Introdução - Dykes Loving Dykes

Introdução de Dykes Loving Dykes por Bev Jo, Linda Strega e Ruston
Tradução livre, não tão perfeita assim e aberta a críticas do original disponível aqui.

Nota da tradutora: Não sei se posso me chamar de tradutora, mas quando encontrei esse livro fiquei com muita vontade de ler e acho injusto ler sozinha. O material que trata do pensamento das autoras em português é muito reduzido e eu o julgo válido. Vou fazer este trabalho conforme minha rotina permitir e soltarei capítulo por capítulo. Conto com a ajuda de quem ler com sugestões (não traduzi o título, por exemplo, não acho necessário) e avisos de quaisquer erro que eu tiver cometido. As autoras estão cientes do que estou fazendo, autorizaram e encorajaram, porém sigo com medo de não dar certo.

Por que escrevemos este livro

Coloquei a versão atualizada no topo do blog, então todos os capítulos podem ser achados facilmente e em ordem. Cada capítulo é construído a partir do anterior, mas a maioria é independente, para ler e compartilhar.

2015 — Nós reposicionamos os capítulos, então o nosso Capítulo Um original, que era Lésbicas para Lésbicas, agora é o Capítulo Cinco. Nosso novo primeiro capítulo, Os Crimes da Humanidade, era a seção inicial do Capítulo Dois, Heterossexualidade Não é Compulsória, mas agora nós estamos iniciando nosso livro com este sendo um capítulo separado, já que o resto do nosso livro se direciona para o reconhecimento de que homens estão destruindo o planeta e que mulheres tem a capacidade de impedi-los.

Originalmente tínhamos 13 capítulos, mas não estão publicadas nossas três histórias pessoais e nosso resumo final.

Então aqui estão os capítulos:

Em 1990, nós publicamos nosso livro, Dykes-Loving-Dykes, a fim de compartilhar nosso entendimento sobre o que está errado na nossa comunidade Lésbica, amizades e relações e sobre como este dano tem minado o Feminismo Lésbico, Feminismo Lésbico Radical, Separatismo e Feminismo Radical em geral. Tudo o que descrevemos ou previmos se provou verdade. (Por exemplo, homens clamando para serem Lésbicas e destruindo nosso último espaço exclusivo para mulheres está alem da crença, mas agora eles são apoiados pela maioria das falsas feministas, assim como pelas Lésbicas liberais.

Então vinte e cinco anos depois, eu (Bev) estou atualizando nosso livro com novas informações e capítulos adicionais com a contribuição de Linda Strega.

Eu continuei postando novos artigos no meu blog que teoricamente poderiam se tornar um segundo ou terceiro livro se nós tivéssemos dinheiro e meios para publicar.

INTRODUÇÃO
A história do Lesbianismo é uma história de magia e sobrevivência1. Na maior parte do mundo, nos dizem para não existirmos, ou somos odiadas ou mentem sobre nós. No entanto, persistirmos em sobreviver. Lésbicas existem em toda cultura e país. Nós aparecemos onde não há outras de nós, vindas de povos que tentam ao máximo nos fazer amantes de homens comprometidos. Nós surgimos do nada, aparecendo feito ervas daninhas que não podem ser destruídas. Nós quebramos as bases da enorme estrutura de supremacia masculina.

Nossa paixão por sobreviver e encontrar cada uma através de grandes barreiras de distância e tempo é como o som das ondas do mar. Imparáveis. Como bruxas, somos uma história de horror que assusta a crueldade da humanidade. Somos ditas como produtos da imaginação. Como fantasmas, nós simplesmente não deveríamos ser. Como bruxas, nós somos assassinadas e apagadas. E como fatasmas de milhares de bruxas2, nós assombramos toda a humanidade3.

Lésbicas são parte da natureza. Como bruxaria, aranhas e cobras, nós horrorizamos porque o homem tem medo profundo da natureza. Nós lembramos a todos que patriarcado e heterossexualidade não são inevitáveis.

Nós ousamos sermos sapatonas. Este é o nosso crime contra a humanidade. Nós ousamos amar outras sapatonas. Isso é imperdoável no patriarcado. Mas nós não paramos. Nós queremos o melhor mundo possível para lésbicas e para todas as fêmeas, e isso também significa um mundo não poluído, selvagem, seguro para as outras criaturas na terra. A única maneira de salvar a Terra é acabar com o patriarcado. A única maneira de salvar a Terra é parando de apoiar homens e ser heterossexual. Nós não podemos evitar que homens e mulheres heterossexuais façam suas escolhas odiáveis de vida, mas como sapatonas, nós podemos escolher por não apoiá-los e em vez disso escolher amar nosso próprio tipo e criar verdadeiras comunidades lésbicas.

Este livro é sobre amar Lésbicas, o que significa lutar contra regras masculinas e heterossexismo. Isso é separatismo Lésbico. Somente dedicando nossas vidas a nós e a cada uma como Lésbicas, como pessoas, estaremos começando a construir Movimentos Lésbicos com os quais lésbicas se identifiquem. Sapatonas merecem o melhor — outras sapatonas.

VALORIZANDO MODOS LÉSBICOS
Por que frequentemente sentimos que ainda estamos lutando contra a dor familiar que afogou muitas de nossas relações com outras garotas quanto éramos mais novas — traições, malícia, calúnia, manipulações, exclusão de fotos? Nós já sabemos algumas das razões: racismo, classismo, etnicidade, capacitismo, aparência e gordofobia. Há outra razão que é raramente discutida mas que explica muitos dos atualmente desastres “misteriosos” entre lésbicas: heterossexismo ou lesbofobia entre lésbicas.

Para termos culturas lésbicas fortes, precisamos também retornar a nossa verdadeira natureza lésbica/fêmea. Isto significa reconhecer e eliminar a doutrinação de identificação com homens heterossexuais que nos é imposta, na qual muitas lésbicas já abraçaram e outras seguem ativamente. Rejeitar definições masculinas de mulheres é crucial para o Separatismo Lésbico. Porque somos criadas num mundo que odeia lésbicas, somos todas ensinadas a odiar lésbicas. Isto não desaparece automaticamente quando nos descobrimos. Este livro é sobre entender e combater todas as formas de lesbofobia e ódio a lésbicas entre nós como lésbicas, o que também significa reconhecer e lutar contra a rivalidade feminina.

Apesar de algumas de nós ficarem encantadas, nenhuma de nós sabe como seria ser parte de uma comunidade lesbocentrada. Isso seria Separatista, sem homem ou meninos bem vindos, e com mulheres heterossexuais apenas como convidadas ocasionais. Nós poderíamos amar, proteger, cuidar e valorizar uma a outra como sapatonas. Nós teríamos um lugar no mundo onde estaríamos seguras, mais felizes, mais esperançosas e fortes. Nós seríamos genuinamente comprometidas a erradicar toda a desigualdade entre nós porque nenhuma opressão é aceitável para verdadeiras Separatistas Lésbicas e porque nós queremos as mais diversas e acolhedoras comunidades possíveis.

Sapatonas como pessoas são incrivelmente fortes e corajosas. De outro modo nós não teríamos sobrevivido. Mas também muitas vezes a força Lésbica é gasta cuidando dos nossos opressores. Muitas lésbicas dão energia a homens e meninos. Muitas também dão seus corações a mulheres heterossexuais. Ainda quando lésbicas estão apenas com lésbicas, muitas mantém e usam padrões e regras masculinos e policiam aquelas de nós que que queremos ser totalmente lésbicas em nossas mentes, corações e espíritos. Mulheres heterossexuais são reverenciadas como a essência da feminilidade, beleza e doçura enquanto as identificadas como lésbicas são injuriadas. É toda uma pressão psicológica que nos machuca individualmente e como um povo.

Nós não vamos tomar conta de nós mesmas se não nos valorizarmos. O espaço exclusivo lésbico que precisamos é quase inexistente no mundo. Espaços de “mulheres” usualmente incluem meninos e muitas vezes homens. Enquanto isso, lésbicas estão doentes e morrendo por causa da opressão.

Agora é a era do egoísmo. “Cultura lésbica” virou “cultura das mulheres”, que então ficou sem significado. Todos menos lésbicas foram priorizados por lésbicas. (Em 2011, o Coletivo de Saúde de Mulheres de Berkeley virou o negócio chamado de Centro de Saúde das Mulheres de Berkeley, que então foi transformado na Clínica para Mulheres e Homens de Berkeley que odeia lésnicas). Teoricamente, organizações lésbicas, como o Centro Nacional por Direitos Lésbicos4 legalmente apoia homens contra lésbicas, até mesmo quando continua procurando por dinheiro lésbico e promovendo segregação na nossa comunidade por ter fundos de doação que apenas as lésbicas mais ricas podem apoiar.

Muitos textos feministas se tornaram antifeministas. A dinâmica e emocionante música lésbica se tornou música de “mulheres” com política e cultura vazios e frequentemente mais chata do que músicas de mulheres heteros. As musicistas mais novas tocam pela audiência lésbica enquanto eram pequenas demais para atraírem heterossexuais e mulheres heterossexuais. Lésbicas endeusam “estrelas” lésbicas cujo objetivo era crescer com fama e fortuna enquanto levavam a energia lésbica e diluindo isto para o consumo de homens e mulheres heterossexuais. O fogo, paixão e realeza da política Lésbica Feminista quase desapareceu.

Algumas lésbicas dizem que não são “políticas” como se isso significasse que elas não têm responsabilidade sobre o que está acontecendo. Mas todas nós somos políticas. Escolher passivamente aceitar as coisas como elas são é uma decisão tão política quanto lutar contra porque isso afeta as vidas de outras lésbicas. Política está muito mais além do jogo eleitoral de poder masculino ou de teorias abstratas — política significa como nós decidimos viver num mundo onde cada ação ou omissão afeta outras.

Em vez de trabalharem para construírem comunidades lésbicas, muitas mulheres que se identificam como lésbicas decidiram criar seus próprios núcleos familiares ficando grávidas. Com a “inseminação artificial”, elas produzem acima de 85% de meninos, um sonho patriarcal se torna realidade. Elas também formam um enorme e privilegiado grupo, pedindo para que Lésbicas olhem para seus filhos e que seus filhos sejam bem-vindos em qualquer lugar, ensinando aos seus meninos que mulheres e meninas dizendo “não” não significa nada. Elas e homens posando de mulheres destruíram nossos espaços exclusivos remanescentes.

Três fatos que alteraram completamente as comunidades Feministas Lésbicas foram as invasões “feministas” da pornografia e do sadomasoquismo, juntamente com a chegada de acadêmicos (numa cultura e movimento que previamente desconfiava da academia e tinha a ideologia de não ter líderes). As diferenças de classe se expandiram com esses três também.

As mulheres mais influentes que escreveram sobre “sexo lésbico” nos anos oitenta estavam na verdade escolhendo serem bissexuais enquanto mentiam e se passavam por lésbicas para promover a sua adoração masculina em nossas comunidades e para fazer dinheiro a partir de Lésbicas: Pat Califia (que agora finge ser um homem para ter acesso sexual a homens gays), JoAnn Loulan e Susie Bright. (Do mesmo jeito, os poucos livros supostamente sobre lésbicas geralmente são escritos por mulheres bissexuais e estão cheios de pornografia e estereótipos sobre lésbicas divergentes da feminilidade.

Estas pornógrafas hetero/bissexuais foram parte da razão para lésbicas terem erroneamente se identificado com sadomasoquismo, apesar desta história poder ser traçada diretamente em direção às organizações de homens gays.

Assim uma nova indústria “das mulheres” surgiu, com revistas e vídeos pornográficos, linhas de sexo por telefone e shows de streaptease “para mulheres, por mulheres”. Isto foi uma fonte de renda capitalista mais do que a música “das mulheres”. Isto está também diretamente ligado com a indústria pornográfica masculina e sadomasoquismo.

Algumas lésbicas e falsas feministas escrevem dramaticamente sobre por que não deveria haver “censura” nas nossas comunidades Lésbicas. Mas pornô “lésbico” é fantasia sexual masculina lesbofóbica e revistas cheias do olhar masculino pornográfico — “Lésbicas” dizendo que desejariam ter pênis e lésbicas querendo ser “fodidas” na boceta e no ânus por imitações de pênis. Qualquer uma que protestar contra isso e se opor a esta exposição contra a nossa vontade é acusada de ser como os fascistas de extrema direita que proibiram o lesbianismo.

As poucas de nós que ousam falar contra isso não podem censurar ninguém. Nós não podemos parar a pornografia “lésbica” masculina. Tudo o que podemos fazer é protestar contra isso e dizer que não iremos comprar isto, não iremos apoiar e não iremos incluir isto nas nossas vidas ou lares mais do que acolhemos homens. E quando nós criarmos raros espaços exclusivos para lésbicas teremos o direito de manter a pornografia de fora, então haverá poucos pequenos espaços seguros para nós neste mundo cheio de estupros, supremacia masculina e misoginia (tudo o que o maldito sadomasoquismo é sobre). Na verdade, são aqueles que ousam protestar contra pornografia e sadomasoquismo que são censurados. Lésbicas Separatistas são sempre censuradas de qualquer modo — especialmente aquelas que ousam escrever contra a estrutura de poder heterossexual entre lésbicas.

Para as Lésbicas que são ridicularizadas e condenadas ao ostracismo porque odeiam pornô e sadomasoquismo porque são lesbofóbicos, queremos que saibam que você não está sozinha.

Nós temos sido caluniadas e censuradas porque ousamos lutar contra as mentiras e falar contra todas as influências masculinas em nossas comunidades, como a promoção da maternidade, heterossexismo, feminilidade e a opressão às lésbicas butches, lésbicas por toda a vida e lésbicas que nunca foram heterossexuais. Se os danos diários de viver no patriarcado não nos pararam, então nem as falsas “radfem” ou o estupro e ameaças de morte pelos transativistas irão nos difamar.

INOCENTES NO MUNDO EDITORIAL
Este livro foi escrito por duas trabalhadoras lésbicas separatistas dos Estados Unidos e uma lésbica separatista de Aotearoa. Nós não viemos aqui para exaltar estrelas lésbicas como muitas escritoras lésbicas fazem. Nós escrevemos nosso livro apesar deste meio em que o privilégio é o que determina o que será e o que não será publicado. Nós queremos agradecer às nossas queridas amigas e às Lésbicas Separatistas de todo o mundo que não tem fama ou fortuna, mas cujo sangue e o suor mantém o separatismo e as políticas lésbicas vivos.

Nós fizemos nossa própria escrita, digitação, revisão do texto e edição. Não esperamos ser escritoras profissionais e não pensamos que lésbicas deveriam se encaixar nestes padrões para escreverem sobre nossas próprias vidas. A coisa mais importante é estar claro e não ser opressivo. Nosso estilo é tão político quanto nossas ideias e reflete mulheres trabalhadoras (Linda and Bev) e culturas nacionais (Ruston, Aotearoa).

É importante não mudar nossos modos para imitar esta tendência cada vez menos emocional e abstrata de escrita lésbica. Se tornou elegante para escritoras políticas Lésbicas serem tão acadêmicas quanto ilegíveis e tão vagas quanto vazias de significados. Desse jeito ninguém é ofendido, mas também nenhuma mudança nas nossas vidas se torna possível. A comunicação lésbica costumava ser honesta e despretensiosa, facilmente entendida por todas.

Muitas vezes escritoras lésbicas, especialmente as de classes privilegiadas, usam um livro inteiro para dizer o que poderia ser dito em um capítulo. Algumas vezes é difícil saber o que uma autora pensa sobre um assunto mesmo após ler seu livro inteiro porque a sua linguagem e ideias são confusas, seguindo os padrões de escrita da academia masculina. Enquanto isso, devido à nossa falta de dinheiro e recursos, tivemos que colocar um livro em cada um dos nossos parágrafos e um capítulo em cada parágrafo.

Serve ao patriarcado que lésbicas escolham estar permanentemente confusas numa bagunça psicoterapeuta. É assustador estabelecer definições e decisões uma vez que opiniões fortes levam a ação. A falsa ideia de liberdade faz com que você seja “amiga” de todos, enquanto comprometimento político claro “limita” você a amigos igualmente comprometidos. Há muito apoio para os privilegiados. Preferimos nos aliar àquelas que são injustiçadas sabendo que este trabalho para parar com a opressão é o melhor apoio que podemos dar umas às outras.

Pedir para Lésbicas Separatistas ou feministas radicais para nos explicar minuciosamente, muitas vezes solicitando provas “científicas”, é muitas vezes um jeito de acabar com a verdade e também uma maneira de nos desviar, dissipando nossa energia para o trabalho político. Esta é uma técnica masculina comum, mas feministas também fazem jogos “lógicos”, distorcendo nossas palavras e mudando o significado para evitar problemas reais. (Nós vemos isso regularmente em discussões online onde o objetivo é simplesmente parar a discussão Feminista Radical desestabilizando e esgotando todas. Possível que muitas destas pessoas sejam agentes pagos).

Alguns problemas sobre os quais escrevemos raramente ou nunca, até onde sabemos, foram tratados antes. Mulheres que estão chateadas com o que nós dizemos neste livro deveriam lembrar que a verdade nem sempre é fácil. Voltar-se contra o heterossexismo em nós e em outras Lésbicas é muitas vezes mais doloroso do que reconhecer isto em homens e mulheres heterossexuais. Mas o único meio de parar com o heterossexismo entre lésbicas é reconhecer e lidar com isto. Para nós é muito mais importante apoiar Lésbicas que não tem suporte em nenhum outro lugar do que viver com ilusões confortáveis e uma conspiração de silenciamento sobre ódio a lésbicas entre lésbicas ofendendo e, em alguns casos, matando lésbicas que rejeitam a feminilidade que são mais oprimidas como lésbicas.

Intensidade e paixão tem sido a base de culturas lésbicas. Por nossa própria natureza, Lésbicas, principalmente Separatistas, questionam e desafiam as mentiras do status quo, buscando verdades nem-sempre-populares. É assim que crescemos e encontramos os nossos verdadeiros “eu”, e começamos a nos curarmos dos danos que o patriarcado nos causa.

Nós escrevemos para aquelas que reconhecem verdade no que estamos falando e para superar as barreiras do isolamento entre nós. Escrevemos para expor a realidade Lésbica num mundo masculino e heterossexual. Escrevemos para afirmar que é vital para lésbicas serem claras, decisivas e politicamente ativas para nossos próprios “eu” lésbicas.

O PODER DAS PALAVRAS — DEFINIÇÕES
Dyke/Sapatão5: Usamos este termo para a maioria das lésbicas que se identificam como lésbicas. É importante lembrar que este termo era originalmente usado somente para lésbicas butch (divergentes da feminilidade).

Lésbica: Uma fêmea que ama e se apaixona por outras fêmeas, faz sexo apenas com fêmeas e nunca se relaciona sexualmente com machos ou injeta semem em si mesma. Quando lésbicas são solteiras e celibatárias, somos muito diferentes de mulheres heterossexuais celibatárias, que ainda são sexualmente, emocionalmente, socialmente e culturalmente voltadas a homens.

Lesbianismo é mais do que uma “preferência sexual” ou “orientação sexual”. É uma escolha de mulheres amarem mulheres. Tudo o que sentimos e fazemos em nossas vidas, fazemos como lésbicas. Nosso trabalho político e criativo é lésbico. Nossas amizades são relações lésbicas.

Nenhum macho pode se tornar lésbica. “Mulheres trans” são simplesmente homens pervertindo, fetichizando e caricaturando mulheres e Lésbicas.

Fêmea: Termo que usamos para nosso sexo, uma vez que não especifica idade e é menos relacionado com a heterossexualidade do que “mulher”. Também é uma lembrança de nossa ligação com outras animais fêmeas na terra que são geralmente chamadas de “fêmeas” em vez de “mulheres”. Como Julia Penelope disse n’O Mistério das Lésbicas (The Mystery os Lesbians), “female6” (fêmea) é derivado do francês “femelle”, sem conexão com a palavra “male7” (macho), enquanto (créditos aos textos de Monique Wittig e ideias de Ariane Brunet e Louise Turcotte) “woman8”(mulher) vem de “wif” (wife9) (esposa) e “man10” (homem).

Mulher (woman): Para muitas de nós, “mulher” significava heterossexual — uma mulher “de verdade” para os padrões masculinos. É uma definição masculina imposta nas fêmeas e não é o nosso estado natural. Muitas variações feministas são termos fechados para “Lésbicas” e nós nos recusamos a apoiar esta tendência. É compreensível que lésbicas em situações de risco usem codinomes como “womyn11” para fazer contato com outras Lésbicas, mas quando Lésbicas usam estes termos em vez de “sapatão” ou “lésbica” entre si, isto enfraquece a identidade Lésbica. “A comunidade de mulheres” é expressamente heterossexual, não lésbica.

Algumas Lésbicas abraçaram “mulher” porque este termo foi negado por muitas fêmeas, especialmente lésbicas. Homens nos chamam de “garotas” para nos rebaixar. Contudo, algumas Lésbicas preferem o termo “garota” a “mulher” por outras razões. Para algumas mulheres negras, pobres e trabalhadoras Lésbicas que surgiram antes do Movimento de Libertação das mulheres e fêmeas jovens, “garota” é um termo familiar e afetivo. Além disso, nós fomos garotas por muito tempo, enquanto “mulher” é um termo carregado com imagens de mulheres “adultas” que são heterossexualmente ativas, esposas e mães. Para muitas de nós, a infância foi o tempo em que muitas garotas que conhecemos eram mais claras em relação a amar outras garotas e rejeitar meninos. Nós apoiamos garotas que se chamam de “garotas” como uma declaração de orgulho e apoiamos mulheres adultas que se chamam de “garotas” como parte de sua cultura e herança.

Nós também não nos chamamos de mulheres gays pois isso nos associa com homens gays. Este termo tem sido um divisor entre lésbicas feministas e não feministas ou lésbicas que tem medo de usar o termo lésbica.

Lésbicas por toda a vida: Uma lésbica que é lésbica a sua vida toda (tendo transado ou não com uma garota) e que nunca foi heterossexual.

Lésbica que nunca foi heterossexual: Uma lésbica que nunca foi heterossexual mas que não necessariamente se identificou como lésbica na infância. Não ser heterossexual na teoria ou na prática não significa que necessariamente alguém é lésbica.

Sapatão antiga: Termo usado por algumas lésbicas para definir lésbicas de antes do Movimento de Libertação Feminina. “Old Gay” era usado às vezes nos Estados Unidos.

Butch e Fem: Estes termos são definidos ao longo do nosso capítulo “Apoiar Butches Apoia Todas as Lésbicas”. Eles não são “papéis” que lésbicas desempenham ou interrompem, mas são escolhas feitas na juventude. Estes modos de ser são parte de quem nós somos como nossas classes sociais. Butches rejeitam regras masculinas de se feminilizarem como meninas, enquanto Fems aceitam isso. Butches sempre se sentem como não-naturais e desviantes no patriarcado enquanto Fems sempre se encaixam em algum nível com os padrões masculinos e heterossexuais de feminilidade. Se somos Butch ou fems é claramente reconhecível pela maneira como olhamos, conversamos e agimos.

Nós preferimos “Fem” a “Femme”, que é a palavra francesa para “mulher”. Consideramos insulto chamar qualquer lésbica de “mulher” e esperamos que “Fem” seja menos chateante para leitoras de língua francesa.

Hard Fem12: “Muito fem” é o termo que eu (Bev) criei para descrever o que previamente era chamado de “High Femme”, que é um termo complementar e também um objetivo para muitas Fems. Fem é considerado a norma, então lésbicas Butches são examinadas e divididas das outras por estereótipos de ódio a Butches. Butches que são mais aceitáveis — na maioria das vezes as de classes privilegiadas — são muitas vezes chamadas de “Soft Butches” pelas Fems, isto implica que Butches completas recebam o odiável estereótipo de difíceis, frias, malvadas, insensíveis, predadoras, etc., o que, na verdade é mais aplicável à Hard Fems. No entanto, ninguém critica as normas Fems. Hard Fems também costumam vestir-se com o extremo ideal masculino de Drag Queen feminina, passando-se o mais possível por heteros, besuntadas em maquiagem tipo-palhaço, usando vestidinhos e saltos altos. Hard Fems também frequentemente são as mais opressivas para Lésbicas Butches e Fems porque elas são as mais investidas na obediência e proselitismo das regras masculinas para fêmeas. Hard Fems também objetificam e usam Lésbicas Butches tanto quanto Lésbicas Fems, mas isto nunca é mencionado.

Lésbica Nova/Lésbica da Libertação das mulheres: Uma lésbica do pós Movimento de Libertação das Mulheres. Nos Estados Unidos e Aotearoa, e muitas outras culturas, isto é desde os anos 1970.

Queer: Nós escrevemos o livro antes do “queer” e “gêneroqueer” serem termos usados por e para a comunidade “queer” para evitar dizer “Lésbica”, em vez de apagar e excluir lésbicas. Nós usamos “queer” no nosso livro somente para lésbicas, uma vez que traz xingamentos, vergonha, segredo, repugnância e medo que heteros tem direcionado a lésbicas e expressa o orgulho e profundidade do amor que sentimos por nós mesmas e cada uma quando curamos as feridas. Desde os anos 70, queer tem sito um termo que o orgulho lésbico reivindica como um anti-insulto Lésbico que para algumas de nós foi o único nome que conhecíamos para nós mesmas e meninas sem apoio, sem nenhuma imagem positiva de lésbica em nenhuma mídia sequer. Mas não é um termo que sapatonas e lésbicas agora podem usar porque isto inclui nossos opressores como a popular descrição de homem Gay, mulheres que se identificam como homens Gays, mulheres e homens bissexuais, homem vestido de mulher, etc. Isto também se tornou um armário para mulheres que tem medo de se chamarem de “lésbica” ou “sapatão”.

Hetero: Heterossexual. É mais específico que “straight”13, que também implica certo, correto, não criminoso e saudável. Uma mulher Het é uma fêmea que é sexual com homens ou quem, se celibatária, continua pensando em si mesma como heterossexual.

Uma bissexual é uma mulher que faz sexo com homens e com mulheres. Isto inclui mulheres que não são atualmente sexuais com homens mas que estão abertas a isto no futuro.

Quando nós falamos de “mulheres hetero” neste livro, estamos também genericamente incluindo bissexuais. Apesar de elas terem algum grau de opressão Lésbica, bissexuais ainda tem o privilégio da aliança com homens e estão numa posição de nos causarem danos mais íntimos do que se fossem simplesmente heterossexuais. Elas tem mais acesso a Lésbicas fisicamente, emocionalmente, fisicamente e politicamente. Seus homens também tem acesso a nós: homens envolvidos com bissexuais tem ameaçado, atacado e assassinado as amantes lésbicas das suas namoradas. Lésbicas envolvidas com bissexuais são expostas a DSTs, inclusive AIDS. O dano pessoal e comunitário que o envolvimento com uma bissexual é imensurável. E a existência de mulheres bissexuais prova claramente que algumas mulheres mantém o máximo possível seu privilégio heterossexual enquanto são conscientes da sua opção de serem lésbicas.

Privilégio heterossexual: O poder e privilégio da “normalidade” que mulheres ganham por serem fodidas por homens, casarem, se reproduzirem e criarem famílias. Privilégio heterossexual é tudo o que mulheres tem por pertencerem a homens e ao mundo hetero, e tudo o que lésbicas perdem por serem lésbicas. Mas lésbicas que foram heterossexuais no passado ainda tem certo grau de privilégio hetero, particularmente quando elas continuam se identificando com mulheres heterossexuais e ainda tem valores heterossexuais e masculinos.

Heterossexismo: O dogma de que as pessoas são ou deveriam ser heterossexuais, e que a heterossexualidade é superior a ser uma lésbica. Heterossexismo é a instituição mais universal e o lesbianismo é a opressão mais universal. Heterossexismo também significa ódio a lésbicas.

Patriarcado e sexismo: O sistema social em que machos tem poder sobre fêmeas e os machos acreditam que são superiores às fêmeas. Técnicas usadas para reforçar o poder masculino incluem assassinato em massa e genocídio (tal como as fogueiras para bruxas europeias), mutilação em massa (tal como a mutilação genital feminina, mastectomias desnecessárias e histerectomias), dietas forçadas, assassinatos, espancamentos e torturas, estupro (incluindo o estupro familiar), estereótipos, insulto e todas as outras formas de misoginia.

A opressão a Lésbicas é o extremo da opressão às fêmeas. Se fêmeas são odiadas, então fêmeas juntas são duplamente odiadas.

Somente mulheres/somente fêmeas: É o que costumávamos ter antes de homens se apropriarem de nossa identidade demandando acesso aos nossos últimos espaços. Este espaço é essencial para nossa sobrevivência, comunidade e cultura. Nós ainda tentamos estar juntas, mas somos forçadas a nos submetermos a homens nos assediando e mulheres hetero que abertamente nos odeiam porque geralmente nos encontramos apenas em locais públicos.

Trans Cult/Culto Trans: Eu (Bev) cunhei este termo para descrever o fenômeno da maioria dos homens misóginos demandando que nós os aceitemos como mulheres e, para alguns deles, como Lésbicos. Nada disso faz sentido pois este mito pode facilmente ser exposto em uma frase: homens nunca poderão ser mulheres, e mulheres nunca poderão ser homens. A cirurgia é uma piada e não começa a alterar a mente, espírito, alma. No entanto, homens encontraram um jeito inteligente de terem acesso a Lésbicas que anteriormente os negavam, exceto por estupro. Agora eles fazem estupro mental14 e conseguem mulheres para ajudá-los.

Já que é impossível dizer não a esses homens ou a qualquer um desta ideologia bizarra sem ameaças, incluindo estupro e morte, é claramente um culto.

“Transexuais”, “transgêneros”, “mulheres trans” e “homens trans” simplesmente não existem nessa realidade.

Identificada com homens/Male-identified: Este termo é erradamente usado contra Lésbicas, e butches em particular, que não se conformam nos padrões masculinos de feminilidade. É na verdade uma medida de como pessoalmente uma fêmea é dedicada a machos e como muito da sua realidade está ligada com as versões masculinas de “realidade”. Cultura masculina internalizada que todas as fêmeas inevitavelmente têm no patriarcado, não pode ser confundido com “identificação masculina” (male identification). Usamos o termo “identificada com homens”(male identified) para descrever mulheres hetero e os mais extremos de identificação hetero e feminilidade entre lésbicas.

Identificada com lésbicas/Lesbian or Dyke-identified: Lésbicas que se identificam com e como Lésbicas, não com mulheres heterossexuais ou homens. Enquanto muitas Lésbicas se identificam com heteros, nenhuma mulher hetero pode se identificar como lésbica a menos que ela se torne uma lésbica. Estas lésbicas parecem e agem com lésbicas. Quanto mais identificada como lésbicas nós somos, maior a opressão.

Idetificadas com fêmeas/Female-identified: Lésbicas são as mais identificadas como fêmeas dentre as fêmeas porque a não-heterossexualidade envolve rejeição e traição a fêmeas. Quanto mais lésbicas somos, mais identificadas como fêmeas somos.

Aotearoa: Nome Maori e consequentemente o legítimo para Nova Zelância. Whanganui-a-Tara é um dos nomes para Wellington, como é Tamaki-Makaurau para Auckland.

Plano de fundo étnico e racial: Procuramos especificar o continente da região geográfica de origem em vez de nos referirmos a cor para descrever as questões raciais de alguém. O uso de “vermelho”. “preto”, “marrom”, “amarelo” ou “branco” não reflete com precisão a enorme variedade de grupos raciais e étnicos existentes na terra. A pele de ninguém é literalmente estas cores, e “preto” e “branco” tem sido historicamente utilizado em termos racistas para significar negativo/positivo, inferior/superior, mal/bem, etc. Nós reconhecemos algumas Lésbicas usam “vermelho”, “preto”, “marrom” e “amarelo” com orgulho em suas culturas, e como Lésbicas, nós sabemos bem como um termo insultante pode ser transformado num termo de resistência. Mas nós concordamos e apreciamos demais o trabalho de Lésbicas Separatistas Afrodescendentes americanas que indicaram suas razões por escolher o nome dos seus continentes de origem15. É uma forte e familiar identificação dos descendentes de povos que foram forçados a saírem dos seus lares por escravocratas europeus, separados daqueles de seu próprio país, colocados com outros que falavam línguas diferentes e cruelmente torturados por ousarem falar suas línguas e transmitirem suas culturas — tudo em um esforço para subjugar povos Africanos sequestrados e negar suas heranças. Por causa disso é negado conhecimento sobre seus países e culturas de origem à maioria dos descendentes dos sobreviventes deste genocídio (estima-se que 20 a 70 milhões morreram).

Identificar o plano de fundo étnico de alguém com a sua região de origem em vez de simplesmente aproximar tons de pele escuros e claros entre nós ajuda todos os dias Lésbicas a ficarem mais atentas à linda variedade e complexidade de pessoas e culturas neste planeta. Nomear a terra natal ancestral de uma Lésbica — Pacífico, África, América do Sul, Central ou do Norte16, Caribe, Ásia, Leste da Ásia (“Oriente médio” não está no meio de nada), países do oceano Índico e Atlântico, Austrália e Europa, etc. é um começo, mesmo que não adequado. Em cada área de cada região ou continente hã muitos, quem sabe centenas, de grupos étnicos e raciais individuais cada um com o seu único passado, cultura e linguagem.

Entre as Ilhas do Pacífico, para começar, há muitas nações com diferenças culturais, históricas e raciais mais numerosas e complexas do que as nações da Europa — ainda que as diferenças nacionais da Europa sejam muito mais conhecidas e respeitadas pelas culturas dominantes e racistas descendentes da Europa. Chamar regiões do Pacífico pelos termos ndesignados pelos europeus como “Melanesia”, “Polinésia” e “Micronésia” é também inadequado. Por exemplo, os povos originários de grandes áreas de Aotearoa, Hawaii, Te Pito, Te Henua (“Ilhas do leste”) são chamados de “Polinésia” porque eles tem muitas semelhanças culturais, mas na verdade eles representam povos e culturas muito distintos. O mesmo se aplica em outros povos do Pacífico.

Países falantes de Espanhol e Português da América do Sul e Central, México e Caribe não são somente povos descendentes de invasores Espanhóis e Portugueses — eles também são povoados pelos descendentes de pessoas africanas escravizadas e muitos povos de muitas raças, assim como os habitantes iniciais que foram chamados de “índios” ou outros nomes que não descrevem os diferentes povos originários. Os povos originários do México sozinhos representam muitas culturas diferentes e as fronteiras feitas pelos invasores europeus e os descendentes das classes dominantes não reconhece estas diferentes nações. Por exemplo, os Maias viviam em partes do que agora é México, Velize, Guatemala, El Salvador e Honduras. Nos Andes, os Quechua viviam ao longo do que foi Tahuantinsuyo (as terras Inca) em partes do Peru, Bolivia, Equador, Chile e Argentina. Com população entre 9 e 14 milhões, os Quechua eram muito mais numerosos do que muitos outros povos que são regularmente lembrados na mídia em países descendentes da dominação europeia.

Na África existem muitas nações tradicionais antigas em cada nação oficial atual com base nas fronteiras arbitrariamente demarcadas pelos invasores espanhóis. Os povos da Índia e outros países asiáticos também são muito diferentes. Os povos indígenas da Austrália também são muitas pessoas com muitas linguagens. No Canadá e Estados Unidos as centenas de nações originárias com seus grupos étnicos e culturas distintos são simplesmente chamados de “Nativos Americanos” ou “Índios Americanos”, isso se são reconhecidos totalmente.

Apesar de reconhecemos que não é adequado simplesmente nomear uma região do mundo ou continente com um ancestral como uma identificação étnica, é pelo menos um começo respeitoso.

Como um exemplo da diversidade de povos originários na América do Norte, incluímos nas nossas notas finais uma lista de alguns destes povos do que apenas é hoje a Califórnia17, muitos dos quais ainda vivem na Califórnia como nações dentro de uma nação. (A lista é aproximada, pois é baseada em informações coletadas e gravadas pelos invasores europeus nos anos após a colonização). Na Califórnia, o genocídio contra Índios Americanos reduziu drasticamente os seus números18.

Os tangata whenua (povo da terra, habitantes tradicionais e legítimos) de Aotearoa se identificam tanto como Maori, com seus iwi (nação ou tribo)19 e, frequentemente, hapu (sub-grupo). Foi a invasão inglesa, guerras e colonização, iniciadas no século XVIII que forçou os tangata whenua a se identificarem como um grupo, Maori, de modo a fazerem uma resistência unificada.

Aotearoa é uma terra Maori. Os iwi de Aotearoa tradicionalmente se organizam de acordo com os seus turanga-waewae (terras tradicinais) e com a canoa com que chegaram de Hawaiki, a terra ancestral do Pacífico.

Estupro por Macho Familiar: Nós dizemos “estupro familiar” ou “estupro por macho familiar” porque o termo feminista popular “incesto” implica consentimento e não diferencia agressor de vítima. Homens também usam outros eufemismos para o estupro de meninas: “pedofilia” (literalmente “amor por criança”) ou “orientação sexual para crianças”, “sedução”, “dormir com”, “ter sexo com”, “intercurso sexual”, “atos sexuais”20 e “muita afeição”. Nós indicamos que você leia Estupro de pai contra filha (Father-Daughter Rape)21, um excelente livro da autora australiana Elizabeth Ward. Ela diz: “… Acredito que o uso sexual do corpo/ser de uma criança é o mesmo que o fenômeno do estupro adulto. Termos como “abuso sexual”, “molesto” e “interferência” são reduções de “estupro”: eles implicam que alguma coisa menos que estupro aconteceu”22. Eles também são termos etaristas pois implicam que crimes contra meninas são menos sérios do que crimes contra mulheres.

Também preferimos dizer “estupro familiar” porque os crimes e traumas de uma menina estuprada vão além da dor de ser estuprada pelo seu pai ou outros machos próximos. O estupro de uma meninas é parte de uma vida familiar normal e mulheres mais velhas próximas, especialmente a maioria das mães, aumentam fortemente o trauma negando o ataque e falhando ao apoiar a menina. A dor intensa da menina e o senso de conflito são suportados contra o plano de fundo da vida familiar diária que na maioria das vezes segue como se nada tivesse acontecido a ela. Depois ela precisa lidar com isso tanto quando o estupro real, para não dizer o fato de ter que lidar com as reações da família se ela expõe o estuprador.

Vítima: Nós chamamos uma fêmea estuprada quando criança de vítima de estupro familiar, não de “sobrevivente”. “Sobrevivente” é um termo dos psicoterapeutas norteamericados que passa por cima do fato de muitas fêmeas não sobreviverem ao ataque — elas são mortas enquanto meninas ou se matam depois. Ainda que tenha por objetivo elogiar a resiliência feminina, isso na verdade agrava o segredo e a vergonha do estupro familiar, sugerindo que há algo inerentemente vergonhoso e sujo em ser atacada ou vitimada. O fato é que “sobrevivente” ligado a “incesto” faz isso particularmente suspeito — não somente não há estupro e estuprador, também não há vítima!

Se não há nada vergonhoso em ser vítima, por que não dizer isso? Considerando que nenhuma menina é de nenhuma maneira culpada por ser agredida sexualmente, por que não usar “vítima”? Afinal, isso significa que tradicionalmente alguém foi prejudicado contra a sua vontade. A psicoterapia transacional cooptou a palavra “vítima” para descrever alguém que eles reivindicam “ter pedido” para ser machucado e eles incluem na sua arrogante pessoas oprimidas que nunca quiseram ser machucadas. Alguém que verdadeiramente quer sentir dor é masoquista, não uma vítima. Identificar como vítimas de estupro familiar apoia a vítima e aqueles que a amam no seu desejo natural de justiça e vingança. Isso ajuda a afirmar o nosso poder. Se somos vítimas então nós temos o direito de levar nossos agressores à justiça.

Lesbofobia: Concordamos parcialmente com o artigo de Celia Kitzinger “Linguagem heteropatriarcal, o caso contra “homofobia”23 em que ela critica a palavra “lesbofobia” porque é originada de um diagnóstico psicológico que geralmente é definido como medo de Lésbicas como uma fobia irracional — quando na realidade o patriarcado tem boas razões para nos temer. Então descrevemos as reações usuais de homens, meninos e mulheres hetero a lésbicas pelo termo mais apropriado “ódio a Lésbicas”. Contudo, nós pensamos que é importante ter outra palavra para descrever muitas reações de mulheres hetero assim como a repulsa de algumas lésbicas e o terror contra o seu próprio lesbianismo e o de outras, porque lésbicas e mulheres hetero não tem um motivo razoável para terem medo de Lésbicas. “Lesbofobia” parece o melhor termo para este tipo de medo particularmente extremo. É usado em geral e não se sente como um termo psicológico para nós e claramente retrata o terror que é irracional como uma fobia contra aranhas ou outros animais bonitos não nocivos.

“Homofobia” foi um dos primeiros termos que claramente não era sobre os “problemas mentais” das lésbicas. Se alguém tem um “problemas” são as heteras que nos odeiam. Isso faz uma grande diferença na vida de muitas lésbicas.

Deficiente: Nós (Linda e Bev) preferimos este termo para nós em vez de “fisicamente comprometido24” (embora não estejamos criticando quem usa “fisicamente comprometido”), porque nós pensamos que lésbicas não-deficientes podem negar deficiências assumindo que se você tentar o bastante todas seremos tão fisicamente funcionais quanto elas. Doenças crônicas limitam severamente nossa capacidade e não há esforço que nos fará fisicamente capazes como outras lésbicas. Parece que algumas lésbicas sem deficiência usaram o termo “fisicamente comprometido” para significar que lésbicas deficientes podem reverter quaisquer limitações físicas se nós tentarmos duro o bastante para “vencer o desafio”. Nós também preferimos “deficiente” porque inclui dificuldades de desenvolvimento enquanto “fisicamente comprometido” não.

WASP: Uma sigla dos Estados Unidos para “Protestante Anglo-Saxão Branco”. O que inclui cultura bem como etnia.

História: Esta palavra vem do grego “histör” e “istör”, significa “conhecer”, “aprender”25. Não significa “história dele”, embora a história documentada que fêmeas tem acesso é a história do patriarcado porque homens tem sistematicamente destruído registros de tempos anteriores ao patriarcado. Chamar o passado de “história dela” não vai mudar isso. Quanto ao que chamamos de história fêmea, porque permitir aos homens o uso exclusivo de uma palavra perfeitamente adequada como “história”?

EXPLICAÇÕES
Nós não queremos comparar opressões porque cada experiência é única, mas infelizmente, somente certas opressões são reconhecidas como existentes. Certas opressões lésbicas são ignoradas por todos, incluindo lésbicas. Há tão pouco entendimento delas que às vezes são consideradas privilégios. Até mesmo o próprio lesbianismo é dito privilegiado por algumas lésbicas “radicais”. Normalmente somente problemas de opressões que são vividos, escritos e falados por homens e mulheres heterossexuais são considerados válidos por lésbicas. Eles podem não ser sempre contra, mas pelo menos eles reconhecem como existente, o que é um começo.

Por esta razão neste livro nós frequentemente damos o classismo como um exemplo para explicar a dor e danos causados pelas várias formas de opressão lésbica. A comparação não é exata porque nossas classes sociais não são escolhidos enquanto o privilégio heterossexista que lésbicas usam para manter poder sobre outras lésbicas é escolhido. Nós decidimos focar somente em classe como um exemplo porque duas de nós somos oprimidas por classe e isso pareceu mais apropriado falar de nossas experiências do que nos referirmos a outras opressões.

(Ruston: nós usamos a escrita e pronúncia do inglês de Aotearoa nas seções em que escrevi sozinha, e o estilo dos EUA no resto do livro. Nós achamos este o melhor jeito de expressar minha identidade nacional sem negar nossas diferenças de classe e isso fez o trabalho enorme de digitar o livro mais gerenciável.)

NOTAS DAS AUTORAS
Bev: eu nasci em 1950, numa família trabalhadora católica de Índios alemães, ingleses, escoceses e americanos e eu não tenho certeza de qual ancestral. (Meus pais e avós todos nasceram nos EUA). Eu cresci em Cincinnati, Ohio, EUA, estive apaixonada por outras meninas nas minhas primeiras memórias, identificada com a palavra “Lésbica” e rejeitando a feminilidade definida por machos desde muito nova (o porquê de agora eu me identificar como Butch). Eu nunca fui heterossexual e me tornei amante da minha primeira amante quando tinha 17 anos (em 1968), antes do apoio do Movimento de Libertação Feminina. Eu encontrei uma comunidade lésbica em Berkeley, Califórnia em 1971 e me tornei uma Sapatão Separatista em 1972. Eu sou deficiente desde 1981 com uma doença crônica.

Eu fui uma das três integrantes do Gutter Dyke Collective que coescreveu e publicou Dykes and Gorgons, em 1973, que foi o primeiro escrito separatista lésbico que conhecemos. (Muito daquele trabalho foi reimpresso na Antologia Separatista, Apenas Para Lésbicas). Tem sido meu objetivo desde que me tornei Separatista trabalhar para a construção de uma comunidade Separatista Lésbica. Eu tenho escrito artigos Separatistas no The Lesbian Insider/Insighter/Inciter; For Lesbians Only and Lesbian Ethics (USA), Amazones d’Hier, Lesbiennes d’Aujourd’hur, Lesbian Fury/Furie Lesbienne; Voices for Lesbian Survival (Canada); and Gossip (England), among others.

Eu dei aulas de defesa pessoal para fêmeas por 10 anos, fiz workshops de defesa pessoal apenas para lésbicas e Workshops separatistas em festivais “de mulheres”, e fui em muitos grupos de ação separatistas. Eu fiz parte de coletivos que planejaram a primeira Conferência Feminista Lésbica na Baía de São Francisco em 1972, a primeira reunião Lésbica Separatista em São Francisco em 1983 e o Fórum Lésbico sobre Separatismo em Oakland, 1984. O workshop mais recente que fiz foi sobre Feminismo Radical Lésbico na Old Lesbians Organizing for Change em Oakland, 2014, onde eu protestei por perder mais um grupo Lésbico para adesão de machos.

Eu modero três grupos de Feminismo Radical no Facebook e um grupo exclusivo para Lésbicas.

Eu regularmente festejo, danço e me divirto com as Lésbicas apesar de não termos espaços exclusivos para mulheres restantes. Também faço caminhadas na natureza local para ver plantas, animais, etc. Eu penso que os animais que os homens nos dizem para temer, como ratos, aranhas, cobras, lagartos, sapos, morcegos e lésbicas (entre outros) são particularmente lindos.

Linda: Sou Lésbica trabalhadora, de criação católica e descendência italiana, nascida em 1941 em uma cidade industrial nos EUA. Tenho uma doença crônica desde 1981. Uma lésbica ex-hetero e fem que nunca casou ou teve filhos, eu era uma ativista feminista heterossexual de 1968 a 1972, quando eu segui meus desejos mais profundos e me tornei lésbica. Em 1973, eu mudei para Oakland, California, no meio de uma comunidade Lésbica vibrante e intensamente política. Eu achei que eram Separatistas Lésbicas vivendo com as verdades que eu iria considerar autoevidentes com o amor mais real por lésbicas e eu tenho sito uma Separatista desde então.

Eu dei aulas de defesa pessoal para fêmeas por sete anos, ajudei a organizar a reunião Lésbica Separatista em São Francisco em 1983 e Fórum Lésbico sobre Separatismo em Oakland, 1984. Eu tenho escrito artigos separatistas publicados na The lesbian Inciter e Lesbian Ethics (USA); Lesbian Fure/Furie Lesbienne; Amazones d’Hier, Lesbiennes d’Aujourd’hui, and Voices for Lesbian Survival (Canada); and Gossip (England).

Ruston: Eu sou de Aotearoa, nascida em 1952 e criada em Tamaki-Makaurau. Eu entrei no Movimento de Libertação das Mulheres em 1975 porque eu estava me apaixonando por mulheres há anos e queria muito me tornar uma lésbica. Eu sou pakeha (descendente europeia) de galeses, irlandeses e ingleses, classe média com criação protestante e uma lésbica ex-hetero fem que nunca casou ou teve filhos. Sou educacionalmente privilegiada por ter uma graduação em medicina, mas por muitas razões, nunca trabalhei como médica. Depois de trabalhar contra o estupro e outras questões femininas por mais ou menos um ano, me tornei Lésbica Separatista em 1976. Eu ajudei a organizar uma conferência Lésbica em Tamaki-Makaurau em 1977 e criei o testro Lésbico com outras Lésbicas em Hamilton, 1978.

Mudei para Whanganui-a-Tara em 1979 onde me envolvi na criação do Centro Lésbico e na execução de muitos eventos políticos e sociais exclusivos para lésbicas. Tenho escrito artigos publicados na Circle, the Wellington Lesbian Newsletter, Lesbian Lip, e Lesbian in Print (LIP), entre outros, em Aotearoa. Eu conheci Bev e Linda por meio do nosso trabalho político em nossos respectivos países, em 1983, e desde 1984 tenho escrito artigos e cartas com elas, impressos na Lesbian Insider/Insighter/Inciter; Lesbian Ethics; e Hag Rag (USA); e Voices for Lesbian Survival; Amazones d’Hier, Lesbiennes d’Aujourd’hur, e Lesbian Fury/Furie Lesbienne (CANADA).

Além de Lésbicas e Separatismo, outro grande amor são as florestas, criaturas selvagens e lugares selvagens do meu lar, Aotearoa. Minha Criatura favorita é o Kea (papagaio alpino de Aotearoa). É um pássaro muito raro que sobreviveu a uma terrível matança. Eu gostaria de gastar todo o meu tempo em festas lésbicas, ouvindo música, aprendendo homeopatia, desenhando, lendo mistérios de assassinado e estando ao ar livre em lugares bonitos longe de todos menos lésbicas.

Notas
1 Julia Penelope descreveu isto lindamente em “Mistério das Lésbicas”, publicado em Ética Lésbica, Vol. 1, Nos. 1,2, (Albuquerque, Novo México, EUA) e Fofoca, Nos. 1,2,3 e numa versão editada em Somente Para Lésbicas: Uma Antologia Separatista, p. 508 (Onlywomen Press Ltd., 38 Mount Pleasant, Londres, WC1X 0AP, Inglaterra).

2 Estima-se que nove milhões de mulheres foram acusadas de serem bruxas e assassinadas pelas autoridades masculinas cristãs na Europa, a maioria entre os séculos XIV e XVIII. Esta era uma enorme parte da população — em alguns vilarejos apenas uma ou duas mulheres foram deixadas vivas.

3 Nota da tradutora: Em inglês, humanidade significa mankind, na publicação do blog, “man”, que significa homem, está em negrito. Achei muito simbólico porém a língua portuguesa não me permitiu fazer o mesmo na tradução.

4 De Gallus Mag: https://gendertrender.wordpress.com/2014/08/11/dana-beyers-rotting-lesbian-iceberg/

O Centro Nacional Para Direitos Lésbicos agora doa por pouco todos os seus (baixos) recursos para ativismo (predominantemente heterossexuais e masculinas) não-lésbico, muitos destes anti-gay. A sua diretora é a advogada “ex lésbica” Shannon Minter, que injeta testosterona e agora “se identifica” como homem heterossexual.

N da T: Na nota de rodapé nº 4, a autora cita uma série de casos ativos que o NCLR (sigla em ingês) postou em seu site.

O Projeto de Esportes do NCLR emitiu em 2010 um relatório advertindo que os times femininos discriminam homens e que a falha de permitir que homens compitam contra mulheres em esportes femininos pode resultar em “litigação dispendiosa”. O relatório foi emitido em Outubro quando um macho de 57 anos que venceu todas as competidoras mulheres (média de 30 anos) para ganhar o campeonato mundial feminino de golfe de longa duração processou a LPGA pelo seu “direito” de competir contra mulheres. O NCLR apoiou esta ação e faz isso por se passar como uma organização de MULHERES lésbicas. O NCLR aparentemente acredita que ligas esportivas de mulheres infringem os DIREITOS CIVIS de homens. O macho de 57 anos talvez seja o primeiro competidor na história a iniciar uma nova carreira de esporte profissional com uma idade tão avançada.

É difícil IMAGINAR que uma organização sobre direitos lésbicos iria fazer os direitos de homens a praticarem esportes de mulheres a sua prioridade, muito menos os “direitos” de criminosos homens para receber mudanças de sexo financiada pelos contribuintes, ou os “direitos” de heterossexuais de participar de ligas gays de softball, mas é isto com o que o NCLR está preocupado. Somente três dos casos judiciais pendentes ativos listados no site do NCLR são sobre lésbicas e dois deles não são na verdade representados pelo NCLR. Então, um deles. Três casos sobre transexuais (dois machos, uma fêmea), dois homens gays, dois homens héteros.

5 N da T: A tradução para Dyke adotada será Sapatão, embora muitas vezes usemos o termo Dyke no português

6 N da T: Fêmea

7 N da T: Macho

8 N da T: Mulher

9 N da T: Esposa

10 N da T: Homem

11 N da T: Nunca vi este tipo de distinção ou variação para “mulher” no Brasil como este texto mostrou a variação para “woman”. O que foi um grande desafio para a tradução, tendo escolhido por deixar como o original.

12 N da T: Algo que pode ser traduzido para “Muito Fem”.

13 N da T: “Straight” é o termo comumente usado para pessoas heterossexuais, em tradução literal significa “direito”.

14 N da T: do original, “mind-rape”.

15 Conversas com Monifa L. Ajanaku; e “De Cor: O que há em uma Palavra?” de Vivienne Louise, Bay Area Women’s News, Vol. 1, NO 6, Jan/Fev 1988, 5.

16 Apesar de geralmente usarmos termos geográficos, nós discordamos com aqueles que dizem que existe um “em cima” e um “embaixo” do nosso planeta, com hemisférios “norte” e “sul”, colocando Europa, Estados Unidos e Canadá “em cima” do mundo e países do sul da África, América do sul e sul do Pacífico “em baixo”. “Em cima” tem sido usado para causar superioridade e “em baixo” inferioridade, então estes mapas vigentes fazer as nações do hemisfério norte parecerem superiores em relação às do hemisfério sul. Pode ser difícil para alguns compreender, mas no espaço não existe embaixo ou em cima. Nosso planeta gira no espaço como outros planetas, luas e estrelas.

17 N da T: Lista disponível em: en.wikipedia.org/wiki/List_of_indigenou...

18 Russell Trornton, American Indian Holocaust and Survival: A Populations History Since 1492 (Norman and London: University of Oklahoma Press, 1987), 49.

19 A.W. Reed and T.S. Käretu, Concise Māori Dictionary (New Zealand: Reed, 1984), 13. Claudia Orange, The Treaty of Waitangi (Wellington, New Zealand: Allen and Unwin/Port Nicholson Press, 1987), 267.

20 “Suing Ma Bell Over Dirty Language,” Newsweek, 7 Dec. 1987, 47. Este artigo descreve um estupro de um menino de 12 anos contra uma menina de 4 anos como “… ele convenceu uma menina de 4 anos a performer atos sexuais”.

21 N da T: Estupro de pai contra filha

22 Elizabeth Ward, Father-Daughter Rape (The Women’s Press, Ltd., 124 Shoreditch High St., London E1 6J3, England), 79.

23 Gossip, №5, Page 15: Heteropatriarchal Language, The Case Against ‘Homophobia’.

24 N da T: Do inglês, “physically challenged”.

25 Webster’s Ninth New Collegiate Dictionary (Springfield, Massachusetts, USA: Merriam-Webster Inc., 1984).