también de la admiración que producen estos valores a algunos varones gays.

Los varones gays “masculinos” suelen llevar un gran peso erótico en los relatos de Califia. Ella rechaza la idea de que “la pornografía para consumo de las lesbianas debe tratar sólo de mujeres”293. En The Surprise Party La fiesta sorpresa, tres policías detienen y secuestran a una lesbiana y, la someten por la fuerza a diversos actos sexuales, como violaciones orales con penes y pistolas, enemas y violación anal. La lesbiana soporta degradaciones e insultos, especialmente referidos a su condición de lesbiana: “Sólo eres una maldita tortillera que nos encontramos por la calle… ¿Estuviste haciéndotelo con tu amiguita en el váter?… Puede que tenga algo en contra de las lesbianas. Son unas putas arrogantes. Ningún hombre les parece lo bastante bueno para ellas”294. Estos insultos aumentan la excitación de la víctima. Admira profundamente a los gays viriles que, para ella, son los héroes de las lesbianas. Estos son los pensamientos que dedica a sus agresores:

Estos dos polis, ¿eran maricones? No cuadraba. Su coño se contrajo. Los chicos de cuero ya eran lo bastante sexy; caballeros y príncipes negros que ella disfrutaba mirando, aunque las mujeres no podían tocarlos. En comparación, los polis eran reyes, ¡qué coño!, emperadores. En la jerarquía de los objetos sexuales, los polis gays debían estar arriba del todo, justo al lado de Dios. Pero, mierda, si decían que Don era gay… podía echar un polvo siempre que quisiera… Sabía que no tenía la práctica suficiente para ser tan buena como los chicos que iban directo a los urinarios, se arrodillaban y se quedaban allí durante horas, con ocho pulgadas o más metidas en la garganta, hasta el amanecer. ¿Cómo iba a complacerlo lo bastante para salvarse?295

De alguna manera consigue realizar una imitación aceptable de un varón gay. Uno de los agresores le pregunta: “Tú debes ser un nuevo tipo de pervertida. ¿O eres una imitación de marica?" 296. “Mucha gente piensa eso”, contesta la lesbiana. En otro lugar del relato llega a ser así. Antes de “follar” a su prisionera, los dos policías reciben las siguientes instrucciones:

Tal vez ayuda si no pensáis en ella como en una chica. A fin de cuentas, ella no quiere ser una mujer. Quiere ser un

290 Pat Califia, “A Personal History ofthe Lesbian S/M Community and Movement in San Francisco”, en Samois (comp.), Coming lo Power. Writings and Graphics on Lesbian S/M, Boston, Alyson Publications, 1982, pág. 245. 291 Ibíd., pág. 247. 292 Pat Califia, Macho Sluts, Boston, Alyson, 1988, pág. 20 293 Ibíd., pág. 16. 294 Ibíd., pág. 223. 295 Ibíd., pág. 219. 296 Ibíd., pág. 224.

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hombre. Se viste como un hombre, habla como un hombre, camina como un hombre. Es una maricona como vosotros, chicos. ¿Y verdad que los maricones follan con otros maricones?297

El erotismo del relato procede en parte de la idea de que la protagonista lesbiana es casi lo bastante buena como para ser un varón gay.

En el relato The Vampire La vampira, una practicante de S/M y vampira somete a un hombre a latigazos en un club gay, antes de encontrar a una mujer que le ofrece su sangre. La vampira se considera a sí misma un leatherman chico de cuero o representante masculino gay del S/M. Es conocida “por su caballerosidad”. Ésta “formaba parte de un código que ella pensaba que todos los verdaderos leatherman debían acatar con independencia de su género"298. En The Spoiler El consentidor un dominante masculino busca a otros dominantes con el fin de conquistarlos. Su estatus depende de su capacidad de “rebajar a otros dominantes”299. En la cultura gay masculina la lucha por la dominación tiene una connotación erótica que se manifiesta con notable claridad en la obra de John Rechy: un varón gay que logra el comportamiento pasivo de otro, se apunta una victoria sobre éste y los jugadores luchan para ver quién es el más duro de los dos300. De estos relatos cabe deducir que el atractivo que el S/M tiene para mujeres como Califia consiste en el descubrimiento de un espacio donde domina no ya a las otras mujeres, sino también a los varones gays. El S/M da prestigio. Una mujer capaz de domar a un dominante gay y de conseguir que “cambie las llaves de lado para ella” ha alcanzado una gran victoria personal en su lucha por ascender en la jerarquía del género. Una dominante poderosa parece moverse en una esfera sin género, en la que su género no supone una limitación. No obstante, tiene que jugar un juego masculino. No alcanza la victoria como mujer o lesbiana, sino mediante la renuncia a su propio género y el “camuflaje” como varón gay. Estas lesbianas han comprobado que en el mundo gay masculino no obtendrán ningún poder personal o prestigio, mostrándose como lesbianas. Así sólo perderían puntos. Marilyn Frye señala que un aspecto crucial de los vínculos masculinos es el desprecio hacia las mujeres. Los varones establecen sus vínculos a través de la misoginia que exhiben en sus reuniones en forma de chistes, acoso sexual o relatos de conquistas. En Macho Sluts Califia trata de conectar con los varones gays haciendo ostentación de su misoginia.

Los relatos de Califia están atestados del lenguaje gay masculino, notablemente el que demuestra el desprecio de los gays hacia las mujeres. La cultura gay masculina y más aún el artista travesti suele referirse a las mujeres como “pescado”, considerando que los genital es femeninos huelen a pescado. En otro de sus relatos, Califia emplea esta misma palabra para referirse a las clientas de unas prostitutas lesbianas, y lleva aún más lejos el uso de la palabra en su descripción de una escena de sexo oral entre lesbianas. La protagonista de este relato es una prostituta lesbiana sadomasoquista. Las clientas se apodan Janes.

No como pescado muy a menudo. Pero las Janes no paran de decirme que no suba los precios tanto o me voy a quedar sin trabajo. Una paliza es más cara que una chupada…301.

Califia es consciente de que su práctica y sus creaciones literarias en el campo del S/M pueden costarle la acusación de misógina. La mujer que entabla una relación con la prostituta sadomasoquista del relato mencionado alude a una relación de su pasado en la que fue tratada como un perro, acreditando así su idoneidad ante la protagonista.

Nuestro pequeño chucho pasaba cada minuto con ella, meneando el rabo y jadeando, siempre atrapada en un cepo de madera y con un tapón en el culo. Había correas y palizas para cachorros malos. Dormía en la casita del perro bebiendo y comiendo de unos platitos en el suelo. Me dan escalofríos al imaginarme dónde hacía sus necesidades. Estaba encantada302.

En su introducción Califia afirma que estos relatos no son misóginos, sino en realidad “actos o mensajes de amor”, burlándose así de la credulidad de sus lectoras303.

En los círculos libertarios de lesbianas es un secreto a voces que las lesbianas han aprendido sus prácticas sexuales de los varones gays. Al parecer, estas lesbianas se han servido de la pornografía gay masculina y esto explica por qué la nueva pornografía lesbiana reproduce religiosamente las imágenes y los valores de la pornografía gay masculina, uno de los cuales consiste en valorar el hecho de tener un pene y de ser penetrada por un pene.

297 Ibíd., pág. 231. 298 Ibíd., pág. 250. 299 Ibíd., pág. 281. 300 Véase John Rechy, The Sexual Outlaw, Londres, Futura, 1979. 301 Pat Califia, Macho Sluts, 1988, pág. 192. 302 Ibíd., pág. 205. 303 Ibíd., pág. 10.

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Las lesbianas buscaban en la pornografía de los gays el tipo de materiales que en sus propios círculos era tabú: el sexo sin romanticismo en sus infinitas variaciones. Con sus elaboradas técnicas, sobre todo relativas a los placeres de la penetración, los varones gays han contribuido irónicamente al resurgimiento del sexo vaginal entre las lesbianas304.

Esta imitación del sexo gay masculino se ha producido de manera consciente y resuelta. La defensora británica de la pornografía lesbiana, Cherry Smyth, lo explica de la siguiente forma:

En los dos últimos años cada vez más lesbianas han hablado de sus respuestas eróticas ante la pornografía gay masculina, incorporando parte de la iconografía sexual gay a sus fantasías, sus juegos sexuales y sus representaciones culturales305.

Smyth considera necesaria esta evolución, dado que los varones gays han desarrollado un, lenguaje sexual explícito del que carecen las lesbianas. El fenómeno de las lesbianas que aprenden el sexo de los varones gays presenta problemas análogos a los que tienen las mujeres que aprenden el sexo de los varones heterosexuales. Fue necesario que llegara el feminismo para que las heterosexuales pusieran voz a su descontento con respecto al sexo practicado por los varones heterosexuales, léase coito con penetración. Ahora será necesaria una nueva generación de lesbianas para hacer notar que los consoladores en vaginas y anos no son esenciales para la sexualidad de las lesbianas.

Según Smyth, la emulación de los varones gays ha llegado a extremos sorprendentes. Al parecer, algunas lesbianas practicantes de los juegos de roles han optado por imitar los roles de los varones gays, y no el masculino o el femenino. Los roles de los gays son políticamente más correctos, puesto que el juego de butch y femme puede parecer una imitación del modelo heterosexual.

Entretanto las lesbianas que habían reivindicado la identificación con butch y femme, están cambiando de fuentes. A diferencia de la dinámica butch/femme, deudora del modelo heterosexual, la tortillera papaíto butch y la lesbiana

chaval se apropian de los códigos masculinos sin negar que sus protagonistas sean mujeres306.

Smyth ilustra la nueva fascinación de las lesbianas por la sexualidad gay masculina con la obra de la fotógrafa lesbiana Della Grace. Una de sus fotografías titulada Lesbian Cock Polla lesbiana “muestra a dos lesbianas vestidas de cuero y con gorras de motocicleta; ambas lucen bigotes y una de ellas sostiene un consolador de apariencia realista que despunta de su entrepierna"307. Para Smyth, esta imagen constituye una “deliciosa parodia” que demuestra la envidia de las lesbianas por los penes y por la sexualidad gay. Está “atravesada por una envidia que pocas feministas son capaces de admitir”. Los valores que causan la envidia de la lesbiana son “la manera tan directa de buscar ligue, la connotación erótica del culo, el sexo ocasional, el cottaging, la penetración, así como el poder económico y los privilegios sociales del varón gay”. Cottaging es el término británico para designar la costumbre de los varones gays de buscar contactos sexuales en los urinarios públicos. Parece ser otra de las cosas que las lesbianas envidian a los gays y, de hecho, algunas la han adoptado. Smyth apunta que las lesbianas “se quejan de la falta de cottaging"308. Como cabe esperar, la admiración de las lesbianas por los gays no es correspondida, dada “la relativa carencia de poder sexual y social al que tienen acceso las mujeres"309.

La educación para el sexo seguro, surgida a raíz de la epidemia del VIH/sida, ha constituido otro motivo más para que las lesbianas desarrollen un complejo de inferioridad respecto a su práctica sexual. La educación para el sexo seguro entre lesbianas se apoya en el modelo gay, por inadecuado que resulte para ellas, y este hecho ha contribuido a la normativización de la conducta sexual gay en la comunidad lesbiana. La educación para el sexo seguro entre lesbianas descansa sobre la idea de que el sexo entre lesbianas es una vía de transmisión del sida, a pesar de la inexistencia de pruebas. Las demostraciones y los manuales sobre sexo seguro están adquiriendo una considerable importancia en la cultura de las lesbianas jóvenes. Hasta mediados de los años 80 las lesbianas tenían la confianza suficiente para proclamar la relativa falta de riesgo del sexo entre lesbianas. Ante las acusaciones homofóbicas de que el sida era un castigo de Dios contra los homosexuales, una de las más famosas respuestas consistió en afirmar que las lesbianas no parecían padecerlo. Una lesbiana británica propuso en 1986 que el bajo riesgo del sexo entre lesbianas debería servir de reclamo publicitario para éstas y de información útil para las mujeres preocupadas por el sexo seguro.

No es probable que se coja el sida practicando el sexo lesbiano. Me parece importante que lo digamos en voz alta:

304 Peg Byron citada en Cherry Smyth, “The Pleasure Threshold: Looking at Lesbian Porn on Film”, Feminist Review, núm. 34, primavera 1990, pág. 157. 305 Cherry Smyth, Lesbian Talk: Queer Notions, Londres, Scarlet Press, 1992, pág. 42. 306 Ibíd. 307 Ibíd., pág. 43. 308 Ibíd., pág. 29. 309 Ibíd., pág. 44.

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EL SEXO ENTRE LESBIANAS ES SEGURO. Para todas las mujeres representa un riesgo bastante menor que el coito heterosexual310.

A mi modo de ver, esta confianza ha disminuido en los últimos tiempos, acompañada por un descenso generalizado del orgullo y de la autoestima de las lesbianas.

Las lesbianas han descubierto que en su comunidad existen lesbianas seropositivas. En este sentido, el sida es un tema importante para las lesbianas, porque las seropositivas requieren un apoyo y unos servicios especiales que cubran sus necesidades específicas. Ahora bien, estas lesbianas probablemente se han infectado a través del consumo de drogas por vía intravenosa, las transfusiones de sangre o el sexo con varones. Las organizaciones antisida aseguran que no hay pruebas de la incidencia de transmisión entre mujeres y que las lesbianas podrían ser consideradas prácticamente un grupo sin riesgo. El Servicio Británico de Laboratorio de la Salud Pública, que lleva el control de las infecciones por el virus del sida en Gran Bretaña, no tiene constancia de infecciones VIH producidas a consecuencia de las relaciones sexuales entre mujeres311. Algunos grupos de lesbianas han reaccionado con fiereza ante esta visión, convencidas de que la comunidad científica y las organizaciones del sida ya sea por malicia, ya sea por falta de interés están minimizando el riesgo de transmisión sexual entre lesbianas. Un ejemplo de cómo este tema logra caldear los ánimos es el furor que provocó el cartel de la Fundación Terence Higgins en Gran Bretaña. El cartel recomienda que “a menos que os pongan cachondas, tirad los guantes y las barreras de látex… el sexo oral es de muy bajo riesgo”312. En julio de 1992, las lesbianas de ACT UP protestaron pintarrajeando el cartel expuesto en la VIII Conferencia Internacional sobre el Sida en Ámsterdam. Según ACT UP, el consejo es “peligroso” e “irresponsable”.

La novelista y activista neoyorquina Sarah Schulman afirma en un artículo publicado en Lesbian London que el virus del sida no se transmite a través del sexo oral entre lesbianas y atribuye la preocupación por el sexo oral a la “histeria del sida”. Asevera asimismo que en cada uno de los quince casos de transmisión entre lesbianas, “la culpa era de una aguja”.

Señaló que tal vez las lesbianas necesitaban sentirse amenazadas por el sida debido a su culto a la victimización. “Entre las lesbianas hay mucho dolor y mucha vergüenza. Resulta fácil abrazar el papel de víctima porque crea prestigio”313.

Es una hipótesis interesante la de que la preocupación de las lesbianas por el sexo seguro en un contexto donde parece existir un riesgo muy bajo o nulo, satisface un deseo de éstas que nada tiene que ver con el sexo. Tal vez sea el deseo de mantener el estatus de la proscrita, de no sentirse excluidas de las tragedias acaecidas sobre la comunidad gay masculina, el miedo a que el lesbianismo resulte demasiado fácil, no lo bastante estigmatizado y vilipendiado. Quienes sostienen que el sexo entre lesbianas encierra riesgo suelen estar confundidas acerca de la relación entre la existencia de lesbianas seropositivas y la necesidad de sexo seguro. Si las lesbianas seropositivas no se infectaron por la práctica del sexo entre mujeres y no hay pruebas al respecto, no existe la necesidad de sexo seguro.

En enero de 1992 las lesbianas de Safe Womyn, una organización que integra el Consejo del Sida de Victoria, en Australia, organizaron un taller sobre sexo seguro para lesbianas en Melbourne. En su opinión, las lesbianas australianas con sida no habían contraído el virus a través de la práctica sexual con mujeres. Según estas activistas no era en absoluto cierto que el sexo entre lesbianas transmitiera el virus, y en su folleto eximen de riesgo a gran parte de las prácticas sexuales habituales entre lesbianas. Sin embargo, en algunos ámbitos de la comunidad lesbiana es difícil poner en tela de juicio que el sexo entre lesbianas conlleve peligro.

Una de las representantes del VAC que hizo hincapié en la escasa probabilidad de riesgo fue, amonestada con severidad en el sentido de que nada se sabía a ciencia cierta y de que tal vez las transmisiones sexuales del virus del sida entre lesbianas no aparecían en las estadísticas porque no se sabía preguntar o porque no se hacían los análisis oportunos. Parecen enfrentarse dos opiniones opuestas. Mientras que las lesbianas del VAC insisten en la exigüidad del riesgo, el Latex Liberation Front (Frente de Liberación Látex), que la mayoría de las lesbianas asocia a demostraciones de sadomasoquismo y a los aspectos más morbosos del sexo entre lesbianas, subraya la posibilidad de riesgo. Probablemente la diferencia no es casual, sino que tiene un trasfondo político. La imagen del lesbianismo que se proyecta ante las demás lesbianas y ante el público en general varía claramente en función de la asunción del riesgo inherente en el sexo entre lesbianas. En una demostración pública en un centro comercial de Melbourne cuyo fin era aumentar la visibilidad de gays y

310 Vada Hart, “Lesbians and AIDS”, Gossip, Londres, 1986, núm. 2, pág. 91. 311 Melbourne Star Observer, 21 agosto 1992, pág. 8. 312 Ibíd. 313 Sarah Schulman, citada en Lesbian London, núm. 1, diciembre 1991/enero 1992, pág. 1.

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lesbianas se repartieron condones y barreras de látex entre un público bastante perplejo. Schulman se refiere al “despliegue publicitario de las barreras de látex” y señala: “No ha habido debate. No está comprobada su eficacia”314. Sin embargo, en la actualidad, las barreras de látex se han convertido en algunos círculos en el símbolo del lesbianismo. Para la nueva generación de lesbianas el uso de las barreras de látex se ha convertido en costumbre. Y con ello se ha cambiado la imagen del sexo entre lesbianas.

En un foro sobre sexo seguro en que participé se llegó a la conclusión de que esta educación contribuía más a enseñar a las lesbianas una nueva sexualidad, inspirada en la de los varones gays, que a enseñar el sexo seguro. Durante las actividades sociales del día dedicado al sexo seguro y donde las asistentes debían relacionarse y presentarse, se proyectó una película pomo en dos pantallas de vídeo. Más tarde se volvió a proyectar la cinta, para que pudiéramos verla más detenidamente. Procedía de EE.UU. y, al parecer, su objetivo era enseñar el sexo seguro a las lesbianas. Según la presentadora del VAC, los artífices eran un grupo para la salud compuesto por varones gays. La película se parecía a la pornografía masculina tradicional. Un grupo de lesbianas no Identificadas, nada parecidas a las lesbianas comunes, con largas melenas y negligés, se dedicaban a diversas actividades sexuales, entre ellas, al uso de consoladores dobles. Reían y parecían incómodas. Ensayaban el uso de condones y de barreras de látex en los sitios adecuados. Una de ellas se desnudó y simuló una masturbación delante del grupo. Más tarde supimos que éste era el único vídeo disponible sobre sexo seguro entre lesbianas y que la artista del strip-tease era una prostituta no lesbiana. No parecía una manera adecuada de llegar a un público lesbiano con poca experiencia en sexo grupal o en la utilización de otras mujeres como prostitutas.

Después de proyectar la película hubo una demostración de sadomasoquismo, un ejercicio obligatorio en estas ocasiones. Con toda mi ingenuidad supuse que la demostración guardaría alguna relación con la transmisión del VIH, pero no era el caso. Solamente era un reclamo para el S/M y su mensaje parecía bastante poco seguro. La dominante, vestida de zahones de cuero y protagonista de la demostración, exhibió el contenido de su maleta, enseñando los gorros de cuero que servían para identificar a dominantes y sumisas. Mostró diversos pañuelos, incluido el suyo que llevaba un estampado de camuflaje para designar su interés en temas militares. Los de color marrón designaban la mierda, los amarillos, la orina. Una de las presentadoras del VAC preguntó con muy buen criterio si había un pañuelo que designara el interés por el sexo seguro. La dominante dijo que sí, uno blanco o de cuadros, pero que era difícil de conseguir. Acto seguido se nos enseñó cómo fijar los consoladores, las esposas, los distintos dispositivos de inmovilización hechos de cuero, y cómo realizar el bondage ataduras. Todas estas prácticas se demostraron sobre una lesbiana con un vestido negro corto y mallas rojas que decía tener molestias en la “polla”. La única referencia al sexo seguro consistía en advertir que había que utilizar condones al compartir los consoladores. Algunas de las prácticas parecían bastante peligrosas. Por ejemplo, se aconsejó el uso de esposas de cuero y no de metal, porque en el forcejeo que era parte inevitable del juego del S/M las esposas metálicas cortaban las muñecas causando heridas y hemorragias. No se mencionó la posible transmisión a través de los líquidos corporales. La demostración duró 45 minutos.

Las impactantes imágenes visuales de esta sesión de “sexo seguro” mostraban el sexo grupal y la prostitución, los consoladores y la parafernalia del S/M. El acto seguía las líneas organizativas de las sesiones de sexo seguro para varones gays e incluía un vídeo hecho por varones gays con su propia visión del sexo entre lesbianas. Tal vez para los gays la enseñanza del sexo esté basada en su práctica sexual habitual; para la comunidad lesbiana supone la promoción de una nueva versión de la sexualidad lesbiana que se apoya en la imitación de la práctica sexual de los varones gays, en la connotación erótica del dominio y de la sumisión, en la cosificación y en la industria del sexo.

Cuando expuse mis dudas delante de algunas de las lesbianas asistentes a la sesión, éstas contestaron que las lesbianas “vainilla”, a saber, las que no practicaban un sexo fundamentado en el dominio y en la sumisión, debían rodar sus propios vídeos y organizar sus demostraciones. Este comentario demuestra hasta qué punto la industria del sexo se ha convertido en homónima de “sexo”. Es poco probable que las feministas lesbianas quieran protagonizar o rodar películas pornográficas sobre el sexo “vainilla”. El sexo “vainilla” se convierte en su justo contrario si implica la cosificación de una mujer y su exhibición para el consumo de masas. El sexo que practicamos muchas de nosotras tal vez la mayoría se convertiría en algo bien distinto ante una cámara. Por otra parte, mostrar a dos lesbianas absortas en alguna actividad sexual se parece bastante a los productos habituales de la industria del sexo. Tal vez sea éste el motivo por el que las actuaciones en directo de sexo entre lesbianas se han convertido en parte habitual de los programas de variedades de algunos clubes de lesbianas y también de algunos clubes S/M convencionales de Melbourne. Mientras las demostraciones de

314 Ibíd.

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sexo seguro utilicen vídeos y actuaciones pornográficas no tendrán repercusión sobre la actividad sexual de la mayoría de las lesbianas; en cambio, sí contribuirán activamente a la construcción de una nueva sexualidad lesbiana inspirada en la pornografía tradicional lesbiana concebida por los varones, tanto gays como heterosexuales.

La idea de que no hay sexo seguro sin vídeos, demostraciones, sexo grupal y prostitución está firmemente arraigada en la ideología de los varones gays sobre este tema. En la actualidad sigue resultando extraño para la mayoría de las lesbianas. Un ejemplo de las nuevas formas de sexo seguro entre los gays norteamericanos es la aparición de los clubes “de pajas” donde los varones se reúnen para masturbarse en compañía. Sin embargo, estos clubes ya existían antes de la aparición del sida y apelaban al voyerismo y a los vínculos de afinidad entre varones mediante el sexo, que son elementos constitutivos de la sexualidad masculina. Dennis Altman comenta:

La idea de varios centenares de hombres en una nave abandonada, completamente desnudos salvo por sus zapatillas, y en diversos estados de excitación sexual, resultará repugnante para algunos, cómico para otros y sin embargo, muchos de los asistentes han encontrado en estos clubes una importante fuente de apoyo comunitario y de satisfacción sexual315.

Se puede concluir que las prácticas de sexo seguro entre varones gays procedían de su comportamiento convencional previo al sida y, cuando el sexo seguro se extendió a las lesbianas, se reprodujeron de manera mecánica unos hábitos masculinos totalmente inadecuados.

Entre el programa de sexo seguro de los gays y la teoría y la práctica sexual lesbiana existen fuertes contradicciones. Así lo demuestra la descripción de una monitora antisida de Oxford, en Inglaterra, cuando habla de las frustraciones de su trabajo. Según Robin Gorna, sus alumnas feministas consideraron pornográfico su cartel sobre el sexo seguro.

La reunión con el Comité de Alumnas fue exasperante. Incluyeron el asunto del cartel en el orden del día, tras uno de sus debates sobre su reciente campana antipornografía. Durante la lectura del borrador reinaba un tenso silencio. Protestaron contra el uso de una imagen fotográfica frontal y, en realidad, de cualquier imagen, alegando que resultaba opresiva para las mujeres. Propusieron un dibujo porque el efecto de cosificación era menor… No habíamos previsto esta erotofobia generalizada ni estas “alianzas nefastas”. Estábamos oyendo de boca de las alumnas algo que esperábamos oír de la “derecha moral"316.

La preocupación de las feministas por la construcción de la sexualidad masculina y por la necesidad de reconstruir la sexualidad con el fin de acabar con la violencia masculina son despachadas aquí como una simple actitud moralizante. Gorna parte de la idea de que la educación para el sexo seguro sólo puede realizarse mediante la pornografía. Lo cual plantea un problema para las mujeres cuya sexualidad no ha sido suficientemente cosificada, que no consumen pornografía en abundancia.

Las iniciativas eróticas de sexo seguro más efectivas se han producido en las comunidades gays, donde existe una gran tradición de usar materiales sexualmente explícitas. Las iniciativas elaboradas por la Deutsche AIDS Hilfe y por la New York’s Gay Men’s Health Crisis se apropian del marco y del discurso de la pornografía gay incorporando, de forma natural, técnicas y fantasías de sexo seguro… Para los varones que practican el sexo con mujeres… existe un tipo de pornografía “heterosexual”… Desgraciadamente es total la ausencia de materiales sexualmente explícitos dirigidos a mujeres317.

En opinión de Robin Gorna las mujeres constituyen un colectivo problemático porque en realidad no tienen una sexualidad propia. Sabe que la educación para el sexo seguro debería integrar “los valores existentes y las necesidades reales de la comunidad”, pero a su modo de ver las mujeres no las tienen en el terreno sexual. “Cuando no existen estos valores y necesidades estamos confeccionando un programa sin fundamento”318, afirma. Gorna da por sentado que la visión que tienen los varones gays o heterosexuales del sexo, representa el verdadero sexo, a saber un sexo “recreativo, lascivo, placentero y variado”. Esta idea dista mucho de una perspectiva feminista y atenta a la articulación de las ideas y necesidades propias de las mujeres. Lleva implícita la sospecha de que hay que reeducarlas antes de que puedan practicar el sexo seguro. Tienen que saber disfrutar con la pornografía antes de poder recibir esta educación. Gorna organizó unas sesiones de reeducación para las alumnas recalcitrantes.
Juntas planificamos un taller llamado “Las mujeres hablamos del sexo”. Un domingo por la tarde nos presentamos en una sala de reunión de estudiantes, una agarrada a una bolsa llena de juguetes sexuales y otra cargada de

315 Dennis Altman, AIDS and the New Puritanism, Londres, Pluto Press, 1986, pág. 158. 316 Robin Gorna, “Delightful visions: From anti-porn to eroticizing safer sex”, en Lynne Segal y Mary Mclntosh, Sex Exposed. Sexuality and the Pornography Debate, Londres, Virago, 1992, págs. 178-179. 317 Ibíd., págs. 180-181. 318 Ibíd., pág. 181.

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pornografía, y rodeadas de cuarenta nerviosas jovencitas impacientes319.

Obviamente no se mencionó la política sexual. Tampoco constaban en el orden del día cuestiones tan importantes como si las mujeres deseaban el coito la dificultad de decir no, la violación, los abusos sexuales y la política de la pornografía y de la industria del sexo. En cambio, las mujeres parecen haber asumido el papel de los sexólogos y se dedican a aleccionar a otras mujeres sobre su deficiencia sexual y sobre su deber de abrazar la construcción que la supremacía masculina hace de la sexualidad.

El tema de la educación para el sexo seguro dirigida a los varones gays ha entorpecido la campaña feminista contra la pornografía. Mientras la pornografía sea considerada el único medio eficaz para la educación del sexo seguro, las feministas serán acusadas de comprometer la vida de los varones con sus críticas. El teórico gay británico Simon Watney se opone con fiereza al análisis feminista de la pornografía y como justificación de su disconformidad aduce el papel fundamental de la misma en la educación para el sexo seguro. Condena la respuesta de un varón gay a una columna erótica del New York Native. Éste había adoptado una clara postura feminista: “Elaboremos una pornografía más creativa, construida sobre algo más que el poder y el intercambio de líquidos corporales”. La réplica de Watney es cáustica.

Ésta es la genuina voz del varón gay que se identifica con el feminismo y que suelta paparruchadas “en nombre” de otras personas supuestamente en peligro, y lo hace en unos términos que, sin embargo – y contra toda lógica-equiparan la posibilidad de contagio por el virus del sida con ciertos aspectos cuantitativos y no cualitativos, del sexo. Podemos contrastar esta postura con aquella que califica de “curación pornográfica” el video Chance of a Lifetime realizado por el New York’s Gay Men’s Health Crisis y que promociona el sexo seguro… El año pasado un gay norteamericano escribió: “Odiar la pornografía significa odiar el sexo. Odiar el sexo significa odiar la condición humana. La pornografía nos enseña que el sexo es algo fantástico, y en la época del sida éste es un mensaje especialmente importante”320.

Las lesbianas deben valorar la cuestión de la educación, sexo seguro desde una perspectiva crítica y política si no quieren que por este superfluo conducto se cuelen en la comunidad lesbiana la práctica sexual gay masculina, la pornografía y sadomasoquismo. Aceptar que el sexo entre lesbianas conlleva un grave riesgo puede volver a conducir a la patologización del sexo lesbiano.

Las terapeutas sexuales comparten la idea de la deficiencia sexual de las lesbianas, comparadas con los varones gays, proponiendo otra forma de educación sexual para reconstruir la sexualidad lesbiana a imagen y semejanza del varón gay. La terapeuta sexual Margaret Nicholls considera a todas las lesbianas “sexualmente reprimidas en el fondo”321. También lo son las mujeres heterosexuales, prosigue. Solamente no lo son los varones, notablemente los varones gays, y las lesbianas deben imitar la práctica sexual de los varones gays. Afirma Nicholls:

Estamos al menos tan reprimidas como nuestras hermanas heterosexuales, tal vez más. Tenemos más conflictos sexuales que los varones, ya sean gays o heterosexuales, un deseo sexual menos desarrollado y menos recursos para expresar nuestras necesidades sexuales. Nuestras relaciones consisten en el emparejamiento de dos individuos con una relativa inhibición sexual; de manera que no es extraño que la frecuencia del sexo en nuestras relaciones sea menor a la que se da en las relaciones entre varones gays o entre heterosexuales… Además, nuestra práctica sexual es menos variada y diversa que las técnicas sexuales de los varones gays y posiblemente hasta de las parejas heterosexuales322.

Nicholls entiende “nuestra relativa falta de sexualidad” como un auténtico problema. A su modo de ver, los varones gays son mucho más aptos para el sexo.

… los varones gays practican más el sexo que las lesbianas, tanto dentro de su relación principal como fuera de ella. Su repertorio de formas sexuales es más variado que el de cualquier otro tipo de pareja. Logran incorporar la no-monogamia a sus relaciones. En una palabra: los varones gays han logrado el tipo de sexualidad más avanzada entre todos los tipos de emparejamiento que la humanidad conoce323.

No obstante, según Nicholls los varones gays no son superiores en todo. Las lesbianas entienden mejor “la proximidad, el compartir y el contacto Íntimo”. Encomienda a lesbianas y gays que aprendan los unos de los otros, para compensar así sus deficiencias y para poder “crear unas relaciones con el componente sexual de los varones gays y la capacidad de comunicación de las lesbianas”.

Nicholls señala la existencia de un problema sexual específico de las lesbianas, a saber, su actitud ante la no-

319 Ibíd., pág. 182. 320 Simon Watney, Policing Desire. Pornography and the AIDS Crisis. Minneapolis, University of Minnesota Press, 1987, págs, 75-76. 321 Margaret Nicholls, “Lesbian Sexuality: Issues & Developing Theory”, en Boston Lesbian Psycholgies Coll. (comps.), Lesbian Psychologies, Illinois, Univ. of Illinois Press, 1987, pág. 100 322 Ibíd. 323 Ibíd., pág 102.

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monogamia. Las lesbianas suelen ser sinceras con su pareja acerca de sus otras amantes y conciben las relaciones externas como historias sentimentales o amorosas antes que como simples “ligues” (tricking). Según Nicholls, esta combinación resulta “mortal” y produce unos celos muy perjudiciales que acaban destruyendo la relación principal. Nicholls recomienda a las lesbianas que adopten la práctica de los “ligues” propia de los varones gays, ya que el intento de aunar el sexo y el amor en más de una relación resulta poco realista. Afirma: “Los ‘ligues’, el sexo anónimo, los colegas para follar – conceptos que los varones gays han utilizado durante años…- me parecen unas ideas estupendas…”324. En su búsqueda de soluciones al problema de la “carencia de sexualidad” de las lesbianas, Nicholls las anima a seguir el ejemplo de “las parejas heterosexuales (a través de la bibliografía sexológica sobre crecimiento sexual) y de los varones gays”. Una vez más, las lesbianas son consideradas deficientes. Según Nicholls, “las lesbianas tiene que adoptar una orientación más “masculina”, con mayor énfasis en el propio sexo y quizás menos en el enamoramiento”325. Y concluye victoriosa que esto ya está ocurriendo. Ante una campaña tan decidida dirigida por una “experta” en sexo lesbiano que pretende igualar a las lesbianas con los varones gays, no debe sorprendernos que muchas lesbianas estén quedándose sin la confianza suficiente para oponerse a la educación de sexo seguro transmisora de este mismo mensaje.

Otra vía para volver a supeditar a las lesbianas al cetro cultural de los varones gays es la política queer. La nueva política queer asegura que no excluye a nadie, permitiendo a lesbianas y gays jóvenes así como a lesbianas y gays negros organizarse por fin bajo el mismo estandarte feliz de lo queer. El teórico gay británico Simon Watney explica así las ventajas del término:
En estos tiempos, la gran utilidad del término queer radica en su neutralidad con respecto al género y a la raza. Lo cual quiere decir que en los EE.UU. la palabra “gay” ha llegado a significar “blanco”, “treinta-y-tantos”, “varón” y “materialista”. Por el contrario, el término queer denota una identidad que celebra la diferencia dentro de un marco más amplio de diversidad sexual y social326.

He aquí que la palabra «lesbiana» ha desaparecido. Queer toma el relevo de gay, pero muchas lesbianas nunca se han denominado gays. Históricamente la terminología universal que designa a lesbianas y gays siempre ha acabado por señalar sólo a los varones. Tanto los varones gays como el mundo heterosexual utilizaron la palabra homosexual como si las lesbianas no existieran. Para nombrarlas había que añadir un adjetivo diferenciador. Los varones gays eran la norma y, por consiguiente, ellas se convirtieron en “homosexuales femeninas”. La palabra gay sufrió la misma suerte. La liberación gay debía abarcar tanto a los varones gays como a las lesbianas; sin embargo, éstas se vieron en la necesidad de crear sus propias organizaciones y, además, idear una palabra propia para definir su experiencia específica. La palabra lesbiana tiene una historia importantísima. Convirtió a las lesbianas en algo más que una subcategoría de los varones gays. La palabra permitía cultivar el orgullo, la cultura, la comunidad, la amistad y ética específicas de las lesbianas. En un principio, las palabras homosexual y gay no se referían solamente a los varones, pero la evolución del término es resultado de una realidad política tangible, del mayor poder social y económico de los varones, del poder que ha permitido a los varones imponer su definición de la cultura y ocultar a las mujeres. La batalla por dar valor a la experiencia específica de mujeres y lesbianas ha sido larga y dura y tiene que mantenerse a diario; en caso contrario, la experiencia nos enseña que las mujeres y las lesbianas serán incorporadas y asimiladas al masculino genérico. Para las lesbianas británicas y australianas, la palabra queer abarca incluso a menos grupos que homosexual o gay. Desde nuestra concepción de la historia lesbiana, la palabra queer denotaba a los varones y en ningún momento a las mujeres.

La política queer nace de la rabia y de la desesperación sobre todo de los jóvenes varones gays y de algunas lesbianas, ante la falta de atención por parte del mundo heterosexual y de los gobiernos de los EE.UU. y de Gran Bretaña respecto de la crisis del sida y ante la promoción activa de la homofobia. Las jóvenes lesbianas y los jóvenes gays se criaron en este mundo nuevo y por esta razón abandonaron la política de la generación anterior, tachándola de acomodadiza y propugnando una política radical de acción directa que sigue el modelo de la táctica feminista y de la liberación gay. Según Watney, los nuevos queer no discuten el tema del género.

… muchos de los actuales jóvenes queers se sienten mucho más unidos a las mujeres y los hombres de su grupo que a las lesbianas y los varones gays mayores que tradicionalmente se encontraban divididos por la cuestión del género y por diversos conflictos políticos, relacionados en gran parte con la “pornografía”327.

Watney blande una varita mágica. El hecho de que no haya controversias, ¿significa que los varones gays se hayan convertido en un modelo ferozmente pro-feminista o que las lesbianas estén obligadas a callar? Me

324 Margaret Nicholls, «Doing Sex Therapy With Lesbians: Bending a Heterosexual Paradigm to Fit a Gay Lifestyle», en Boston Lesbian Psychologies Collective, 1987, pág. 257. 325 Ibíd., pág. 259. 326 Simon Watney, “Queerspeak. The last word”, Outrage, Melbourne, abril 1992, pág. 21. 327 Ibíd. Para un ulterior análisis de cómo las lesbianas solían ser excluidas de los estudios, la historia y la cultura “homosexual” y “gay”, véase: Rosemary Auchmuty, Sheila Jeffreys y

Elaine Miller, “Lesbian History and Gay Studies: Keeping a Feminist Perspective”, Women’s History Review. vol. 1, núm. 1, 1992.
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inclino por lo último. La nueva alianza depende de la exclusión de las lesbianas y de los gays contrarios a la pornografía, puesto que pueden causar conflictos. De acuerdo con la definición de Watney, la política queer, por tanto, es todo menos inclusiva: la mayoría de las feministas no tienen cabida. Según uno de los principios feministas fundamentales, la cosificación es el rasgo distintivo de una sexualidad contraria a los intereses de las mujeres. Se halla en el origen de la violencia sexual que ejercen los varones. Según Watney, el deseo sexual es imposible sin cosificación. Esta es una noción esencialista que se apoya en la equiparación entre la construcción social predominante de la sexualidad masculina en un sistema de supremacía masculina, y el sexo en sí.

… la cultura lesbiana y gay se ha visto limitada asimismo por la gran preocupación en torno de la llamada
“cosificación” del cuerpo, como si las fantasías sexuales y el deseo pudieran existir sin cierto nivel de cosificación psíquica328.

Watney reprocha a la “cultura gay” su carácter “puritano y a menudo tímido respecto al sexo"329. Tal vez las lesbianas lectoras de las revistas gays no se hayan dado cuenta de este detalle. Tanto la política sexual de la liberación gay como la del feminismo lesbiana se encuentran ahora en el punto de mira de los libertarías sexuales, que propugnan un nuevo “naturalismo” sexual y que consideran tabú todo análisis político de la práctica sexual. La política sexual de Watney nos remonta a los años 60, una época en que la práctica sexual aún se consideraba un terreno no politizado.

Al filo de la definición que hacen Watney y gran parte de las colaboradoras de la antología de Cherry Smyth, Lesbians Talk: Queer Notions, de la política queer, ésta resulta tremendamente perjudicial para lo que suele entenderse por política feminista lesbiana. Sus objetivos son bastante específicos y reducidos y se basan en una determinada política gay masculina. No obstante, la política queer está en vías de desarrollo, aún no está rígidamente definida y probablemente no lo estará nunca. Muchas lesbianas jóvenes que se dedican actualmente a la política queer se consideran feministas y participan con idéntico optimismo al de las lesbianas de principios de los 70 que participaron en la liberación gay. Sin embargo, no son ellas quienes definen los términos. En Queer Notions, una lesbiana elogia el carácter inclusivo del concepto queer: “Me encanta lo queer. Una persona queer es un homosexual de cualquiera de los dos sexos. Es más cómodo que “gay” que requiere un calificador, o ‘lesbianas y gays’"330.

No obstante, en este mismo libro donde se cantan las glorias de la denominación queer, también parece haber necesidad de un calificador. En un capítulo sobre arte, Cherry Smyth se pregunta: “¿Dónde está dentro del renacimiento cultural queer británico la artista queer lesbiana, negra o blanca?”331 En otro lugar utiliza la expresión “queer mixto”332. Obviamente, “queer mixto” no es un término más afortunado que lesbiana y gay. De manera que la palabra queer no cumple la función de inclusión ni siquiera entre sus admiradores más entusiastas. El australiano Charles Roberts, que se auto define como “activista queer infectado”, demuestra por su uso de la palabra que para él queer significa masculino y distinto a “lesbiana/bollera” (dyke). A su modo de ver, la palabra queer constituye un ejemplo de reivindicación de un determinado lenguaje por parte de una comunidad marginada, que no permitiría que otras personas ajenas a este grupo se refirieran a ellos en estos términos. “Personalmente espero que las Lesbianas y los Queer efectúen esta misma re-apropiación lingüística, para que la siguiente persona que llame ‘maricón’ o ‘marimacho’ a un Queer o una Lesbiana sea la última”333. La pregunta que las lesbianas se deben plantear con respecto a la política queer es si merece la pena volver a luchar para conseguir la inclusión en el lenguaje masculino o si es preferible separamos de nuevo.

La palabra lesbiana distingue a las mujeres de los varones; no obstante, fuera de la cultura occidental, las mujeres que aman a otras mujeres no se sienten necesariamente incluidas. La lesbiana aborigen Marie Andrews dijo durante uno de mis cursos en la Univ. de Melboume que una palabra diseñada para describir las hazañas sáficas en una isla griega no tiene ninguna resonancia en las vidas de mujeres que aman a otras mujeres en las culturas indígenas. La palabra lesbiana resulta problemática para quienes no se identifican con Lesbos; no obstante, hace falta una o varias palabras que designen a las mujeres a diferencia de los varones, para que las lesbianas puedan nombrarse.

La política queer cautiva a los postmodernos que la ven como política de la “diferencia”. El concepto de la diferencia es muy importante para los postmodernos que pretenden poner en entredicho los falsos conceptos “universales” que homogeneízan la experiencia de distintos géneros e identidades étnicas. No obstante,

328 Simon Watney, “Queerspeak. The latest word”, Outrage, Mebourne, abril 1992, págs. 18-22 329 ibíd. 330 Cherry Smyth, Lesbians Talk: Queer Notions, Londres, Scarlet Press, 1992, pág. 20 331 Ibíd., pág. 49. 332 Ibíd., pág. 29. 333 Charles Roberts, “Pricks”, Antithesis, vol. 5, núm. 1 y núm. 2, Melbourne, 1992, pág. 87.

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numerosas detractoras del postmodernismo han señalado que éste puede convertirse en una especie de neoliberalismo por su negativa a ocuparse de temas tan vulgares como la opresión. Al ignorar la opresión y la subordinación implícitas en la opresión racista y de las mujeres, la aclamación de las diferencias servirá en realidad para homogeneizar a quienes se dedican a prácticas como la “pedofilia” o el “sadomasoquismo” que oprimen muy directamente a otros grupos, o que explotan la opresión de las mujeres para lograr su propia excitación sexual. Entonces nos encontramos realmente ante un neo liberalismo donde se tacha de aguafiestas a quienes tratan de debatir temas como el poder masculino, rompiendo la nueva armonía en torno a las “diferencias”. A la lesbiana británica Linda Semple le gusta la palabra queer por su mensaje de la “diferencia”:

La utilizo… para denotar una política de la inclusión: un nuevo acercamiento a la diferencia a través de múltiples sexualidades, géneros, preferencias sexuales y elecciones de objetos334.

De acuerdo con la teoría postmoderna, Semple añade eses finales a las palabras, como en el caso de “sexualidades”. La teoría feminista en cambio, analiza la estructuración de la opresión de las mujeres a través de la construcción de la sexualidad (en singular). Las eses de los postmodernos que alcanzan hasta a las “homosexualidades” con lo que homogeneíza a las lesbianas con los varones gays y a las “heterosexualidades”, impiden prácticamente un análisis feminista de la heterosexualidad como institución política. Los conceptos del postmodernismo, que casualmente surgen en la política queer, se oponen a una teorización feminista radical de la sexualidad y la convierten en impensable. Paradójicamente el concepto postmoderno de la inclusión resulta excluyente y vuelve a engendrar una política gay masculina blanca, falsamente universal.

La historia de la política lesbiana y gay mixta ha demostrado que se tolera a las lesbianas siempre y cuando no ponga en entredicho la política de los varones gays y acepten los objetivos políticos de los gays como propios. De hecho, el rechazo de lo que se considera una política feminista radical o separatismo es una importante causa de la participación de ciertas lesbianas en la política queer. Según Cherry Smyth, el motivo de su política queer es su “amor hacia los hombres”. Afirma que tiempo atrás era separatista:

Ha sido un camino largo y difícil hasta llegar a reivindicar el derecho a llamar “coño” a mi coño, celebrar el placer de
cosificar otro cuerpo, follar a otras mujeres y admitir que también amo a los hombres y que necesito su apoyo.

Todo esto es ser queer335.

En su obra Sisters and Strangers Hermanas y extrañas, Patricia Duncker registra con admirable perspicacia el carácter problemático de la política de “recuperación” de los 80:
Una de las señales de peligro que indican que alguien va a comprometer su política feminista, o a insinuar que en realidad nunca la tuvo, es el momento en que proclama su recuperación de alguna cosa: del matrimonio, de la familia, del amor, de la femineidad o de la religión tradicional. Recuperar no significa poner en entredicho, transformar, confrontar: éstas son empresas mucho más incómodas. Y el feminismo será siempre incómodo, impopular, polémico y aterrador. La política del feminismo alcanza zonas de nuestra vida que ninguna otra política alcanzará jamás336.

La recuperación del “amor hacia los hombres” no supone un acto demasiado provocador en un sistema de supremacía masculina donde, de hecho, este amor es obligatorio; pero para Smyth resulta radical. Según otra lesbiana citada en Queer Notions, Tessa Boffin, queer significa cuestionar el separatismo. Smyth espera que la política queer logre “liberar a los varones gays de su misoginia al crear un clima de mutua confianza donde las lesbianas no necesiten seguir separándose de los varones para concretar sus propios objetivos”337. Parece que el separatismo no es un valor que se vaya a recuperar.

Smyth muestra su preocupación cuando afirma que, a pesar de la hipotética colaboración entre mujeres y hombres en la política queer, ya han surgido grupos independientes para que las lesbianas queer pudieran centrarse en ciertos temas, como las guarderías, que no parecían interesar a los varones. Sin embargo, este separatismo dentro de las organizaciones queer no es una solución. En julio de 1992, el grupo londinense Outrage disolvió todos sus sub grupos incluido el grupo lesbiano Labia, alegando que lo importante era centrarse en el tema principal: el sida338. En contra de la convicción de algunas lesbianas como Smyth – habitantes de un nuevo mundo feliz donde lesbianas y gays pueden y deben colaborar-, todos los problemas fundamentales registrados por las feministas siguen resurgiendo de manera flagrante. Será interesante observar si las lesbianas que actualmente se oponen con tanta saña al separatismo lesbiano recuperarán el orgullo necesario para volver a separarse, tal y como lo hizo otra generación anterior a principios de los 70.

334 Cherry Smyth, 1992, pág. 21 335 Ibíd., pág. 27 336 Patricia Duncker, Sisters and Strangers. An Introduction to Contemporary Feminist Fiction, Oxford, Blackwell, 1992, pág. 266. 337 Cherry Smyth, 1992, pág. 29. 338 Pink Paper, Londres, 10 julio 1992.

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Tessa Boffin parece haberse identificado tan estrechamente con los intereses gays masculinos que cualquier tema específico de lesbianas le aburre:

Me molesta que Outrage diga: “Ésta es una acción lesbiana”, porque las acciones queer deberían incluir a ambos sexos. La acción lesbiana era la más aburrida de todas339.

Aquí nos encontramos no con una política de coalición estratégica que se ejerce desde la firme base de una organización lesbiana independiente, sino con el miedo y la aversión a la política lesbiana y con el deseo de fusión con los varones gays para convertirse en uno más.

A lo largo de los 80 la política y la cultura de las lesbianas se asimilaron en gran medida a las de los varones gays, con la alegre complicidad de algunas lesbianas para quienes la política gay masculina representaba un antídoto eficaz contra el feminismo lesbiano. De esta manera las lesbianas siguieron siendo las eternas perdedoras. Según esta nueva política, las lesbianas no son más que una mala copia de los varones gays; culturalmente, porque no tienen camp ni el travestismo, y sexualmente, por ser considerablemente inferiores a los varones gays en lo relativo a su capacidad de cosificación, el uso de la pornografía, la práctica de sexo en los urinarios y la utilización de prostitutas. A pesar de los valientes esfuerzos de muchas lesbianas por ponerse al día es probable que nunca lo logren, porque no son varones sino que pertenecen a la clase sexual de las mujeres. Convertir al varón, aunque sea gay, en la medida de todas las cosas no es señal de orgullo lesbiano, sino del lamentable declive de la confianza que las lesbianas tenían en los años 80. Es una humillante decadencia desde los embriagadores días de la nación lesbiana de los 70 cuando la idea de la inferioridad de las lesbianas con respecto a los varones gays y su obligación de emularlos habría provocado carcajadas.

Uma Separação Mais profunda

Algunas feministas lesbianas han mostrado su consternación ante los acontecimientos que parecen haber llevado al desmembramiento de la comunidad lesbiana en los años 80. Tienen la impresión de haber perdido la comunidad. Antaño los lugares para lesbianas eran espacios seguros y felices, pero actualmente muchas feministas lesbianas comprueban que sus opiniones y sus valores resultan inoportunos y que no existe ya un consenso sobre tema alguno. Desde finales de los 70 y durante los 80 muchas lesbianas negras, lesbianas de minorías étnicas y lesbianas indígenas australianas y norteamericanas han manifestado su fuerte preocupación por el etnocentrismo no reconocido, la ignorancia y los prejuicios imperantes en una comunidad que no terminaban de considerarla como propia. Se preguntaban quien componía esta comunidad de la que se sentían excluidas340. No obstante, la comunidad lesbiana nunca ha sido blanca en su totalidad. Lesbianas procedentes de todos los orígenes étnicos y culturales se han encontrado en comunidad con otras lesbianas para participar activamente en el movimiento feminista lesbiano. Más allá de las diferencias de cultura y etnia, y a pesar de la rabia por lo difícil que resultaba cambiar este movimiento, para que no sólo reflejara los problemas de las mujeres blancas, han existido siempre unos valores compartidos: el amor de las mujeres; la necesidad de eliminar todas las jerarquías referentes al poder abusivo basado en el sexo, la raza o la clase; la necesidad de cambiar el mundo de manera radical y no sólo en los detalles, y la construcción de una la visión feminista lesbiana. En la controversia sobre la sexualidad, que causó la fragmentación de la comunidad lesbiana, fueron las voces de las lesbianas negras y judías las que se alzaron desde su amarga experiencia contra la opresión como fuente de placer. Audre Lorde afirmó, en respuesta al auge del sadomasoquismo lesbiano: “Como mujer perteneciente a una minoría sé perfectamente que el dominio y la sumisión no son temas propios del dormitorios"341.

La destrucción de estos valores comunes ha causado en muchas de nosotras un sentimiento de pérdida y de desorientación. En otro tiempo las feministas lesbianas podían sentirse orgullosas de su condición de herejes respecto a los valores del heteropatriarcado. En la actualidad es el feminismo lesbiano el que representa una herejía para muchas lesbianas deseosas de integrarse a la perfección en los valores del heteropatriarcado. El iconoclasta feminismo lesbiano, nacido para derrocar las ideologías lesbófobas y misóginas del determinismo biológico y de la sexología, se ha convertido en una amenaza para las lesbianas que han adoptado los preceptos de dichas ideologías como el centro de su ser como la base de su identidad.

La polémica acerca de la sexualidad dentro de la comunidad lesbiana no es más que una parte de la polémica

339 En Cherry Smyth, 1992, pág. 31. 340 Véase el ejemplo de los textos de lesbianas en Cherrie Moraga y Gloria Anzaldua (comps.), This Bridge Called My Back. Writings by Radical Women of Color, Watertown, Massachusetts, Persephone Press, 1981. 341 Audre Lorde, “Interview by Susan Leigh Star”, en Robin R. Linden et al. (comp.), Against Sadomasoquism. A Radical Feminist Analysis, Palo Alto, Calif., Frog in the Well, 1982, pg 70.

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que ha sacudido el movimiento feminista. La teórica feminista radical norteamericana Catharine MacKinnon describe el impacto que le causó a mediados de los 80 el crecimiento de una cultura en pro de la pornografía y del sadomasoquismo en el seno de la comunidad lesbiana y feminista. Comienza su artículo LiberaLism and the Death of Feminism El liberalismo y la muerte del feminismo con las palabras “Érase una vez un movimiento de mujeres”. Había participado en la campaña en favor de la Minneapolis Ordinance gracias a la cual las mujeres perjudicadas por la producción o la utilización pornográfica habrían tenido el derecho de proceder en contra de los productores y los distribuidores de la pornografía al amparo de la ley de derecho civil. MacKinnon define el profundo impacto de la polémica sobre el sadomasoquismo como el “desmoronamiento de todo aquello que significaba del movimiento de mujeres”. El descubrimiento de que muchas mujeres -incluidas lesbianas y feministas-lucharon contra la ordenanza en el Feminist Anti Censorship Taskforce Grupo de acción feminista contra la censura, la llenó de consternación.

… las mujeres rechazaron en buena parte la política del sadomasoquismo. Sin embargo, el apoyo del resto tuvo consecuencias extremadamente destructivas. En los debates sobre sexualidad las mujeres ya no dicen “nosotras, las mujeres” sino “hablando en el plano personal, yo…”. El debate sobre el sadomasoquismo convirtió la expresión “nosotras, las mujeres” en un tabú respecto al tema de la sexualidad. Se inició en un atolladero moral y a nivel político nos dejó con el análisis individualista de la sexualidad, socavando así una colectividad asentada no en la conformidad, sino en la resistencia342.

MacKinnon manifiesta cierta sensación de pérdida de las amarras que constituían el compromiso básico del feminismo con la vida y la seguridad de las mujeres.

Durante el inicio de mi estancia en los EE.UU. en 1985-86, me sorprendió la sensación de desolación que había alcanzado al movimiento feminista lesbiano. En consecuencia, algunas feministas lesbianas se alejaron del separatismo. Ciertas teóricas y activistas feministas lesbianas muy respetadas por mi hablaban de la misoginia de algunas lesbianas y de su decisión de anteponer su compromiso con la clase de las mujeres a la causa de las lesbianas. Antes que trabajar sólo para lesbianas, procuraban colaborar con quienes compartían sus valores, fueran mujeres heterosexuales o lesbianas o incluso, en algunos casos, varones. En aquel momento esta actitud me sorprendió enormemente. Gran Bretaña no había sufrido aún el impacto de la industria del sexo lesbiano con la misma intensidad como los EE.UU. Yo seguía y lo estoy hasta la fecha comprometida con la construcción de una cultura y unos valores feministas lesbianos. Dedicaba mis energías al Grupo de Historia Lesbiana de Londres y al Archivo Lesbiano. Creía entonces y sigo creyendo que la construcción de una comunidad lesbiana forma parte fundamental del proyecto feminista, un proyecto esencial para la libertad de todas las mujeres y crucial para la supervivencia de las lesbianas; porque nadie se preocupará de las lesbianas si no lo hacemos nosotras mismas. En los años transcurridos desde entonces la industria del sexo lesbiano ha crecido tanto en Gran Bretaña como en Australia, donde vivo en la actualidad. Con su auge los valores del feminismo lesbiano se corroen por doquier.

Janice Raymond retrato esta devastación en un texto cuyo título refleja la tarea que, según ella, debe acometerse en la comunidad lesbiana: Putting the Politics Back into Lesbianism Devolvamos la política al lesbianismo. Emplea el pasado para referirse a un movimiento feminista lesbiano fuerte:

Dentro del feminismo este movimiento supuso el desafío más poderoso de la heterorrealidad. Puso en entredicho la visión del mundo según la cual las mujeres existen para los varones y sobre todo en relación con ellos… Este movimiento luchaba en nombre de todas las mujeres… Desmentía el supuesto progreso sexual de la prostitución y la pornografía para las mujeres… Pero entonces algo ocurrió. Las mujeres a menudo otras lesbianas comenzaron a definir las cosas de otra manera343.

¿Qué ocurrió? Según Raymond algunas lesbianas empezaron a incorporar en su vida y en su cultura lo que el análisis feminista había identificado como las excrecencias de una sexualidad abusiva de la supremacía masculina. De esta manera, “la pornografía comenzó a denominarse erótica y a incorporarse al lenguaje y a la expresión de la personalidad de las lesbianas” y “la violencia contra las mujeres se denominó sadomasoquismo lesbiano y se incorporó al sexo entre lesbianas…”344. Ya no eran los varones, sino las propias mujeres, incluidas otras lesbianas, quienes secundaban estas “degradaciones de las vidas de las propias mujeres”. Al igual que MacKinnon, Raymond resalta el consiguiente daño para la colectividad. El feminismo lesbiano “era un movimiento basado en la fuerza del ‘nosotras’ antes que en la fantasía de una mujer sola o en la expresión de su personalidad”. Cuando algunas lesbianas redefinieron los abusos contra las mujeres como diversión y juego, la posibilidad de hablar de ‘nosotras’ sufrió un serio revés.

342 Catharine A. MacKinnon, “Liberalism and the Death of Feminism”, en Dorchen Leidholdt y Janice Raymond (comps.), The Sexual Liberals and the Attack on Feminism, Londres, Pergamon (ahora TCP), 1990, pág. 9. 343 Janice G. Raymond, “Putting the Politics Back into Lesbianism”, Journal of Australian Lesbian Feminist Studies, vol. 1, núm. 2, 1991, pág. 13. 344 Ibíd., pág. 14.

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También Julia Penelope alude a las conmociones que ha sufrido la comunidad lesbiana; no obstante, es más optimista respecto de su supervivencia, sencillamente porque ha sobrevivido a tantos avatares anteriores y porque en esta ocasión se ha generado un importante movimiento político que no tiene una fácil vuelta atrás.

Han sido diez o doce años temibles para las Lesbianas, y muchas nos hemos retirado a un silencio lleno de desasosiego o hemos vuelto a cerrar de golpe las puertas de nuestros armarios por segunda o tercera vez.

Ahora bien, no debemos dejar de recordar que nunca antes ha ocurrido nada parecido, que sepamos. Nunca ha habido un Movimiento Lesbiano, que sepamos, y nuestras redes son redes mundiales345.

El temor al que alude Julia Penelope hace referencia a los ataques a lesbianas, feministas lesbianas y separatistas a causa de ciertas faltas, como su “estrechez” de miras y la delimitación de su análisis a una minoría “insignificante”, en lugar de enfocar “temas más amplios”.

Se podría argumentar que en realidad no ha cambiado mucho y que algunas feministas lesbianas desencantadas están exagerando el daño ocasionado. Sin embargo, dos estudiosas lesbianas han analizado este distanciamiento del feminismo lesbiano dentro de la comunidad lesbiana, aportando múltiples pruebas que atestiguan el dramático cambio de valores. Bonnie Zimmerman ha rastreado este cambio a través de veinte años de novela lesbiana, y Lillian Faderman entrevistó a numerosas lesbianas para su perspectiva general de la historia lesbiana norteamericana a lo largo del siglo XX.

¿Qué es la comunidad lesbiana? Según Bonnie Zimmerman, para las feministas lesbianas la creación de una comunidad fue un acto político consciente. Esta comunidad lesbiana es distinta de la comunidad lesbiana histórica, que era un medio de supervivencia frente a la opresión y una forma de autodefensa, antes que resultado de su “orgullo, solidaridad y cultura”.

Las feministas lesbianas comenzando por el círculo de Natalie Barney han empleado dos tácticas de rehabilitación de la cultura y la comunidad lesbianas. Una fue la separación voluntaria: antes que esperar a ser confinadas a un gueto gay, muchas feministas lesbianas toman la iniciativa y abandonan la sociedad dominante en pro de la Nación Lesbiana, negándose a proseguir la agotadora lucha contra la opresión. Dentro de la Nación Lesbiana seguimos la segunda táctica, creando nuestra propia historia, tradición y cultura. De una manera profunda esta cultura define y sustenta la comunidad. Una mujer se convierte en ciudadana de la Nación Lesbiana en feminista lesbiana, gracias a los libros que lee, la música que escucha, los héroes con que se identifica, el lenguaje que emplea, la ropa que viste -incluso aunque algunas veces le molesten los códigos exigidos346.

La obra de Zimmerman, The Safe Sea of Women es su “análisis particular de la ficción lesbiana” entre 1969 y 1989. Nos propone una forma de seguir los cambios de valores de la comunidad lesbiana durante estos años a través de las novelas. Esta época fue testigo de un repentino y prodigioso florecimiento de la literatura lesbiana. Las novelas analizadas muestran a las feministas lesbianas de principios de los 70 “unidas por el cálido resplandor de la solidaridad entre mujeres, de la sexualidad y de la comunidad”, en tanto que en los 80 esta comunidad se halla desmembrada por las disputas y las diferencias347. Mientras que en los 70 y a principios de los 80 -la palabra “lesbiana” tenía un profundo contenido político e ideológico feminista, a finales de esta década “algunas lesbianas, incluidas numerosas novelistas, sustituyeron la amplia definición política del lesbianismo por una más específica definición sexual"348. Zimmerman distingue en la ficción lesbiana entre dos tipos de identidad lesbiana: las “lesbianas natas” que sostienen que “siempre prefirieron a las mujeres” y las “lesbianas renacidas” que “toman una decisión política o se enamoran y, a partir de ahí, ven el mundo con otros ojos"349. Según Zimmerman, en los 70 estos dos modelos no estuvieron necesariamente enfrentados; no obstante, a finales de los 80 el “discurso del lesbianismo nato” llegó a “sustituir la ideología feminista dominante"350. La autora afirma que este cambio marca el final de la “hegemonía feminista sobre la ideología lesbiana” y que tal vez sea consecuencia de la necesidad de defensa ante una cultura dominante cada vez más conservadora. Tras su repaso de las novelas de los 80, Zimmerman concluye que “el optimismo y el idealismo ingenuos y estimulantes de nuestro pasado reciente” han sido reemplazados por “cierta desazón y autocornplacencia, e incluso cinismo”351.

Sugiere que la comunidad feminista lesbiana de los 90 es menos “vital” que antes, al haberse “quemado” y haber “envejecido” la anterior generación de idealistas, sin encontrar reemplazo.

Al igual que el resto de la sociedad norteamericana, gran parte de las lesbianas se preocupa ante todo por su crecimiento personal y económico. Las mujeres que hace tan sólo una década se encontraron en el meollo de una

345 Julia Penelope, “The Lesbian Perspective”, en Jeffner Allen (comp.), Lesbian Philosophies and Cultures, Nueva York, State Univ. New York Press, 1990, pág. 100. 346 Bonnie Zimmennan, The Safe Sea of Women. Lesbian Fiction 1969-1989, Boston, Beacon Press, 1990 pág. 159. 347 Ibíd., pág. xiii. 348 Ibíd., pág. 12. 349 Ibíd., pág. 52. 350 Ibíd., pág. 57. 351 Ibíd., pág. 208.

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vida “feminista”, “separatista” y “de movilidad social hacia abajo”, desechan en la actualidad estos términos como anacronismos y optan por puestos bien remunerados y posiblemente por la inseminación artificial. Gracias al éxito comercial de la cultura lesbiana podemos adquirir nuestros libros, nuestros discos y nuestro fin de semana largo en un festival de música, sin preocuparnos del desarrollo o de la conservación de una visión alternativa352.

Zimmerman se muestra alarmada por el declive de los espacios y del “activismo exclusivamente lesbiano” y teme que acabe siendo “imposible sostener la idea de la Nación Lesbiana” si se impone el clima actual de anti-separatismo que los tilda de “desfasados y, en efecto, ‘políticamente in correctos’" 353. Las novelas de esta época posterior se dedican a la introspección antes que a la mirada optimista hacia el mundo exterior como hacían en los 70. Un ejemplo es After Delores, de Sarah Schulman, ambientada en el “mundo claustrofóbico de la desesperación de la narradora”354. Estas novelas analizan el daño que hemos sufrido especialmente el incesto, pero no plantean un posible cambio. El género característico de la época, la novela policíaca lesbiana, no trata de la comunidad, sino del individuo.

Parece pues, que la comunidad lesbiana, tal y como queda reflejada en la novela de lesbianas, está batiéndose en
retirada: está renunciando a sus análisis más radicales y además se detiene a reflexionar sobre su situación y a curar sus heridas355.

Según Zimmerman, en la literatura lesbiana reciente existe una evidente tendencia hacia la acomodación a la cultura dominante mediante la “domesticación” de la novela lesbiana. Las novelas presentan a los personajes Iesbianos como idénticos a los heterosexuales: “Si cambiara el sexo del objeto amoroso de la protagonista, prácticamente no variaría la trama”. A modo de ejemplos cita All the Muscle You Need de Diana McRae y Charleyhorse de Cecil Dawkin. Para Zimmerman, se trata de una evolución preocupante en una época en la que la homofobia está aumentando y las lesbianas necesitan novelas capaces de algo más que “sosegar y apaciguar (o servir de estímulo sexual)”356.

Zimmerman apunta que las escenas de sexo explícito se han vuelto obligatorias en las novelas lesbianas, hasta el punto en que “las historias se convierten en una excusa para el sexo”357. Las escenas de sexo están “aisladas del resto de los sentimientos y de la acción”. Sin embargo, Zimmerman no critica las formas de sexualidad representadas en estas novelas, sino sólo el hecho de que no casan con la historia. Se alegra de que “la camisa de fuerza de lo políticamente correcto está aflojándose de verdad”. Aunque a Zimmerman le preocupe la sustitución de la definición política del lesbianismo por otra de carácter sexual, no hace uso de una crítica política de la sexualidad. Desafortunadamente las feministas lesbianas como Zimmerman han adoptado el lenguaje de los libertarios sexuales que atacan el feminismo lesbiano por su expresión políticamente correcta. En los EE.UU. la derecha está empleando los mismos términos para arremeter contra muchos conceptos muy preciados tanto por las libertarias lesbianas como por las feministas lesbianas: el multiculturalismo y la igualdad de oportunidades, especialmente referidos a aquellos campos de investigación que no sólo se centran en los varones blancos muertos. La derecha critica el feminismo por ser políticamente correcto. Por tanto, el uso de este lenguaje para desautorizar una crítica política de la sexualidad no es propio de las feministas.

En su libro Odd Girls and Twilight Lovers Chicas extrañas y amantes a la penumbra, Lillian Faderman dio valiosa perspectiva general de la historia del feminismo lesbiano. No coincido con su análisis, idéntico al de Zimmerman en cuanto a la ausencia de una política de la práctica sexual y a su aceptación de algunos conceptos como el peligro de lo políticamente correcto; no obstante, nos ayuda a comprender el antifeminismo de las lesbianas actuales gracias a su minuciosa descripción de lo sucedido en la comunidad lesbiana estadounidense. Gran parte del material del libro de Faderman procede de sus entrevistas con lesbianas de todos los EE.UU. Su obra es un buen ejemplo de lo que Zimmerman denomina la “acomodación” lesbiana a la sociedad dominante. El giro de Faderman coincide plenamente con las tendencias preponderantes en la cultura lesbiana. Su primer libro, Surpassing the Love of Men Más allá del amor de los hombres, inspirado en el feminismo lesbiano, consideraba éste como el futuro y la forma ideal del lesbianismo. En su libro más reciente ha cambiado de bando. Relega con firmeza a las feministas lesbianas a la fórmula “ellas”, sin que haya indicio alguno de identificación.

Faderman culpa a las propias feministas lesbianas de los ataques a sus valores sobre todo a las separatistas y a las que ella considera extremistas.

El mundo utópico imaginado por las feministas lesbianas descansaba en gran medida sobre ideales socialistas y

352 Ibíd. 353 Ibíd., pág. 209 354 Ibíd., pág. 212. 355 Ibíd. pág. 222 356 Ibíd., pág. 227. 357 Ibíd., pág. 224.

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reflejaba su procedencia mayoritaria de la Nueva Izquierda. No obstante, estos ideales pasaron por el filtro de la doctrina feminista-lesbiana, conduciendo en algunos casos a convicciones extremas como el papel fundamental del separatismo para el alcance de sus objetivos358.

Faderman se queja del carácter utópico y poco realista del feminismo lesbiano, de manera que la idealista “Nación Lesbiana estuvo condenada al fracaso por la inexperiencia juvenil y la incapacidad’ de comprometer su desenfrenado entusiasmo”359. En un apartado posterior, titulado “Cómo ser ‘políticamente correcta’”, reconviene al feminismo lesbiano porque requería un “idealismo tan intenso y unas medidas tan heroicas que el fanatismo resultaba inevitable”; este fanatismo se aplicó a temas como la “ausencia de jerarquías”, convertido en “dogma inflexible”.

Ser políticamente correcta (“p.c.”) significaba comulgar con los múltiples dogmas respecto a la vestimenta, el dinero, la conducta sexual, el uso del lenguaje, la clase, la raza, la comida, la consciencia ecológica, la actividad política, etcétera360.

A primera vista resulta difícil apreciar qué hay de malo en estas cosas. A fin de cuentas, el proyecto de cambio social requiere cierta seriedad a veces incluso la reiteración y desarrollo de ciertas ideas. En otro lugar Faderman reprocha a las feministas lesbianas más comprometidas su “dogma inflexible”, calificando de “inevitable” su fracaso, “por sus nociones poco realistas” y su incapacidad de transigir361. No nombra las fuerzas reaccionarias, que en los 80 lanzaron un ataque general contra el socialismo y el feminismo, como factores que incidieran sobre la menguada eficacia del feminismo lesbiano. La culpa es de las propias feministas lesbianas por su idealismo o, dicho de otra manera, por su empeño en un cambio social radical.

Faderman señala, como uno de los acontecimientos que contribuyeron a minar el idealismo de las feministas lesbianas de los 80, la aparición de una burguesía lesbiana. Probablemente se tratase de un fenómeno específicamente norteamericano y, en todo caso, australiano, y no fue tan evidente en la empobrecida Gran Bretaña de los 80. Estas lesbianas burguesas eran “mujeres bastante más cercanas a la corriente dominante en su aspecto y su actitud que las butch y las femme de los 50 y los 60 o las feministas lesbianas de los 70”. Según Faderman, esta evolución corroboró la “sospecha” de las lesbianas más dominantes y visibles de la comunidad, de que “estos tiempos conservadores requerían una menor militancia”. Se sintieron avaladas por el creciente número de lesbianas “cuya condición económica, estilo de vida y filosofía las hacía bastante más moderadas que a sus predecesoras feministas lesbianas”362. En los 80 las feministas lesbianas de antaño abandonaron en parte su condición de revolucionarias profesionales, se pusieron a trabajar en carreras remuneradas e “iban al trabajo con falda y tacones de aguja”, poniéndose el uniforme lesbiano sólo al llegar a casa363.

Un componente habitual de los ataques contra el feminismo lesbiano de los últimos años es el rechazo del separatismo. Para Faderman el separatismo es uno de los motivos del declive del feminismo lesbiano. Por mi parte lo considero, por el contrario, el motivo principal de su éxito. En lo sucesivo expondré la necesidad de una separación más profunda si ha de sobrevivir y rebrotar en los años venideros algo parecido al feminismo lesbiano. Las detractoras del separatismo -sorprendentemente numerosas en la comunidad lesbiana, que por sí misma se apoya en la separación presentan el separatismo como una opción escandalosa o extrema y no como un principio fundamental del feminismo. La toma de consciencia feminista requiere un acto de separación. Todas las feministas, tanto lesbianas como heterosexuales, tuvieron el valor de separarse de la cultura dominante en el terreno intelectual, si bien no en el físico. Todas las feministas se habrán encontrado con sanciones disciplinarias por su osadía de separarse de las costumbres heteropatriarcales reconocidas.

En su texto sobre el separatismo, Marilyn Frye realiza una presentación sugestiva de la ética separatista. Para Frye el tema de la separación está presente en todas partes, desde “el divorcio a las comunidades lesbianas separatistas, desde las casas de acogida para mujeres maltratadas a los aquelarres de las brujas, desde los programas de estudios de las mujeres a los bares para mujeres, desde la propagación de las guarderías infantiles hasta el aborto libre”364. Curiosamente Frye distingue entre la separación y lo que denomina “soluciones personales y apaños”, como la legalización de la prostitución y la discriminación positiva. Estos últimos son, a su modo de ver, proyectos reformistas de integración. Esta distinción es útil para comprender los proyectos de la industria del sexo lesbiano, ciertamente oportunistas. Su definición del separatismo demuestra claramente el carácter anti-separatista de ciertas prácticas que he analizado a lo largo de este libro.

358 Lillian Faderman, Odd Girls and Twilight Lovers. A History of Lesbian Life in Twentieth Century America, Nueva York, Columbia University Press, 1991, pág. 218. 359 Ibíd., pág. 220. 360 Ibíd., pág. 230. 361 Ibíd., págs 235 y 244. 362 Ibíd., pág. 273. 363 Ibíd., pág. 276. 364 Marilyn Frye, The Politics of Reality: Essays in Feminist Theory, Nueva York, The Crossing Press, 1983, pág. 96.

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Naturalmente la separación feminista no es más que el total de las diversas formas o maneras de separación respecto de los varones y de las instituciones, relaciones, roles y actividades cuya definición, predominio y modus operandi favorecen a los varones y a la conservación del privilegio masculino. Son las mujeres quienes inician o

perpetúan a discreción esta separación365.

Todas las lesbianas que osan pensar como lesbianas y que deciden destinar sus energías sexuales y emocionales a las mujeres y no a los varones, se separan de la cultura dominante. Este acto de separación es motivo de castigo. El sexo entre lesbianas no perjudica a los varones. Lo han utilizado, de hecho, desde tiempos inmemoriales en los burdeles y en la prostitución para conseguir sus erecciones. La verdadera deslealtad consiste en el amor entre lesbianas -que incluye el sexo -, ya que esta separación suprime a algunas integrantes de la clase esclavizada de las mujeres, que constituye los cimientos del poder masculino, y logra una conexión entre las mujeres que puede convertirse en la base de la resistencia. El acto subversivo de las lesbianas no consiste en sus pícaros actos sexuales, sino en su separación, entendida como falta de admiración por el varón y sus obras.

Existe una diferencia entre ciertos actos de separación, no reconocidos como tales, y ser separatista. Una separatista es, una lesbiana que atribuye a sus actos de separación un significado político consciente. Según Marilyn Frye, esta separación deliberada no se realiza por su bondad, sino “en pos de algo más, como la independencia, la libertad, el crecimiento, la imaginación, la solidaridad, la seguridad, la salud y la práctica de novedosas costumbres heréticas"366. Frye define a la separatista como una lesbiana que practica la separación “de forma consciente, sistemática y generalizada” y que “aboga por una separación rigurosa y de amplio espectro como parte de una estrategia deliberada de liberación”367.

En 1976 Susan Hawthorne, una de las fundadoras de la editorial australiana Spinifex Press, ofreció una nítida descripción del continuum de la práctica separatista. El separatismo es para ella “una estrategia con móviles políticos diseñada para habilitar a las mujeres y para debilitar el patriarcado" 368. Sus “manifestaciones” abarcan desde “la relevancia del diálogo con otras mujeres, por ejemplo, en los grupos de autoconciencia” hasta “una vida en el entorno exclusivo de mujeres, sin contacto con los hombres”, siquiera con mujeres heterosexuales. Según Hawthorne, los experimentos feministas con los distintos grados de separatismo permiten «descartar el sistema opresivo de valores masculinos que tienen interiorizado"369.

El valor de la postura separatista, ubicada en un extremo del continuum, consiste en poner en entredicho todas las suposiciones sobre la dependencia de las mujeres respecto de los hombres. Hawthorne considera este alejamiento radical del pensamiento patriarcal como una cuestión “esencial, si queremos reivindicar nuestra liberación como una posibilidad real”. Aunque no defiende el separatismo radical para todas las mujeres, propone que las feministas “reconozcan el grado de separatismo que están dispuestas a asumir"370.

Las ofensivas contra el separatismo provienen de múltiples frentes. Incluso la modesta pretensión de celebrar reuniones de mujeres solas sobre temas como la violación puede provocar serias represalias por parte de algunos varones. Según Frye, la razón se halla en que cualquier separación de los varones les niega el derecho de acceso, que es el fundamento crucial de su poder.

Cuando las mujeres nos separamos (nos retiramos, nos escapamos, nos reagrupamos, vamos más allá, nos apartamos, salimos, emigramos, decimos no), estamos simultáneamente controlando el acceso y la definición. Es una doble insubordinación, ya que ambas cosas están prohibidas. Y el acceso y la definición son ingredientes fundamentales para la alquimia del poder, de manera que nuestra insubordinación es doble y radical371.

Tanto las lesbianas negras, las lesbianas pertenecientes a minarías étnicas y las lesbianas indígenas, como las lesbianas de la mayoría étnica blanca han arremetido contra el separatismo. En opinión de algunas lesbianas negras, el separatismo es un privilegio de las lesbianas blancas de clase media, que nunca sufrieron formas de opresión mediante las que su destino se hallaba vinculado al de determinados grupos de varones; se trataba, por tanto, de una práctica elitista injustificable. En realidad, el separatismo nunca fue práctica exclusiva de las lesbianas blancas de clase media. Algunas lesbianas negras norteamericanas han explicado la adopción del separatismo lesbiano como una práctica estratégica, aduciendo en algunos casos su trayectoria en el separatismo negro como motivo de su elección. La separatista negra norteamericana Anna Lee afirma que

365 Ibíd. 366 Ibíd., pág. 97 367 Ibíd., pág. 98. 368 Susan Hawthorne, «In Defence of Separatism», en Sneja Gunew (comp.), A Reader in Feminist Knowledge, Londres y Nueva York, Routledge, 1991, pág. 312. 369 Ibíd., pág. 314. 370 Ibíd., pág. 315. 371 Marilyn Frye, 1983, pág. 107.

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“nuestra separación de los varones negros da miedo. Da miedo porque nos adentramos en un vacío” y, sin embargo, opta por el separatismo en contra de una política de coalición372. Las lesbianas que eligen el separatismo no se circunscriben a categorías determinadas de clase o de etnia; sin embargo, hay que reconocer que el dinero y cierto estatus social facilitan incluso la decisión de ser lesbiana. Las lesbianas blancas pertenecientes a la mayoría étnica suelen tener menos problemas en el apoyo a los varones.

Tal vez porque son conscientes de la traición al sistema político del heteropatriarcado que supone el amor de las mujeres, muchas lesbianas reiteran con tanta insistencia su lealtad para con los varones. Sin embargo, esta estrategia no da buenos resultados. Mientras que persista la heterosexualidad como la institución básica de la supremacía masculina el lesbianismo será considerado y tratado como una subversión política. Aunque las lesbianas tratan de imitar con servilismo las costumbres del heteropatriarcado para no parecer peligrosas, no pueden redimir su deslealtad fundamental. Las ofensivas contra el separatismo desde la literatura feminista son a menudo ofensivas enmascaradas contra las lesbianas. Por este motivo las lesbianas no deberían atacar el separatismo, sino reivindicar el derecho a la separación.

Las separatistas son las verdaderas chicas “malas” en un sistema de supremacía masculina. Según Frye, la imagen de la separatista suele ser la de una “fanática moralmente depravada que detesta a los hombres”. Si el separatismo resulta tan inaceptable para los varones ávidos de controlar a las mujeres, debe realmente suponer un peligro para el heteropatriarcado. En palabras de Frye, “si haces algo estrictamente prohibido por los patriarcas, algo debes de estar haciendo bien"373. Sin embargo, hemos podido observar con sorpresa que son precisamente los actos de asimilación, perpetrados por quienes Frye califica de “partidarias del régimen patriarcal”, los que una gran parte de la comunidad lesbiana actual considera atrevidos y revolucionarios. Califican como audaces la fiel imitación de los roles de opresor y oprimida, de masculino y femenino, así como la colaboración con los varones gays y hasta el deseo de ser gay, aun mediante intervención quirúrgica. La fiel adopción de los preceptos de la construcción de la sexualidad de la supremacía masculina, por medio de la dinámica de dominio y sumisión y de la cosificación, se considera “ser malas”. Toda una industria de libros académicos sobre los Juegos con el género y con el poder, que no parece hacer temblar de miedo a los patriarcas, demuestra que estas cosas resultan de hecho más que aceptables a los ojos de la supremacía masculina. En cambio, el rechazo del separatismo constituye en la bibliografía de los estudios de las mujeres un ritual necesario para que las autoras sean respetadas. La fiel imitación de las formas heterosexuales y la adopción devota de las ideas de lo que Janice Raymond denomina “heterorrealidad” parecen atrevidas sólo a quienes no combaten la supremacía masculina, sino el feminismo.

Para la supervivencia del feminismo lesbiano como desafío de la supremacía masculina resulta indispensable la separación de todo el marco referencial del heteropatriarcado. Monique Wittig llama a este modo de pensar “la mente recta"374. La mente recta es incapaz de superar la dualidad de los contrarios: masculino y femenino, uno y otro, poderoso y desvalido. Asegura que la superación de este programa que ha acometido y sigue acometiendo el feminismo es una utopía, un disparate, una simple imposibilidad. Sin embargo, es justamente la separación intelectual de las feministas lesbianas la que nos convierte en peligrosas y desestabilizadoras, al osar abandonar las categorías del amo. Wittig define de manera convincente las repercusiones de la “heterorrealidad” o de la “mente recta” sobre nuestra existencia como lesbianas.

Todos los discursos especialmente opresores para nosotras Iesbianas, mujeres y varones homosexuales entienden la heterosexualidad como fundamento de cualquier sociedad… Estos discursos de la heterosexualidad nos oprimen, en tanto que nos impiden hablar, a menos que hablemos en sus términos… Sin embargo, su efecto más terrible consiste en la implacable tiranía que ejerce sobre nuestro ser físico y mental… no olvidemos la violencia tangible (física) que producen los discursos abstractos y “científicos” de los medios de comunicación de masas375.

Como ejemplo del funcionamiento de la mente recta Wittig denuncia el discurso del psicoanálisis y la obra de algunos de sus exponentes como Lacan. Arremete asimismo contra el “discurso pornográfico, una de las estrategias de violencia a las que estamos sometidas, y que nos humilla, nos degrada, representa un atentado contra nuestra “humanidad” 376. Wittig condena a los exponentes de la “mente recta” que se erigen en defensores de la pornografía y a los “expertos en semiótica” que sostienen que las feministas confunden “los discursos con la realidad”. Entre estos defensores encontramos a muchas teóricas lesbianas y teóricos gays que son incapaces de realizar una clara separación intelectual, o no la consideran necesaria, como hemos podido comprobar en el capítulo sobre el postmodernismo.

372 Anna Lee, “For the Love of Separatism”, en Jeffner Allen (comp.), Lesbian Philosophies and Cultures, Nueva York, SUNY, 1990, pág. 153. 373 Marilyn Frye, 1983, pág. 98. 374 Straight significa tanto “recto” como “heterosexual” juego imposible de reproducir en castellano (N de la T). 375 Monique Wittig, The Straight Mind and Other Essays, Boston, Beacon Press, 1992, págs. 24-25. 376 Ibíd., pág. 26.

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Julia Penelope resalta la conveniencia de desarrollar una “perspectiva lesbiana” específica. Según esta autora, la base de una perspectiva lesbiana consiste en la segregación de las lesbianas de las categorías de las “mujeres” o de los “gays”, donde habitualmente se hallan ocultas o perdidas.

Nuestra invisibilidad, incluso para nosotras mismas, es debida en parte a que nuestra identidad se subsume en dos grupos: las mujeres y los gays… En vez de crearnos un espacio libre, consentimos que los varones ejerzan sobre nosotras su opresión invisible en ambas categorías, como “mujeres” y como “gays”, sin concedemos siquiera el beneficio testimonial de la denominación “Lesbianas”377.

Según Penelope, la “perspectiva lesbiana” no es “natural” ni fácil de alcanzar.
… no (la) adquirimos en cuanto hayamos salido de nuestro armario. Conlleva tanto un proceso de desaprendizaje como de aprendizaje. La tenemos que labrar, alimentar, alentar y desarrollar. La Perspectiva Lesbiana es una frenética autoinvención378.

La idea de Penelope sobre cómo distinguir en cada caso las “percepciones Lesbianas” específicas presenta ciertos problemas. A su modo de ver, el “proceso de autodefinición Lesbiana” comienza con el “reconocimiento y la certeza de que nuestras percepciones son básicamente correctas, sin tener en cuenta el veredicto de las sociedades machistas"379. Desgraciadamente, el principio de que las lesbianas deben confiar en sus percepciones es el origen de gran parte de la confusión acerca de la sexualidad que impera actualmente en la comunidad lesbiana. Por mi parte, propondría una tarea más difícil: la confrontación de nuestros sentimientos, nuestra experiencia y nuestras percepciones con las ideas de la mente recta a través de la autoconciencia adquirida junto a otras lesbianas. Este proceso requiere un gran rigor, amén de lo que Janice Raymond denomina “criterio”.

En los 70 estaba muy extendida la idea de que las feministas lesbianas debían ser idealistas y luchar por la utopía de un mundo en el que la opresión de las mujeres y la existencia de cualquier jerarquía opresora se volviera impensable. Las lesbianas no temían a las utopías. Hasta altas horas de la noche tramábamos nuestras ideas, exaltadas por nuestra recién estrenada amistad la más gloriosa de todas las relaciones humanas posibles nacida de y para nuestra pasión por transformar el mundo. Es cierto que las habitaciones estaban llenas de humo y que en muchos aspectos estábamos aún “inacabadas”. En los 80 las utopías pasaron de moda. Janice Raymond lo expresa de la siguiente manera:

Para bien o para mal, las feministas se han vuelto más “maduras” en sus aspiraciones, hasta el punto de equiparar

la madurez a un rechazo de la utopía y a un realismo tenaz que anula cualquier posibilidad de un futuro feminista aun antes de que se presente380.

A lo largo de la última década las teóricas lesbianas como Mary Daly, que inspiró en gran medida el pensamiento utópico de las lesbianas, han sido criticadas duramente por una gran parte del mundo universitario. La continuidad de la utopía lesbiana es vital para nuestro proyecto de cambio . Para lo cual resulta imprescindible la separación de las ideas del heteropatriarcado y del pensamiento de la sadosociedad, como la denomina Mary Daly. En absoluto significa ignorar estas ideas. Debemos analizarlas minuciosamente, tal y como siguen haciendo las estudiosas lesbianas, para comprender sus elementos y su influencia. Y no podemos olvidar la condición actual de las mujeres, como advierte Raymond. Toda utopía desarraigada de la realidad material de las mujeres y de las lesbianas sería escapista.

La falta de “materialismo” respecto del mundo creado por el varón produce una visión debilitada, vacía y escapista que tiende a obviar incluso los casos más flagrantes de misoginia, condenando a las mujeres a la inacción frente a las atrocidades más extremas y apremiantes contra ellas381.

Según Raymond, hemos de aprender a vivir dentro y fuera del sistema al mismo tiempo, conscientes del mundo creado por los varones y a la vez capaces de imaginar un mundo más allá, y luchar por hacerlo real. La terrible y deprimente visión del futuro lesbiano que nos descubre la industria del sexo lesbiano es en realidad sólo una manera de aceptar y de acomodarse a la realidad heteropatriarcal.

Toda posibilidad de cambio queda descartada debido a la incorporación voluntaria en la vida de las lesbianas de todos los valores y las brutales prácticas del amo.

La filósofa lesbiana Sarah Lucia Hoagland es una utopía que se dedica a la elaboración de nuevos valores y

377 Julia Penelope, 1990, pág. 103. 378 Ibíd., pág. 106. 379 Ibíd., pág. 105. 380 Janice G, Raymond, A Passion for Friends, Boston, Beacon Press, 1986, pág. 205. 381 Ibíd., pág. 208.

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contenidos lesbianos. Su obra Lesbian Ethics se propone averiguar qué factores socavan el movimiento lesbiano. Hoagland es optimista respecto al futuro de las lesbianas.
Tenemos la posibilidad de emprender una revolución moral y cambiar nuestros valores a través de nuestras elecciones. Las lesbianas tenemos la posibilidad de hilar una revolución, de tejer una transformación de la consciencia382.

En opinión de Hoagland, las organizaciones lesbianas han fracasado por múltiples razones, entre ellas “la violencia abierta, las graves limitaciones económicas las amenazas legales, la intrusión y la fragmentación por parte del FBI, y todo tipo de otros sabotajes masculinos”, y también por los “valores del padre” que seguimos acarreando en nuestro interior: “el clasismo, el racismo, el edadismo el antisemitismo, los prejuicios referentes a la estatura y los cuerpos sanos, el imperialismo, amén del sexismo y del heterosexismo”. Además de estos factores cita otros dos: la introducción en nuestras relaciones mutuas de las estrategias de supervivencia aprendidas en el heteropatriarcado, y la fe en la ética tradicional. Según Hoagland, la ética tradicional sur ge del “heterosexualismo”. Elige esta palabra para describir aquello que otras teóricas lesbianas denominan la heterosexualidad como institución”. Es una forma de vida que “eleva a norma el dominio de una persona y la subordinación de otra”. La tradición ética anglo-europea es la ética del dominio y de la sumisión.

En el pensamiento anglo-europeo, la relación entre mujeres y varones se considera el fundamento de la civilización. Estoy de acuerdo. Y se convierte en norma aquello que integra la civilización anglo- europea hasta el punto de hacemos incapaces de percibir dominio y subordinación en cualquiera de sus funciones benéficas como erróneos o perniciosos: la relación “amorosa” entre varones y mujeres, la relación “protectora” entre imperialistas y naciones colonizadas, la relación “pacificadora” entre la democracia (el imperialismo estadounidense) y los enemigos de la democracia383.

Hoagland sostiene que hay que socavar el heterosexualismo para desmantelar todo este sistema ético cuyas virtudes éticas son “virtudes de amo y esclavo”. El cometido de su obra consiste en la “búsqueda de vías para eliminar de las decisiones lesbianas el dominio y la sumisión del heterosexualismo”. Cuando piensa en la ética, piensa en una “decisión bajo opresión” y en la “capacidad de actuación moral de las lesbianas"384.

El área de la sexualidad es la más necesitada de una percepción y una ética lesbianas, puesto que los debates sobre el tema de la sexualidad están causando un daño atroz a la comunidad lesbiana actual. Tal vez porque muchas lesbianas han aceptado que ellas “son” su sexualidad, porque “son” una desviación sexual, el sexo se ha considerado sagrado en el modelo de supremacía masculina. Judith Barrington, poeta y compiladora de The Intimate Wilderness una antología de textos lesbianos no eróticos sobre sexualidad, sugiere que la defensa de las lesbianas frente a la lesbofobia ha afectado a la sexualidad lesbiana, impidiendo un debate más amplio sobre una posible visión más trascendental. Uno de los temas de su libro es justamente averiguar:

… hasta qué punto la sexualidad lesbiana encierra la necesidad de defensa o reacción ante la homofobia. Al escribir sobre nuestras vidas, muchas continúan describiendo las interrelaciones codificadas de un grupo con una vida sexual “peligrosa”. Impera la sensación de sexualidad prohibida de vida amorosa a la defensiva frente a un mundo hostil. Aunque el nuevo lenguaje que estamos creando actualmente contribuya con el tiempo a crear nuevas posibilidades sexuales, en la actualidad nuestra vida sexual sigue estando sitiada385.

La ratificación y el perfeccionamiento del modelo patriarcal se han defendido por múltiples razones: porque excita a las lesbianas; por ser el único tipo de sexualidad que se sienten capaces de practicar quienes están condicionadas por los abusos masculinos: por ser propio de los varones (y las lesbianas reivindican su igualdad de oportunidades); por ser económicamente rentable. Olvidemos por un instante este modelo y analicemos las aportaciones de algunas feministas lesbianas a la interpretación de la sexualidad.

Al igual que otras filósofas lesbianas como Mary Daly y JuIia Penelope, también Sarah Hoagland destaca la importancia del lenguaje y su configuración de nuestro pensamiento y de nuestros actos. Apunta que la propia palabra “sexo” está cargada de dificultad para las lesbianas: procede de “la voz latina sexus, cercana a secus, que deriva de secare, “cortar, dividir” como en “sección”, e indica en sí misma fragmentación o ruptura"386. Marilyn Frye afirma que “sexo” es un vocablo poco adecuado para lo que hacen las lesbianas” y “sea lo que sea lo que hacemos las lesbianas… al parecer lo hacemos con poquísima frecuencia"387. En su análisis del desconcertante fenómeno de que las lesbianas practican el “sexo” con muy poca frecuencia, desmonta la idea de que se pueda aplicar a las lesbianas las ideas sobre el sexo propias de la supremacía masculina. Alude a una encuesta donde se demuestra que “sólo un tercio de las lesbianas con relaciones de dos años o más

382 Sarah Lucia Hoagland, Lesbian Ethics. Toward New Value, Califorma, lnstitute of Lesbian Studies, 1989, pág. 1. 383 Ibíd., págs. 7-8. 384 Ibíd., pág. 12. 385 Judith Barrington (comp.), An Intimate Wildemess. Lesbian Writers on Sexuality, Portland, Oregon, The Eighth Mountain Press, 1991, pág. 386 Sarah Lucia Hoagland, “Desire and Political Perception” en Judith Barnngton (comp.), An Intimate Wilderness, 1991, pág. 166. 387 Marilyn Frye, “Lesbian ’Sex’”, en Jeffner Allen (comp.), Lesbian Philosophies and Cultures, 1990, pág. 305.

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“practicaban el sexo” una vez por semana o más; el 47% de las lesbianas con relaciones de larga duración lo hacían una vez al mes o menos, mientras que entre las parejas heterosexuales casadas, esta cifra era sólo del 15%"388. Frye da la vuelta a estas estadísticas, preguntándose por el significado para las lesbianas de la expresión “cuántas veces”. Apunta que la idea de poder contar las veces procede de un modelo masculino donde “una vez” significa el paso del varón de la erección a la eyaculación, mientras que para una mujer “una vez” puede significar algo muy distinto.

Frye se pregunta a qué llamarían “una vez” las lesbianas que contestaron estos cuestionarios, dilucidando la gran diferencia entre la experiencia lesbiana de la sexualidad y el modelo masculino.
Algunas habrán contado un ciclo doble o triple de una noche como una “vez” que “practicaron el sexo”; otras, tal vez lo contaran como dos o tres “veces”. Algunas habrán contado como “veces” sólo las ocasiones en que ambas amantes tuvieron un orgasmo; otras, todas las “veces” que al menos una de ellas tuvo un orgasmo… quizás algunas contaron como una “vez” cada episodio en que ambas tocaron la vulva de la otra de forma más que fugaz y siempre que no fuera para un examen médico389.

Según Frye, hubo un tiempo en que las lesbianas eran conscientes de que ellas no “practicaban el sexo” según el modelo masculino; sin embargo, en la década de los 80 esta consciencia se desvaneció y las lesbianas comenzaron a preocuparse de la cantidad de “sexo” que “practicaban”. Frye afirma que las lesbianas no podemos utilizar un modelo de “cópula-de-varón-dominante-y-mujer-subordinada-cuya-culminación-y-propósito-consiste-en-Ia-eyaculación-masculina” para referimos a nuestra sexualidad.

Nuestras vidas, la naturaleza de nuestra expresión, no pueden reducirse a este centro semántico. Si tratamos de sintetizarlas y articularlas siguiendo las líneas de este trazado, terminamos intentando condensar nuestra relación carnal amorosa y apasionada en unos sucesos explosivos de ocho minutos de duración. Y éste no es el ritmo ni la ontología del cuerpo lesbiano390.

En opinión de Frye, las lesbianas deben crear su propio lenguaje para denotar las múltiples formas que tienen de “hacerlo”.

El famoso artículo de Audre Lorde Uses of the Erotic: The Erotic as Power Los usos del erotismo: el erotismo como poder, que data de 1978, persigue el desmantelamiento del concepto heteropatriarcal de la sexualidad, y llega a englobar diversas áreas de la experiencia lesbiana que se encuentran muy alejadas del tradicional concepto dominante de lo sexual. Lorde define el erotismo como “una afirmación de la fuerza vital de las mujeres; de esta poderosa energía creativa cuyo conocimiento y uso reivindicamos ahora en nuestro lenguaje, nuestra historia, nuestros bailes, nuestro amar, nuestro trabajo, nuestras vidas"391. A su modo de ver, el ejercicio de control sobre las personas oprimidas requiere que las fuerzas opresivas “corrompan o distorsionen” esta energía. Por consiguiente, “nos enseñan a desligar nuestra demanda erótica de casi todas las áreas vitales de nuestra vida, con excepción del sexo”392. Lorde hace una distinción explícita entre erotismo y pornografía: para ella, lo segundo representa “una inequívoca negación del poder del erotismo al representar la represión del verdadero sentimiento”393. A su modo de ver, la función del erotismo consiste en “compartir la alegría física, emocional, psíquica o intelectual” con las demás, creando la base para un entendimiento mutuo y en “potenciar mi propia capacidad de alegría”.

Al igual que mi cuerpo se distiende ante la música abriéndose en su respuesta, atento a su ritmo más profundo; así cada nivel de mi percepción se abre ante una experiencia eróticamente satisfactoria, ya sea un baile, la construcción de una estantería para libros, la redacción de un poema, o la exploración de una idea394.

Lorde apunta que como feminista lesbiana negra es consciente de que “resulta difícil compartir esta carga erótica con aquellas mujeres que siguen obrando dentro de una tradición masculina exclusivamente europeo-americano"395. Lo más importante que aporta Lorde es su negativa a separar lo que habitualmente se entiende por “sexual” del resto de su vida; aspira a incorporarlo como un aspecto más del erotismo. Huelga decir que este concepto es totalmente ajeno a la filosofía que subyace a la nueva industria del sexo lesbiano.

No resulta sorprendente, pues, que Lorde no tuviera pelos en la lengua al redactar en 1982 una reflexión sobre el tema del sadomasoquismo para la antología Against Sadomasoquism.

El sadomasoquismo es la exaltación institucionalizada de las relaciones de dominio y subordinación. Nos dispone para que aceptemos la subordinación o para que ejerzamos el dominio. Reiterar el carácter erótico y habilitador del

388 Ibíd., pág. 306. 389 Ibíd., págs. 307-308 390 Ibíd., pág. 313. 391 Audre Lorde, “Uses of the Erotic: The Erotic as Power”, Sister Outsider. Essays and Speeches, Freedom, California, The Crossing Press, pág. 55. 392 Ibíd. 393 Ibíd., pág. 54. 394 Ibíd., págs. 56-67. 395 Ibíd., pág. 59.

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ejercicio del poder sobre la impotencia aunque se trate de un juego significa crear el marco emocional y social para la perpetuación de esta relación en el ámbito político, social y económico. El sadomasoquismo alimenta la fe en la inevitabilidad del dominio396.

Lorde describe a la perfección el entretejido entre nuestra expresión sexual y el resto de nuestra vida como lesbianas. Cree que el sadomasoquismo no termina en el dormitorio. Considera que se realizan “afirmaciones vitales” cuando “la cualidad y los resultados de mis relaciones eróticas circulan por mi vida y mi ser”. Y termina sus reflexiones sobre el S/M con la pregunta: “Siendo nuestra sexualidad una profunda veta que recorre nuestra vida y, nuestro conocimiento eróticos, ¿de qué manera puede enriquecemos y conferir poder a nuestras acciones?"397

Las lesbianas convencidas de que su quehacer sexual está relacionado con la totalidad de su vida y de su política se preguntan cómo continuar a partir de ahí. Algunas han optado por la abstención de toda práctica sexual, alegando que el dominio y la sumisión se hallan tan profundamente arraigados que resulta imposible alterar nuestra percepción del sexo. Un grupo estadounidense compuesto tanto por lesbianas como por mujeres heterosexuales ha optado por esta vía, proponiendo tres pasos hacia adelante: “El celibato radical unido a un lesbianismo de constructivo y la resistencia sexual (en la heterosexualidad) constituyen las únicas opciones factibles para las mujeres oprimidas por el sistema de supremacía masculina"398. El “lesbianismo deconstructivo” es para ellas una “opción política transitoria”:

Trata de destejer el ligamen de dominio y sumisión que se encarna en cada una de nosotras en forma de sexualidad.

Dicho de la manera más sencilla, el lesbianismo deconstructivo significa que somos quienes somos como lesbianas, pero sin sexo399.

En mi obra Anticlímax propuse una táctica distinta: la construcción deliberada de un “deseo homosexual”. Según mi definición, el “deseo homosexual” es la connotación erótica de la igualdad de poder dentro de una relación lesbiana, gay o heterosexual; y el “deseo heterosexual”, la connotación erótica de la diferencia o desigualdad de poder que nace del sistema sexual del heteropatriarcado. Es posible que una lesbiana que se ha criado en un sistema de poder masculino nunca pueda conocer del todo una sexualidad construida en un contexto de igualdad. Pero creo que merece la pena luchar por transformar la sexualidad y perseguir el deseo homosexual, resaltando las áreas de nuestra experiencia sexual con las que nos sentimos cómodas y delimitando aquellas que chocan con nuestra visión de un futuro sexual lesbiano. Un futuro sexual lesbiano concordante con nuestro proyecto de cambio del mundo englobaría nuestra vida sexual en nuestro amor y nuestro respeto por nosotras mismas y por las otras mujeres.

El tema de la amistad lesbiana es central en la construcción de una comunidad lesbiana y en la realización de toda utopía lesbiana. Si bien las feministas lesbianas de los 70 consideramos el amor de las mujeres como el fundamento de nuestra política, no concretamos el funcionamiento exacto de este amor. Los acontecimientos y las convulsiones de los 80 afectaron las amistades entre lesbianas. A medida que la organización política se volvió más difícil y las lesbianas se retiraron a la seguridad de su hogar o de sus redes más íntimas, hubo que repensar la amistad y el amor entre mujeres. En A Passion for Friends, Janice Raymond cumplió con este cometido, motivada por su fe en el papel central del “gineafecto” en la lucha feminista y por su consternación ante la ruptura de las amistades lesbianas durante la polémica política de los 80. Define la amistad de las mujeres en su sentido más amplio como aquello que motiva la lucha feminista. Según Raymond “Trabajar para las mujeres es un acto de profunda amistad hacia las mujeres. Confiere a la amistad un carácter político”400. Trata de comprender por qué la amistad entre mujeres ha resultado ser tanto más difícil en la realidad de lo que hacía sospechar el optimismo feminista. Para ella, uno de los “obstáculos más tremendos” es la condición de severa opresión a que están sometidas las mujeres: una situación de “profanación, subordinación y atrocidad”.

Y uno de los resultados más devastadores de esta condición es el hecho de convertir a las mujeres en indignas de amor tanto para ellas mismas como para las otras mujeres. Cuando una mujer ve cómo su hermana ha sido deshumanizada y embrutecida a lo largo de la historia, durante su propia vida, en prácticamente todas las culturas; cuando una mujer ve las variaciones interminables de estos abusos y de esta brutalidad, y descubre cuán pocas mujeres consiguen sobrevivir, cuando una mujer ve que la representación gráfica de esta condición la rodea por todas partes, entonces la amistad femenina se borra de su memoria y no se deja afectar por las otras mujeres. La pornografía, el incesto y el alquiler de úteros, entre otros, consolidan el alejamiento respectivo de las mujeres. La violencia contra las mujeres no sólo es la clave para la opresión de las mujeres. Lo es también para la inexistencia

396 Audre Lorde, 1982, pág. 68. 397 Ibíd., pág. 71 398 A Southern Women’s Writing Collective, “Sex Resistance in Heterosexual Arrangements”, en Leidholdy Raymond (comps.), The Sexual Liberals and the Attack on Feminism, Nueva York, Pergamon, 1990, pág. 146. 399 Ibíd., pág. 145. 400 Janice G. Raymond, “Not a Sentimental Journey: Women’s Friendships”, en Leidholdt y Rayrnond (comps.), 1990, pág. 225.

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de una amistad entre mujeres401.

Estos comentarios nos conducen nuevamente a las cuestiones planteadas en los capítulos anteriores de La herejía lesbiana. Para comprender lo que está ocurriendo actualmente a muchas lesbianas respecto del trato hacia sí mismas y hacia las demás es necesario recordar la profunda influencia de nuestra opresión como mujeres y como lesbianas sobre nuestras vidas. Algunas lesbianas quisieran creer que son ciudadanas libres e iguales en un paraíso de consumo capitalista, repleto de elecciones y preferencias. Pero las lesbianas no somos libres y la opresión no ennoblece precisamente. Las lesbianas sufrimos siempre la doble carga de la opresión como mujeres y como lesbianas, y a menudo además la de clase y la de raza. Muchas lesbianas abandonaron su familia de origen por los abusos sexuales o han sufrido abusos en los centros institucionales. Han vivido en la calle o como prostitutas, son adictas al alcohol y a otras drogas. Incluso las lesbianas que no soportan estos regalos envenenados del heteropatriarcado, sufren a menudo la falta de autoestima y la incapacidad de reconciliarse con su cuerpo. Quizás se considere anticuado hablar de opresión y de sus consecuencias para todas nosotras, pero sin hacerlo es difícil hablar de un posible sentimiento de amor y de respeto hacia nosotras mismas y hacia las otras mujeres, así como de las consecuencias de este amor para nuestra práctica sexual, amistosa y de acción política. Debería ser obvio que la utilización de otra mujer como prostituta o el abuso de otra mujer en la práctica sadomasoquista no representan un acto de amor o de gentileza; sin embargo, para muchas no lo es.

Se acusa a las feministas lesbianas que denuncian el daño que las lesbianas causan a sí mismas y a otras lesbianas en nombre del sexo, de dividir la comunidad lesbiana y de interponer barreras a la amistad lesbiana. Sin embargo, quedarse callada ante los abusos contra las mujeres ya sean mujeres o varones sus actores no es un acto de amistad. Janice Raymond se pregunta: “¿Qué clase de unidad puede construirse sobre la negación a juzgar la pornografía, el sadomasoquismo o el incesto?” 402. La pretensión de mantener la seguridad dentro de la comunidad lesbiana, al dejar de aplicar a las lesbianas las mismas pautas éticas que se aplicarían a los varones, ha configurado una comunidad lesbiana que a muchas no les parece excesivamente segura.

A modo de conclusión, quisiera sugerir la necesidad de una separación más profunda, tanto en el plano intelectual como en el plano ético. No basta con crear espacios separados, si no continuamos empleando energía en crear una perspectiva lesbiana y una ética lesbiana que permitan el desarrollo de una comunidad lesbiana, una amistad lesbiana y una sexualidad lesbiana específicas. Antes de que las lectoras afectadas por el postmodernismo comiencen a sospechar que el uso de la palabra “lesbiana” denota cierto esencialismo, diré que cuando las feministas lesbianas hablamos de “lesbiana”, hablamos generalmente no de una “esencia” natural, sino de algo creado conscientemente por las lesbianas como acto político. Los ataques de las lesbianas y de los gays postmodernos contra las teorizaciones de las feministas lesbianas, respaldándose en ciertas autoridades masculinas como Foucault y Derrida, deben interpretarse, bien como una tergiversación intencionada, bien como un intento deliberado de impedir la construcción de una visión lesbiana alternativa.

Tanto las filósofas lesbianas como la filósofa que hay en toda lesbiana, están empleando toda su energía en la construcción de esta mirada diferente. Esta labor requiere y seguirá requiriendo organizaciones lesbianas separadas, o al menos una base lesbiana separada, espacios, centros, archivos, galerías, talleres y editoriales separadas de lesbianas. La tensión que domina la comunidad lesbiana actual nace del conflicto entre separación y asimilación. Quienes aspiran a la creación de unos valores lesbianos se alinean en contra de quienes quisieran desaparecer en la cultura de los varones gays. Aunque pueda parecer que esté triunfando la vía de la asimilación, no debemos olvidar los miles de proyectos específicos de lesbianas que existen y que representan el centro y la fuerza de la comunidad lesbiana. A medida que cambia la marea política cosa harto probable en los 90 hacia una nueva posibilidad de cambio social, y a medida que una nueva generación de lesbianas se cansa de la bazofia que les ofrecen como cultura lesbiana, nuevos brotes saldrán de nuestros espacios separados. Estos nuevos brotes serán la garantía de que las lesbianas no tendrán que llevar el caduco, cliché heteropatriarcal, de dominio y sumisión, sino que el lesbianismo seguirá siendo una herejía hasta que el mundo se corresponda con la utopía feminista lesbiana.

401 Ibíd. 402 Ibíd., pág. 224.

Sadomasoquismo: O Culto Erótico do Fascismo

El presente artículo data de 1984, cuando formaba parte del grupo londinense Lesbianas contra el Sadomasoquismo. A pesar de que las feministas lesbianas británicas eran conscientes del auge del sadomasoquismo lesbiano en los EE.UU., no se constituyó, ningún grupo dedicado a este tema hasta que el nuevo Centro Gay y Lesbiano de Londres acordara autorizar las reuniones de los sadomasoquistas en este centro. En el capítulo “Una mala copia del varón” se resumen los hechos de aquel momento. Este artículo fue escrito en un principio para su debate en grupo y de hecho se divulgó en forma de fotocopias entre otras lesbianas interesadas. No debe considerarse un alegato definitivo de la política del grupo, sino más bien una visión personal. En 1986 se incluyó en la antología Lesbian Ethics Ética lesbiana, publicada en los EE.UU.

En 1981, durante una visita a Ámsterdam desde Londres para asistir al festival de mujeres, tomé consciencia de la relación que existe entre el sadomasoquismo y el fascismo. Uno de los temas principales del festival era el sadomasoquismo. Las participantes del festival de Ámsterdam representaron guiones de S/M -por ejemplo, una transexual convertida de varón en mujer que azotaba a otra mujer, ambas vestidas con ropas fetiche “femeninas” y cuero negro. Una parte considerable de las asistentes al festival vestían de cuero negro y algunas llevaban detrás a otras mujeres atadas con collares y correas. En los talleres de promoción del S/M se justificaba éste de acuerdo con la libertad personal de las minorías sexuales. Las organizadoras sostenían que el S/M era básicamente un asunto privado, aunque sus practicantes tenían que “descubrirse” como tales, dado que se encontraban oprimidas por los prejuicios y la discriminación contra su práctica sexual preferida.

En la misma semana en que se celebraba el festival fue elegido en Ámsterdam el primer diputado fascista después de la guerra. Aquel fin de semana hubo reyertas callejeras con las que los fascistas celebraron su victoria agrediendo a miembros de la población inmigrante de Ámsterdam, y sólo a través de una cadena telefónica se logró la distribución de militantes antifascistas por los distintos barrios para que resistieran la violencia racista. Las feministas de Ámsterdam que me comunicaron el estallido de violencia y con esta victoria electoral no advirtieron la conexión entre el aumento del fascismo y el avance del S/M como práctica sexual. Consideraban el S/M como un simple asunto personal. Yo, sin embargo, no estaba convencida. En la calle donde se celebraba el festival el Melkweg estaba ubicada una de las principales comisarías de Ámsterdam. La fachada del edificio del festival lucía un inmenso cartel con una mujer desnuda de pies a cabeza, las manos atadas a la espalda. Esta mujer esclava estaba justo enfrente de la comisaria. Para mí no representaba un símbolo de desafío. En cambio, me pareció que el S/M, la policía, la renovada amenaza del fascismo y los adolescentes que nos tiraron piedras a mi amante y a mí porque íbamos cogidas de la mano por una calle próxima al festival, tenían mucho en común. ¿Cuál era nexo?

BERLÍN, AÑOS 30

Hay un ejemplo histórico del vínculo entre el S/M y el fascismo, que corremos el riesgo de olvidar. Antes de la llegada al poder de los nazis en la Alemania de 1933 el S/M era una práctica sexual en auge, sobre todo entre los varones gays. El novelista gay británico Cristopher Isherwood, que vivía en Berlín en aquella época, dejó un testimonio literario del coqueteo con el S/M que se estaba produciendo no sólo entre los gays, sino también entre los jóvenes alemanes alienados y desempleados. En su libro de 1962, Desde lo más profundo, Isherwood reflexiona sobre la relación entre el S/M y el auge del fascismo al retratar al joven alemán Waldemar:

Estoy convencido de que Waldemar siente instintivamente que hay una relación entre las “crueles” señoras de botas altas que solían ofrecer sus servicios a la entrada del Kaufhaus des Westens y los jóvenes matones de uniforme nazi que van ahora por ahí maltratando a los judíos. Cuando una de esas señoras identificaba a un cliente prometedor lo que solía hacer era cogerlo por la solapa, meterlo a la fuerza en un taxi y llevárselo rápidamente para azotarlo. ¿No es esto exactamente lo mismo que hacen los chicos de las S.A. con sus clientes, con la única diferencia de que, en este caso, la azotaina es completa y mortalmente seria? ¿Y no era la una, una especie de ensayo general psicológico de la otra?403

El S/M subyace como un tema central tras la impactante pieza teatral Bent, de Martin Shennan. La escena inicial de la obra presenta al protagonista Max, que ha ligado a un hombre joven vestido de cuero y aficionado al S/M, y supuestamente se lo ha llevado a casa para un trío con su amante. A la mañana siguiente unos oficiales de la Gestapo llegan en busca del joven y acaban degollándolo. Estamos en 1934. Más tarde, Max y su amante huyen. Tras el asesinato de su amante Max termina en un campo de concentración. En la escena más conmovedora de la obra, Max y otro prisionero, que se encuentra en el campo por haber firmado una petición de anulación del estatuto alemán contra la homosexualidad, hacen el amor únicamente con sus

403 Cristopher Isherwood, Down There on a Visit, Londres, Methuen, 1962, págs. 73-74. Hay versión castellana: Desde lo más profundo, Alianza, Madrid, 1990.
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palabras, mientras trasladan piedras bajo estricta vigilancia. Max es incapaz de hacer el amor sin dolor e incluye en su fantasía en voz alta las mordeduras dolorosas de los pezones. Su amante Horst protesta relacionando el S/M con el fascismo que los ha apresado:

Horst: … Tratas de hacerme daño. Me pones caliente y después me haces daño. Me duele ya. No quiero sentir más dolor. ¿Por qué no puedes ser delicado?

Max: Lo soy.

Horst: No es verdad. Eres igual que ellos. Eres como los guardias. Eres como la Gestapo. Ya no somos delicados. Me fijé cuando estábamos fuera. La gente hacía dolor y lo llamaba amor. No quiero ser así. El amor no debe doler404

La obra teatral relaciona el sadomasoquismo de Max con su incapacidad para aceptar su homosexualidad y para amar realmente a otro hombre. Aunque Horst muere asesinado, Max alcanza cierta victoria moral y personal al final de la obra, al demostrar su amor por Horst exhibiendo deliberadamente el triángulo rosa de los homosexuales y caminando hacia la valla eléctrica.

Lo trágico de la práctica del S/M en el Berlín de los años 30 fue que los guiones interpretados por los varones gays para su goce sexual, con uniformes nazis incluidos, fueron tan sólo un avance de la violencia mucho más atroz que los matones les iban a infligir tras su internamiento en los campos de concentración. Heinz Heger describe con gran expresividad la experiencia en esto campos de los varones gays, en su obra The Men with the Pink Triangles Los hombres de los triángulos rosas. Hay un ejemplo de la tortura y de la muerte de un prisionero gay que resulta sugerente porque muestra la práctica S/M.

El primer “juego” del sargento de las SS y de sus hombres consistió en cosquillear a su víctima con plumas de ganso en las plantas de los pies, entre las piernas, en los sobacos, así como en otras partes de su cuerpo desnudo. Al principio, el prisionero se forzó a mantenerse callado mientras sus ojos llenos de pavor y de tormento pasaban de un oficial de las SS al otro. Más tarde ya no pudo contenerse y acabó estallando en una risa aguda que pronto se convirtió en llanto de dolor, mientras que las lágrimas surcaban su rostro y su cuerpo se retorcía contra las cadenas…

Pero estos depravados de las SS estaban decididos a divertirse un buen rato con esta pobre criatura. El capo del búnker tuvo que traer dos cuencas de metal, uno lleno de agua fría y el otro, de agua caliente. “Vamos a hervir tus huevos, maricón asqueroso, pronto entrarás en calor” dijo, satisfecho el oficial del búnker mientras alzaba el cuenco lleno de agua caliente entre los muslos de la víctima para que sus cojones se hundieran en él…

“Le gusta que le den por el culo, ¿no? Vamos a darle lo que quiere”, bramó uno de los hombres de las SS al coger una escoba del rincón y empotrar su mango profundamente en el ano de la victima…405.

Finalmente el prisionero muere por un golpe en la cabeza con un taburete de madera.

La siguiente descripción procede de un capítulo sobre la práctica segura del S/M incluido en un manual de S/M lesbiano:

Fisting o fist-fucking significa mover la mano entera dentro de la vagina o del ano de una persona, o meter y sacarla. Quien realiza el fisting comienza introduciendo un dedo o dos en su pareja, aumentando un dedo cada vez, con dos minutos de movimientos estimulantes entre cada incremento, hasta que toda su mano esté metida. Entonces suele cerrarla formando un “puño” (fist). La tendencia habitual de quien recibe el fisting es a preguntar: “¿No puedes meterme más?”

Para realizar el fisting necesitas primero unas uñas cortas y lisas. Debes cortarte las uñas hasta la piel y después limarlas con una lima de esmeril o de cuerno de alce, tanto en sentido lateral como vertical, del dorso de la mano hacia la palma. Es importante utilizar además un buen lubricante espeso, que no acabe en un charco al cabo de cinco minutos. Se recomienda la mantequilla pastelera. La dominante debe embadurnarse la mano con una gruesa capa de mantequilla y no empujarla más allá de donde quepa con cierta facilidad… etc.

Una manera segura de verter cera de una vela consiste en dejar caer una gota o dos cada vez, sin dejar que se acumule la cera alrededor de la mecha y no vertiéndola toda de una sobre la piel de tu pareja… etc.406.

He reproducido estos dos ejemplos porque se parecen bastante a los métodos de tortura del ejemplo verídico del campo de concentración. Otras instrucciones enseñan a realizar cortes en los senos de una mujer con hojas de afeitar y a perforar sus labios vaginales. Corroboran que no es ningún misterio de dónde procede la práctica del S/M: de la historia misma de nuestra opresión. Los guiones S/M reproducen la tortura de los gays a manos de los fascistas, la tortura de negros por blancos, judíos por nazis, mujeres por varones, esclavos por negreros. Estas prácticas S/M deben considerarse como una representación ritual, como un talismán. Parece poco probable que los practicantes gays del S/M deseen realmente perder por completo el control sobre su tortura y, por consiguiente, debemos pensar que estas prácticas cumplen el papel del ajo en el exorcismo del diablo, o

404 Martin Shennan, Bent, Derbyshire, Amber Lane Press, 1980, pág. 67. 405 Heinz Heger, The Men with the Pink Triangles, trad. David Fernback, Londres, Gay Men’s Press, 1980, págs. 82-83. 406 Janet Bellwether, “Love Means Never Having to Say Oops: A Lesbian Guide to S/M Safety”, en Samois (comp.), Coming to Power: Writings and Graphics on Lesbian S/M, Boston, Alyson, 2a ed. 1982, págs 70-71 y 74.

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que representan una ansiosa anticipación de lo peor que pueda pasar, con el fin de intentar acostumbrarse.

EL AMBIENTE FASCISTA

Las defensoras del S/M no suelen ocultar su uso de símbolos y prendas fascistas y nazis -gorras de cuero negro de las SS, esvásticas, imitaciones de uniformes y abrigos de cuero negro de las SS. Pat Califia, la principal teórica norteamericana del S/M, lo explica de la siguiente manera:

El guión del S/M puede ser representado con los personajes de guardia y prisionero, poli y sospechosa, nazi y judío, blanco y negro, heterosexual y marica, padre e hijo, cura y penitente, maestro y alumna, prostituta y cliente, etc. Sin embargo, ningún símbolo tiene un significado único. Su significado depende del contexto en que se utiliza. No toda persona que lleva una esvástica es un nazi, no porque te cuelgues unas esposas del cinturón eres un poli, y no por llevar un hábito de monja has de ser católica. El S/M es antes una parodia de la naturaleza sexual oculta del fascismo que su culto o su aceptación. ¿Cuántos nazis, polis, curas o maestros de verdad participarían en una licenciosa escena sexual?407

Naturalmente se podría contestar a esta ingenua pregunta de Califia. Al menos una mujer del grupo de lesbianas S/M de Londres lucía una gorra de las SS y esvásticas en los actos públicos. Fue criticada con el argumento de que estos símbolos eran ofensivos para muchas mujeres, ante lo cual amenazó con recurrir a la violencia si seguían censurándola.

A principios de 1984 un grupo de gays cabezas rapadas se presentó en la discoteca gay mixta del Bell, en el Kings Cross de Londres. Uno de ellos hizo con toda intención el saludo fascista delante de un gay negro que yacía en el suelo, y otros tres siguieron a un negro gay con discapacidades hasta los lavabos y lo amenazaron. Un gay blanco desenchufó el equipo de música para proponer un debate sobre el incidente y para tomar medidas. Fue expulsado de la discoteca y se le prohibió la entrada. Esta discoteca supuestamente formaba, parte del ambiente gay alternativo, político o, cuando menos, no comercial. Los cabezas rapadas eran clientes habituales. El coordinador nacional del Frente Nacional de Juventud se presentó asimismo en el Bell y fue expulsado cuando, al quitarse la cazadora, exhibió una serie de esvásticas. Los colectivos del Bell y de algunas otras discotecas tuvieron que establecer un código de vestimenta que vetaba, por ejemplo, las esvásticas o las camisetas con rótulos como “Gira Europea de Hitler”, aunque se admitían los uniformes de cuero negro.

No obstante, las defensoras y los defensores del S/M alegarían que sólo llevan las insignias nazis para divertirse y que no quieren verse relacionados con una conducta violenta. Tal vez sea así, pero ¿cómo deben distinguirlos los demás gays? El miedo es real, y no depende de si las esvásticas se llevan como “diversión” o en serio. Respecto a las esvásticas, la diversión de una mujer puede significar el terror de la otra. Lucir una esvástica supone para los fascistas la misma “diversión” que la práctica S/M para sus defensoras: el poder a resultas del miedo y de la angustia de otras mujeres. Uno de los serios peligros causados por la tolerancia de las insignias nazis en el ambiente gay bajo el pretexto de la “diversión”, la práctica sexual o la moda consiste en la anulación de nuestra voluntad o nuestra capacidad de actuar frente a la auténtica violencia fascista. Es tan importante cuestionar y rechazar el alarde de los emblemas nazis en la actualidad como lo fue en Alemania en la década de los 20 y los 30, cuando prendió el fascismo. Sin duda los antifascistas se enfrentaron en aquel entonces a las mismas amenazas que lanzan los defensores actuales del S/M cuando su placer se pone en entredicho. El fascismo, ¿era una moda entonces? ¿Es así como se consolidó en los círculos artísticos y de vanguardia?

EL SADISMO DEL FASCISMO ALEMÁN

Uno de los insultos propinados a las feministas londinenses que organizaron un encuentro en contra del fomento del S/M era el de “fascistas”. Se acusó a las feministas lesbianas de ser “iguales al Frente Nacional” por haberse atrevido a convocar el encuentro. Estos ataques coinciden con los intentos más recientes de las libertarias sexuales socialistas por tachar de derechistas a las feministas, basándose en la premisa de que una política fascista se opondría al S/M. En realidad es al contrario y la acusación representa un perfecto ejemplo de lo que Mary Daly denomina “inversión patriarcal”408.

Dorchen Leidhold, que forma parte del grupo neoyorquino de Mujeres Contra la Pornografía, demuestra en su sugerente artículo Where Pornography Meets Fascism Donde la pornografía se encuentra con el fascismo hasta qué punto el sadomasoquismo erótico constituye el puntal de la ideología y la práctica fascistas.

Hitler, por ejemplo, adoptó el látigo como símbolo personal, dando golpes contra sus piernas cada vez que se exaltaba. Le encantaba citar la máxima de Nietzsche:

“Cuando vayas a casa de una mujer, no olvides el látigo”. Tal vez el dato más revelador sobre la respuesta sexual de Hitler ante las mujeres se refiere al placer que le producían las mujeres ligeras de ropa que se jugaban la vida. En

407 Pat Califia, “Feminism and Sadomasoquism”, Heresies, número monográfico sobre sexo, núm. 12, 1981, pág. 32. 408 Ver diversos fragmentos de: Mary Daly, GynEcology, Boston Beacon Press, 1978; y Beyond God the Father: Toward a Philosophy of Women’s Liberation, Boston, Beacon Press, 1973.

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The Psychopathic God El dios psicópata, Waite apunta: “Era especialmente aficionado a las mujeres guapas del circo, trapecistas o equilibristas… No le impresionaban particularmente los números con animales salvajes, a menos que participaran mujeres guapas. Entonces miraba con avidez, con la cara encendida, la respiración acelerada emitiendo ruiditos de silbato y moviendo los labios con avidez”. El sadismo de Hitler respecto de las mujeres estuvo relacionado muy probablemente con su pésimo historial de relaciones amorosas: cinco de las seis mujeres con las que había tenido una relación amorosa se habían suicidado o habían intentado suicidarse.

El sadomasoquismo caracterizaba asimismo la interrelación de Hitler tanto con sus subalternos inmediatos “Cada vez que lo miro -se entusiasmaba Hermann Goering tengo el corazón en un puño”-, como de su relación con el pueblo alemán en general. Según Eric Fromm, la orientación sadomasoquista de Hitler coincidió con las inclinaciones sadomasoquistas de las masas alemanas y con su deseo de ser dominadas por un dirigente poderoso y dominar a otros al mismo tiempo y Hitler fue perfectamente consciente del tenor de los tiempos y del pueblo que le había tocado gobernar. En una alocución ante un grupo de cadetes militares en 1942 declaró: “¿Para qué titubear

ante la brutalidad e indignarse ante la tortura? Las masas lo quieren así. Necesitan algo que les haga estremecerse de terror"409.

Leidholdt parece insinuar que el pueblo alemán tema unas inclinaciones especiales hacia el sadomasoquismo. Todas las pruebas apuntan hacia el hecho de que todo sistema machista está impregnado de la misma tendencia. Sin embargo, sus observaciones nos obligan a preguntamos hasta qué punto la atracción del fascismo y del racismo en sí es consecuencia de una pulsación erótica. Leidholdt continúa citando a Jacobo Timerman, un judío argentino torturado por la extrema derecha, que apunta el carácter erótico y sádico del antisemitismo argentino: “El odio contra el judío era un sentimiento visceral, explosivo, un rayo supranatural, una emoción de las entrañas, el abandono de todo el yo al odio”410.

Por algún proceso misterioso, todo lo relacionado con el sexo ha sido disociado de la política en esta sociedad, incluso por parte de quienes se considerarían socialistas y radicales. Con el fin de convertir la práctica sexual en un enclave privado de goce individual, se ha entendido la sexualidad como una cuestión alejada de los efectos del sexismo, del racismo y de otras clases de opresión que prevalecen en el mundo más allá del dormitorio, y asimismo como falta de toda repercusión o relevancia para este mundo. En realidad, el sexo tiene una relevancia crucial para la activación y la regulación de la opresión de las mujeres y de la opresión racista. El sexo no es en absoluto puro y no hay que excluirlo de la crítica política.

Las defensoras del S/M tachan de fascistas a las feministas que las critican con el fin de adelantarse, de hacemos callar, de impedir que señalemos los vínculos que existen entre el S/M y el fascismo. Deben saber que están en el punto de mira y desesperadas gritan “fascistas”, no vaya a ser que las acusemos justamente de lo mismo.

¿Son fascistas las defensoras del S/M? Probablemente no pertenecen a organizaciones fascistas ni les preocupa cualquier otro aspecto del fascismo que no sea el erótico. Me atrevería a afirmar que no son fascistas aunque experimentar placer gracias al terror causado a otras lesbianas a través de los símbolos fascistas sea algo muy parecido, sino defensoras de los valores fascistas. La connotación erótica del dominio y de la sumisión, la exaltación de la violencia y de la opresión de gays, judíos y mujeres son elementos del fascismo.

LOS ORÍGENES ERÓTICOS DEL FASCISMO

¿Cuál es el atractivo principal del fascismo? El sistema político del fascismo permite a los capitalistas asegurar sus beneficios sin la amenaza de una resistencia por parte de la clase obrera. La violencia y el racismo del fascismo ofrecen a los desilusionados y los parados, los jóvenes y los alienados un chivo expiatorio para sus problemas y una forma sustitutiva de “realización” y de excitación. Los mítines, cierta sensación de poder (a través de intimidaciones), el orgullo nacionalista y una falsa dignidad fundamentada en el hecho de ser blanco, varón y gentil parecen convertirlos en superiores a otros grupos raciales y a las mujeres. Sin duda intervienen muchos otros mecanismos en la propagación del fascismo y de sus valores, incluida la excitación erótica. Los orígenes eróticos del fascismo no se han estudiado con detenimiento, tal vez porque significaría un desafío demasiado grande para nuestra propia sexualidad.

La comprensión de los orígenes eróticos del fascismo requiere un análisis del fascismo bastante diferente y más complejo que la versión simplista ofrecida de forma habitual por la izquierda masculina. Es falso afirmar que el fascismo sea una fuerza del mal que arriba de algún lugar del mundo exterior, totalmente acabado, fácilmente reconocible, de modo repentino y obvio, llamándose fascismo y revestido de una forma que resulta fácil combatir. A mi modo de ver, este concepto equívoco subyacía tras muchos de los esfuerzos antifascistas de mediados de los 70. La Liga Antinazi luchó con éxito contra las organizaciones abiertamente fascistas. Sin

409 Dorchen Leidholdt, «Where Pornography Meets Fascism», WIN, 15 marzo, 1983, pág. 18. Las citas de Leiclholt están incluídas en Robert G. L. Waite, The Psychopathic God. Nueva York, Basic Books, 1977, págs. 153, 375, 380. 410 Jacobo Timerman, Prisoner without a Name, Cell without a Number, Nueva York, Knopf, 1981, pág. 66.

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embargo, cuando estas organizaciones, sumidas en el letargo, observan cómo el gobierno tory en Gran Bretaña hace gran parte del trabajo por ellos como ocurre en la actualidad-, la izquierda política puede permitirse el lujo de restarle importancia a la exhibición de esvásticas por quienes no pertenecen a estas organizaciones. Ahora bien, el fascismo no cae del cielo con todas sus plumas en forma de organizaciones fascistas. Para triunfar, los partidos fascistas necesitan un amplio apoyo o, cuando menos, cierto consentimiento. Los miembros de los respectivos partidos no nacen fascistas y, en algunos casos, incluso han sido socialistas antes. El ejemplo más famoso de este fenómeno en Gran Bretaña es Oswald Mosley. Otro, los jóvenes que describe Isherwood: un día combaten en el partido fascista y al siguiente, en el comunista, atraídos por la violencia y la vivencia del poder personal.

A finales de los 60 y principios de los 70 la izquierda radical hablaba de las raíces psicológicas y emocionales del fascismo, latentes en toda persona que viva en la actualidad en un sistema de supremacía masculina. Se leía con avidez a Wilhelm Reich. Se analizaba la formación de la personalidad autoritaria dentro de la familia patriarcal y la necesidad de crear un modo de vida completamente distinto que redujera la atracción de la figura del caudillo. No obstante, se trataba de un análisis parcial que apenas tuvo en cuenta la opresión de las mujeres, más allá de la simple convicción de que la eliminación de la familia nuclear resolvería todos sus problemas. Así y todo hubo cierto consenso sobre las raíces emocionales del fascismo, inherentes a nuestra personalidad, a causa de las estructuras familiares que nos rodean desde que nacemos y al tipo de autoridad al que estamos expuestas en la infancia y en la adolescencia. Este descubrimiento tuvo una vital importancia y sus frutos siguen manifestándose ahora en las nuevas actitudes hacia la educación, en la organización política feminista y en algunos sectores de la izquierda y del movimiento gay. Sin embargo, la confianza en la importancia de la política personal sobre la que se cimentaba el movimiento de liberación de las mujeres está perdiendo popularidad. Estoy convencida aunque tal vez se trate de una ilusión de que la importancia del hecho de llevar esvásticas habría sido bastante más evidente en 1971 que en la actualidad.

Los orígenes eróticos del fascismo se hallan en la estructuración de la sexualidad del individuo dentro de un sistema de supremacía masculina. El aspecto erótico del fascismo es de gran importancia porque la supremacía masculina occidental ha convertido la experiencia de la sexualidad en una fuerza enormemente poderosa y casi incontrolable. No aprendemos a expresar nuestra sexualidad en un mundo de relaciones igualitarias y afectivas. Las mujeres y los hombres nacemos en el sistema heterosexual de dominio masculino y sumisión femenina. Lo cual es cierto, tanto si sabemos evadimos lo bastante para amar a las mujeres, como si no. La sexualidad de las chicas se construye en la interrelación con chicos agresivos que les arrancan las bragas, y a través de los abusos sexuales y de la explotación a manos de varones adultos. Nos ofrecen un modelo de sexualidad femenina pasiva y sumisa. Aprendemos a responder sexualmente a las insinuaciones agresivas de los varones. Muchas lesbianas tienen más dificultad en aprender la correcta respuesta femenina a los varones, a saber, la sumisa docilidad sexual; así y todo es poco probable que salgamos indemnes de la construcción de la sexualidad femenina respecto del sadomasoquismo. En una situación de opresión, y sin que podamos escapar hacia unas relaciones más igualitarias donde poder tomar la iniciativa sexual antes de una edad determinada, no nos queda más remedio que disfrutar de nuestra opresión. La respuesta más común consiste en la connotación erótica masoquista de nuestra impotencia. Algunas mujeres que consideran este comportamiento demasiado “afeminado”, connotarán eróticamente el rol sádico de la humillación de las mujeres. En una cultura misógina como la nuestra existen modelos de esto último en todas partes.

Las lesbianas y los gays se hallan sometidos a múltiples presiones que pueden originar la construcción de su sexualidad en tomo al sadomasoquismo. En muchos casos hemos aprendido a odiamos a nosotras mismas y sobre todo a nuestra sexualidad a consecuencia del heterosexismo y del antilesbianismo. No es fácil construir una sexualidad positiva, igualitaria y sin trasfondo S/M. Algunas lesbianas y gays no conocen otra sexualidad que la de sus fantasías sadomasoquistas, que afectan su práctica, aunque pugnen por evitar el ritual sadomasoquista. Algunas lesbianas y algunos gays consideran todo intento de poner en entredicho el sadomasoquismo como una seria provocación. Temen quedarse sin su práctica sexual si abandonan la connotación erótica de la opresión. Sin embargo, nuestra convicción de que la sexualidad es construida y no innata conlleva un mensaje de esperanza. Podemos reconstruirla. Tenemos motivos para el optimismo. Algunas lesbianas y gays se escapan a la influencia del S/M practicando un tipo de sexualidad distinta. Incluso quienes reconocemos la magnitud de la influencia del S/M en nuestras vidas hemos experimentado a menudo momentos de una intensidad y de un placer sexual poco frecuentes sin rastro alguno de fantasías de dominio y sumisión. Todas y todos llevamos en nuestro interior la semilla del cambio. Podemos tratar de potenciar una sexualidad positiva en lugar de la sexualidad negativa del S/M.

La respuesta sexual construida en tomo al masoquismo es inducida por los símbolos del poder y de la autoridad. Los símbolos más poderosos son aquellos que representan un poder y una autoridad abusivos, crueles y arbitrarios: un
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látigo es un símbolo más poderoso que una placa de prefecto. Los accesorios y los rituales fascistas son símbolos perfectos para este fin. Los uniformes, las marchas militares, las esvásticas los retratos de Hitler y los discursos autoritarios son detonantes eróticos. Los sádicos del Frente Nacional se estimulan mediante la proyección reiterada de videos de marchas y desfiles de los nazis alemanes. Toda la parafernalia del fascismo tiene el propósito de provocar una fuerte reacción erótica en quienes han aprendido su sexualidad en un sistema de supremacía masculina, siguiendo el modelo del sadomasoquismo, es decir, la gran mayoría.

La capacidad de atracción del nazismo suspende la respuesta indignada que, de lo contrario, provocaría. La construcción de la sexualidad S/M constituye una treta harto astuta para el opresor. Nuestra oposición queda socavada en nuestras propias entrañas si ante la tortura de otro o ante los símbolos del militarismo respondemos con exaltación erótica y no con indignación política. Es muy difícil luchar contra lo que te excita. Las feministas que combaten la pornografía reconocieron y comprendieron este problema. Excitarse con la degradación de las mujeres, aquello que se pretende poner en entredicho, origina un sentimiento de humillación y de parálisis. La única vía de lucha consiste en transformar este dolor en rabia. No somos culpables de la construcción de nuestra sexualidad, aunque somos plenamente responsables de nuestra respuesta. Tenemos derecho a estar furiosas y a transformar nuestro dolor en una ofensiva contra quienes comercian con la pornografía quienes hacen apología de la pornografía y esto por desgracia incluye a las lesbianas S/M, quienes compran y quienes consumen pornografía. No es fácil; sin embargo, debemos comprender que las imágenes y los mensajes de mujeres convertidas en objetos, torturadas, utilizadas y víctimas de abusos influyen en nuestra propia respuesta sexual con la intención de paralizamos. No podemos permitir que estas imágenes nos resten fuerza, sino que debemos compartir nuestros sentimientos y desarrollar nuestra rabia.

Al igual que en el caso del sexismo, los símbolos del fascismo y su práctica misma pueden excitar no sólo al opresor sino también a sus víctimas. En su obra States of Desire: Travels in Gay America Estados del deseo: viajes por la América gay, el novelista gay estadounidense Edmund White entrevistó a una pareja de varones gays aficionados a los uniformes de policía. Describió un bar donde el personal se compone de gays vestidos con uniformes policiales, y los clientes incluían tanto a gays vestidos de polis como a policías auténticos. Este trágico y degradante coqueteo con la opresión tuvo consecuencias estremecedoras. Uno de los seudo-policías, detenido más tarde en la puerta del bar, se quedó embelesado por las botas del verdadero policía. Otro, que fue detenido y apaleado, sólo pudo reiterar su enamoramiento de su torturador411.

Los defensores del S/M no cesan de reiterar que el S/M es “sólo imaginación”, sin relación alguna con la realidad. Se trata de un espejismo reconfortante. El ritual de hoy puede convertirse mañana en realidad. La promoción del S/M y de sus iconos asegura la dificultad cada vez mayor para que ciertas lesbianas y gays -y tal vez la totalidad de quienes utilizan el ambiente social gay, lleno de imágenes S/M puedan sentir sólo rabia y de ninguna manera excitación sexual al contemplar las actuaciones de los auténticos fascistas, policías y matones. A mi modo de ver es importante que sepamos identificar con certeza las amenazas fascistas y combatirlas adecuadamente. Me indigna pensar que la población gay pueda estremecerse de placer erótico y quedar paralizada en un caso de golpe fascista con tanques, botas militares y esvásticas.

¿ES RACISTA EL SADOMASOQUISMO?

Quienes abogan por el S/M en Gran Bretaña y en los EE.UU. responden con indignación a la insinuación de que su política es racista. Pat Califia, la gran dama del sadomasoquismo lesbiano californiano y famosa “dominante” o sádica, desechó toda acusación de racismo vertida contra el grupo S/M Samois con ocasión de su intento frustrado de conseguir un espacio en la casa de mujeres de San Francisco. “Tuvimos que defendemos contra las acusaciones de racismo…“412, protesta airada. Sin embargo, no se defiende, ni menta el contenido de las alegaciones o por qué las cree infundadas. La arrogante presunción de ciertas mujeres blancas de estar por encima y más allá de una posible conducta racista se entendería así lo espero en ámbitos distintos al de la sexualidad, como otra forma de racismo.

Quienes defienden el S/M deberían ser conscientes de la ofensa que suponen las insignias de una ideología política, que simboliza la muerte o la espantosa persecución de toda persona no aria, para todos los gays de color. El Grupo de Gays Negros expuso su postura ante la aparición de ciertos emblemas nazis en actos gays mixtos:

Con mayor frecuencia cada vez observamos a personas que en ciertos lugares de lesbianas/gays exhiben con orgullo insignias fascistas y nazis, concretamente los emblemas del Movimiento Británico y del Frente Nacional. Cada vez

411 Edmund White, States of Desire: Travels in Gay America, NY, Dutton, 1983. Desde las observaciones de White, la utilización de torturas auténticas como estimulo sexual ha ido en aumento. Hace poco la empleada de la librería Glad Day de Boston me informó que el libro más vendido de la tienda era History of Torture, de Daniel P. Mannix, NY, Dell, 1983. 412 Pat Califia, “A Personal View of the History of the Lesbian SM Community and Movement in San Francisco”, en Samois (comp.), Coming to Power, 1982, pág. 274.

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son más habituales las noticias sobre agresiones a hombres y mujeres gays por parte de estos grupos. No podemos seguir aceptando la excusa de que quienes llevan esta vestimenta tan ofensiva siguen simplemente una “moda”. Nos parece ofensivo y alarmante que toda la comunidad lesbiana/gay se quede callada ante estas muestras de racismo, que les reste importancia o que las apruebe. Nos sorprende el desconocimiento de las numerosas agresiones, abusos y hostilidades que ciertos grupos fascistas han perpetrado contra las personas gays. Pensamos que hay que empezar a unir fuerzas con el fin de identificar y erradicar las semillas racistas y fascistas que persisten en la comunidad lesbiana/gay…
Algunos miembros del Grupo de Gays Negros han sido víctimas de la violencia fascista, tanto por razones racistas como por nuestra opción sexual413.

La feminista negra norteamericana Alice WaIker expuso su visión del carácter racista de la práctica S/M en un artículo conmovedor y, a todas luces, irrefutable. Walker habla desde su posición de profesora que trabajó durante un trimestre con un grupo de alumnas, blancas y negras, en el intento de “descifrar, en el imaginario y en los sentimientos”, el significado de ser esclava, amo o ama. Mujeres negras, blancas y mestizas escribieron sobre el cautiverio, la violación, la reproducción forzosa para el reaprovisionamiento de los rediles de esclavos del amo. Escribieron sobre las tentativas de fuga, la venta de sus criaturas, los sueños de África y los intentos de suicidio” 414. A continuación describe el efecto de la proyección de un programa televisivo en el que participaron dos mujeres del grupo Samois como ama y esclava. A pesar de que el artículo está escrito en clave de ficción y fue publicado originalmente en una antología de relatos cortos, el programa televisivo sobre el S/M no pertenece a la ficción, sino que se desarrolló tal y como lo describe Walker:

Imaginaos, pues, nuestra sorpresa cuando muchas vimos en televisión un monográfico sobre el sadomasoquismo la noche antes de que finalizara nuestro curso, y la única pareja interracial, dos lesbianas, se presentaron como ama y esclava. La mujer blanca, la única en hablar, era el ama llevaba un anillo en forma de llave que, según ella, entraba en el candado de la cadena que rodeaba el cuello de la mujer negra y la mujer negra, sonriente y silenciosa, era al decir de la mujer blanca, su esclava…

Esta única imagen subvirtió toda mi enseñanza y me indigné pensando en la dura pugna de mis alumnas por deshacerse de los estereotipos, por combatir los prejuicios, por ponerse en el lugar de la mujer esclavizada, para luego tener que presenciar cómo su lucha se convierte en burla, cómo la verdadera condición de esclavas de millones de nuestras antecesoras se trivializa con la ayuda de dos mujeres ignorantes que insisten en su derecho a representar públicamente una “fantasía” que continúa infundiendo el terror en los corazones de las mujeres negras. También hubo vergüenza e indignación en los corazones de gran parte de las mujeres blancas de mi clase.

Una de las alumnas blancas, que parecía mantener una estrecha relación con el grupo S/M de la localidad, dijo que no veía nada malo en lo que habíamos visto por televisión. (En el programa aparecieron por cierto varios varones blancos, propietarios de mujeres blancas a las que tenían como “esclavas”. Aseguraron incluso tener documentos legales que lo certificaban. Y, de hecho, uno de ellos desfilaba orgulloso por la ciudad con su esclava que llevaba un látigo entre los dientes, “prestándosela” a otros sadomasoquistas para poder azotarla). Todo esto son fantasías, dijo. No hacen daño. La esclavitud, la verdadera esclavitud, pasó a la historia.

Pero no es cierto… y el libro de Kathleen Barry sobre la esclavitud sexual de las mujeres, así como el de Linda Lovelace sobre este tipo de condición de esclava no son las únicas muestras de este hecho415.

Pat Califia decidió despachar el artículo de Alice Walker en dos frases totalmente despectivas, incluidas en el libro de Samois, Coming to Power: “… En un intento de demostrar el racismo del S/M, Walker se refiere a estas mujeres el ama y la esclava del programa de televisión como una dominante blanca y una sumisa masoquista negra. En realidad, el ama de la pareja es una lesbiana hispana”416. Éste es el grado de seriedad con que el grupo Samois, evidente modelo del Grupo británico de lesbianas S/M, trata el tema del racismo.

El Grupo británico de lesbianas S/M, con el apoyo del English Collective of Prostitutes (ECP) y de Wages Due Lesbians dos subgrupos aglutinados en Wages for Housework Salario para el trabajo doméstico, una organización claramente antifeminista que intenta meter cuña siempre que se trata temas de mujeres que puedan perjudicar el movimiento de liberación de las mujeres, acudió a una reunión de un grupo de feministas lesbianas londinenses que se proponían organizar una campaña contra la propagación de la política S/M. Una mujer del ECP adujo un argumento en favor de la utilidad del S/M en las relaciones sacado de la habitual literatura apologista del S/M: en las relaciones entre mujeres negras y mujeres blancas, los rituales S/M podían ayudar a nivelar los desequilibrios de poder o, cuando menos, ayudar a comprenderlas. Esta mujer blanca no explicó quién debía representar la dominante y quién la sumisa en estas relaciones. En el ejemplo antes citado la sumisa era una mujer negra. Pero incluso suponiendo que no siempre sea así, ¿podemos pensar realmente que la interpretación de ciertos rituales racistas contribuye a la eliminación del racismo, incluso aunque en

413 Gay Black Group, “Letter to the Editor”, Capital Gay, Londres, 14 febrero 1984. 414 Alice Walker “A Letter of the Times, or Should This Sadomasoquism Be Saved?”, en Robin R. Linden y cols. (comps), Against Sadomasoquism: A Radical Feminist Analysis, Palo Alto,

Calif., Frog in the Well Press, 1982, págs, 206-207. Reimpreso en A. Walker, You Cant’t Keep a Good Woman Down: Stories by Alice Walker; NY, Harcourt Brace, 1981, págs. 118-123

415 Alice Walker, “A Letter of the Times”, 1982, pág. 207. 416 Pat Califia, “A Personal View”, 1982, pág. 268.

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algunos casos la relación de poder no esté representada por un ama blanca y una esclava negra? En la literatura pornográfica masculina la mujer negra es siempre la víctima sumisa esclavizada o la dominatrix. Los rituales S/M sólo pueden coincidir con uno u otro de estos estereotipos. El S/M no ofrece ninguna posibilidad de rehuirlos.

EL SADOMASOQUISMO, ¿TIENE REMEDIO?
En Coming to Power, Pat Califia apunta que algunas mujeres del grupo Samois descubrieron que algunos de sus principios eran contrarios a la práctica del S/M y que este hecho causó problemas en el grupo. No explica cuáles fueron estos principios y no parece estar de acuerdo con ellos; podemos suponer que se trataba de cosas como la exhibición de esvásticas o de rituales en los que las mujeres negras hacían de esclavas. Hasta la fecha las mujeres S/M británicas no parecen tener remordimientos de consciencia: al menos una ha sido vista luciendo esvásticas. Pero, a consecuencia de las críticas recibidas, ¿pueden las defensoras del S/M “purgar” sus juegos eliminando el aparente simbolismo racista? (Hasta ahora, su respuesta a estas críticas ha consistido en apodar de fascistas y racistas a quienes se oponen a ellas, en amenazar con no permitir las reuniones públicas sin la presencia de lesbianas S/M vestidas de uniforme, y en impedir el debate).

El ritual S/M supone la connotación erótica del dominio y de la sumisión y la dramatización de la opresión. Las almas delicadas podrían omitir los guiones de nazi y judío o de esclava y ama y, aun así, les quedarían suficientes guiones y trajes que simbolizan la opresión sexista: las imágenes relacionadas con la prostitución y el acoso sexual o simplemente los estereotipos fetichistas de género, con un personaje vestido de motorista duro y el otro, con corsé y volantes, de un modo afeminado. ¿Es ésta una solución?

Aparte del hecho de que la iconología seguiría siendo repugnantemente sexista y heterosexista, toda connotación erótica del poder, toda exaltación de la opresión sólo sirven para fortalecer los valores que ayudan a perpetuar todas las formas de opresión. Tanto la opresión racista como el sexismo se apoyan en ciertas ideas sobre la legitimidad del poder, en la violencia como una manera justa de tratar a quienes están condenados a la inferioridad, y en la conveniencia y la inevitabilidad de los desequilibrios de poder. La práctica del S/M reafirma estos valores. No permite la existencia de valores alternativos. Si nos comprometemos con la idea de una sociedad donde ningún grupo de la población esté sometido a violencia, discriminación y explotación alguna, debemos elaborar una práctica sexual que refleje la sociedad que queremos crear. En caso contrario, estamos diciendo que el sexo y las emociones que lo acompañan no tienen ninguna relación con el resto de nuestra vida, ni relevancia política alguna. Una práctica sexual deseable descansaría sobre la reciprocidad, los cuidados y la igualdad. Lo cual es naturalmente un anatema para quienes defienden el S/M. Los defensores varones del S/M como Jeffrey Weeks llaman a este tipo de práctica bambi y las lesbianas del grupo Samois, vanilla vainilla417. Ambos términos demuestran desprecio y pretenden provocar rechazo, insinúan que una práctica sexual igualitaria carece de intensidad, que es monótona y sólo apta para blandengues.

Las defensoras y los defensores del S/M saben que son el blanco de la crítica política y, por consiguiente, algunos han desarrollado una justificación ingeniosa. Hace algunos años un miembro del grupo recientemente desaparecido Gay Left Izquierda gay dio una charla de promoción del S/M con diapositivas en un taller gay. Proyectó diapositivas de hombres vestidos con uniformes nazis que orinaban en la alcantarilla obligando después a otros hombres esposados y arrodillados a quitar su meada a lametazos. Le pregunté intrigada cuál era la relación con el socialismo. Empezó diciendo que, en realidad, no tenía nada que ver con el socialismo, que se trataba sólo de una práctica sexual. A continuación ofreció una justificación que algunos seguidores norteamericanos del S/M que proceden de la lucha política se han visto obligados a elaborar. Dijo que la práctica del S/M ayudaba a sus practicantes a comprender las diferencias de poder que existen en el mundo y a combatirlas con mayor eficacia. (Véase también el argumento arriba mencionado del EPC y el Grupo británico de lesbianas S/M). Un defensor norteamericano del S/M resumió esta justificación:

Tal vez una de las maneras más efectivas de luchar contra el poder político e incluso de invalidarlo consiste en comprender los impulsos de poder y sumisión dentro de uno mismo e integrarlos, en vez de tratar de extenderlos a los sistemas políticos. La participación en el S/M suele anular la “necesidad” del individuo de oprimir y ser oprimido, de manipular y ser manipulado tanto en el plano social como en el político. Esta es otra razón por la que los maníacos del poder lo rechazan con tanta vehemencia. El S/M puede ser parte de una rebelión abierta contra la opresión social estructurada, lar que explica en parte por que entre los defensores del S/M se hallan sobre representados los anarquistas y los libertarios418.

Para este hombre la opresión parece ser algo que la gente “necesita” y desea. Este es un análisis lógico desde

417 Véase la aportación de Jeffrey Weeks a Gay, News, edición décimo aniversario, núm. 243, 1982. La palabra vanilla aparece con frecuencia en la literatura S/M lesbiana. 418 Ian Young. Observaciones en “Forum on Sadomasoquism” en Karla Jay y Allen Young (comps.), Lavender Culture Nueva York Harcourt Brace, 1978, pág. 104.

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el punto de vista del S/M, que considera la violencia y los abusos una “necesidad” y una elección. Se trata de un análisis totalmente particularista, sin relación con la verdadera opresión de la vida real. Es un argumento falaz y autorreferencial. ¿De qué manera podría la práctica S/M ayudar a desmantelar la industria militar o a enfrentamos a un grupo de matones fascistas, o cómo podría ayudar a una madre lesbiana a conseguir la custodia de sus criaturas?

Para luchar contra la opresión estructural necesitamos amor propio y la Idea de que exista la posibilidad de una alternativa a los ciclos de dominio y sumisión. Sólo nos puede guiar la certeza de que para conseguir la felicidad humana, sea de tipo sexual o no, no hay “necesidad” de que existan las estructuras del poder opresivo.

EL SADOMASOQUISMO COMO POLÍTICA

Quienes defienden el S/M reciben el apoyo de los liberales basándose en su reivindicación de la libertad individual y el derecho personal a perseguir la práctica sexual elegida. No obstante, el argumento de la libertad personal no es necesariamente progresista. Constituye el pilar de la política económica y social thatcheriana. Este argumento se apoya en la condición de que el comportamiento en cuestión no perjudica a nadie más que a la propia implicada. (Habrá quien razone que deberían existir límites al derecho de toda persona a infligirse daño físico a sí misma o a pedir a otra persona que le inflija daño físico. ¿Cuál seria nuestra responsabilidad frente a una escena de un brutal fist-fucking anal en relación con drogas y alcohol conscientes de que la práctica podría ocasionar terribles heridas o incluso la muerte? ¿Qué haríamos: intervenir, extasiarnos o desentendemos?) El fomento del S/M perjudica no sólo a quienes lo practican y, en realidad, se fomenta algo más que una práctica sexual; no es un pasatiempo, sino una política y una manera de vivir.

La exhibición de vestimenta S/M en actos públicos, manifestaciones, etc. trajes de cuero negro, esposas y tachuelas genera un ambiente de peligro y de congoja para todas las lesbianas presentes. Las lesbianas buscan a menudo la compañía exclusiva de mujeres para evitar el acoso y las intimidaciones de los varones presentes en la calle, en los anuncios y en la pornografía. Estamos acostumbradas a los agresivos varones «masculinos» que, como los Ángeles del Infierno, utilizan la vestimenta S/M como intimidación. No deberíamos tener que sufrir miedo junto a otras lesbianas o sentimos aisladas porque no conseguimos sobreponemos a esta inquietante vestimenta. Actualmente la vida social de muchas lesbianas londinenses está condicionada por la preponderancia de la vestimenta S/M, ya sea como una moda o como una prolongación de la práctica S/M. Estas lesbianas no son unas cobardes. Tenemos derecho a no sentir miedo. Tenemos derecho a que nuestros ambientes estén libres de violencia.

La exhibición de símbolos nazis y fascistas como esvásticas, gorras y abrigos de cuero negro de las SS, supone una grave ofensa y consternación para todas las lesbianas conscientes del significado del fascismo alemán en cuanto a la violencia y la muerte del pueblo judío y el gitano, las lesbianas, las personas con discapacidades físicas y mentales y, en general, para toda persona que no sea un varón blanco, gentil, heterosexual y sano.

La aprobación de la vestimenta S/M y concretamente de los símbolos nazis priva a la comunidad lesbiana de su capacidad de resistencia frente al verdadero auge de los valores y de la práctica fascista en la sociedad británica actual. No necesitamos esta confusión de distinciones. Debemos reconocer y enfrentamos abiertamente a cualquier intento de normalizar los valores o la conducta racistas y fascistas. Algunas personas que exhiben símbolos fascistas actualmente acosan y agreden a gays y concretamente a gays negros. Resulta más difícil señalar y repudiar los iconos fascistas y los valores “masculinos” y agresivos cuando éstos se han vuelto habituales en el ambiente social gay.

La connotación erótica del poder y de la opresión a través de la sexualidad, de la crueldad llamada S/M nos enseña a excitamos con los accesorios del fascismo. La política del S/M enaltece la atracción erótica del fascismo que ha sido grabada en nuestra sexualidad durante el aprendizaje de las respuestas sexuales en un sistema de supremacía masculina. Sólo la creación de una práctica sexual igualitaria se ajusta a una política antifascista.

La práctica sexual del S/M no cae del cielo, sino que es la expresión y el reflejo del creciente arraigo de los valores y la práctica fascistas en el mundo que rodea al gueto gay. Al igual que en la Alemania de los años 30, las agresiones racistas se multiplican. El militarismo contamina cada vez más la sociedad occidental. La pornografía y los anuncios se vuelven más violentos y sádicos hacia las mujeres. Tenemos un gobierno conservador que en nombre de una mayor libertad personal se dedica a limitarla. Se respira un ambiente de una tensión social y de un miedo cada vez mayores, mientras que la política gubernamental polariza las
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diferencias entre la población pobre y la rica, la negra y la blanca, las mujeres y los hombres. En este contexto el S/M puede considerarse no como un punto de partida innovador y radicalmente nuevo, sino como una fórmula para que las lesbianas traduzcan a sus relaciones personales todo el odio y el desprecio contra las mujeres, y más concretamente contra las lesbianas, que encarnan los valores fascistas. Tal vez se trate de una forma engañosa de autodefensa: si las lesbianas nos causamos miedo y dolor ahora, no estaremos tan desconcertadas cuando nos lo inflijan los demás en un futuro.

Quienes defienden el S/M alegan que su práctica sexual no afecta de ninguna manera su relación con las demás lesbianas y con el resto del mundo más allá del dormitorio, que sólo las conduce a sentirse más fuertes. En la Grecia de la dictadura militar y también en otros regímenes de extrema derecha, el entrenamiento de los aprendices de torturador consistía en torturarlos. Tal vez las lesbianas “sumisas” o Ms -la abrumante mayoría-pierdan parte de su sensibilidad en las torturas a que se someten voluntarias. Para formar un número suficiente de Ss, algunas Ms tienen que empezar a enseñar lo aprendido anteriormente.

La práctica S/M sí sale del dormitorio para invadir otras áreas de las relaciones entre lesbianas. El siguiente fragmento procede de un artículo en Coming to Power donde Susan Farr refiere los castigos físicos que ella y su amante se aplican con el fin de vencer los celos que sienten ante su respectiva no-monogamia:

Si azoto a Rae después de que haya tenido una relación sexual con otra persona, expreso además muy directamente mi rabia y mis celos. Sin duda es un ejercicio de poder. Me ofrece una salida para los sentimientos “negativos” y muy naturales que están ahí a pesar de mi compromiso con el principio de la no-monogamia. El castigo sirve además para aliviar la culpa de quien está teniendo la aventura amorosa, otro sentimiento “negativo” y natural que está ahí a pesar de la convicción de que los disgustos de un caso aislado de no-monogamia son preferibles a la asfixia de una monogamia sin tregua… Este debate sobre los rituales de castigo como respuesta a la no-monogamia es un ejemplo de cómo la agresión física puede ayudar a mantener una relación limpia419.

Las practicantes del S/M dirían que existe una diferencia entre lo arriba descrito y una relación de verdaderos malos tratos. Esta diferencia, asentada en la falsa premisa de que podemos dar nuestro consentimiento al abuso recordemos el viejo cuento según el cual a las mujeres maltratadas les encanta en realidad que abusen de ellas, puede borrarse con facilidad y los malos tratos convertirse en tremendamente perjudiciales para una de las dos implicadas, o para ambas. La superviviente S/M Marissa Jonel relata esta situación en el libro Against Sadomasochism420. Este tipo de malos tratos “consensuados” no ayuda a nuestra lucha como mujeres y como lesbianas por la reivindicación del derecho de las mujeres a una vida sin violencia y por no ser el blanco de la violencia. El S/M es mucho más que una práctica sexual. Es una manera de vivir y una visión del mundo que enaltece y legítima la violencia. Las relaciones de malos tratos disminuyen el potencial de las personas implicadas y de todas nosotras a encontrar alternativas para el manejo de los conflictos. Los malos tratos entre lesbianas con los que éstas descargan su antilesbianismo y su odio hacia sí mismas, constituyen un serio problema para la comunidad lesbiana y no son un juego.

Es importante que comprendamos que se está promocionando una política del sadomasoquismo y no solamente una práctica sexual. La táctica de las implicadas así lo demuestra. Las defensoras del S/M, con el pretexto de su condición de minoría oprimida, portaron una pancarta S/M durante la manifestación del Orgullo Lesbiana en junio de 1984. Muchas lesbianas que tenían noticia de la pancarta no participaron en la manifestación, y otras muchas decidieron ese mismo día no participar. Las defensoras del S/M sabían que su presencia dividiría a las lesbianas y excluiría a muchas de la manifestación; sin embargo, las encargadas defendían el derecho de las tres lesbianas S/M a perjudicar la unidad de las lesbianas y a manifestar su política de esta manera y desoyeron todas las objeciones. Las defensoras del S/M provocan deliberadamente estas confrontaciones y las consiguientes escisiones de la unidad política. En los EE.UU., Samois empezó destruyendo la unidad de las manifestaciones del día del Orgullo Gay, intentó dividir a continuación el colectivo del centro de mujeres de San Francisco al solicitar un espacio de reunión, y acabó intimidando v acosando a las librerías feministas que se negaron a exponer sus folletos de promoción en un lugar de preferencia. El Grupo británico de lesbianas S/M también ha tratado de solicitar un espacio en el centro de mujeres de Londres Central, A Woman’s Place. Lo mismo ocurrió en el Centro Lesbiana y Gay. A pesar de la oposición de la inmensa mayoría de las socias feministas lesbianas del centro, en junio de 1985 les fue concedido su espacio.

Esta campaña organizada con el fin de sembrar la confusión, la desunión y el miedo más allá de toda proporción numérica se parece totalmente a una táctica fascista. Confiando en el apoyo del liberalismo crean confrontaciones para meter una cuña en la oposición y reducir nuestra capacidad de reacción frente a los valores y la práctica fascistas. (Un ejemplo de cómo los fascistas utilizan esta táctica es la reciente petición de

419 Susan Farr, “The Art of Discipline: Creating Erotic Dramas of Play and Power”, en Samois (comp.), Coming to Power, 1982, pág. 186. 420 Marissa Jonel, “Letter from a Former Masoquist”, en Linden, Pagano, Russell y Star (comps.), Against Sadomasoquism, 1982, págs. 16-22.

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ayuda del Frente Nacional al Consejo Nacional de Libertades Civiles. Pretendió dividir el NCCL y, de hecho, consiguió causar enormes problemas.) Lo que está ocurriendo va mucho más allá de la lucha de una minoría “oprimida” por su derecho a vivir su práctica sexual. El S/M es una política con una estrategia sólida que incluye la intimidación a manos de mujeres vestidas de uniformes de cuero negro. Raras veces un grupo “oprimido” ha actuado de una manera tan opresiva y potencialmente destructiva.

Las consecuencias de la política S/M son demasiado alarmantes para ignorarlas. No sólo la política feminista, sino toda política antirracista, antifascista y anticapitalista parten de la idea de que las personas oprimidas no persiguen, necesitan o desean su opresión. El gran mito aglutinador de la democracia occidental es el del consentimiento. En el pensamiento democrático de Occidente, todos los grupos de la población consienten en el sistema de gobierno.

Para ellos el consenso existe. En realidad, esto no es así. Solamente los varones blancos con propiedad están capacitados para dar un verdadero consentimiento a un sistema político que habitualmente degrada, explota y controla a todas las demás personas. El S/M, para justificarse, manipula políticamente la noción de consentimiento. La idea de que alguien pueda perseguir deliberadamente el abuso y la degradación es muy fácilmente extrapolable a la justificación de los sistemas políticos opresivos; de ahí el principio básico fascista de que las masas “necesitan” un dirigente fuerte. Por consiguiente, el principio político básico del S/M contradice nuestra lucha por un Sistema Político basado en el derecho de todos los seres humanos a la dignidad, la igualdad, el amor propio y la autonomía.

La sexualidad de la crueldad, a saber, el S/M, no es ni innata ni inevitable. Aunque muchas hayamos experimentado fantasías y prácticas en torno a los valores S/M del dominio y de la sumisión, también tenemos experiencia en una sexualidad positiva con valores igualitarios. Hemos de promover y desarrollar esta sexualidad positiva. La experiencia de la opresión ha perjudicado nuestra capacidad de amarnos las unas a las otras con dignidad y amor propio, y no sólo con un intenso sentimiento de placer. Sin embargo, esta capacidad sigue existiendo. Podemos enfrentamos a todas las opresiones que nos quieren hacer amar la bota que nos golpea enviándonos de vuelta a la sumisión. Podemos optar por no mantener una relación amorosa con nuestros opresores. Podemos elegir una sexualidad que no participa de nuestra opresión, sino de nuestra política de la resistencia.