Os anarcoséculodezenovistas de hoje somente lançam confetes, e acusam as translésbixas pretas e pobres de intolerantes, elitistas, preconceituosas e bizarras por quebrarem estátuas de 2,99 e enfiarem santos no cu e na vagina
Toda esquerda heterossexual sai na largada para as olimpíadas da opressão, se utilizando do recorte de classe, para se eximirem da crítica aos seu privilégios enquanto pessoas cis, heterossexuais, homens e mulheres reivindicadoras da identidade feminina!!!
Na realidade é extremamente esperado que setores privilegiados da sociedade na sua maioria homens, brancos, classe medistas e heterossexuais saiam em defesa do “respeito a fé” condenando e repudiando um ato de contestação concreta a um pilar fundamental do machismo. Mesmo se posicionando dentro da “esquerda” não podemos esquecer que a violência direcionada pelos setores conservadores aos dissidentes do regime heterossexista não atingem os que obedecem o regimento sexual.
A performance incluía quebrar crucifixos e imagens sagradas, bem como inserir nas cavidades anal e vaginal as cabeças de duas santas. Tudo isso feito por corpos não-heteronormativos, não-brancos, não-bonitos – ou eu poderia dizer corpos queer, negros e considerados feios pelo capitalismo. Ao final da performance, todas as imagens foram quebradas. Para mim, a mensagem ali era muito clara, muito íntima também: era tornar gráfica a presença da religião em nossos corpos, através da inserção de estátuas no interior de corpos; e ao retirá-las, quebrá-las, rejeitando a presença de deuses que não adoramos, alienando-nos em relação àquele único bem que temos, no final das contas: nosso corpo.
Meu ponto não é, portanto, que não devemos ter liberdade religiosa, ou que o Estado não deva garantir este direito por enquanto, mas que precisamos perceber como o discurso da liberdade religiosa será sempre evocado para defender quem está no poder, e para calar quem o poder está oprimindo. Quem articula e quem garante que liberdade religiosa seja uma mulher não poder destruir um símbolo sacro da Igreja Católica é a mesma pessoa que defende e garante que liberdade religiosa é um homem cisgênero e heterossexual poder fazer campanha pelo Brasil contra os direitos reprodutivos das mulheres e das pessoas sexodiversas. Não é no mínimo curioso que liberdade religiosa seja, ao mesmo tempo, a liberdade de oprimir e a liberdade de calar quem está sofrendo a opressão? Não é no mínimo engraçado que, ao mesmo tempo, a liberdade religiosa seja a capacidade da Igreja de se organizar para atacar nossos direitos, e a liberdade dela não ser contestada por nós? É preciso questionar o que essa liberdade religiosa é atualmente, se é assim mesmo que a queremos, e se é do Estado que queremos que ela parta.
A exigência de respeito a imagem da santa é uma forma de ofuscar os pudores e as regras impostas aos comportamentos das mulheres e mascarar a presença massiva de mulheres brancas nesta representação. Vai me dizer que as negras são amaldiçoadas? como se justifica a insignificante quantidade de santas negras existentes?
Enquanto as santas existirem propagando a passividade, a virgindade e a fragilidade, as freiras continuarão submissas e invisibilizadas pelos padres, bispos e papas, bem como as mulheres seguirão sendo mães, frágeis e passivas frente a força, brutalidade e agressão de homens.
Abaixo a heterossexualidade como regime político!!!
Fora esquerda heterossexista e transfóbica!
Toda solidariedade ao coletivo Coyote e a Marcha das Vadias!!!!
este texto é uma compilação de escritos com alterações de aneka, bim bee, eusoumonstrx e juno