texto em inglês: communitywiki.org/DoOcracy
Fazer(o)cracia¶
Uma fazer-cracia (em inglês, do-cracy) é uma estrutura organizacional na qual indivíduos escolhem funções e tarefas para si mesmos e executam-nas. As responsabilidades se vinculam à pessoa que faz o trabalho, ao invés de aos oficiais eleitos ou selecionados.
O termo é popular entre os libertários aficionados por gerência e os participantes do BurningMan (festa de música eletrônica nos EUA). Ele também possui uma natureza Zen que pode ser muito difícil para algumas pessoas compreenderem. “Por que o Leão é quem posta tantas boas ideias na CommunityWiki?” “Porque o Leão posta boas ideias na CommunityWiki.” Fazer uma tarefa é em si mesmo uma justificação para você ser a pessoa que realiza aquele trabalho.
Um exemplo de fazerocracia: 30 pessoas querem ir ao Burning Man e acampar lá juntas. Maria pergunta na lista de email, “E se a gente organizasse uma vaquinha para a comida e assim cozinhamos e comemos junto?” Outras respondem, “Claro, quero fazer parte,” ou “Posso fazer um bolo na sexta de noite.” (Ou, mais comumente, ninguém responde!) Em breve, Maria estará ligando para os amigos que vão acampar para emprestar potes, panelas, utensílios, postará semanalmente os menus na lista de email, comparará as diferentes restrições alimentares das pessoas, coletará dinheiro para a comida, e organizará idas ao mercado para comprar os suprimentos. No acampamento, ela colará folhas para que as pessoas se voluntariem para os trabalhos de cozinha e limpeza, responderá perguntas, e irá se enfiando onde outras pessoas não podem fazer (ou não estão fazendo) seus turnos.
Um novo acampante pode resmungar, “Credo, por que a Maria tem que decidir o que todo mundo come e quando tem que trabalhar? Quem disse que ela manda?” Pessoas mais velhas e sábias dirão, “Isso é uma fazerocracia. Se você acha que pode fazer o trabalho de Maria, e você quer fazê-lo, então vai lá e faz. Provavelmente ela ficará aliviada. Se não quer, então não seja um idiota e pare de fazer alarde, senão ela deixará de trabalhar tão duro e nós não teremos mais o que comer!”
Um segundo exemplo: numa corporação de tamanho médio, o grupo de TI se tornou rígido e indiferente às necessidades dos seus usuários. Requisições vindas de outras partes da empresa pedindo software ou hardware são cumpridas com atitudes condescendentes, procedimentos super formais, possibilidade de estorno, orçamento excessivo e longos atrasos.
Enquanto isso, uma dupla de designers gráficos no departamento de marketing aprendem por conta própria PHP durante um final de semana para poder colocar no ar o site de enquetes de um cliente na segunda de manhã (um trabalho que a TI disse que faria em 14 meses). Em breve, outras pessoas do departamento de marketing estarão pedindo às designers aplicativos web para compartilhar ideias com os clientes, controlar horas dos contratantes, e organizar o campeonato de futebol da empresa. A notícia se espalha: “aquelas minas que se vestem de preto no Marketing” farão todo tipo de aplicativos web pra quem estiver precisando. O gerente dos designers contrata outro “designer” para lidar com o aumento do número de pedidos.
As coisas vêm a tona quando um dos maravilhosos projetos de 36 meses da TI é cancelado porque “o aplicativo que a galera do Marketing fez está bom o suficiente.” O departamento de TI lança um decreto no email da companhia dizendo que softwares “piratas” “não terão suporte” da equipe de TI e que eles são uma forma inapropriada de usar a propriedade da empresa (a rede). Numa reunião executiva, o gerente decide separar “as minas do Marketing” e formar uma nova “força tarefa experimental para aplicativos”, relegando a IT à manutenção de rede e suporte de mesa.
Condições necessárias¶
A fazerocracia aparece espontaneamente em grupos onde:
- Os riscos são baixos. Tipicamente, se o trabalho X ou a tarefa Y não for realizada, ou feita porcamente, isso não implica em uma situação de vida ou morte.
- A autoridade é não-coercitiva.
- Há muito trabalho. Existe um montão de trabalhos para serem feitos, e um monte de gente pra fazê-los.
- O esforço é recompensado com reconhecimento.
- Cultura da participação. Cada membro da comunidade se vê no direito e no dever de pegar responsabilidades.
Contraste¶
Democracia. Numa democracia, todo mundo tem algo a dizer sobre o que for feito. Numa fazerocracia, todo mundo realiza os trabalhos que acha que precisam ser feitos sem que ninguém precise dar pitaco (mas pode dar).
Meritocracia. Numa meritocracia, as pessoas mais qualificadas são selecionadas para fazer um trabalho. Numa fazerocracia, quem quer que faça o trabalho, faz o trabalho, não importando o quão qualificada ela seja.
Perigos¶
- Exaustão. Certas pessoas podem se tornar muito apegadas ao sistema fazerocrático e se voluntariar para muitíssimas tarefas ou funções, e acabar não conseguindo fazer nada.
- Despotismo. O poder pode subir à cabeça de uma pessoa que se colocou no controle de uma série de coisas necessárias (rede, vaquinha da comida, etc.) e começar a exigir recompensas ou tributos pelo seu trabalho.
- Frustração. Algumas pessoas não têm o tempo ou os meios de fazer certa coisa, mas têm (de fato ou imaginariamente) a competência para fazê-la. Numa fazerocracia, elas se sentirão atropeladas e a situação parecerá sair do seu “controle”. Isso pode causar frustração. E lembre: “O medo é o caminho para o lado escuro…”
- Processo justo. A fazerocracia nem sempre está explicitamente definida, o que implica perigos sobre as diferentes percepções do que é “justo”.
- Ressentimento. Se apenas uma minoria de participantes numa comunidade se fazerocratizar nos trabalhos mais difíceis, eles podem se ressentir dos outros que não estão se responsabilizando.
- O complexo do martírio. Algumas pessoas têm uma necessidade psicológica de trabalhar arduamente a maior parte do tempo, talvez porque elas busquem perseguição e sofrimento, motivadas pelo desejo de penitência. Numa fazerocracia, pessoas com essas necessidades psicológicas tendem a pegar mais responsabilidades e às vezes criam regras estritas para impor aos outros.
- Complacência. Se uma minoria pega firme, as outras podem se tornar complacentes e ignorar novas tarefas, já que “alguém vai fazê-las”.
- Exclusão social. Pessoas que não podem fazer coisas, ou escolhem não fazê-las, frequentemente são marginalizadas da tomada de decisão, que é o que compõe os dispositivos sociais.
- A Tirania da Falta de Estrutura.
Exemplos¶
Software de Código Aberto. Tipicamente, os grupos de Código Aberto se importam menos com qualificações, idade, e localização, e mais com quanto e qual a qualidade do trabalho que as pessoas produzem.
IETF. Os padrões da internet são escritos por… pelas pessoas que escrevem os padrões. Uma das mais famosas citações sobre a internet é de David Clark: “Nós recusamos os reis, presidentes, e as votações. Acreditamos no consenso e em rodar os códigos”.
A BitchunSociety? de CoryDoctorow?’s DownAndOutInTheMagicKingdom. Provavelmente uma forma extrema de fazerocracia.
Wiki.