sobre assimetria etária nos relacionamentos lésbicos

uma perspectiva lésbica da questão e de como uma leitura heterocentrada dessa situação leva a uma conduta punitivista para com lésbicas

Vi uma postagem no facebook que ganhou repercussão e resolvi trazer o recorte diferencial de lesbianidade.
A postagem dizia:

“É problemático vc já ter 21 anos+ e namorar meninas de 15/16/17 anos. Bjs”

Estou totalmente de acordo com a frase, quando nos referimos a relacionamentos heterossexuais. Eu considero inequivocamente, abuso. Pedofilia.
Considero problemático relacionar-se com alguém menor de 18 sendo maior de 18 sim, também no caso das lésbicas, apesar de achar que existe uma diferença de alguém de 20 anos namorar uma menor de 18 e uma de 30 fazê-lo (não conheço muitos casos, apenas de ‘ouvir dizer’ e relatos, mas próximos a mim não).
Por que eu resolvi contextualizar essa frase?
Porque é por ditos assim, relacionados às análises do feminismo heterossexual, o feminismo que lida com questões da opressão de homens sobre mulheres desde a perspectiva de que mulheres se relacionam com homens, que se importam essas análises para os contextos de vida lésbico e se cometem ações indelicadas e precipitadas como por exemplo, a exposição destrutiva de lésbicas com relacionamentos com diferença etária. E daí não falo de lésbicas que namoram menores, mas casais lésbicos onde uma tem 23 e a outra 30 por exemplo, ou uma 33 e a outra 41. E eu considero isso um absurdo e definitivamente, lesbofóbico, ignorante sobre as diferenças entre as relações heterossexuais – onde um gênero estrutural oprime outro, num desequilíbrio que não é simplesmente micropolítico e relacional, mas em termos de peso político conjuntural, coletivo, homens possuem um poder radicalmente diferente do das mulheres autorizado e legitimado por milênios de história patriarcal, enquanto que lésbicas apenas estão tentando se amar a revelia da perseguição sobre elas (que parece que agora é realizada até mesmo pelo movimento feminista, por feministas lesbofóbicas e lésbicas heterocentradas) e dentro das condições possíveis, à margem da heterosociedade.

Considero assimetria etária uma questão sim, a ser refletida e problematizada, assim como outras questões de desequilibrio de poder, que precisamos considerar sim, porém de forma diferencial e com CUIDADO (coisa que vem faltando), nos relacionamentos lésbicos.

Faço a análise diferencial incluindo não somente o caso da frase mas os relacionamentos num geral com assimetria etária entre lésbicas. Pois ainda assim acredito que em relacionamentos lésbicos, ainda que eu não considere algo viável pra mim e eu não me relacionaria com alguém muito mais nova, acredito que é MUITO diferente de relacionamento hetero. E nem todas se encontram nesses relacionamentos por tema de querer encontrar alguém para exercer poder como os homens fazem.
Idade ainda estabelece uma diferença acho que sempre, pode haver um desnível de maturidade, que inclusive pode ser danoso ou prejudicial para – supresa, inclusive a lésbica mais velha. Muitas lésbicas se assumem tardiamente, querem um relacionamento estável, e lésbicas devido a solidão se apegam facilmente ao primeiro relacionamento que estabelecem, e já vi muitas sofrerem emocionalmente por irresponsabilidade afetiva devido a imaturidade de uma lésbica, que acredito ser normal que numa idade jovem não queira um envolvimento sério, ou não tenha tanta responsabilidade e cuidado, experiencia….. Isso é um por quê de eu rejeitar sempre lésbicas muito mais novas que eu e evitar por exemplo.
Eu acho que é meio lesbofobico sair julgando lésbicas como o clássico ‘molestadora sexual’, como vi recentemente umas caçadas a bruxas bem problemáticas empreendidas dentro do ‘ativismo’ lésbico. Acho lamentável que uma pauta como ‘escrachar lésbica’ esteja por cima do assassinato diário de lésbicas que é totalmente invisibilizado até mesmo pelo feminismo, que não toma como frente de luta na luta pelos feminicidios. É patético! Escracho a lésbicas virou uma moda meio pós-moderna e somente contribui para depreciar nossas comunidades, criminalizar lésbicas, que são criminalizadas e tratadas como monstros já tem séculos.

Muitas lésbicas namoram minas mais novas até porque é justamente difícil conhecer outras lésbicas, por conta da propria invisibilidade lésbica. A lésbica sofre de um problema chamado SOLIDÃO LÉSBICA. Lésbicas são isoladas, marginalizadas, abandonadas, expulsas de suas casas, circulos de amizade, isoladas na escola, sofrem bullying, sofrem problemas de auto-estima e são todas por isso mesmo, carentes, são privadas de muitas fontes de afeto como familiar, escolar, social. Algumas vivem em contextos em que mal conseguem conhecer uma sapatão para ser amiga que seja então a primeira sapa que aparece ela se vincula, de forma profunda, todo mundo sabe e até faz piada de como lésbicas estabelecem relacionamentos sérios rapidamente. Então as vezes a sapa que ela conhece possui assimetria etária para com ela! Pensem não em São Paulo ou Porto Alegre, mas sim em cidades do interior, do litoral, religiosas, pensem nos lugares onde nem chega o feminismo como as quebradas, etc. Tipo é total diferente a relação lésbica, porque na relação heterossexual existe sim a INTENCIONALIDADE de abuso do homem, tem toda uma relação estrutural e historica de poder, homens sempre vieram se relacionando com mulheres mais novas pelo motivo de: exercício de poder, pessoas mais fáceis de manipular, mais vulneráveis. E pelo padrão pedofilo misógino. Já lésbicas acho que deveria haver um cuidado maior antes de sairmos julgando os relacionamentos lesbicos comparando a heterossexuais e comparando lésbicas a homens, ou tachando de abusadoras de menininhas, é lesbofóbico! Heterocentrado! Não que não haja talvez impacto de uma construção que valoriza a beleza jovem, mas não é SÓ isso nem SEMPRE isso! E se existe isso, a gente reflete, questiona, desconstrói, e não racha, julga, estigmatiza!
Acho que é massa a gente pautar sim, e que possamos ajudar relacionamentos lésbicos com assimetria etária a serem igualizados, e não sair julgando lésbicas como agressoras de abusadoras. Isso é muito pos-moderno e identitário, a pedofilia é uma coisa muito real realizada pelos homens mas é mais fácil para muitas feministas ficar atacando outras mulheres que atacar o inimigo que são os homens que estão abusando e engravidando meninas todos os dias.

Precisamos entender os contextos de vida lésbicos, problematizar as coisas sempre, fazer autocritica e reflexão sempre, mas com cuidado e empatia, analisando sempre o contexto lésbico com ferramentas teóricas lésbicas, sequer feministas eu diria, pois necessitamos de outras analises sobre nossas vivências, menos tachativas e menos heterocentradas.

Mantendo que sim, eu considero problemático, que jamais me relacionaria com menores de idade, que eu não acho positivo relacionamentos com muita assimetria etária, mas que considero que é preciso uma análise diferencial antes de julgarmos casais lésbicos que se encontram nessa situação.

E daí eu acho pesado, tem um caso próximo a nós e outro casal conhecido meu que ambas lésbicas mais velhas sofreram perseguição e foram demitidas da faculdade por se relacionarem com uma mulher mais nova que foi ex-aluna.
Tipo obvio que acho escroto relação com aluna, mas no caso as mulheres já tinham até se formado. E ambas são caso tipo, casal em que uma tem 30 e a outra 40, outro que uma tem 26 e a outra acho que 40 também… pode ter desequilibrio? Acho que sim! Mas aí acho que podem haver casais com muitas questões a gerar desequilibrio, classe, raça, idade, será que é possível encontrar configurações de casais lésbicos tipo com mesmo patamar de empoderamento totalmente? As pessoas não são agentes para aprenderem a equilibrar esse cenário? Senão declaramos também que as relações entre lésbicas são impossiveis porque estabelecemos idealismos políticos inatingiveis.
Essa penalização JAMAIS ocorre com a maioria de homens professores que sabemos que abusam ou saem com as alunas e orientandas, e isso sim é nefasto, muitas vezes traindo suas companheiras. Eles não são expulsos de unviersidades. Professoras lésbicas sim. São difamadas e afastadas.
Eu vejo aí a questão de que é muito mais fácil expôr uma lésbica depreciativamente e de forma criminalizadora do que expôr a um homem abusador, a coisa se reverte, o estigma de abusadora, predadora e molestadora, já existe para lésbicas. Elas são vistas como pervertidas sexuais historicamente, a sociedade tem facilidade em ver a lésbica assim, difícil é ver os homens assim.
É fácil expôr lésbica. Mas danoso pras lésbicas como um todo.
Claro que não dá pra generalizar casos. Obvio que existe – e muito – exercicio de poder nas relações lésbicas. Obvio que tem que haver responsabilização, problematização, reflexão.

Eu não estou com a intenção desse comentário impedir de problematização as relações com assimetria etária e muito menos normalizar relações de lésbicas mais velhas com adolescentes.

O que eu considero equivocado nisso tudo é a exposição.
Ela tem uma faca de dois gumes. A sociedade hetero já acha que as lésbicas são predadoras e corruptoras de menores, tipo há um século atrás lésbicas iam presas por isso.
Professoras seguem sendo demitidas por conta desse estigma, professoras lésbicas em escolas, sofrendo difamações discriminatórias.
Enquanto isso professores que abusam ou saem com alunas seguem com suas carreiras sem qualquer problema até fazendo novas vítimas.
Minha ultima reflexão sobre a moda de exposições de lésbicas como ‘abusivas’ é também de que isso se trata da modernidade líquida também. É uma ética afetiva da contemporaneidade da objetificação das relações. As relações não sobrevivem mais ao mínimo desentendimento ou desafio. As lésbicas do movimento feminista terminam um relacionamento e já saem expondo as parceiras e tachando os problemas de relacionamento como ‘violência’. Isso é banalização desse conceito. E é muito difícil não encontrar lésbicas que possam exercer questões como ciúme, possessividade, e cair em padrões de controle ou de manipulação muitas vezes sem conseguir enxergar ou ver. Porque a gente tá falando de mulheres, mulheres tem cenários familiares e histórias afetivas por exemplo de abandono paterno ou materno, lésbicas podem ter frieza materna ou sentirem-se sem familia e se apegarem de forma meio ‘obcessiva’ em seus relacionamentos, elas tem medo de abandono ou de perder a companheira, elas tem historico de abuso sexual infantil, que pode levar à respostas subjetivas que foram catalogadas pela psiquiatria por nomes como transtornos de ansiedade, de conduta, borderline… Pode haver muitas questões num relacionamento lésbico, mas aí já se termina a relação e sai com uma exposição destrutiva na internet, isso é absurdo, as pessoas podem mudar, podem se trabalhar, podem se comprometer com o auto-cuidado, aliás quantas lésbicas tem dinheiro pra pagar uma psicóloga por exemplo? Várias questões. Mas ao invés de se propôr a esses desafios de empoderamento numa relação as pessoas saem com ataques virtuais mútuos. Só desmoraliza nossa comunidade… Ninguem problematiza homens anarqusitas por exemplo vendo essas exposições? É um desserviço e bem pós-moderno.

 

Concordo que é totalmente absurdo. Se for pra ser assim acho que praticamente todas as lésbicas que conheço tem que ser julgadas na praça pública virtual do escracho, afinal são garotas mais novas que namoram outras mais velhas. Não sei como as feministas conseguem achar abusivo só de olhar uma mina mais velha com outra mais nova, sem nem saber às vezes qual é a diferença de idade e, também, sem saber se as duas estão felizes e as coisas andam bem ou se não. As pessoas só querem saber de condenar, nem ajudar a problematizar questões para que as relações lésbicas não precisem acabar drasticamente por causa de todas as dificuldades psicológicas e emocionais que nós bem conhecemos essa gente quer.

 
 

essa discussão rende
a sociedade toda ocidental venera a juventude e todo mundo não consegue fazer um aniversario tranquilo sem sentir que esta ficando mais velha e que isso é horrível, principalmente para mulheres.
eu acho que quem é mais velha especialmente lésbica só se fode e se fodeu enquanto que vem uma geração que tem muitas outras oportunidades que vc nao teve e mtas vezes graças ao esforço que vc fez e não tem reconhecimento das gerações mais velhas nem respeito.
leio as lésbicas separatistas reclamando da entrada de lesbicas mais jovens no movimento e o confllito com as lesbicas mais velhas, butches, etc, q sofreram varios tipos de violencia policial e vieram duma epoca de bares e clandestinidade, usufruem as conquistas mas não valorizam as mais velhas, pelo contrário apenas por observar a 3a onda feminista e o queer como se estabeleceu como um discurso de ‘feminismo jovem’, que tá ‘revolucionando’ esse feminismo ultrapassado de velhas dos 70. (vejam aquele filme ridículo Itty Bitty Comittee).
lésbica mais velha que é mais oprimida. Inclusive pelo Capital mesmo, os anuncios de emprego dizem q a vaga é de gente até sei la 26 anos, 30 anos, 35 anos… qt mais vc envelhece menos espaço no mercado.

daí que me irrita esse negocio de querer colocar lésbica com mais idade como opressora no relacionamento, ainda mais as lésbicas que acho que elas estão é bastante vulneráveis num mundo deste.

lésbicas costumam trabalhar em coisas precarizadas, não cosntroem carreiras pq muitas vezes nao tiveram tb apoio familiar, elas nao tem familia mtas vezes que as aceita, ela tem essa necessidade de se vincular, de afeto, de carinho…. e vc envelhece e é cada vez mais difcil conhecer lesbicas, parece que toda socialdade lesbica é feita pra jovens, ate mesmo a militancia agora só tem gente mt jovem… dai se a mina de 40 fica com uma de 20 ela é abusadora? parem…

é uma irresponsabilidade total efetuar esse tipo de análise em vários níveis.
feministas se ‘tornam’ lésbicas depois duma trajetória heterossexual, daí aparecem no movimento trazendo toda uma carga de leitura heterocentrada e demandando que suas análises sejam validadas por todas a base de chantagem emocional com esses temas pesados como abuso, agressão… tem que aceitar senão você está as ‘desacreditando’ blabla… chantagismo e vitimismo… feminilidade…

as pessoas deveriam avaliar o quanto tem de seu nesses apontamentos, quanto é matéria subjetiva, de questões suas que você projeta nas lésbicas porque é um alvo mais fácil para a catarse e pra se eliminar, projetando suas relações traumáticas com homens nas lésbicas e lendo elas como homens, como abusivas, como opressoras, objetificadoras, especialmente as butchs, e daí demandando que o coletivo as condene e desmoralize.

Até mesmo a lésbica que tenha uma namorada mais nova ela vai ter mais medo de ser reprovada pela família se a apresentar porque o familiar a pode ver como uma ‘pederasta’ (a leitura clássica realizada sobre lgbts, pelos quais muitos foram castigados e presos, por exemplo o escritor Oscar Wilde), mas isso jamais ocorreria com o casal hetero onde um cara apresenta uma novinha porque é a LEI patriarcal.

Deveria haver um cuidado maior antes tomando em conta que se tratam de lésbicas, pelo menos essa consideração deveria haver.

as vivências são radicalmente diferenciais…

não que não haja uma construção de beleza que prevaleça entre lésbicas que seja afetada pela sociedade na qual ela vive, onde a mulher mais bela é a mais jovem por exemplo, e que isso impacte nas suas escolhas afetivas assim como gordofobia ou racismo… mas não é SOMENTE isso, tem outras questões também e não é apenas estética e objetificação….

e outra coisa é que esse debate condenando as escolhas afetivas e sexuais das lésbicas ou a atração entre lésbicas também me soa problemático, numa cultura onde o DESEJO LESBICO é visto como em si problematico, ameaçador, predatorio… toda repressão sexual que recai também sobre as lésbicas… essa problematização excessiva do feminismo (heterocentrado) em cima da sexualidade lésbica eu acho uma perda de tempo, com tantas outras coisas urgentes, você problematiza a sexualidade lésbica, o que as atrai, como elas gozam, como elas fazem sexo… com toda opressão que lésbica vive ainda tem que se preocupar se a forma em que goza é problematica ou se as pessoas com quem sai estão sendo oprimidas por ela ou se é adequado ao feminismo, se a pessoa é magra, é branca, você não pode vivenciar sua sexualidade sem a CULPA, sem o remorso, sem medo, e sem juízo público em cima do seu relacionamento e sua buceta…. Não que não sejam eixos a serem refletidos, nas nossas relaçoes, isso faz de nós lésbicas feministas… o pensamento crítico, a prática crítica da lesbianidade… mas não da forma como vem ocorrendo, que só reestabelece uma Inquisição e um policiamento agressivo da vida privada das outras… isso recai no individualismo. O feminismo radical reconhece que somos construídas numa sociedade patriarcal e que é duro o trabalho de desconstrução… mas enquanto lesbicas se preocupam excessivamente com sua desconstrução, as feministas heterossexuais estão transando com homens, agentes diretos do genocídio das mulheres e lésbicas no mundo, e não pode problematizar porque é ‘culpabilizador’. Culpabilizar lésbicas é sempre OK.
A militância quando coptada por pós-modernismo e identitarismo, se torna isso, individualista, as militantes ficam problematizando a vida privada das outras ao invés de lutar contra políticas estruturais que ameaçam nossa sobrevivência imediata.

 
 

Quando saí do armário, eu tinha uns 18/19 (não lembro direito ahah mas foi por aí). Eu já me atraía por minas antes, mas não me nomeava lésbica, tive essa coragem nesse momento da minha vida então considero este o marco, inclusive ao me nomear e me tornar visível para mim e as demais, pude vivenciar meus desejos lésbicos de forma concreta, e passei a sair com outras lésbicas.

Neste momento, eu saí com lésbicas mais velhas que eu. A segunda lésbica que eu fiquei tinha 30 anos. A terceira tinha 27, depois dela saí com uma Argentina por um mês, com a qual aprendi meu espanhol inicial, ela tinha 24.

Eu até queria ficar com alguma da minha idade, mas não rolava rs. Hoje eu busco lésbicas mais velhas, de 30 para cima, e não as encontro facilmente.

Eu não acho que elas eram oportunistas que queriam sair com uma novinha. Eu acho que foram encontros bonitos que surgiram, e elas foram essenciais para eu me entender lésbica. Eu valorizo e guardo essas lésbicas na memória como mentoras, como pessoas que me fizeram visíveis para mim, que me ajudaram na minha autodescoberta, como lésbica, sexual, afetiva… a entender minha história como lésbica, ao conhecer a delas, de como se fizeram lésbicas… Eu nunca mancharia essas memórias com idéias tão distorcidas como essas de abuso de menores, de aproveitar-se da mais vulneravel… Eu era mais vulneravel que hoje sim, mas eu estava escolhendo, eu quis esses relacionamentos, e quis com elas porque sim, elas eram interessantes, mais que as meninas da minha idade naquele momento. Eram lésbicas de artes plásticas, cênicas, cinema, psicologia jungiana, de outros países…

Eu não CONSIGO ver as lésbicas que eu saí como abusadoras, eu jamais chamaria uma lésbica de algo assim, eu celebro a existência lésbica e entendo que possam cometer erros. Eu já vivenciei relacionamentos vários onde esses erros foram cometidos comigo, eu terminei relacionamentos por isso, cheguei a ficar um mês em casa de várias pessoas porque fiquei na rua ao terminar um relacionamento nada positivo, no momento eu tive raiva da pessoa e a compreendia como minha agressora, era acionador vê-la e me afastei de espaços. Eu me afastei dela, nunca mais a vi. Eu deixei espaço político, mas fui a outros, criei outros também… eu não tenho mais nenhum sentimento por ela de raiva, mágoa. Passou. Ela não é mais um problema para mim… não a vejo… recriei minha vida… E por que? Por causa do autocuidado. Porque eu me responsabilizei de cuidar de mim, ao invés de ficar nutrindo ira e ódio e desejos de aniquilação de uma outra pessoa, e essa passagem ao ato de realmente danificar suas vidas que somente indica uma precariedade psíquica enorme.

Se você tem questões de uma relação passada, mágoas, acionadores… busque um tratamento, uma terapeuta, e veja. Porque a outra não é a total responsável da relação que produzimos. Você tem um padrão, você irá escrachar essa, e quantas mais? Até que veja POR QUE isso passa, o que há de participação minha nisso? Afinal uma relação não é inteira responsabilidade da outra, é uma RELAÇÃO, ainda mais se tratando de lésbicas, que não é uma relação de opressão estrutural. Que narrativa é essa que se repete, que você abraçou também? Em todas relações você irá se sentir assim, e vai repetir essa forma de relacionamento não saudável, é hora de você ver o que passa que você constrói ou cai em relações não-saudáveis e parar de ser tão dependende da outra, de que a outra inexista para que você possa existir após um término ou uma ruptura.

Se um trabalho é preciso ser realizado com as questões de opressão, um também é preciso ser realizado consigo mesma, um trabalho pessoal, interno. E acho que é isso que esses debates rasos sobre questão de relações lésbicas problemáticas esquecem.

 
 

relações humanas no sistema que vivemos hoje, são abusivas.
somos abusados no trabalho, nas ruas, na escola…
falam de gente que deixou de ir a espaços politicos, esquecem das várias que abandonam faculdade porque não aguentam mais a pressão e nem as pessoas…
as relações estão cada dia mais desumanizadas.
somos agredidas na internet, expostas, de formas terríveis, com adjetivos politicamente pesados que nos fazem nos sentirmos monstros, justo com relação à coisas com as quais nos preocupamos como racismo, classismo, misoginia, etc.
lésbicas sao chamadas de misóginas por radfems heteros, mulheres radfems chamadas de racistas… tudo ativistas, pessoas preocupadas com essas questões, que lutam para acabar com essas coisas… se sentem horríveis e abandonam tudo por se sentirem um desserviço…. gaslight…
as relações estão todas abusivas. isso é uma questão muito mais profunda, acho que não é somente feminismo que responde, mas ajuda. venho recorrendo a filosofia, psicologia… vejo que todos vem tentando resolver essa questão das relaçoes humanas há algum tempo. E acho que as respostas não são simples. Tentaram falar em comunismo, anarquismo, separatismo, permacultura… tantas propostas…
Mas é fato que precisamos de relações mais humanizadas. E nao acho que escracho e vilanização possam ir neste sentido.
um dispositivo no qual aposto é a clínica, a área de saúde, e gosto muito pelas éticas que permite… a ética de acolhimento, não julgamento, de oportunizar o sujeito um processo…
aposto na reflexão, no pensamento, na teoria…

 
 

eu concordo profundamente com tudo o que disse. Achei muito interessante você dizer que as relações estão abusivas em grande escala. Estamos numa época em que as pessoas estão cada vez mais dessensibilizadas para a relação e a aceitação de uma subjetividade diferente da própria. Identifico-me com o exemplo que você disse sobre a universidade. A hipocrisia e a competitividade voraz às quais as pessoas são treinadas no sistema conseguem superar vínculos com muito potencial entre mulheres. O problema é que as pessoas descrevem tal situação sem se colocar como agente nela… Tipo, sabe aquela desculpinha de “eu sou de tal signo” pra justificar uma atitude estúpida, por exemplo? Então… a desculpa na “militância” é a de “ah eu fui socializada a ser uma hipócrita imbecil competitiva e promotora da inveja e mesquinhez entre mulheres, coitada de mim não posso fazer nada a respeito, e não ouse dizer que posso, se o fizer você é agressiva” mimimimii. Eu chego a me sentir um tanto saturada dessa realidade.

 
 

eu gosto de lésbicas que tem um papo cabeça e uma certa maturidade. Acho maneiro sapas mais velhas… Não vejo porque as pessoas pensam que esse mimimi lesbofóbico é parte de uma prática política séria, afinal é o mesmo estigma de sempre que várias lésbicas sofreram. queria ver galera escrachando Beauvoir por exemplo que foi afastada do cargo por ter relação com alunas na UNIVERSIDADE, a mina foi estigmatizada como se fosse uma pedófila pervertida, como se fossem crianças as mina que ela ficava né cara. Absurdo…

 
 

" sabe aquela desculpinha de “eu sou de tal signo” pra justificar uma atitude estúpida, por exemplo? Então… a desculpa na “militância” é a de “ah eu fui socializada a ser uma hipócrita imbecil competitiva e promotora da inveja e mesquinhez entre mulheres, coitada de mim não posso fazer nada a respeito, e não ouse dizer que posso, se o fizer você é agressiva” mimimimii. ", excelente, perfeito é exatamente isso. e é bem delicado criticar a desresponsabilização sem que te acusem de culpabilizadora e misógina.

 
   

pois é a Beauvoir sofreu essa lesbofobia (mesmo se vendo como bissexual) sendo que todos camaradas intelectuais lá dela, cineastas e etc, saíram com novinhas de boas com aceitação sem perder o estatus de grandes artistas, que é o que geralmente passa com esses ‘referentes’ culturais.

eu não defendo de qualquer modo que as lésbicas não problematizem assimetria etária, mas elas tem que problematizar a lesbofobia e o escracho também, o heterocentrismo das análises e etc.

eu digo por mim, que eu não me senti abusada pelas mulheres mais velhas que eu saí até hoje, mesmo quando muito mais jovem que agora. eu não acho o relacionamento de amigas lésbicas com grande assimetria etaria como abusivos de maneira alguma, senão que grandes parcerias intelectuais e políticas. se a pessoa disser que seu relacionamento foi abusivo e que a assimetria etária foi uma questão, é o discurso e experiência DELA, não de todas lésbicas. Não dá pra fazer daí uma teoria geral política que funcione como uma equação para diagnosticar as relações lésbicas como um todo.